Por Victor Amâncio

No segundo encontro entre os dois intérpretes no Salgueiro, lugar onde cantaram juntos de 92 até 99, Emerson Dias e Quinho exalam sintonia e entrosamento. Sem vaidade, as vozes principais do Acadêmicos do Salgueiro dividem a função desde o último carnaval, depois de um momento conturbado e de mudança na agremiação. A dupla hoje, juntamente com o carro de som, constituem um dos melhores carros de som do carnaval. Os intérpretes conversaram com a reportagem do site CARNAVALESCO para a série ‘Entrevistão’ e falaram do amor pelo pavilhão vermelho e branco.

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Vocês esperavam que tudo daria tão certo e que a dupla ficasse perfeita?

Emerson: “Na verdade eu virei cantor de samba enredo muito por causa do Quinho, eu cantei com o Quinho de 1992 até 1999, no ano seguinte ele foi para São Paulo, 2001 e 2002 cantamos juntos na Grande Rio. Depois ele voltou para o Salgueiro e eu fiquei lá. Por obra do destino nos juntamos novamente em 2019, musicalmente falando a gente já se conhecia e nossa energia é muito parecida, facilita nosso trabalho. Existe muito respeito entre nós, sabemos o grande lance é o Salgueiro e trabalhamos em prol de um grande desfile”.

Quinho: “O Emerson é um menino querido por todos nós da Academia do Samba do Salgueiro, ele já vinha conosco desde 1992, já era um jovem talento. Já o conheço a muito tempo, trabalhamos juntos uns anos, a coisa aconteceu de forma bem positiva. Não tem que ter vaidade, a maior vedete de uma agremiação é sua bandeira. Não existe aqui essa vaidade, estamos unidos para fazer um grande carnaval e representar as cores da escola”.

O carro de som de vocês é muito elogio. Qual análise de vocês e qual é a importância do carro de som no trabalho de vocês?

Emerson: “O trabalho é uma engrenagem, hoje em dia, a harmonia de modo geral, o carro de som, é um quesito muito pontuado e esperado. Faço questão de ter sempre ótimos músicos e ótimos cantores do meu lado. Desde que o presidente André assumiu a escola, deixei claro para ele que não adianta ter um time ‘meia boca’ ele entendeu e viu que já tínhamos um entrosamento muito grande, já tínhamos uma essência formada e o trabalho cresce cada vez mais junto com o entrosamento”.

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Quinho: “O carro de som é um todo, cordas e vozes, juntamente com a harmonia que vem com as vozes do canto, o ritmo e já vem inserido tudo junto no conjunto. O carro de som do Acadêmicos do Salgueiro parece que canta junto há muitos anos, tem grandes profissionais de outras agremiações da Série A e as coisas vão acontecendo naturalmente. Sem vaidade”.

O samba de 2020 rende muito nos ensaios, mas fica no meio da classificação nas análises. O que podem falar dessa obra?

Emerson: “É gosto! Cada um tem o seu. É muito subjetivo e eu não posso me influenciar com o que falam, se gostam do samba-enredo ou não. O samba é uma música para ser executada num desfile com fantasias, bateria, carros alegóricos e o sentimento de emoção na avenida. Pode acontecer ou não. Tem que ter um entrosamento muito grande entre os cantores e a bateria. Eu sou muito contrário aos mestres que acham que a bateria tem que ter um padrão de ritmo mas quem dita esse padrão é a música. O samba tem uma métrica, um jeito de ser executado. O grande segredo de um samba acontecer na Sapucaí é quando a parte rítmica entendem que aquele samba pede aquele andamento e os cantores consigam conduzir o samba naquele andamento”.

Quinho: “O que eu vejo ao longo dos meus 36 anos de carnaval, 26 de Acadêmicos do Salgueiro, tudo acontece na avenida. Se for buscar lá trás, 1982 o Império Serrano campeão, aconteceu na avenida, o Império não era tido como campeão. Salgueiro 2007, não aconteceu, foi um carnaval grandioso. Salgueiro 2003 era o melhor samba na concepção dos analistas e chegou na avenida e o samba não aconteceu. Explode Coração era um samba que achávamos que não ia render e quando chegou na avenida aconteceu o que todos sabem. Tudo acontece lá. Quando chegar na avenida, neste ano, que as
coisas irão acontecer”.

É difícil dois ou três intérpretes ganharem prêmios. Isso mexe com vocês?

Emerson: “Como ser humano, como profissional vaidoso, sempre mexe. Sempre é legal ser premiado, ser elogiado, até mesmo as críticas ruins para absorver o que for construtivo, eu faço muito esse filtro. Não tenho do que reclamar, dos prêmios de carnaval eu já ganhei quase todos e me sinto muito honrado, buscando estar sempre fazendo um bom trabalho pois os prêmios são frutos disso”.

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Quinho: “Não, comigo não. Ao longo da minha carreira não fui agraciado com muitos prêmios. Lá trás eu ainda ganhei um prêmio de revelação. Nunca tive essa honra, não sei o motivo mas o mais importante é que as escolas por onde eu passei foram felizes com meu trabalho e hoje Emerson e Quinho lutam pelo campeonato acima de tudo”.

Quinho, o salgueirense morre de amor por você. Como é esse relacionamento? E agora é pra sempre?

Quinho: “Nada é para sempre. Vi grandiosos intérpretes cantando na avenida mas as coisas vão acontecendo naturalmente. O amor é reciproco, Salgueiro que me deu notoriedade no samba, me deu campeonato. Vim para cá em 1990 como Quinho da Ilha do Governador e me tornei o Quinho do Salgueiro. Esse amor é eterno, enquanto eu existir”.

Emerson você está no hall dos melhores e como salgueirense está no coração da torcida. Estar no Salgueiro é a realização do sonho?

Emerson: “É uma realização, sempre. Eu sou apaixonado pelo carnaval e pelo o que eu faço, eu sou o primeiro a subir no palco e o último a descer, cantando. Eu subo no palco aos sábados as 23h da noite e só desço as 4h da manhã, cantando sambas, músicas. Eu sou adepto a diversão, eu gosto de misturar, não acho que tenha que cantar somente samba-enredo, canto todos os ritmos. Tem gente que me chama de animador de festa e óbvio que sou. Ninguém vai para uma quadra para chorar. Tenho muito orgulho de ser puxador, animador, o que for. Eu e o Quinho temos a mesma essência, esse é um dos grandes segredos da nossa relação”.

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O presidente André vem sendo elogiado pelo jeito de comandar e pela seriedade nas finanças. O que podem falar dele? 

Emerson: “O presidente está fazendo um grande trabalho, o Salgueiro é uma escola que demanda muita responsabilidade e o André sabia disso antes de assumir e brigou por isso. Está tocando essa função da melhor maneira possível e esperem um Salgueiro muito vibrante, competitivo ao extremo. Ganhar ou perder faz parte mas vamos entrar para ganhar com certeza”.

Quinho: “Ele comanda com a simplicidade que sempre teve, não tem mão de ferro, é amigo de todos e age com a verdade com todos, olhando no olho. É isso, a escola precisa de carinho, de sua comunidade, uma escola sem isso é feito uma escola sem bandeira, sem seu pavilhão. O André vai se eternizar na escola, por ser salgueirense e por tratar todos da mesma maneira. É assim que se administra uma escola”.

Os meninos da bateria mantiveram a excelência. O que podem falar deles?

Emerson: “Tudo é uma continuidade, eles vinham na Furiosa muito tempo. Brinco com eles dizendo que deixaram de ser cavalo para virar o jóquei. Eles sabem o objetivo final da função e tanto o mestre Gustavo quanto o mestre Guilherme estão de parabéns. São acessíveis, ouvem o que tenho para falar, assim como eles tem liberdade para opinar no meu trabalho e desse jeito vamos tocando a parte musical do Salgueiro da melhor forma possível”.

Quinho: “A música é infinita, eu vi esses meninos pequenos, no Aprendizes do Salgueiro. Eles são estudiosos. Só posso dar parabéns para eles, pelo trabalho ímpar que estão fazendo”.

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