O oitavo lugar da Vila Isabel no desfile de 2020 ainda não desce para a comunidade, diretoria e integrantes da escola do bairro de Noel. Entretanto, certamente um dos quesitos onde as justificativas eram mais aguardadas era o quesito enredo. A temática, muito criticada no período de pré-carnaval, só tirou uma nota 10 e afastou ainda mais a escola das primeiras colocações.
Johny Soares aplicou um 9,9 para o enredo da azul e branca. Em sua justificativa, embora considere a temática com a densidade cultural necessária e relevante, ele pontuou que o desenvolvimento do enredo se deu de maneira falha.
“Enredo de relevância cultural, que apresenta a construção e/ou ‘nascimento’ de Brasília a partir de uma viagem imaginária por aspectos diversos-históricos, sociais e culturais, que compõem a nação brasileira em suas diversas regiões. A proposta de personificar o Brasil e Brasília nas figuras de índios irmãos, embora criativa, mostra-se um tanto confusa durante a narrativa. Ainda que se compreenda a intenção de defender a ideia de Brasília enquanto ‘caldeirão de brasilidade’, o desenvolvimento resulta complexo e disperso, com imagens fragmentadas dos diferentes estados brasileiros e pouca homenagem aos 60 anos da capital do país. O conteúdo extremamente metafórico e a lenda criada para explicar o nascimento de Brasília não ficaram suficientemente claros ao longo da roteirização do enredo”, justificou.
Artur Gomes também aplicou 9,9 para a Vila Isabel elogiando o padrão estético apresentado pela azul e branca. Despontuou o desfile por considerar que houve deficiências no aspecto do desenvolvimento da temática.
“O enredo que celebra o 60º aniversário da capital federal, realizado com inquestionável apuro estético, apresentou problemas no seu desenvolvimento teórico. A estratégia de narrar o enredo a partir de dois níveis discursivos (um onírico/mitológico e outro metafórico/simbólico) tem sua compreensão dificultada pela justaposição, por vezes, dos dois níveis discursivos na construção da explicação da iconografia das alas. Entranha-se, por exemplo, o uso da metáfora ‘República das bananas’, reconhecidamente pejorativa, pra simbolizar, na ala das baianas, a ideia de unidade nacional presente no nível onírico (a lenda da menina Brasília, ‘filha da pátria-família’) ao mesmo tempo que no nível simbólico representa o ‘caldeirão de brasilidade'”, explicitou.
Segundo Marcelo Filgueira, a escola falhou ao apresentar uma proposta na justificativa do enredo, enviada à Liesa através do livro abre-alas, e na avenida exibir outra narrativa.
“Apesar de na justificativa do enredo ser apontado que o mesmo não contará a história de forma factual, mas se utilizando de narrativa metafórica, há uma confusão, em vários momentos, entre os tempos narrativos onírico e real-histórico. As alas 04, 08, 12, 15, 17 e 22 apresentam argumentos históricos. Dificultou-se, com isso, o entendimento de que todo o enredo tratava de um sonho do menino Brasil. Em alguns momentos e até em alegorias a história do Brasil e da construção de Brasília se sobrepôs ao sonho”, concluiu.
Pareceu claro, de acordo com a justificativa dos jurados, que o erro capital da Vila em seu desfile foi um desenvolvimento confuso e sem clareza, misturando aspectos históricos com passagens metafóricas. Pérsio Gomyde Brasil também usou essa explicação em sua justificativa.
“Ao utilizar e mesclar diversos tópicos (lenda indígena, aspectos místicos, profecia, aspectos culturais e geográficos) para mostrar a brasilidade regional e a criação da capital federal Brasília. O argumento torna-se de certa forma confuso para todos que não tem acesso ao livro abre-alas, páginas 66 até 79 (histórico e justificativa do enredo) portanto, o argumento e seu desenvolvimento ficam condicionados à leitura do mesmo. No próprio livro abre-las cita-se (página 72) que o centro do enredo é o povo brasileiro e que o país e Brasília foram ‘criadas’ pela força da nação. Decididamente, sem o apoio do livro e em alguns aspectos até mesmo com o seu auxílio, torna-se difícil sua compreensão de forma clara”, destacou.