Enfim, aconteceu o grande encontro de dois pavilhões que estão no mais alto patamar do carnaval brasileiro. Quando se fala de Vai-Vai e Mangueira, remete à ancestralidade. É o samba em sua mais pura essência, pois são duas escolas com as maiores torcidas nas suas cidades, quase centenárias e que tem histórias enraizadas de sua criação no meio do povo. Além disso, são exemplos de sucesso no concurso do carnaval. A alvinegra da Bela Vista é a maior campeã de São Paulo com 15 títulos e a Verde e Rosa é a segunda maior campeã carioca com 20 campeonatos.

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Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

O Palácio do Samba lotou para ver as entidades juntas. Para os mais românticos, a energia foi tanta que, por instantes, a iluminação elétrica caiu, não suportando o peso dos pavilhões. O banquete cultural profano, de Zé Celso, comandado pelo intérprete Luiz Felipe, entoou vários sambas-enredo, com destaque para a obra de 2015 – A famosa homenagem à Elis Regina que sempre faz as quadras explodirem em todas as apresentações. Do lado da ‘Dona das Multidões’, os cantores Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz comandaram a vasta coletânea da Estação Primeira.

A noite foi especial para o carnavalesco Sidnei França, visto que ele assina os desfiles das duas escolas no Carnaval 2025. No Vai-Vai ele comanda uma homenagem ao artista Zé Celso, enquanto na Mangueira o tema abrange a resistência negra.

Presente ao Sidnei França

Dudu Azevedo, diretor de carnaval da Mangueira, destacou a cultura do encontro. “Eu acho que é um encontro cultural, bonito, é o povo do carnaval. É um abraço ao nosso carnavalesco Sidnei França, que é do Vai-Vai também. Tem tudo para ser uma grande festa aqui no chão da Mangueira. A matriarca das paixões junto à escola do povo. É o festival do povo”, disse.

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O diretor exaltou o trabalho do artista e disse que está contente com o empenho dele. “O Sidnei abraçou a Mangueira da mesma forma que a Mangueira abraçou ele. A realidade é que o carnaval de São Paulo segue uma linha e o Rio acompanha. Ambos se completam. Ele se ambientou bem. A Guanayra vem dando todas as condições. O Sidnei vai fazer um grande carnaval, ele está encontrando aqui uma grande estrutura para entregar o melhor da arte dele. É um enredo que ele trouxe e que tem toda a identidade da Mangueira.Eu posso falar que é o começo de um grande trabalho. Tem tudo para dar certo”, completou.

Clarício Gonçalves, presidente do Vai-Vai, também enalteceu o artista, dizendo que Sidnei colheu os frutos do talento e que vai fazer dois grandes carnavais. “Realmente é um momento especial para o Sidnei. Na minha concepção é o único carnavalesco que teve essa parceria de fazer as duas maiores escolas do Brasil. Ele está fazendo carnaval, demonstrando o seu trabalho no Rio de Janeiro, reforçando o trabalho que ele fez para nós desde 2023, que ficou marcado na nossa história. Esse ano eu tenho certeza que o projeto é fora de série. Eu acredito no projeto do nosso carnavalesco, porque é ‘fora da casinha’. Ele sempre está fortalecendo a nossa cultura paulistana, e eu tenho certeza que ele vai fazer um belo carnaval na Mangueira também”.

Sobre o carnavalesco…

O próprio Sidnei França falou sobre a felicidade de ver as suas escolas juntas. “Eu estou muito feliz. São duas potências do carnaval brasileiro. É a resistência do samba, são os quilombos do samba. Mangueira e Vai-Vai são duas agremiações de comunidade, de negritude. Quando se encontram, é um ‘aquilombamento’ entre Rio e São Paulo. Estou muito orgulhoso de poder promover esse encontro e de defender essas cores, que aparentemente são diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, ambas quase centenárias”, celebrou.

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O carnavalesco recebeu um fervoroso calor de ambas as comunidades. Havia componentes com camisa de metade Vai-Vai e Mangueira e, na parte de trás, escrito nome e uma foto do Sidnei França. O artista comentou da força que vem recebendo. “Esse carinho me envaidece muito como profissional, mas também como sambista. Ter essas cores me representando e eu as representando é muito glorioso, é muita honra. Eu vejo isso com muita alegria e sou muito grato por isso. Eu também como um retorno para todo o carinho que eu dou para as escolas de samba, em especial as que eu defendo. Hoje eu não meço esforços para que a Mangueira e Vai-Vai estejam bem. Eu tenho certeza que cada uma da sua maneira vai apresentar grandiosos carnavais”, declarou.

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Sidnei compartilhou sua rotina entre as escolas. De acordo com ele, por ser uma novidade, a presença maior no Rio de Janeiro se faz necessário. Já no Vai-Vai, o artista tem uma equipe de anos que o acompanha em toda a sua jornada nas agremiações em que trabalha. “Eu fico muito mais no Rio, porque é um carnaval novo, é um carnaval que eu não domino, ainda não conheço, mas lá no Vai-Vai fica a minha equipe de anos. Eu deixei lá todo mundo que já trabalha comigo e aqui eu montei uma nova equipe, que é inteira do Rio. Mas as duas escolas estão caminhando muito bem. O Vai-Vai está se reestabelecendo no Grupo Especial, depois de um honroso oitavo lugar voltando do Acesso. A escola está muito mais organizada do que antes, está muito mais focada e eu tenho certeza que vai dar muito bom esse carnaval. Eu estou na expectativa de dois grandes carnavais, sendo cada um da sua maneira.Eu procurei respeitar a identidade de cada uma. A Mangueira na sua negritude e o Vai-Vai com a sua territorialidade na Bela Vista através do Teatro Oficina do Zé Celso. Cada uma vai brilhar da sua maneira”, finalizou.

Palácio do Samba – solo sagrado

Clarício Gonçalves, presidente da alvinegra do Bixiga, teceu elogios à Mangueira e se diz extremamente honrado em levar a sua escola na quadra da verde e rosa. “Para nós, que somos uma escola de quilombo raiz, estar em um solo sagrado como esse, eu acho que não tem palavras para descrever esse momento. A comunidade abraçou, entendeu a importância e nós viemos em cinco ônibus. É uma gratidão enorme ter essa mistura de cultura, estar aqui em uma das maiores escolas de samba carioca, que é a Mangueira. Consideramos uma satisfação pisar nesse solo sagrado. Eu tenho certeza que para todos é um grande momento. Na minha gestão, essa parceria, esse momento de estar aqui é muito gratificante para toda a comunidade”, afirmou.

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A porta-bandeira do Vai-Vai, Fabíola, não escondeu a emoção de se apresentar com a sua agremiação na Mangueira, e revelou que a verde e rosa é a sua escola favorita no Rio de Janeiro. “É surreal, porque a gente está reunindo uma das maiores potências no carnaval de São Paulo com o carnaval do Rio de Janeiro. Para mim a Mangueira sempre foi a que tomou o meu coração aqui no Rio. Todo ano me trouxe uma emoção absurda. Estar em solo mangueirense me trouxe uma força enorme. Eu quero agradecer com o coração pela Mangueira estar proporcionando para a gente esse momento”, disse a porta-bandeira Fabíola.

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O companheiro da dançarina, Renatinho, falou da garra que ambas as entidades transmitem. “Para nós é gratificante, porque são duas comunidades de pessoas aguerridas, pessoas que sabem ser uma escola de samba. Estar passando essa energia de São Paulo para eles. É o coração que bate fora do peito. Quando a gente fala de estar aqui também, é o encontro das almas, encontro das energias e da nossa ancestralidade. É dar um pouquinho de alegria para todo esse povo que está aqui nos assistindo e assistindo a Mangueira”, completou o mestre-sala.

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”Como o meu mestre falou, são duas escolas que são providas de povos lutadores e guerreiros. A maioria luta diariamente pelo pão, pela moradia, pelo seu lazer. Nesse quesito acho que não existe diferença. É lógico que a gente está falando de Mangueira, mas falar do meu Vai-Vai é falar do meu coração”, concluiu a porta-bandeira.