Maior vencedor de sambas na Vila Isabel, o compositor André Diniz está no hall dos melhores da história do carnaval. Em sua escola de coração, ele superou em conquistas o presidente de honra Martinho da Vila. Apesar das inúmeras vitórias, ele não está satisfeito com o modelo de disputa. Em entrevista ao CARNAVALESCO, André Diniz aborda o processo de encomenda de samba da Grande Rio e os rumos das disputas.
– Qual sua análise do sistema de disputa atual?
“A pior coisa no mundo do samba hoje é a hipocrisia. Ganhei 18 sambas na minha escola, a Vila Isabel. Já perdi sambas muito mais bonitos que aqueles que ganhei. E sei o quanto foi difícil conquistar cada uma das minhas vitórias. A encomenda de samba é sobretudo um processo honesto. Para ter disputa fake é melhor encomendar. Pode não ser o melhor dos mundos, revigorar as alas é necessário também, mas fazer disputa com encomenda velada é muito pior que assumir essa condição a todos”.
– Como foi a construção desse samba da Grande Rio?
“Primeiro que entrei em um time que já existe, o Cláudio Russo e o Moacyr Luz. A estrutura do samba nasce com eles. Dei meus toques e contribuições, mas o alicerce foi criado por eles. É um enredo difícil, pois se você errar a mão pode ficar politicamente correto demais ou de menos. Cada frase desse samba precisou ser muito pensada. Sabíamos da antipatia pelo enredo, e que quando saísse o samba íamos tomar porrada. Tenho convicção que quando as pessoas prestarem atenção em seus preconceitos vão ver que o samba é muito bacana”.
– Qual o diferencial do enredo da Grande Rio?
“Dar um chute na hipocrisia. Vamos encarar o problema de frente. Todo mundo erra. Vamos construir uma sociedade olhando para si próprios. Esse é o bacana do enredo que muita gente anda não entendeu. Não tem nada de deboche. É sério para caramba”.
– E qual seria o diferencial do samba da Grande Rio?
“Eu gosto muito do final da segunda, que fala de educação, construir o mundo a partir disso. O samba bota o dedo na sua cara, na minha cara e na cara de todo mundo que gosta de apontar o erro dos outros, mas é incapaz de ver o seu próprio”.
– Já pensou no que fazer com o prêmio?
“Ganhei um samba ano passado no Grupo Especial e ganhei R$ 2 mil. É uma merreca. Muito gasto hoje em dia. A encomenda te dá um valor mais interessante, não minto. Sem falar que é uma valorização do seu trabalho. Mas resolver a vida de compositor isso é uma mentira. Hoje ganho em uma disputa a mesma coisa que ganhava em 1994. Tem escola que tira 50% do compositor. O que sobra você divide para 20 pessoas. Eu sou professor, não tenho R$ 90 mil para botar em um samba. Como negócio, esquece. É só pelo prazer de você ter uma obra na avenida. Ninguém compra carro ou casa com dinheiro de samba. E a culpa é do compositor”.