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Entrevistão com Thiago Monteiro, diretor de carnaval da Grande Rio: ‘vejo protagonismo maior dos enredos e do samba’

Em conversa com o site CARNAVALESCO, Thiago Monteiro fala sobre a nova geração de diretores de carnaval, explica uma virada de chave no modo de trabalho e na gestão de profissionais da Grande Rio a partir do carnaval 2019

Thiago Monteiro vai para o seu terceiro desfile como diretor de carnaval da Grande Rio em 2022, o quinto na função, e, neste curto período, já coleciona dois vice-campeonatos no Grupo Especial, e um título no Grupo de Acesso. Na curta carreira gerindo o carnaval ou participando da equipe gestora, já tem no currículo carnavais emblemáticos, como “Meu Deus, Meus Deus, Está extinta a escravidão?” (Tuiuti 2018), “Negra, Pérola Mulher” (Império da Tijuca 2013) e “Tatalondirá: O Canto do Caboclo No Quilombo de Caxias” (Grande Rio 2020). Como diretor de harmonia, trabalhou na Tijuca e na própria Grande Rio. Em conversa com o site CARNAVALESCO, Thiago Monteiro fala sobre a nova geração de diretores de carnaval, explica uma virada de chave no modo de trabalho e na gestão de profissionais da Grande Rio a partir do carnaval 2019 e, claro, relembra seus trabalhos de maior sucesso.

Fotos: Lucas Santos/site CARNAVALESCO

Para você, qual é o papel de um diretor de carnaval? E qual é o papel de um diretor de harmonia?

Thiago Monteiro: “Eu acho que cada escola tem essa função do diretor de carnaval de uma maneira diferente, até porque cada escola tem um corpo diferente, tem uma linguagem e tem uma característica diferente. Então, eu vou falar pela experiência que eu vivo hoje na Grande Rio. Hoje, aqui, eu sou um cara que faz essa gestão entre os segmentos, entre presidência, entre fornecedores, entre mão de obra. É um grande gerente que faz essa gestão de todos esses elementos com a presidência e corpo da escola. Eu já vivi experiência em direção de carnaval que eu fui mais focado em quadra, um pouco menos em barracão. Aqui na Grande Rio, eu sinto que a gente acaba mexendo um pouco nessa gestão como um todo. Você ajuda o presidente nessa gestão dos recursos materiais e financeiros e pessoais, humanos. O diretor de harmonia, hoje em dia no carnaval, ele é o cara que junto com o diretor de carnaval bota a escola na Avenida. Antigamente, quando você tinha o fenômeno de atravessamento do samba, os diretores de harmonia eram essencialmente músicos. Hoje, eu vejo o diretor de harmonia muito mais como um diretor de evolução, além de um grande produtor de um grande espetáculo.

Concorda que nos últimos anos a safra de diretores de carnaval caiu ou perdeu espaço? Não revelamos como no início dos anos 2010. Qual o motivo?

Thiago Monteiro: ”Não concordo não. Acho que tem pessoas muito bem preparadas, muito bem gabaritadas. Tem colegas surgindo, surgindo no Grupo de Acesso. Você vê mesmo os diretores de carnaval, vamos botar os 12 do Grupo Especial, se você fosse pegar 10 anos atrás, poucos são os que figuravam há 10 anos atrás. Então, isso é um sinal de que eles foram sendo formados, é um sinal de que eles surgiram. Eu mesmo, como diretor de carnaval, eu vou para o meu quarto ano, sem contar Império da Tijuca 2013, passei um tempo como diretor de harmonia na Grande Rio, mas na prática vai para o meu quarto desfile no Especial como diretor de carnaval apenas. Foi Tuiuti e depois na Grande Rio”.

O desfile está cada vez mais técnico, ou seja, com poucos erros. Por outro lado, a gente quase não vê nenhum componente sambando no pé. Como resgatar isso?

Thiago Monteiro: ”Eu adoro desfile antigo, porque eu vejo as alas soltas, eu vejo muito mais coisas livres do que de hoje, mas isso é fato. Mas, eu também concordo que o carnaval de 2020, por exemplo, é muito mais solto que, por exemplo, o carnaval de 2010, que é o carnaval de uma década para trás. Eu vejo uma evolução nisso. Ou, um voltar para aquele pensamento de carnaval solto, carnaval livre. O carnaval vem sendo julgado através dos resultados. Quando você teve no final dos anos 90, início dos anos 2000, um tecnicismo, vamos colocar assim, imperando no desfile, todo mundo seguiu essa tendência. E, hoje, eu vejo um protagonismo maior dos enredos e do samba no desfile. E, quando você tem novamente o protagonismo do samba, isso permite com que as escolas fiquem mais livres. Aí você vai passar também com maior preocupação com volume de fantasia, melhor preocupação com o desenrolar da sua escola na Avenida. Eu tenho visto sim, um arrefecimento desse tecnicismo, desse militarismo na Avenida, em prol da espontaneidade, e isso a gente tem que aplaudir, tem que louvar, e isso passa também um pouco por essa safra de diretores de carnavais novos. Eu também sou um cara que está dentro dessa realidade. Trazendo aspectos livres, soltos, mas sem deixar de se preocupar pelos aspectos de julgamento, de pontos, porque estamos em uma competição, e esse é o grande desafio”.

Como diretor de carnaval, o que você sente quando lê justificativas de evolução e harmonia? Dentro do conceito de cada quesito, como aprimorar o julgamento?

Thiago Monteiro: ”Quando eu leio uma justificativa, primeiro, eu tento abstrair o meu coração de qualquer preconceito. Primeiro, eu tenho que tentar identificar se aquilo é pertinente ou não, e aqui, eu coloco um parêntese, eu acredito muito nos julgadores que a Liesa escuta. São currículos invejáveis, currículos excelentes. Ninguém que está ali, chegou de paraquedas. Todo mundo tem uma história por trás, e julga com a sua competência. Tenho que ver se o julgamento tem pertinência, e muitas vezes tem. O julgamento da Grande Rio de evolução de 2020, ele é muito pertinente. Nós erramos mesmo em evolução, em algumas situações. E tem que tentar melhorar. E o julgamento de harmonia, eu acho que hoje, é o julgamento mais fácil para você tirar pontos de uma escola de samba. Isso aí é a matemática. Harmonia hoje é um dos pouquíssimos quesitos que a escola é julgada durante a cabine todo tempo. Mestre-sala e porta-bandeira você julga naquele momento, bateria, pelo manual do julgador, a bateria seria julgada quando passa em frente da cabine. Os carros, eles só são julgados naquele um minuto que passa em frente da cabine, cada carro. Agora, a harmonia, ela está sendo julgada durante os seus 40 minutos, dependendo do tempo que a escola passa na frente de uma cabine. Acho que hoje a harmonia está sendo muito julgada no seu carro de som, porque é muito difícil para o julgador com chapéu, com adereço de mão, e o som da avenida se sobrepondo aos componentes, é muito difícil para o julgador ver quem de uma ala está cantando. Hoje, você vê muito mais carro de som e postura do componente”.

Acredita ser necessário padronizar os descontos, ou seja, abriu um buraco perde 0,1 ou deixa subjetivo?

Thiago Monteiro: ”Acho que julgamento de escola de samba, ele é necessariamente subjetivo, e tem que ser. Tem outras praças que o julgamento é muito mais cartesiano, vamos colocar assim, e eu não acho tão emocionante como aqui, você não tem tanto espaço para improvisações e espontaneidade. Coisa que a raiz do carnaval pede”.

Você como diretor de carnaval ou harmonia qual foi seu desfile inesquecível? E qual foi o desfile que você não gosta de lembrar?

Thiago Monteiro: ”Desfile que eu não goste de lembrar, eu não tenho não. Como diretor de carnaval, eu tenho quatro, cinco com o Império da Tijuca em 2013. Eu tenho que falar três. Império da Tijuca 2013, ‘Nega Pérola Mulher’, que nós fomos campeões, tem o Tuiuti 2018, ‘Meu Deus, Meu Deus’, e tem o Grande Rio 2020, o ‘Tatalondirá’, que apesar dos problemas de pista que aconteceram, pontuais, a escola se comportou maravilhosamente na Avenida, perdemos o título no sorteio da ordem de quesitos. Outro desfile que eu não desgosto dele, que é o “Quem nunca” (Grande Rio 2019), porque é o momento de renascimento de uma escola que estava desacreditada por vários fatores, que passou por tudo aqui que todo mundo sabe, ficou no grupo, e esperava-se tudo daquele desfile da Grande Rio. A própria comunidade na época não sabia como seria aguardada na Sapucaí. E a escola foi, deu seu recado, desfilou dignamente, fez um desfile correto de evolução, de harmonia, lançando várias pessoas novas nos segmentos”.

O caminho da Cidade do Samba para o Sambódromo já foi mais complicado, inclusive, com árvores não podadas. Concorda que melhorou ou ainda é preciso ter mais cuidados?

Thiago Monteiro: ”Melhorou muito. Inclusive, a parceria da Liesa com a prefeitura, isso antes do governo que nós tivemos aí, já estava bem alinhado. Agora com a volta do prefeito Eduardo Paes nos ajuda muito mais. Agora, você tem uma cidade muito mais preparada para receber carro alegórico do que você tinha nos anos 2000, 2010. A Cidade do Samba para Sapucaí tem um percurso que não foi preparado, e, não era para ser mesmo, para receber carro alegórico. A cidade é preparada para receber carros. Então, se adapta. E depois de tanto se fazer isso, você já tem um trabalho meio que automático de afastar árvores, de virar sinal, de você mitigar obstáculos urbanos”.

Na área de concentração, o que você melhoraria lá na Presidente Vargas? Qual é o maior drama desde o momento que o carro chega até a hora do desfile?

Thiago Monteiro: “Aí passa muito mais por uma questão de gestão pública do que da própria escola de samba. A gente precisa, talvez, de mais uma infraestrutura em segurança para aquelas pessoas que ficam ali na concentração do ‘Balança, Mas não Cai’. Aquilo é muito problemático. Você tem histórico de assaltos. E, eu sei que é um desafio para qualquer governante do Rio de Janeiro. Você tem a própria dispersão ali na Frei Caneca que também é difícil, além de ser estreito, mas hoje você tem uma iluminação muito melhor, mas você tem uma preocupação com segurança muito grande. A estrutura onde o sambódromo está, e eu acho que ele não deve sair dali nunca pois é a raiz do samba, é uma estrutura que não foi projetada e preparada para receber um carro que chegasse a 15 metros de altura, que chegasse a 12 de largura. Há de haver adaptações dos dois lados, tanto das escolas como da própria cidade. Acho que essa relação hoje é muito boa”.

Você é do grupo que diz que o viaduto e a antiga torre de TV eram tradições do carnaval ou acha que precisariam sair mesmo?

Thiago Monteiro: “Acho que a gente já aprendeu com profissionais extremamente gabaritados e competentes para passar seus carnavais ali no viaduto. Muito pouco você vê hoje agarrar em viaduto, aí passa também pela pergunta sobre diretores de carnavais novos e antigos. Os antigos pavimentaram para gente hoje. A gente tem que reverenciá-los muito. Hoje é muito mais fácil fazer carnaval que no tempo deles, isso eu te garanto. Em contrapartida você tem carros muito maiores. O viaduto está ali desde 1984 e as escolas já sabem lidar com isso. Pode tirar o viaduto, mas acho que sinceramente não vai nos afetar. A torre de TV foi mudada, acho que quando ela era fixa, mais para dentro do desfile, ficava um pouco mais complicado. Agora ela está um pouco menor, hoje você pode passar com o carro acima de 12 metros, que aquela torre, tanto pela direita, quanto pelo meio, que não vai bater ali”.

Qual desfile que você gostaria de ter participado na história do carnaval e por qual motivo?

Thiago Monteiro: “Um desfile que eu gostaria de estar é “Ratos e urubus” (Beija-Flor 1989). Para mim é uma mudança no jeito de fazer carnaval, no jeito de ver carnaval. É o povo da rua tomando conta da Avenida. “Ratos e Urubus” e “Kizomba” (Vila 1988), eu gostaria de estar. Eu estava no “Peguei um Ita no Norte” (Salgueiro 1993) como componente. Eu tinha uns 5 anos. Então eu não posso dizer que eu queria participar porque eu participei”.

Falando de julgamento, o carro de som deve ser oficializado como um subquesito dentro de Harmonia, como acontece com letra e melodia dentro do quesito Samba-Enredo?

Thiago Monteiro: ”Quando eu era diretor de carnaval da Lierj, eu que criei isso na Série A. Propus isso na época, e nós dividimos o quesito harmonia em canto da comunidade e carro de som. Eu sou totalmente favorável. Porque eu acho que você está sendo penalizado em harmonia em situações que são inerentes ao carro de som. Eu só tinha esse cuidado na Lierj, e tenho certeza que a Liesa terá esse cuidado também, de chegar ao limite do problema de carro de som, ou problema de quem está cantando e tocando no carro de som. Até que ponto o som da Avenida, daquele carro de som, vai influenciar nessa nota. Você tem hoje os melhores profissionais de escola de samba que estão aqui no Rio de Janeiro. São pessoas extremamente valorizadas. Esses caras merecem também serem julgados pelo seu profissionalismo. Essa divisão não está diminuindo, está valorizando o seu cantor. O cantor que toma 10 todo ano vai ser valorizado no mercado”.

Vamos entrar mais nos desfiles. O que representa o desfile do Império da Tijuca em 2013 para você?

Thiago Monteiro: “Em 2013, foi a primeira experiência que eu tive como diretor de carnaval com condições. O presidente Tê (Império da Tijuca) me fez aquele convite e eu fiquei muito feliz, eu não imaginava que a gente ia chegar onde a gente chegou com organização, com um grande samba. Não fui eu que escolhi o samba, mas com certeza, foi uma das pessoas que chegavam para o presidente e dizia ‘é esse aí’. Aliás, todos os presidentes que eu tive até hoje sempre me ouviam, e se não escolhiam por minha causa, eu não vou ter essa arrogância, porque é sempre democrático, mas acho que a minha opinião sempre contou um pouco nessas decisões. Agora 2013, meu primeiro ano como diretor de carnaval, a escola passa com aquela organização, estratégias montadas por nós, por mim, que o Tê aceitou, tanto como botar a bateria, como fazer a escola andar um pouco mais rápido no início, para depois segurar. Foi o primeiro ano da Lierj que eram 55 minutos e um dia antes a Estácio havia estourado o tempo. Quando passa de sexta para sábado, eu faço uma reunião com o presidente, com a direção de harmonia e sugiro mudar a estratégia para o desfile. Eles aceitaram e a escola passou muito bem”.

O que representa o Tuiuti em 2018 na sua vida?

Thiago Monteiro: “Em 2018, eu já tinha passado três anos na Grande Rio como diretor geral de harmonia, fui para a Lierj, passei um ano como diretor de carnaval da Lierj, que me ajudou muito nessa parte estrutural. O Tuiuti estava análogo à Grande Rio 2019. Havia acabado de passar por um rebaixamento que não tinha caído com a Tropicália. Aí quando eu cheguei na escola em 2017 para o carnaval de 2018, a primeira coisa era fazer o povo acreditar que era possível. Como é que você vai para uma escola que ficou a 22 décimos de uma outra que teve problema análogo ao teu que era a Tijuca? E como vai fazer a comunidade acreditar que ela não vai cair de novo? É muito difícil. Gente, nós vamos fazer o maior desfile da nossa vida, a gente tinha que sair da Avenida com a sensação de ‘o que esses caras fizeram aqui na Avenida’, ‘maior desfile deles’. Sentamos com o Jack (Vasconcellos), samba encomendado com o Cláudio Russo, Patrick na comissão de frente, vem aquela catarse do “Meu Deus, Meu Deus”. Você tinha samba, você tinha enredo, você tinha discurso. E hoje o carnaval está muito pautado em samba, enredo e discurso. Você tendo isso, e ninguém esperando nada da Tuiuti, deu no que deu. Para mim, esse foi um divisor de águas na minha carreira”.

A Grande Rio ficou marcada pela virada de mesa e em 2020 conquistou os sambistas. O que passou, passou? E como fidelizar ainda mais os sambistas?

Thiago Monteiro: “Eu acho que o desfile de 2020 é o resultado de um trabalho, nada acontece no desfile. Tudo que acontece na Avenida é resultado de um processo muito longo e muito detalhado. ‘Tatalondirá 2020’ é o resultado de um planejamento da Grande Rio. Um planejamento que começou no final de 2018 para o carnaval 2019. Em que você tem pessoas sendo contratadas para a escola, pessoas que até o mundo do carnaval nem esperassem que assumissem a Grande Rio. Bota aí a Taciana (porta-bandeira), o Fafá (mestre), o Evandro (Malandro), bota eu. O Hélio e a Beth (Bejani) já eram consagrados. Mas, esse corpo todo praticamente da Grande Rio de segmentos foi formado em 2019. E para 2020, esse processo se aperfeiçoou com a vinda dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. E é dar a liberdade para todas as pessoas fazerem o carnaval. Na história da Grande Rio ela sempre contratava nomes consagrados, e a partir de 2019 ela começa a olhar para gente de casa e contratar pessoas de dentro da casa. Em 2019, a escola quis olhar para dentro de si. Quem nunca errou, nós erramos também, todo mundo tem telhado de vidro nessa brincadeira. E, naquele momento, a escola sabia até que poderia tomar porrada de fora, mas a escola quis olhar para dentro, quis olhar para o nosso componente. E, aí tratamos da parte interna da escola, para que em 2020 fosse, sim, o olhar para a fora”.

Você estava aí quando a Grande Rio decidiu apostar no Bora e Haddad. Como isso aconteceu?

Thiago Monteiro: “Quando a presidência optou pela troca de carnavalescos por motivo dela, pensou-se também, não vamos trazer medalhão. Como já havia dado certo esse processo um ano antes, eu posso dizer que eu fui uma das pessoas que mais contribuiu para isso. Lógico que não foi só eu. Leonardo e Gabriel quase subiram com a Cubango. Quando se pensou em nomes novos, eu fui uma das primeiras pessoas que falou deles. Vamos apostar neles. Acho que dá certo. Estamos nesse movimento, sem medalhões, mas todo mundo competente, ninguém está aqui por benevolência, favor de ninguém, e sim por competência. Eu fui uma das pessoas que fez contato com eles, estava nas reuniões. Não foi fácil, demorou umas três, quatro reuniões, porque eles também tinham a preocupação por essa identidade que a Grande Rio adotou durante alguns anos injustamente. Eles tinham medo de que caísse um enredo louco nas mãos deles. Isso a presidência passou para eles já de cara. O Jayder, o Helinho, o Perácio. Vocês vão ficar livres, a escola pode até propor enredo para vocês mas se vocês não aceitarem vocês não vão fazer esse enredo, e houve um certo cuidado dos carnavalescos, o que eu acho muito bom, porque são pessoas que já chegaram aprendendo a dizer não. E, como o primeiro enredo foi ‘Tatalondirá’, que a gente propôs, a gente estava mexendo nesse enredo já antes de eles chegarem, eles aceitaram de cara o Joãozinho da Gomeia, só mudaram o nome, e a pesquisa foi inteira deles. O que aconteceu na avenida foi 100% deles”.

Agora, a era global ou ela segue, mas também com protagonismo cultural dos enredos? Aliás, a proposta é sempre trazer enredos culturais nos próximos anos?

Thiago Monteiro: “Eu acho que é um caminho sem volta. O enredo cultural. A escola voltou a olhar para ela, deu resultado, não só para fora, deu resultado para dentro. A escola acredita, cada componente acredita piamente que pode ser campeão. Se vai ser campeão ou não, também é uma consequência. Também tem onze escolas aí fazendo o seu melhor. Os enredos, como o samba, como essa linguagem que a Grande Rio adotou vindo das contratações de 2019, com os carnavalescos para 2020, isso é um casamento que tem dado muito certo. E, isso não sou eu que estou falando, são pessoas do carnaval e o resultado aí de 2020. Não só da Grande Rio não, você pode ver que no carnaval de 2022, você tem 100% enredos discursos, todos eles têm alguma coisa a falar. Você não tem mais um passeio turístico, uma homenagem pura e simples. Quem está sendo homenageado, está sendo homenageado por um motivo relevante. As escolas estão entendendo o contexto em que estão inseridas”.

E com a Taciana, muita gente não acreditava, e vocês conseguiram que ela de terceira porta-bandeira fosse para primeira e sendo muito elogiada, principalmente, em 2020 e agora. Qual foi o segredo?

Thiago Monteiro: “A Taciana vem no mesmo processo de renovação que eu cheguei na Grande Rio. Fafá, Taciana, eu, o Hélio e a Beth Bejani. Nós chegamos todos para o carnaval de 2019. Isso partiu de a Grande Rio olhar para dentro. A Grande Rio decidiu apostar em promessas. Apostar na sua terceira porta-bandeira, no seu diretor de bateria e no seu segundo cantor. E, acho que foi uma grande coragem da Grande Rio. Ela poderia ter pego nomes tão bons como a gente, mas que consagrados. E, acho que o nosso diferencial desse grupo, é um grupo que ama a escola. A maioria deles foi criado aqui dentro, e quem não foi criado passou muito tempo aqui em outros cargos antes de chegar nos cargos que tem hoje. Então, todo mundo tem um laço muito, muito forte com a escola. Eu acho que esse é um dos grandes segredos. Essas pessoas, se precisar, vão para debaixo do carro. Todo mundo está aqui doido para dar o primeiro título para a escola”.

Esse negócio do Fafá e da bateria não correrem é muito elogiado, mas gera também reclamações de quem fala que cada bateria tem sua identidade. Qual é sua opinião?

Thiago Monteiro: ”A escola está muito feliz com a nossa bateria. O Fafá é discípulo de Odilon. Ele mesmo fala isso. O Odilon foi um dos caras que mais deu nota 10 para a Grande Rio nos anos 90 quando a escola ainda estava se formando como escola de samba. E, dentro do movimento de você voltar às origens da escola, de enredo, de sambas, é óbvio que a bateria tinha que estar dentro. É óbvio que isso em um primeiro momento pode até causar uma estranheza em alguns ouvidos. No início, eu mesmo, sendo muito honesto, conversava muito com o Fafá sobre isso. Eu trabalhei em algumas escolas em que a bateria não era tão cadenciada, a própria Grande Rio quando eu trabalhei na primeira passagem não era nem um pouco cadenciada. Só que a proposta da escola era voltar às origens. E o Fafá entendeu isso. O Odilon, pelo o que ele fala, foi muito participativo nessa construção. E, no início, eu conversava muito com o Fafá, principalmente no primeiro ano, no do “Quem nunca”. Samba encomendado, todo mundo querendo que desse certo. Ele pediu para confiar. De minha parte havia sim uma certa insegurança, mas depois que a escola tomou corpo nos ensaios de rua e foi para a Avenida, zerou 100%. Porque eu também tive a humildade de entender que aquilo era a volta às origens da Grande Rio”.

A falta de ensaio de rua pode impactar todas escolas de samba nos desfiles em abril?

Thiago Monteiro: “Eu acredito que em 15 dias, um mês, eu sou muito otimista, isso já vai ter sido mitigado. Essa situação dos ensaios de rua. Teve o adiamento do carnaval. Isso, um mês e 25 dias que as escolas ganham, permite esticar também o ensaio de rua. Também não vai prejudicar muito, as escolas vão ensaiar. Porque quem joga, tem que treinar. E a rua, a nossa Brigadeiro (Avenida Brigadeiro Lima e Silva), é a nossa Sapucaí, até pela extensão. Então, eu acho que se voltar em março o ensaio de rua, as escolas vão ter aí seis semanas para fazer seus ensaios de rua, e, eu acho que é um tempo muito bom, contando que as escolas já fizeram ensaios, a Grande Rio por sua vez já fez seis ensaios de rua. A gente não perde isso. Com mais seis, são doze. A gente em média por temporada faz nove. Vamos ter mais ensaios do que em uma temporada regular. Tudo a gente bota na matemática. Não prejudica muito”.

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