Por Gustavo Lima e Will Ferreira
Após um processo eliminatório inteiramente voltado para a comunidade, a Tom Maior apresentou para o mundo da folia paulistana o samba-enredo que embalará o desfile de “Chico Xavier — Nas entrelinhas da alma, as raízes do céu em Uberaba”, assinado pelo carnavalesco Flávio Campello e sexto a se apresentar no sábado de carnaval do Grupo Especial de São Paulo. Composto por Maradona, Didi Pinheiro, Darlan Alves, Celsinho Mody, PH e Felipe Karanova, a canção foi o grande destaque do primeiro ensaio geral da agremiação, realizado no último domingo. Para conferir as reações da comunidade em relação ao samba e para ouvir personagens importantes da vermelho e amarelo, o CARNAVALESCO se fez presente na quadra da agremiação, na rua Luigi Greco, no bairro da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo.

Enredo diferenciado
Marco Antonio Ferreira, popularmente conhecido como Maradona, um dos compositores do samba-canção, credita a vitória à maneira completamente diferente com que o enredo foi desenvolvido: “Acabou sendo uma vertente nova: pegar uma personalidade como o Chico Xavier, que é um espiritualista, para contar a história de uma cidade. É diferente daquilo que a gente está acostumado, só que existe um fator primordial nesse enredo: justamente o Chico Xavier. Ele é um cara que escrevia mensagens espíritas e ele conta a história de Uberaba. Isso mexeu demais com a gente. Na hora que nós começamos a compor esse samba, era uma emoção em cima da outra. Graças a Deus, com certeza, ele nos abençoou para que terminasse com uma letra magnífica”, comentou.
Saulo Mesquita, outro compositor da parceria campeã, mostrou gratidão nominal ao carnavalesco da agremiação: “Fica todo o nosso agradecimento ao carnavalesco Flávio Campello. Uma sinopse muito bem desenvolvida e completa, em que nós conseguimos transmitir para o papel essa obra por intermédio desse texto. Não posso dizer nem que houve algum tipo de dificuldade. Esse samba foi diferente desde a construção até o dia do estúdio. Na gravação, nós tivemos todos chorando, emocionados e arrepiados. Foi uma coisa sensacional, sem explicação”, destacou.
História e presente
Maior campeão de sambas-enredo da história da agremiação, Maradona relembrou como começou a ligação dele com a agremiação – pontuando alguns momentos ainda mais especiais: “É o meu 17º samba-enredo na escola. Isso não tem preço. A primeira escola que eu entrei foi o Camisa Verde Branco, em 1987. Já em 1988, eu conheci a Tom Maior. Era o Douglinhas quem cantava, ainda. Eu me apaixonei e comecei a frequentar os ensaios. Meu primeiro ano foi na bateria, o segundo ano foi na Harmonia e o terceiro na ala musical. O primeiro samba vencedor foi em 1993, ‘Meio-Dia, Barriga Vazia’, que era o enredo da feijoada. Tirando o samba de 2026, o que eu mais gosto é o da Imperatriz, em 2018. Pude participar de Angola, Frank Aguiar, o tema do trabalhador… graças a Deus tenho uma história rica aqui”, comemorou.
Saulo revelou um pouco de como a canção foi produzida: “Foi um samba que nasceu de apenas três encontros. Três encontros e o samba brotou, foi uma inspiração sem explicação, podemos dizer. Graças a Deus, depois de uma disputa com 26 sambas inscritos, tivemos a honra de sagrar esse campeão. Hoje, ver a quadra cantando o samba desse jeito é simplesmente emocionante. É emocionante, não tenho palavras para descrever o sentimento que eu estou hoje aqui na Tom Maior. É somente gratidão”, afirmou.
Sistema justo
A dinâmica da disputa interna na Tom Maior foi elogiada por personagens importantes da vermelho e amarelo. Saulo foi um deles: O sistema de eliminatória da agremiação também agradou Saulo: “Acho bastante satisfatória a forma como a diretoria da Tom Maior conduziu as eliminatórias. Foi uma coisa muito clara. Eles colocaram todos os sambas concorrentes no YouTube, dando uma lisura tremenda nessa disputa. Na minha opinião, todas as escolas poderiam seguir esse exemplo da Tom Maior. Além de proporcionar um pouco menos de gasto para os compositores, a gente fica seguro e entende que realmente há disputa. É uma coisa maravilhosa e, graças a Deus, a gente se sagrou campeão. Eu agradeço mais uma vez a diretoria, ao presidente Carlão e à diretora Érica”, novamente fazendo elogios nominais a pessoas da vermelho e amarelo.
Gilson da Conceição, popularmente conhecido como Gilsinho, destacou o quanto é possível já se acostumar com cada canção assim que eles começam a cair nas graças da comunidade: “Eles preferem assim – e, para mim, dá no mesmo. Quando os sambas chegam, a gente já tem uma noção de qual pode crescer e vai despontar. Dessa vez não foi diferente – tanto que, na final, foi aquela coisa: cantamos os três sambas. O que teve a maior receptividade da escola foi realmente o que ganhou”, revelou.
Elogios unânimes
Outros tantos personagens da agremiação gostaram não apenas da obra vencedora da eliminatória de samba-enredo – mas, também, da recepção da comunidade à canção. Carlos Alves, popularmente conhecido como Carlão, presidente da escola e mestre de bateria da Tom 30, foi um deles: “Eu gostei muito! É o início de um trabalho, logicamente – mas eu, particularmente, estou satisfeito com o resultado. Para mim, é o melhor samba que nós tivemos na eliminatória. Nós não decidimos nada, quem decidiu foi a comunidade na votação. Agora, é trabalhar bastante para nós chegarmos no dia do desfile cantando muito esse samba maravilhoso”, comemorou.
Erica Ferreira, diretora-geral da agremiação (encabeçando a direção de Carnaval e de Harmonia da Tom Maior), foi bastante detalhista para explicar não apenas a própria opinião, mas também a fórmula de disputa do samba-enredo: “A primeira impressão foi maravilhosa! Quem escolheu esse samba foi a comunidade, sempre destaco isso. Nós tivemos uma audição no dia 03 de agosto, em que os três finalistas foram cantados. Nós fizemos um QR Code para a nossa comunidade votar e recebemos na nossa quadra toda a liderança, chefes de ala, apoios, todos os departamentos – e componentes, também. De 537 votos possíveis naquele dia, 450 foram para o Samba 4 – que foi o vencedor. É clichê, mas ‘a voz do povo é a voz de Deus’. Eu estou muito feliz, porque isso facilita o nosso trabalho – além de ser uma obra linda e feita por pessoas que são crias da casa”, comemorou.
Gilsinho também gostou da receptividade da comunidade vermelho e amarelo à canção: “É um samba maravilhoso. Tem aquela fórmula de samba bem construída – que faz a comunidade cantar. Todo mundo gostou muito desde o início. É um samba que hoje a gente já viu a comunidade em peso cantando. A gente fez uma gravação com algumas alterações de notas que estavam meio enterradas e levantou um pouco. A escola está pronta para mais um desfile“, prometeu.
Flávio Campello foi outro nome importante da agremiação que gostou do que viu: “Esse era o samba da comunidade! Desde as eliminatórias, nossa comunidade abraçou esse samba, e isso influenciou (e muito) na escolha. Nesse primeiro ensaio, pudemos perceber que cantar o samba já com as alterações necessárias para a adequação ao enredo não será um problema ao longo desse ciclo carnavalesco, o samba apresentado neste domingo foi a canção já alterada e inteiramente adequada ao que apresentaremos na avenida. Nossa comunidade cantou o samba do início ao fim e foi uma noite linda, com o Gilsinho e a ala musical apresentando de uma forma incrível, a comunidade abraçando a canção com a alma. Agora, é trabalharmos para realizar nosso sonho e objetivo. Vamos para cima!”, finalizou.