Com 27 anos de serviços prestados, passando por todas as funções da escola, Cátia Drumond teve um desafio e tanto ao ter que substituir o próprio pai, o presidente da Imperatriz Leopoldinense, Luiz Pacheco Drumond, falecido em 2021. Só na presidência, somando as três passagens, foram mais de 25 anos de seu Luizinho, como era carinhosamente chamado pela comunidade.

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Contanto com a ajuda de seu irmão na vice-presidência, Vinicius Drumond, e do jovem filho João Drumond, fazendo parte da diretoria, Cátia tem dado continuidade a renovação que seu pai mesmo começou após o rebaixamento em 2019. Com o falecimento, coube à presidente seguir no trabalho, e a expectativa que a escola tem gerado para esse retorno ao Grupo Especial, também vem da atuação da nova mandatária.

Cátia recebeu a reportagem do site CARNAVALESCO no barracão da Imperatriz Leopoldinense na Cidade do Samba para uma entrevista em que contou um pouco mais do trabalho realizado na “Rainha de Ramos”, explicou a atuação destacada de seu filho João na diretoria da agremiação, revelou os preparativos para o carnaval 2022, relembrou bastidores do rebaixamento de 2019 e comentou sobre o peso de ser a única mulher presidente de escola de samba do Grupo Especial.

O que representa assumir a Imperatriz após a perda do seu pai?

Cátia Drumond: “”Foi um desafio enorme. Sempre falo que é difícil substituir uma pessoa que não é substituível. Ele é insubstituível. O carnaval vem sofrendo, vem agonizando, isso que me deixa nervosa porque a gente vê que o carnaval está perdendo força. É um desafio enorme”.

Você sempre trabalhou nos bastidores, precisamente, dentro do barracão. O que fazia na escola?

Cátia Drumond: “São 27 anos, já fui de tudo, já fui secretária, já servi cafezinho, já fui almoxarife, já fui diretora de carnaval. Nos últimos anos eu estava como administradora do barracão e compradora. Sei um pouquinho de cada setor. Passei em cada setor”.

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Em algum momento, você acha que seu pai imaginou que você assumiria a escola? O que ele falava para vocês sobre sucessão?

Cátia Drumond: “Não tinha sucessão na cabeça dele. Na cabeça dele, nenhum filho de verdade iria assumir a escola. Eu acho que para o meu pai, o ponto final estava nele. Porque ele sempre dizia para gente que era cansativo, ele falava que era uma cachaça, mas que a gente perdia um pouco da saúde da gente aqui. Eu acho que ele não queria muito isso para a gente não. Mas, é aquele negócio, 45 anos você não pega e joga no lixo. Não tem como, né? Então, vamos tentar seguir o legado dele, é difícil, não é fácil, principalmente quando a gente está subindo de um Grupo de Acesso, mas a gente sabe o tamanho da bandeira, o tamanho da força que a gente tem. E, eu acho que estamos no caminho certo. Mas, ele não esperava ninguém na sucessão dele, não”.

O mundo do samba está impressionado com a nova Imperatriz. Qual é o segredo dessa gestão?

Cátia Drumond: “Não tem nova gestão. É uma continuidade do carnaval de 2020. O meu pai já tinha trazido um pessoal para a diretoria, jovem. E a gente conseguiu resgatar no rebaixamento a comunidade para dentro da quadra novamente. Aí veio a Covid, veio o falecimento do meu pai, e acaba que eu assumo a escola. Então, a única coisa que eu fiz foi dar continuidade. Tem a cabeça do João (Drumond) que é um menino jovem, mas eu não vejo uma nova gestão, entendeu? É a continuidade da gestão do seu Luiz, sendo que é um tradicional com uma direção nova, mas nada. Agora, a Imperatriz é a mesma. E, o jovem é o futuro né. Então, eu acho que a Imperatriz era muito tradicional, hoje ela é tradicional. Mas, a gente está aberta para tudo que é novo. E com gente nova fica mais fácil”.

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Fotos: Nelson Malfacini/Divulgação Imperatriz

Quando vocês decidiram olhar mais para comunidade e trazer ela para dentro da quadra?

Cátia Drumond: “O resgate da Imperatriz foi em 2020, veio primeiro com a queda, depois com a contratação do Leandro (Vieira). E, aí, eu acho que a comunidade com a queda, até a própria comunidade sentiu que precisava estar junto. A gente precisava se unir para fazer uma Imperatriz forte, para voltar. É o que eu falo, quando se perde, a gente perde todo mundo junto, e quando a gente ganha, ganha também todo mundo junto. Então, assim, a Imperatriz perdeu em todo mundo, a equipe toda, mas quando ela também subiu em 2020, que ela ganha o carnaval do Acesso, ela também ganha com uma equipe toda, e ganha com uma comunidade que te abraçou no teu pior momento. Foi um momento que o meu pai quis sair da escola, ele já estava cansado aos seus 79 anos, dizia que não aguentava mais, que era muito cansativo para a saúde dele, mas ao mesmo tempo, a comunidade pede que ele volte, ele volta, e a gente faz um grande desfile. Acho assim, que vem de 2020. O trabalho não começou depois de 2020, o trabalho começou no carnaval de 2020, o resgate da escola está lá em 2020. Natural, eu acho que aí a comunidade dá importância pela perda do patrono dela, do presidente dela, e a própria comunidade vem e abraça a escola. Eu acho isso muito positivo, foi muito positivo para a gente”.

O que você pensa em fazer na sua gestão que não deu tempo para esse desfile?

Cátia Drumond: “Eu estou muito focada no desfile deste ano, mas vem novidade para 2023. Acho que virou a página 2022, porque a gente precisa virar essa página, está difícil de virar, mas logo assim que a gente virar a página 2022, vem muitas surpresas para 2023. Tem coisas em andamento, nada fechado, mas coisas em andamento que eu acho que vai ser bom para a escola. Para desfile, pós carnaval, para a própria quadra, para a Imperatriz num todo”.

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A escola está muito atuante nas redes sociais e com a comunidade. Podemos esperar mais do que durante o ano, entre maio e dezembro?

Cátia Drumond: “Eu acho que toda escola precisa se comunicar com a sua comunidade. Não tem outra maneira hoje em dia. A melhor comunicação é essa. Você bota um negócio no Instagram, daqui a pouco bomba. Chegou, você alcançou o seu objetivo, que era chegar nos componentes. Eu acho que tem que ser assim. Eu acho que a partir de maio, a Imperatriz continua da mesma maneira, trabalhando da mesma maneira nas redes sociais. Continuam os projetos, a partir de maio, a gente está esperando acabar o carnaval, né? Assim que acabou o carnaval, a gente continua os projetos normalmente, aí volta ao normal”.

Ficou surpresa com o seu filho João querendo estar dentro da escola? Como você analisa a ótima repercussão do que ele fala na imprensa e entre os sambistas?

Cátia Drumond:”Foi uma grande surpresa porque, primeiro, meu pai faleceu e o João tinha 18 anos. E, aí a gente falou, o que que a gente faz? Alguns membros da família não quiseram continuar, não quiseram dar continuidade, e ficou eu e o Vinícius. E aí, eu dizia assim, até onde eu posso ir? Até onde eu consigo ir? E o João falou ‘ mãe, vambora, estou contigo, vou te ajudar’. E, realmente, ele é o meu braço direito e meu braço esquerdo aqui. Sabe, sem o João, acho que eu e o Vinícius estávamos bem atrapalhados. Ele ajuda muito, muito”.

O que representa ter trazido a Rosa de volta para Imperatriz?

Cátia Drumond: “Não fui eu que trouxe. Quando eu cheguei na escola, a Rosa já estava. Mas, eu como torcedora da Imperatriz acho um casamento, não estou falando nem como presidente, não fui eu que contratei a Rosa, foi meu pai, eu acho um casamento perfeito. A Imperatriz resgata a Rosa, a Rosa resgata a Imperatriz, e a gente resgata junto o Arlindo Rodrigues. Eu acho isso um casamento perfeito. E, ao mesmo tempo, está na modernidade toda, tem o romantismo, tem tudo, então, assim, eu fico feliz de ver a Rosa contando o Arlindo. Eu acho que não teria pessoa melhor para fazer esse enredo, que não fosse Rosa Magalhães”.

Qual é a palavra que vem na sua cabeça quando você pensa no dia 22 de abril e na abertura do carnaval?

Cátia Drumond: “Primeiro eu penso se eu vou conseguir chegar até a Avenida (risos). Minhas pernas tremem, sabe? Eu sei do desafio que é enorme. Mas, eu também sei do trabalho que a gente está fazendo, e que a Imperatriz, mais uma vez eu vou falar, vai abrir o carnaval com um grande desfile. Isso aí não tenha dúvida, a gente está trabalhando dia e noite, a gente cansa de sair daqui de madrugada em prol desse desfile. Pena que foi adiado. Podia ter sido logo em fevereiro e acabar com a curiosidade de todo mundo, e acabar com a minha ansiedade”.

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O que esperar dessa Imperatriz voltando para o Grupo Especial?

Cátia Drumond: “A escola vem bem luxuosa como é de praxe, Rosa Magalhães também exige isso. A escola vai fazer um grande desfile. Vai fazer um grande desfile como escola de Grupo Especial, porque a Imperatriz foi lá no Acesso, por um erro nosso, mas que nós pagamos bonito o erro, fizemos o dever de casa super bem feito. Mostramos do que somos capazes, e eu tenho certeza que nós vamos fazer um carnaval para ficar entre as seis, e para ser campeã”.

Mexeu com você o adiamento do carnaval? Qual foi o impacto para Imperatriz?

Cátia Drumond: “Mexeu muito. Agora a gente estava assim praticamente com 85% do carnaval pronto, praticamente faltando dois carros, agora finalizados. Eu fiquei muito triste porque carnaval é fevereiro, né? Mas, a gente tem que seguir o que a Liesa e o próprio prefeito que disse que não tínhamos condições de desfilar em fevereiro e preparar para abril. Eu acho que foi um impacto para quem estava bem adiantado, que era o nosso caso. Mas foi bem triste. Não tem como não impactar no financeiro porque você ganha mais dois meses de folha de pagamento, mais dois meses de conta de luz alta, isso se eu falar para você que não vai impactar, não tem como, e a verba é a mesma”.

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O que você sentiu quando a Imperatriz foi rebaixada em 2019?

Cátia Drumond: “Cara, foi no dia do meu aniversário. Quarta-feira de Cinzas, 5 de março, não vou esquecer nunca mais. Eu nem vi a apuração porque eu tomei um remédio e fui dormir. E, quando eu acordei, perguntei qual o resultado, Imperatriz rebaixada. É muito triste porque, assim, o meu pai sempre trabalhou muito certinho, muito sério. E, se foi um erro de projeto, se foi um erro no desfile, eu não sei, sei que nós erramos. Erramos, pagamos, fizemos o dever de casa, voltamos, mas é triste. Ninguém quer descer. Quem está no Grupo Especial, não quer descer. Quem está no Acesso, quer subir. Mas, quem está aqui não quer descer. O Acesso é bem difícil. Se o Especial é difícil, nossa, o Acesso é bem difícil, acho até que deveriam olhar mais pelas escolas do Grupo de Acesso, da Intendente (Magalhães), enfim, mas fiquei bastante triste, imagina, que presente de aniversário. Decepcionada, mas a gente sabia, depois do desfile a gente sabia que aquilo podia acontecer, não adianta você ir para casa e achar que aquilo não é realidade. Porque quando você entende do trabalho, às vezes você faz um grande barracão, mas aquilo acontece na Avenida, se você não faz um belo desfile, não adianta, você ganha e você perde dentro da Sapucaí, fora isso, mas foi bem triste”.

 Como foi o processo de resgate da Imperatriz?

Cátia Drumond: “Ganhou, ganhou. Ganhou porque você começa a ver com outros olhos, você começa a enxergar erros que você não via. Porque, assim, quando você não vem bem mas vem empurrando, uma hora a corda vai arrebentar. Foi mais ou menos o que estava acontecendo com a Imperatriz. Quando arrebentou, você para e fala ‘vamos analisar, alguma coisa está errada’. E aí você vai atrás para consertar os erros. Eu acho que em 2020 a gente conseguiu recuperar, não vou te dar uns 100%, mas acho que uns 90%, e agora em 2022 eu não posso ir com 90%, eu tenho que ir com 100% certo, não posso errar”.

Como é ser a única mulher no comando de uma escola de samba no Grupo Especial?

Cátia Drumond: “No Grupo Especial, porque no Grupo de Acesso também tem, né? Olha só, eu até brinco com os presidentes quando eu estou lá, eu falo ‘só tem eu de menina poderosa’, mas assim, me tratam super bem, eu nem lembro dessa diferença, não lembro mesmo. Entre os presidentes lá, de todas as agremiações do Grupo Especial, não sinto nenhuma diferença por eu ser mulher. Eu acho também que por eu estar aqui a muito tempo ocupando o lugar que eu sempre ocupei ao lado do meu pai, então muita gente já me via como a futura presidente da escola. Me sinto bem, mas eu falo para eles que eu sou a ‘menina poderosa ‘(risos). Aqui é uma escola feminina, a gente tem uma presidente mulher, e uma carnavalesca mulher. Eu acho que está aí, a mulher vai ocupando os cargos. A mulher tem que crescer no mundo do samba, eu trato a Imperatriz como se eu cuidasse da minha família, então a gente organiza a casa. Não que os homens não saibam organizar, mas eu acho que a mulher tem mais o jeitinho dela”.

Pensando no todo, o que você sonha para o futuro das escolas de samba?

Cátia Drumond: “Independência. Acho que a gente precisa disso, resgate do sambista, trazer essa molecada, essa criançada de projeto social para dentro da escola que isso é fundamental, se não o samba vai acabar”.

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