No fim do mês de maio ou no início de junho, o jovem Luiz Guimarães assume a presidência da Vila Isabel. Como o site CARNAVALESCO noticiou ele entrará no cargo, após a saída de Fernando Fernandes. Ao participar do “Entrevistão”, o filho do Capitão Guimarães, ex-presidente da Liesa e da Vila, revelou seus projetos, falou da relação com o pai, a contratação do carnavalesco Paulo Barros e as presenças das novas gerações nos comandos das agremiações no carnaval carioca.
Qual é o tamanho do desafio de assumir a presidência da Vila Isabel?
“É o maior da minha vida. Sempre esperei ao longo desses últimos anos. Não podia estar tão bem preparado como agora. Aprendi muita coisa, mas ainda tenho muito que aprender no carnaval. Entender a engrenagem e como funciona o dia a dia do carnaval é uma coisa muito complexa e requer tempo. A maturidade vamos ganhando ao longo dos anos com erros e acertos. É uma responsabilidade enorme que eu carrego, não só pelo nome, pela expectativa criada em cima de mim, acredito que seja o presidente mais novo a assumir uma escola do Grupo Especial. Tenho uma vontade muito grande de poder mostrar o que sou capaz e devolver a Vila ao devido lugar dela e todo ano brigar nas cabeças. Vamos entregar isso sempre. A ficha vai cair ao longo do tempo. Vou assumir de fato no fim de maio e início de junho. Tem o processo de transição, estou feliz e realizado”.
Como você descobriu esse amor pela Vila Isabel?
“Quando era pequeno desfilava na Viradouro, já até usei camisa do Flamengo (risos), mas desde que me conheço, ficava no camarote da Liesa no Sambódromo, sempre amei muito o carnaval e comecei a admirar a Vila Isabel. Minha primeira lembrança foi o título em 2006, que foi o ano de inauguração da Cidade do Samba, dali para frente me apaixonei. Fizemos grandes carnavais de 2006 a 2013. Fui tomando gosto, entendendo o que meu pai significava para escola, para o carnaval e me envolvi completamente na escola”.
Como é a relação com seu pai e o que ele falou agora que você vai assumir a presidência da Vila?
“Ele me cobra diariamente. A minha responsabilidade cresce ainda mais. Ele sempre conversa comigo, diz que vai três vezes por semana no barracão, está muito animado, querendo fazer um grande carnaval em 2023. Ele diz que está com 80 anos, quer fazer o que gosta e aproveitar isso. Vendo ele assim sinto ainda mais vontade de poder colaborar e fazer pela Vila Isabel”.
Como foi o momento que seu pai pegou o microfone e fez o discurso antes do desfile da Vila Isabel em 2022?
“Ele me chamou, mostrou o discurso, falei que estava muito bom. Era para tocar toda Sapucaí e realmente tocou. Foi muito importante. Simbolizou o amor dele pela Vila Isabel e a gratidão que ele tem pelo Martinho. É uma pessoa que todos admiram muito, leva a Vila para todo que é lugar e tem que ser exaltado eternamente pela Vila Isabel”.
Dizem que sei pai estuda sempre o carnaval. Como isso funciona dentro de casa?
“Ele pensa no todo. Pensa em quesitos, manual de julgador, modo de julgar, o que pode ser aprimorado. Cheguei na casa dele e já estava lendo o mapa de jurados. Ele tem o carinho e olhar diferente para Liga. Pensa em cada detalhe. Quer sempre o espetáculo em alto nível. Ele é uma pessoa sedenta por conquista para o mundo do samba. Quer sempre ver o carnaval crescendo. Não se acomoda nunca. Consegue enxergar coisas que eu não consigo. Está sempre um passo à frente. Nunca tendenciou para uma escola ou outra. Enfim, ele quer o melhor para o carnaval”.
Qual é sua análise da chegada da nova geração, os herdeiros, aos cargos de comando nas escolas de samba?
“A gente conversa bastante. O Marcelinho Calil é dez anos mais velho. Tenho admiração muito grande. Falei que vou passar uma semana com ele no barracão para aprender um pouco. Teve muito êxito recente no carnaval e tiro o chápeu para ele. Além de um grande irmão, é meu amigo particular. O João Drumond é uma pessoa que tem liderança muito grande na Imperatriz, com discursos fortes, uma fala muito boa. Está fazendo um belo trabalho lá, não aconteceu esse ano, mas é questão de detalhe. A nova geração é muito boa e vejo união entre a gente. O Bê (Bernardo Coutinho) na Grande Rio é um garoto maravilhoso. Falei para ele entrar mais na escola. Lá, tem muita gente tocando, mas a hora dele vai chegar. O amor ao carnaval levamos de geração em geração. Assim, a gente vai dando continuidade”.
Qual é sua avaliação do trabalho do Gabriel David na Liesa?
“Gosto muito. A gente conversa bastante. Queremos fazer muito coisa. É normal dar uma freada algumas vezes, porque temos um ímpeto grande para mudanças. Admiro muito ele e sou fã do trabalho. Bato palma para ele, porque diariamente ele dá a cara a tapa em prol da nossa causa e isso é louvável”.
A Vila Isabel ficou em quarto em 2022. Qual foi sua análise do desfile?
“Novamente, a gente fez um grande desfile. Viemos com um grande enredo e fizemos um grande carnaval. Imaginava ficar entre as três primeiras. Não tirando o mérito da Grande Rio, porque mereceu muito. Não estou chateado, estou muito feliz. A comunidade e todo mundo viu que fizemos carnaval para disputar. Nosso papel foi feito. O campeão ou não é detalhe. É muito técnico. Esse ano o nível foi alto. O feedback que as pessoas me passam sobre o trabalho apresentado na Vila é o mais importante. Tenho certeza que a hora da Vila Isabel vai chegar. O trabalho a longo prazo requer tempo, colocamos a escola no lugar, depois de um período nebuloso. As pessoas que estão de fora não tem noção do que vivemos nesses últimos anos com penhoras e muitas dívidas. Administrações passadas usurparam a escola. A escola agora está zerada de ações. Temos que tocar, gerir pessoas, fazer projetos sociais, administrar problemas, não é fácil administrar uma escola de samba”.
Como aconteceu a contratação do Paulo Barros para 2023?
“Meu pai e eu somos fãs do trabalho do Paulo. Acreditamos muito no trabalho dele. Revolucionou o carnaval moderno. É um gênio. Posso perguntar aos leitores do site e pedir que falem 20 alas e 20 alegorias que marcaram nos últimos anos. O trabalho do Paulo sempre será citado. Faz carnavais que marcam e impactam. Ao longo desses anos, fez carnavais maravilhosos. Não só criativos, como tradicionais. Fez um grande desfile na Vila Isabel em 2009, venceu na Portela, outro grande desfile na Viradouro em 2019. O Paulo sempre foi vitorioso. Obviamente, tem anos que os projetos de carnaval não acontecem. Temos energia e sintonia muito grande com o Paulo. Vamos buscar a criatividade. Não vamos perder as tradições da Vila Isabel. A ideia é fazer essa união com o que sempre foi a Vila. Fazer um bom carnaval pede que tenha uma energia muito grande dentro do barracão. O dia a dia é fundamental para fazer uma escola ser vitoriosa”.
O que o torcedor pode esperar do enredo do ano que vem?
“O enredo é autoral. Estamos conversando bastante. Existem algumas vertentes, as linhas são bem legais, com bastante criatividade e a tradição da Vila. Eu falo, meu pai e Paulo também que podem esperar que a Vila Isabel fará o maior carnaval de todos os tempos. Não vamos medir esforços e não faltará empenho”.
Quais os projetos para melhorar a relação com a comunidade?
“Vamos resgatar a comunidade que foi muito massacrada. Já estamos trabalhando para isso. Faremos ensaios na quadra lá no morro. Teremos recrutamento de novos componentes. Sem deixar o asfalto de lado, mas vamos ter uma atenção maior com o nosso povo. Vamos trazer novamente a comunidade para dentro da escola. Vamos mudar o ensaio para quarta-feira”.
O que mais pode acontecer na Vila Isabel na sua gestão?
“Quero também levar a Vila Isabel para ensaiar em outros pontos do Rio, como a Beija-Flor faz em Copacabana. Algumas ideias diferentes vamos soltar ao longo do ano. Voltar com os nossos projetos sociais. Fazer uma loja online decente da Vila Isabel. Voltar com os ensaios comerciais. Tem muita coisa para fazer”.
Sabrina Sato segue na escola?
“Com certeza. Já conversei com ela e está muito feliz. A Sabrina é nota mil. Carismática, ela é Vila Isabel. Sempre pensa em agregar, no coletivo”.
O que representam para Vila o Tinga e o Macaco Branco?
“Eles representam a essência da Vila Isabel, a nossa comunidade. São pratas da casa. Todos vieram da Herdeiros da Vila. O Marcinho (mestre-sala) também. Vejo muitas pessoas com futuro promissor dentro da Vila. Devemos valorizar e muito nossa escola mirim. Dali é que o samba se renova, recicla e o lugar em que surgem os futuros talentos”.
Qual mensagem deixa para a comunidade da Vila Isabel?
“A conexão é muito importante. Sem esse voto de confiança e união não vamos chegar em lugar nenhum. Peço esse voto de confiança para todo mundo. Acreditem no nosso projeto. Podem dar sugestões de melhorias, ninguém é dono da razão. Acredito que a Vila Isabel está no caminho de ser novamente uma escola vitoriosa. Tenho certeza que ainda vamos ter muitas vitórias nessa década. Ganhar é consequência da base sólida, bem feita, temos que plantar a semente agora para colher lá na frente”.