A Unidos da Tijuca realizou a gravação de sua faixa para o álbum oficial das escolas de samba de 2025 no dia 3 de outubro, no Century Estúdio. Com diversos integrantes da escola presentes, o CARNAVALESCO conversou com alguns deles para saber como foi a gravação e o que esperam da escola do Borel, que levará para a Sapucaí o enredo “Logun-Edé, santo menino que velho respeita”, do carnavalesco Edson Pereira. O mestre Casagrande, comandante da “Pura Cadência”, falou sobre o andamento do samba na gravação, as bossas utilizadas, e como foi estar, mais uma vez, à frente da bateria.
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“Utilizamos 144 BPM (batidas por minuto), um andamento mais confortável. Foi muito bom, a gravação muito proveitosa, o Ito surpreendeu de maneira fantástica, encaixou no samba. A gente só botou uma bossa no refrão do meio, um “ijeixazinho” que a gente já tinha, mas temos tempo ainda para trabalhar. A sensação é sempre de dever cumprido e que deixamos um legado. A gente está muito tempo dentro da escola, mais de 40 anos. Esse ano foi um estúdio diferente, só elogios, muito bom, tanto que gravamos muito rápido”.
Fernando Costa, diretor de carnaval da agremiação, comentou o que espera da faixa da escola e o processo de gravação: “Ficou bem legal. Um samba melhor do que já é. Chegamos com a corda toda para gravação. Esse ano teve algo especial, que foi a Anitta presente na gravação. É um diferencial. Tivemos uma troca muito boa com ela. Foi tudo conversado, com bate-papo e nada imposto”.
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Fernando Costa contou a participação da cantora no processo de preparação da escola. Sobre a presença de Anitta em ensaios técnicos e no desfile, ele comentou que o trato é com o presidente da agremiação, e que ele não pensa em qual local a artista pode vir no desfile da escola, mas espera que seja uma grande surpresa: “Não é comigo. É o presidente. Acredito que seja uma decisão ainda muito pro futuro. Ainda não tenho pensamento nenhum. É surpresa. Vai chegar, estejam lá na avenida para ver”, brincou.
Ivinho, arranjador da obra, contou revelou a levada que o samba teve na gravação e deu detalhes sobre o processo: “Levada bem macumba, afro, e o pessoal vai gostar muito. A gravação está muito legal. Gravamos cada instrumento específico. O ambiente e o estúdio foram maravilhosos. O samba é muito bom, tudo está ajudando, a energia está muito boa. A Tijuca esse ano vai, com certeza, voltar para o lugar de onde nunca tinha que sair”.
O intérprete Ito Melodia comentou como foi sua preparação para realizar a gravação da faixa e também sobre a participação da cantora Anitta na obra: “Procuro fazer fono, aula de canto. Por conta da religião, as nossas entidades também, com certeza, pegando aquele axé para se cuidar das nossas estradas. Tenho uma boa alimentação, leve, a base dos cuidados que a gente tem que ter para se preparar, porque é um dia muito especial. A Anitta esteve com a gente no estúdio e foi uma honra e felicidade muito grande. Foi emocinante. Hoje, ela é a maior representante internacional da nossa música”.
O cantor citou como o samba mexeu com ele por enaltecer Logun-Edé. “O samba é o tempo todo falando da nossa religião, das entidades. Mexe comigo, porque eu incorporo e a gente sente a energia boa dos orixás. É uma obra completaça. Tem tudo para dar certo, acredito que seja um dos grandes sambas do ano, que vai emocionar e vai sacudir a Marquês de Sapucaí. Procurei dar toda a garra, energia e vestir a camisa. Sou um cantor de chão, de garra, de se emocionar e incorporar”.
Diego Nicolau, um dos compositores do samba, também esteve presente na gravação do samba, e em entrevista falou sobre a importância da obra para ele e para a escola: “Todo samba é sempre importante, mas eu acho que esse momento da Tijuca de renascer, como diz a letra do samba. É um recomeço. A volta aos enredos afro na Unidos da Tijuca, acho que desde Agudás que não tem um samba assim, nessa temática, na escola. A gravação ficou incrível. A Tijuca tem uma equipe musical fantástica”.
Diego, que também fez parte do coro da escola na gravação, falou sobre o processo de composição em parceria com os diversos nomes, em especial Anitta. A Anitta é uma menina sagaz demais, muito inteligente, aberta a participar. Em nenhum momento se indispôs, ficou com a gente em videoconferência, mais de quatro horas direto. Ela está muito envolvida. É filha de um Logun-Edé. Deu uma consultoria imensa, tanto ela, como o Estevão, os dois são filhos de um Logun-Edé. Foi bacana demais, a parceria toda é incrível. Foi tudo uma conjuntura que tinha que acontecer”.
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Estevão Ciavatta, cineasta e diretor, teve sua primeira experiência de compor um samba sendo vitoriosa na Unidos da Tijuca. Em entrevista, ele também contou como é a importância desta obra na vida dele: “Marcou muito a minha vida, porque foi a minha primeira incursão no mundo do samba-enredo. Estar lá dentro para mim é um divisor de águas, além de vir com um enredo que homenageia o meu orixá de cabeça. Fez muito sentido e coroou um momento muito especial na minha vida. O samba foi abraçado pela escola. É uma perspectiva de vencer um racismo religioso que existe no Brasil”.
O cineasta contou como foi a chegada de Anitta na parceria, através dele, reveloui a colaboração dela para a composição: “A Anitta é uma amiga já há muito tempo. Quando veio a ideia de chamar, liguei e imediatamente ela aceitou. Foi uma relação muito linda, porque tem todo o respeito por ela, pela história, por tudo que ela faz”.
Luiz Antonio Simas, professor e compositor, também comentou a importância do samba de 2025 sobre Logun-Edé em sua vida: “Nasci dentro de um terreiro de candomblé, minha avó era mãe de santo na Baixada Fluminense. Logun é um orixá muito querido. Fazer o samba, entender que está inserido em uma dimensão de luta contra o racismo religioso, é uma alegria. Gosto muito do refrão do meio. Tivemos o objetivo de colocar o cavalo-marinho no lugar onde sempre, em geral, nos sambas-enredo estava o navio negreiro. O povo que vem com Logun-Edé, é escravizado, mas ele traz beleza, musicalidade, tecnologia, sofisticação. Espero que o samba renda um ótimo desfile”.