A porta-bandeira Danielle Nascimento formou ao lado de Julinho um dos casais mais longevos da Tradição. Em 1993 foi o primeiro da dupla junta. Ambos alcançaram o olimpo da dança com premiações e títulos, mesmo que separados. Não é fácil carregar o sobrenome que Danielle carrega. Filha de Vilma, neta de Natal, dois ícones da história da Portela. Mas a porta-bandeira superou o fardo e colocou também o seu nome no livro de glórias da Majestade do Samba.

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Hoje no Tuiuti, Danielle atendeu a reportagem do CARNAVALESCO para a série “Entrevistão”. A dançarina é uma das porta-bandeiras de maior personalidade da festa. Ela afirmou na conversa que jamais deixará de torcer pela Portela, disse que sua mãe é quem mais lhe cobra desempenho e pediu um julgamento mais coerente do quesito: “Tem de ser igual para todo mundo”.

Sua mãe não queria que você dançasse, não é verdade?

“Eu tenho 30 anos de carreira. No início minha mãe não queria, ela não desejava para mim, por ser filha dela, as pessoas iam me criticar, me massacrar. Graças a Deus sobrevivi, os anos foram passando e as pessoas foram vendo que eu nunca seria uma Vilma. Nunca que eu serei como a minha mãe. É impossível ser Vilma. Consegui realizar o meu trabalho. Hoje ela tem um imenso orgulho de mim”.

Lembra-se de alguma bronca da sua mãe?

“A minha mãe é tão dura que só me critica. Ela nunca me ensinou a dançar, aprendi sozinha. A mais dura foi um ano na Tradição. Eu estava com Dengue, era uma luta, e minha mãe me cobrando, exigindo que eu rodasse. Isso foi bom pra mim, me tornei uma porta-bandeira forte. Em 2018 desfilei com pneumonia e consegui os 40 pontos para a escola”.

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Tem alguma outra referência na dança além da sua mãe?

“Como sempre lutei para não ter a identidade da minha mãe, eu não segui assim o estilo de nenhuma outra porta-bandeira. O que não significa que eu não admire minhas colegas. Acho lindo, por exemplo, a dança da Marcella Alves do Salgueiro”

Como você vê hoje o Julinho? Imagina que ele chegaria aonde chegou?

“Imaginava sim. Desde aquela época eu o via como um grande mestre-sala. Gabaritamos vários carnavais na Tradição, uma escola sem peso de bandeira. Foram 11 anos de parceria. Eu sempre soube que ele teria um futuro brilhante”.

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O Falcon é o responsável por sua mudança de patamar?

“Não tenho dúvida. Ele me dizia que queria que eu tivesse entre as três principais porta-bandeiras. Me deu todo o suporte, montou uma equipe para mim. Eu estava desatualizada, e aos poucos fui me desenvolvendo, junto do meu mestre-sala. Isso leva tempo, ele investiu na gente. Depois que ele morreu, fui massacrada. E minha mãe nesse ano me defendeu como uma leoa”.

Qual desfile você gosta mais? 2018 ou 2017?

“Eu gosto dos dois. 2017 confirmou a minha história e da minha família. Não tem como deixar de lado, ser campeã na Portela. Em 2018 foi a confirmação. Seguiam dizendo que eu não era nada. Me falaram que eu estava vindo para uma escola que seria rebaixada. Mas eu acreditava no Tuiuti. Foi a confirmação do meu trabalho e meu merecimento. Foi emblemático”.

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Mudaria algo no julgamento do quesito?

“Sinceramente, não mudaria o julgamento em si. Venho estudando o gosto dos jurados e me adaptei ao longo dos aos. Eu gostaria que houvesse coerência. Um exemplo: um casal que não usa todo o espaço para dançar não gabarita e outro que dançou da linha amarela para trás, gabarita. Falta coerência. Que seja igual para todos”.

Aquela história de se aposentar você tirou da cabeça?

“Eu costumo entregar nas mãos de Deus. Ele sabe a hora certa. Penso nisso às vezes sim. Minha mãe fala em parar no auge. Quando eu parar quero que seja assim, dando o meu máximo. Não quero ser lembrada como uma porta-bandeira que esteve em decadência”.

E a Portela? Você torce pela escola?

“Torço. Quero o bem da escola. Algumas coisas me chatearam, mas não tenho como cortar esse vínculo. A comunidade me ama, recebo mensagens deles. A minha história e da minha família ninguém pode apagar. Torço pelo bem da Portela sempre. Mas que fique atrás do Tuiuti”.

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