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Entrevistão com Alexandre Louzada: ‘carnaval tem lugar para todo mundo, para todos estilos e enredos’

Um dos maiores carnavalescos da história, Alexandre Louzada coleciona títulos e grandes desfile na carreira. O artista participou da série “Entrevistão”. Confira abaixo o papo completo com o carnavalesco da Beija-Flor, ao lado de André Rodrigues.

Foto: Augusto Werneck/Site CARNAVALESCO

Maior vencedor da era do Sambódromo, qual balanço você faz da sua carreira?

“Eu não costumo ligar muito para esse aspecto, mas me acho um vencedor porque sou autodidata. Não tive a honra, a oportunidade de trabalhar com nenhum mestre. Seria meu olhar que me fez ser o que sou. Eu não conto somente os campeonatos, mas as experiências que eu vivi. Acho que eu soube esperar o meu momento. Esperei 13 anos para que eu pudesse ganhar. E isso chegou de surpresa, eu não me achava pronto. O que faz um artista ser perene, porque eterno todos nós somos, nós criamos alguma coisa que é para história, não para uma satisfação pessoal. Eu não guardo troféus, realmente não é isso que me move. O que me move é a oportunidade artística que eu tenho de extravasar, de mostrar alguma coisa. Na minha mente eu estou trabalhando em uma coisa que não sei se vai acontecer, eu já estou no terceiro enredo. Aliás, quando as escolas puderam patrocinar para cada carnavalesco, os assistentes, foi muito bom. A minha cabeça é mais rápida que as minhas mãos, mesmo desenhando um figurino, já estou pensando no outro, quero acabar aquele, é a minha forma de expressar… Estou devendo a todos que gostam do meu trabalho um livro, que realmente coloco a minha alma na história. Porque eu me considero um contador de histórias, não um artista maravilhoso. Eu queria contar a minha história, tudo que a gente vive no carnaval… Hoje todos meus assistentes são campeões do carnaval… O balanço que eu faço é esse: acho que a minha contribuição para o carnaval , fora o meu trabalho, é muito maior do que qualquer obra que eu possa ter realizado. Está aí o Gabriel Haddad, Tarcísio Zanon, a Annik que agora está na Mangueira, Roberto Monteiro… Todas as pessoas que eu dei oportunidade de poder caminhar depois com os seus próprios pés. Eu nunca escondi ninguém na minha retaguarda. O balanço que eu faço da minha carreira é a contribuição não só da minha arte, mas dos artistas que revelei para o carnaval”.

O que sente quando falam que você era o carnavalesco ideal para fazer o centenário da Portela?

“Existe uma relação entre eu e a Portela que é só de amor. Mesmo à distância você nunca vai esquecer seu berço. Eu passei a gostar de carnaval, gostando da Portela. Mesmo admirando o trabalho de quem vencia na época, que era o Joãozinho Trinta e tal, entrei no carnaval gostando e vendo a Portela. As pessoas que ainda estão ali do meu tempo de adolescente, desde os 16 anos que eu frequentava, sabem tudo de mim, me viram crescer, viram eu me tornar carnavalesco. Acho que por me interessar tanto pela história da minha escola, por entender a história da Portela em todo seu caminhar, faz na cabeça das pessoas que eu seria a pessoa ideal para reviver isso. Até porque, fora a velha-guarda da Portela, acho que sou o mais velho portelense que está aqui”.

Gosta dessa proposta de trabalho em dupla?

“Eu sou um cara que respeita muito o trabalho de cada um. A Beija-Flor deu a oportunidade de nós dois conversarmos sozinhos, não foi dentro da escola, foi em um bar aonde a gente colocou todas as possibilidades, tudo o que poderia ocorrer com essa junção de duas pessoas. Eu já trabalhei com ele (André Rodrigues), mas ele (André Rodrigues) como assistente, não dividindo um carnaval. Quando você divide um carnaval, todo mundo quer criar. Mas eu me coloquei da seguinte forma: depois do enredo escolhido, se for algo que nós dois construímos juntos, ou que eu tenha uma ideia que foi ela que venceu, ou a ideia dele (André Rodrigues) que venceu, precisa ter o respeito ao criador, ao autor. Levando em consideração que eu estou respeitando os autores desse enredo, o projeto que estava na cabeça deles… Lógico, eu dei minha contribuição, mas eu me coloco em uma contribuição um pouco mais modesta do que foi ano passado onde o projeto era mais visual, era mais meu. Precisa ter um respeito por esse fio condutor, para que você não construa um frankenstein. A gente tem se dado bem até agora por causa desse respeito. Não tenho problema em trabalhar em dupla, acho que até o meu projeto futuro é sempre dar oportunidade a alguém, e depois essa pessoa caminhar com as suas próprias pernas”.

O André Rodrigues vem sendo muito elogiado. Como artista, o que você pode falar do trabalho dele de agora e projetando para o futuro?

“O futuro ele está construindo no presente, ele está criando um estilo próprio. Quando eu estava narrando o que a gente pode esperar da Beija-Flor, passa por ele. A oportunidade, a experiência do André Rodrigues tendo condições em um Grupo Especial. Todo mundo merece tudo de bom nesse meio, e o André é um deles, não é diferente”.

O que pensa sobre os enredos de hoje vão muito além da avenida e passam pelas escolas e pelas ruas?

“Isso é uma questão de estilo. Com tanto que o lúdico continue existindo. Você pode carnavalizar enredos que possam ser carnavalizados. Quando esse enredo foi proposto eu falei: ‘André, a única coisa que eu não quero é que a gente vista gente de gente’. Até porque o André é um artista multimídia, extrapola a questão da prancheta. É uma nova geração que está surgindo… Isso tudo é fácil, quando você perguntou de futuro, eu não posso garantir nem o meu, nem o de ninguém. Já teve a era do Louzada, o maior campeão do Sambódromo, quando eu tive a felicidade de ser tricampeão saindo da Vila e vindo para a Beija-Flor, mas passa, o novo sempre vem. Já teve a era Paulo Barros. O Leandro que ainda está aqui, teve a explosão dele. Agora foi a vez do Gabriel e do Léo. O André, espero que seja agora, porque eu tenho total interesse que seja a era dele se inaugurando. Mas todos nós temos que ter na cabeça que isso passa. Você não vai ser eterno campeão, você vai ser eterno pelo seu trabalho.Você ser bicampeão é muito difícil, porque as escolas estão muito competitivas. A cada hegemonia que foi se criando, a Beija-Flor foi uma delas, por exemplo, forçava as escolas a se aplicar mais para seguir o mesmo caminho. Hoje temos um exemplo que é a Viradouro. A Viradouro é uma escola que com essa nova gestão retornou ao Grupo Especial. Não é a Viradouro que a gente viu lá atrás que já foi campeã lá atrás com o Joãozinho Trinta, tem também hoje uma visão empresarial e com mais vontade de vencer. Hoje não está fácil para ninguém. Acho que o futuro é do novo, se o novo será o André, eu vou adorar. Mas tudo é fase, passa”.

Você deixou o lugar de fala para o André e o Mauro Cordeiro. Como isso aconteceu dentro da sua cabeça?

“Por eles serem os autores. Eu falo mais da parte plástica, mas assim esmiuçar a história é bom que seja o Mauro porque ele fez a pesquisa toda, é um enredo que tem múltiplos personagens… Ano passado eu tinha total autonomia do projeto, mas eu escolhi o André como a minha fala porque qualquer coisa que eu falasse sobre empretecer o pensamento, não seria tão contundente quanto o que o André poderia falar por experiência própria, por experiência de vida. Uma coisa é você ser uma pessoa desprovida de preconceito, mas você não sofre o preconceito na pele, na carne, no coração, na alma”.

Qual é o seu desfile inesquecível da carreira que você fez?

“Os três primeiros carnavais aqui da Beija-Flor. Eu poderia ter escolhido a Mangueira, mas mesmo sendo campeão, não me achava pronto, não tinha atingido aquilo que queria como artista. Eu experimentei um pouco aqui na Beija-Flor com esses três primeiros carnavais, os quatro até ‘Brasília’. Depois que eu saí da Beija-Flor foi quando eu amadureci como artista. Porque quando você tem facilidade, você fica mal acostumado. Eu não me deixei chegar ao inferno, eu encontrei o meu caminho alternativo para que eu possa fazer uma escola com grandes recursos, como uma que não tem. Também nenhum artista consegue trabalhar naquela que não te dá nada, isso eu já passei também”.

Qual carnavalesco foi sua referência profissional e por qual motivo?

“Eu vou citar o Viriato primeiro, porque meu primeiro contato com esse título ‘carnavalesco’ foi com ele. Uma história que pouca gente conhece é que antes de eu me tornar carnavalesco da Portela, eu seria um dos assistentes do Joãozinho Trinta, eu iria desenhar figurinos para ele, para aquele carnaval ‘A Lapa de Adão e Eva’ em 1985. Foi aí que a Portela resolveu me dar a oportunidade de ser carnavalesco, porque estava perdendo um portelense para uma co-irmã (Beija-Flor), mas que disputava. Acho que Viriato teve uma importância muito grande de me deixar olhar o barracão. Eu passava as tardes lá com ele, frequentava a casa dele, via ele desenhando. Ele me falou que deixaria eu ver, mas ensinar ele não ensinar ele não ensinaria, que eu teria que ter minha própria identidade como artista. Ele é para mim uma referência como todos, acho que sou um carnavalesco que é fruto do meio. Tenho uma admiração muito grande pela Rosa Magalhães que como
componente foi a carnavalesca que eu mais tive próximo, depois veio o Viriato e depois me tornei carnavalesco. Com o tempo eu e a Rosa construímos uma amizade, ela para mim é uma referência como artista pela plástica, e como história, ela também gosta de contar casos, e eu também, quando a gente se encontra ela é uma pessoa muito divertida. Minha referência é o Viriato, é o Joãozinho Trinta, é a Rosa Magalhães,é o Max Lopes, é o Renato Lage, todo mundo que estava a minha frente no tempo… Fernando Pinto que já se foi … Eu me tornei carnavalesco admirando as obras deles”.

O Leandro Vieira disse que o carnaval vive hoje um dos melhores momentos na parte de criação artística dos carnavalescos. Concorda?

“Eu já respondi isso de outra forma no meio dessa entrevista. No quadro mais complicado da Beatriz Milhazes não tem tantos detalhes quanto tem no carnaval, no carro do Gabriel Haddad e do Léo Bora. A interpretação, o toquezinho de ironia política do Leandro… Estou citando vários estilos completamente diferentes. O rebuscamento estético, porque tem condições para fazer isso, do Tarcísio ali na Viradouro. O Edson vem em um crescimento também como artista. E o André também, ele coloca muito a identidade dele no trabalho, ele agrega pessoas… Ele também não se limita a pesquisa, ele vai agregando pessoas com afinidade com aquilo que você contar”.

Como você tem visto essa onda de enredos críticos?

“Acho que vai um dia passar. Espero, porque se tiver que criticar a vida toda esse país não vai para frente, vai ser uma droga. Espero que se torne uma Nárnia, que tudo seja lindo, maravilhoso… Nunca vai ser. Dependendo da crítica, é sempre bem vinda. As escolas têm esse papel também, sempre tiveram, de uma forma forma reprimida na época da ditadura, onde sempre havia uma ode a história do Brasil que a gente aprende na escola, fatos históricos. Depois teve uma fase que não podemos esquecer que é a do Luiz Fernando Reis, que era bastante crítico do dia a dia. O Renato Lage teve essa fase também de ‘O que é bom todo mundo gosta’, os enredos dele no Império Serrano… O inconsciente coletivo faz com que a gente coloque para fora, coloque na nossa arte aquilo que a gente está vivendo no momento… Eu acredito que o ano que vem, mesmo tendo críticas, acho que vai ser uma análise daquilo que a gente vai viver daqui para frente. O carnaval tem lugar para todo mundo, para todos estilos, para todos os enredos”.

O Louzada gosta mais de produzir fantasias ou alegorias?

“Hoje eu mudei um pouco. Eu sempre gostei muito de fantasia, sempre foi mais a minha preocupação. Hoje você trabalhar em alegorias depende de ter profissionais na sua equipe. Por exemplo, se essa dupla (Alexandre Louzada e André Rodrigues) se desfizer, eu vou ter que buscar um outro webdesigner para fazer carro. Porque o André é um carnavalesco também, ele vai seguir… Mas eu gosto mais de fantasia. Eu não tenho paciência para fazer um curso de computação, minha mão ainda é mão de artista. Eu faço o esboço de um carro… O André começou assim comigo, cada pecinha que foi colocando no figurino da primeira vez que a gente trabalhou na Vai-Vai. Foi a primeira experiência dele como gestor de barracão. É uma coisa que eu gosto muito, mas deve ser chato para quem faz… Eu gosto mais da parte plástica. Depois que acaba o protótipo, eu já estou ansioso para fazer outro. Fantasia é uma coisa que sempre foi o que me moveu por eu ter sido componente também. As minhas fantasias são verdadeiras alegorias. Eu cheguei em um tamanho que já dá para carregar. Mas eu consigo mentalizar em um corpo de uma pessoa tudo aquilo que quero transmitir, que poderia ser em uma alegoria. Não vou dar spoiler daquilo que eu estou trabalhando, mas é bem complexo. Mesmo que não vá para a avenida, é um exercício muito bom de criatividade… Uma coisa é pegar o figurino de época e transpor para o papel, outra coisa é pegar um objeto e colocar isso como fantasia, e ela continuar sendo vista como objeto. Isso é o melhor exercício para mim, eu já estou no terceiro pacote de papel. Eu desenho uma fantasia umas cinco, seis vezes. Do esboço até ela virar o figurino definitivo”.

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