Após anos de pedidos, a Tijuca trouxe Logun-Edé como enredo e teve a aprovação unânime de seus componentes. Além das cores da escola serem as mesmas que identificam o orixá, o pavão, que é símbolo da agremiação, também é um signo da divindade.
O enredo relaciona a jovialidade de Logun-Edé com a juventude do Morro do Borel, comunidade onde a escola nasceu, mas que, para muitos, parecia distante nos últimos anos. Celebrar o orixá na avenida é motivo de emoção para muitos componentes e até para não torcedores da escola.
O CARNAVALESCO ouviu componentes da ala 16, as ‘Guerreiras de Abeokutá’, que representaram as guerreiras de Ilexá, reino liderado por Logun-Edé, e conheceu histórias emocionantes sobre a relação do orixá e do candomblé com a narrativa da Tijuca.
A professora de educação infantil, Neusa Rodrigues, se emocionou ao falar de sua fé e do motivo que a trouxe para o desfile da Tijuca, seu filho representando Logun-Edé em uma alegoria.
“Estou desfilando por conta do meu filho que foi convidado para representar o Logun-Edé. Fui a um ensaio na quadra e achei interessante o samba, perguntei se ainda tinha vaga, me inscrevi e estou amando. É de uma felicidade imensa estar aqui com minha família, meu filho e minha irmã. Nós somos do Candomblé, meu filho é de Ogum, eu sou de Oxóssi, pai de Logun, que é tão importante e representativo para a escola. Particularmente, todo desfile que fala sobre a cultura africana, afro-brasileira e principalmente das religiões de matriz africana, eu acho extremamente interessante. Porque a gente vive muita intolerância, agora que as coisas estão mudando, pois nós temos nossos heróis, nós não somos descendentes de escravizados, nós somos descendentes de reis e rainhas, guerreiros e guerreiras. Isso aí é um fato, uma pessoa não pode ser considerada apenas escravizada para sempre. Ela foi um período, e a gente deu a volta por cima. Mas é um começo, eu fico muito feliz de ver as escolas de samba esse ano falando desses enredos. Além disso, achei o samba enredo muito lindo. E ter uma pessoa como a Anitta, que é de Logun-Edé, compondo, eu imagino a energia que ela não colocou”, disse a professora de 73 anos.
Tijucana fiel, Renise afirma que a escolha de Logun-Edé pela Tijuca combina com os enredos das demais escolas e que é um estreitamento de laços da agremiação com sua comunidade do Borel.
“Esse enredo tem a cara e as cores da escola. O amarelo-ouro e o azul pavão. Sendo assim, é um tema ótimo, até porque é um tema que está combinando com as demais co-irmãs. As demais co-irmãs, quase todas, com exceção de duas, vêm apresentando enredos afros. E o Logun-Edé é sensacional dentro dessa conjuntura. Fazia tempo que a Tijuca não falava de um enredo afro, e é um enredo afro que, além de homenagear o padrinho dela, aproxima a Tijuca do Morro Borel, de sua comunidade. Ela sempre exaltou o Borel, mas a proximidade com a população, com a comunidade, óbvio que é sensacional e muito importante. O samba é ótimo, esse refrão é lindo, “Logun-Edé, Logun Arô” é um refrão que exalta tudo o que Logun-Edé é”, declarou Renise Caetano, aposentada de 71 anos.
Em um tripé da escola, chamado “Ologun-Edé” que representou o orixá como um bravo guerreiro que defende a soberania de seu povo e o conduz à glória, a Tijuca busca o reencontro com a sua identidade. Após mais de 20 anos sem levar um enredo afro para a avenida, a Tijuca resgata uma parte essencial de sua trajetória.
“Para mim, é tudo nota dez, o samba, o enredo, esse tripé lindo com o pavão e com Logun-Edé. A Tijuca estava precisando pintar essa avenida de amarelo e azul. Não tenho o que falar. Tudo que está no enredo, nas fantasias, encaixa em tudo, nas letras do samba e era tudo que o Tijucano do Borel queria, se ver representado pela escola. Eu espero que esse enredo seja dela para a comunidade”, contou a técnica de enfermagem Fátima Silva, de 56 anos e estreante na Tijuca.
Com Logun-Edé à frente, a Tijuca não apenas brilhou na avenida, mas reafirmou seu compromisso com suas raízes e sua comunidade.