Se a Grande Rio vem resgatando o seu DNA histórico muito se deve à figura de Thiago Monteiro. Ele é o artífice de um carnaval que gera grande expectativa pela maneira como está sendo conduzido pela escola. Thiago foge ao perfil do dirigente de escola de samba. Discreto, possui um emprego fora da festa. Ele abre o jogo na série “Entrevistão” do site CARNAVALESCO.

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No papo com nossa reportagem no barracão, Thiago conta que a escola lhe deu todo respaldo no momento mais difícil de sua vida, quando sofreu um grave acidente de carro no final de 2018: “A minha dívida é de gratidão”. O dirigente também não deixou de falar do desfile de 2019 e defende o enredo presentado: “Foi um desfile que falou muito mais para dentro que para fora. Sabíamos do risco e assumimos”.

Você considera uma grande vitória esse resgate da Grande Rio?

“Sem dúvida. Tudo que tem acontecido nesse pré-carnaval, a resposta da comunidade. É claro que queremos o título do carnaval. Mas em ter nossos segmentos felizes, a escol em um momento positivo, ver essa Grande Rio que há pouco tempo sofria com olhares tortos e ver que hoje o clima é positivo, é resultado de um trabalho que nos deixa orgulhosos”.

O carnaval tem sido injusto com o Ricardo Fernandes?

“Aprendi muito com o Ricardo. Estou em constante aprendizado, mas o pouco que sei ele que me ensinou. Eu acho que na vida, não só no carnaval, aprendemos que existem injustiças. Quando você ocupa um cargo determinado você é tratado de um maneira, e quando por algum motivo você perde o status-quo as coisas mudam. Mas eu não acho que seja o carnaval, em diversos segmentos da vida é assim. Não tenho tido mais contato com ele, mas tenho muita gratidão”;

A Grande Rio não consegue ser campeã e muitos dizem que a escola não se importa com isso. O que falta para esse título?

“Não acho que a escola nunca se importou. Acho que em determinados desfiles faltou sorte, como em 2006. Em outros momentos bons carnavais toparam com outras apresentações mais fortes, como em 2010. Em 2007 foi parecido. Nos anos 90 Grande Rio tinha enredos fantásticos, mas a escola ainda não tinha essa estrutura. Considero que não ganhou por detalhes. Não sei se esse ano, mas esse título está próximo”.

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O projeto de 2019 foi um equívoco?

“O momento era delicado, vindo de um resultado muito ruim. A comunidade está abatida. Quem passa por isso sabe que não é agradável. Aquele enredo foi muito mais para dentro. Era hora de olhar para a comunidade e pedir para levantar a cabeça. Buscamos referências para que as pessoas voltassem a se orgulhar. A direção da escola achou por bem assumir o risco de ser mal interpretado. Paciência, o momento era histórico. A Grande Rio precisava cantar e falar aquilo. Encaramos o problema de frente. Não o jogamos para debaixo do tapete”.

O Fafá é uma grande revelação da escola. O que você pode falar dele?

“O Fafá é muito talentoso, foi criado aqui dentro. Um aposta dos presidentes. Convivo com ele há dois anos. Ele é humilde, conciliador, sempre disposto a ajudar. Ele tem a exata noção da importância da bateria da escola na história. O que esperamos da bateria da Grande Rio é isso que o Fafá está apresentando, com todo respeito aqueles que passaram por aqui. Isso é muito importante e ele reconheceu isso de uma forma incrível”

Você prefere encomendar o samba ou fazer disputa?

“Eu acho que como qualquer situação a encomenda tem vantagens e desvantagens. A Tuiuti em 2018 havia passado por um momento terrível no carnaval anterior. A encomenda te dá um direcionamento. Havia partes do samba da Grande Rio de 2019 que a escola falava para si. Para o nosso discurso era importante. Sabíamos do risco, mas a comunidade comprou o barulho”.

Os presidentes de honra da Grande Rio são figuras históricas da escola. Como é a atuação deles hoje?

“A Grande Rio é jovem e forma por apaixonados que viram a escola ser criado. O Perácio foi citado em um samba-enredo da escola. É um sambista, mola propulsora da agremiação. Conhece a comunidade como ninguém. Me apoio nele para tomar decisões. O Jayder é uma figura apaixonada pela Grande Rio. Quando a escola vai fazer shows particulares ele cuida para que o elenco consuma as mesmas bebidas e comidas dos convidados. O Helinho hoje é o cara que toca o barracão. Ele bota a mão na massa, fecha contratos, define pagamentos. O Leandro é quem sempre apelou a gente, também é muito apaixonado. Eles conversam sempre entre eles e confiam em quem contratam”.

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Como a escola tem lidado com pedidos de famosos?

“Esses pedidos tem muita lenda também. Quais escolas não recebem esse tipo de pedido? Os artistas da escola são comedidos. A Grande Rio entendeu que excesso de camisas e de figuras alheias ao dia-dia é prejudiciais aos desfile. Sabemos que precisamos firmar parcerias. Esse ano perde até ponto essa questão de camisas. Em 2014, meu primeiro ano aqui, o volume era muito maior e inclusive perdemos ponto em justificativas de jurado. Agora está bem menor. Pedido sempre vai existir. Não sou eu que vou negar que eles existam. É só colocar as pessoas nos locais corretos”.

O desfile de 2018 do Tuiuti é o melhor momento da sua carreira?

“Guardo três momentos com carinho. O título do Império da Tijuca em 2013, quando eu era diretor de carnaval. Sou amigo do presidente Tê até hoje. Ele confiou no meu trabalho e foi meu primeiro grande resultado. Depois foi minha primeira passagem pela Grande Rio em 2014. Fomos muito mal julgados. Coisas do carnaval. Foi minha estreia no Especial. Agora o Tuiuti é um momento de grande maturidade. Acho que colaborei bastante com aquele desfile histórico. Estávamos 22 décimos atrás do desfile da Tijuca de 2017, que foi cheio de problemas, e conseguimos o vice-campeonato, quase conquistando um título no meio de tantas escolas gigantes”.

Aquela sua saída do Tuiuti surpreendeu muita gente. Por que saiu?

“Foi muito bom trabalhar com o presidente Thor. Ele acima de tudo é um sambista. Aquela noite do desfile de 2018 foi mágica, tudo deu certo, aquela catarse. A saída teve um conjunto de fatores. Acabou o carnaval não tivemos nenhuma conversa. A Grande Rio eu sempre tive um carinho muito grande. Saí naquele primeiro momento por vontade própria. Fui pra Lierj por indicação da Grande Rio. Recebi um contato da escola me chamando para conversar. Aí tem o desafio profissional, depois de tudo que havia acontecido. Me senti maduro para aceitar o convite. É claro que houve uma valorização profissional. Eu aceitei pelo desafio e por gratidão por tudo que fizeram por mim”.

Mais de um ano depois o que é possível falar sobre o acidente que você sofreu?

“Essa é outra dívida de gratidão minha com a Grande Rio. Helinho, Jayder e Perácio foram muito importantes. Tudo aconteceu na reta final do carnaval. Helinho me deu força ainda na Washington Luís, eu todo machucado. E foi em um momento importante de finalização do projeto. Foi muito difícil colocar aquele carnaval na rua. Com cadeira de rodas, limitado fisicamente eu tive muita dificuldade para colocar o carnaval na rua. Foi o momento mais difícil de minha trajetória no carnaval, sem dúvida”.

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