Por Victor Amancio
No seu décimo terceiro ano como mestre de bateria do Paraíso do Tuiuti, sendo o sétimo seguido, o mestre Ricardinho que chegou à escola em 1998 como ritmista coloca a bateria Supersom em um patamar de grandeza perto das tradicionais escolas de samba. São 19 notas dez em 24 disputadas, tendo um aproveitamento de 80%. O mestre do Paraíso do Tuiuti conversa com a reportagem do CARNAVALESCO para a série ‘Entrevistão’.
Após tantos anos de Tuiuti e experiência em diversas baterias como ritmista e mestre o que o carnaval mudou na sua vida?
Ricardinho: “Não mudou muita coisa, pois eu nunca vivi de carnaval e continuo não vivendo. Hoje, o Tuiuti por estar no Grupo Especial tem condições de oferecer condições melhores do que quando estávamos no Acesso, mas ainda assim eu não consigo viver disso. Tenho minha profissão, sou professor de matemática, de fevereiro a dezembro trabalho dentro da sala de aula todos os dias às 7h. É uma luta nos meses próximos ao carnaval. Eu digo que o Tuiuti, principalmente, pois é uma escola que eu acompanho há mais de 20 anos, evoluiu muito. Quando eu cheguei na escola em 1998 não tínhamos nem teto e hoje temos uma estrutura representa bem a escola”.
Qual a importância do presidente Thor na sua vida como mestre de bateria?
Ricardinho: “Foi o cara que me deu a primeira oportunidade em 2003 quando se tornou presidente, eu era ritmista dele, desfilei com ele de 1999 a 2001. Quando ele voltou em 2003 quando ele chegou à presidência eu pedi a ele uma oportunidade e ele achou que valia a pena investir, graças ao trabalho que eu já tinha desenvolvido no samba, na Unidos da Tijuca, e criamos um vínculo e já vou para o décimo terceiro ano a frente da bateria, com algumas interrupções”.
Como professor de matemática o que você leva do carnaval para sala de aula e da sala de aula para o carnaval?
Ricardinho: “Da sala de aula para o carnaval eu levo principalmente a questão da didática, a questão de passar as coisas para os ritmistas, pela experiência que eu tenho em ensinar e me fazer ser entendido. Da sala de aula para o carnaval é mais fácil para mim, no sentido contrário, eu acho que levo a balbúrdia, a desorganização de uma bateria. São 250 pessoas que pensam diferentes, cada um querendo uma coisa de um jeito ou quer uma coisa. Administrar todas essas pessoas, de diferentes classes sociais e gêneros é um pouco difícil, as vezes encontro dificuldade, mas tento sempre ser o mais compreensivo possível”.
Como ritmista qual mestre foi sua maior referência? Por que?
Ricardinho: “Eu sou de 1976, tenho 43 anos hoje, mestres que eu tenho como referência são os que eu consegui assistir pela televisão na época que me apaixonei pelas escolas de samba. Então posso dizer que são o mestre Mug, da Vila Isabel, que hoje eu conheço pessoalmente; o Ciça, que eu vi pela Estácio em 1989 e fiquei alucinado; Odilon, na União da Ilha na década de 90 também me fascinou; mestre Paulão, da União da Ilha; mestre Paulinho, da Caprichosos de Pilares. São os principais, e eu fico feliz em ter tido a chance de disputar nota com alguns deles, como o Ciça que está em atividade e hoje é um paizão, um padrinho”.
Apesar de ser novo, você é uma realidade como mestre de bateria. Qual sua opinião sobre a garotada que está chegando no comando das baterias?
Ricardinho: “Eu sou muito humilde nessa questão de ser uma realidade, eu tenho uma experiência razoavelmente grande, estou indo para o quarto ano no Grupo Especial, mas eu acho que não sou eu quem tenho que achar isso. Eu faço o meu trabalho para garantir o meu espaço. Sobre os garotos que estão chegando eu vejo muita qualidade, mas ser mestre não é somente ter qualidade técnica, muito mais do que saber tocar bem ou fazer bossa elaborada. Ser mestre é saber fazer política, saber apresentar a bateria para um jurado, esses são os aspectos. O que eu falo para essa rapaziada nova que está chegando é que eles venham com força e disposição mas sempre respeitando os mais velhos”.
Hoje, poucos falam mais a bateria da Tijuca com mestre Celinho era uma das melhores, mas suava por notas máximas. O que faltava?
Ricardinho: “Sinceramente, eu não sei pois a bateria se apresentou muito bem. Desfilei com Celinho de 1999 à 2005. Em 2 anos, 1999, 2001 tiramos a nota máxima, mas tirando o ano de 2002, que foi um ano que a fantasia dificultou a execução da bateria, tivemos boas notas, chegando perto da nota máxima. Podia ser má vontade do jurado em não dar a nota máxima e às vezes pela falta de expressividade do Celinho, que é uma pessoa muito tímida, em dizer assim “olha aqui a minha bateria”, pois ele tinha, a bateria era um esculacho. Mas é apenas uma especulação. O Celinho é uma referência, um grande amigo que pude fazer, encontro ele de vez em quando pela rua e sempre é um prazer estar com ele”.
Paradinha ou coreografia o que você prefere e o motivo?
Ricardinho: “Entre os dois eu prefiro o ritmo, a bateria está lá para sustentar o samba, o andamento. Paradinha e coreografias são complementos. Paradinha é para o ritmista dar uma descansada, 10, 15 segundos para pegar um gás de novo. Coreografia é complemento para mexer com arquibancada. Tem ano que cai bem e tem ano que o samba não permite fazer muita coisa. O ano de 2016 aqui foi o auge, no ano que subimos, viemos com várias coreografias e o público respondia mas não é a tônica do nosso trabalho”.
A realidade agora nas baterias é o que mestre precisa conhecer mesmo e não ser apenas autodidata?
Ricardinho: “Ritmo tem que conhecer, sem dúvida, conhecimento musical tem muito mestre que não conhecem e isso é uma coisa que essa nova geração está trazendo. Muitos mestres novos sabem ler partitura e tem esse conhecimento musical que eu, particularmente, não tenho. Eu entendo de afinação, consigo detectar um erro e onde acontece. Os mestres antigos não tem essa característica, mas hoje essa galera nova tem essa virtude e eu acredito que seja uma contribuição deles, pois quanto mais pudermos tornar o trabalho mais técnico, mais evoluído, é melhor para o carnaval. Não diria que não ter esse conhecimento me faz falta”.
Se pudesse o que gostaria de mudar no julgamento do quesito e como faria?
Ricardinho: “É muito difícil, o julgamento é muito subjetivo, por exemplo: esse ano um jurado elogiou a afinação da bateria do Tuiuti, disse que estava boa e a bateria estava com peso. O jurado do módulo seguinte tirou ponto e dentre as justificativas era que a bateria estava com pouco peso. É um critério muito subjetivo. Para mim deveria ser algo mais técnico como: na minha frente no minuto X a bateria fez uma paradinha e sobrou um tamborim. Se fosse assim, não teríamos o que discutir. O critério do “eu acho”, acaba sendo muito subjetivo. Os mestres não gostam desse tipo de justificativa, que não parece ser uma coisa plausível, e sim para tirar ponto pela bandeira da escola. Essa é minha opinião. Julgar é muito complicado, máximo respeito aos jurados e vamos trabalhar para agradar”.
Em que patamar você coloca a bateria do Tuiuti atualmente? E o que ainda pensa em melhorar para esse ano ou os próximos?
É difícil de falar do próprio trabalho, de 2014 pra cá, que foi quando eu voltei para escola depois de 4 anos, eu peguei uma bateria e hoje temos uma outra bateria. Eu acho que a bateria do Tuiuti não se apresenta mal, temos uma bateria completa, com corpo. Tudo é fruto de um trabalho, são 19 notas máximas em 24 disputadas e temos que continuar buscando, nosso aproveitamento está em 80% e um trabalho desse de jeito nenhum pode ser considerado ruim. Dessas 5 notas que não foram 10, 3 foram no ano de 2017, quando a escola subiu, e a gente sabe que tem a questão da escola que sobe ser visada a perder nota. A bateria hoje, eu acredito e escuto por ai, é respeitada no carnaval. E para melhorar é corrigir sempre o que não está tão bom, mas o trabalho em si está sendo instituído desde 2014″.