A Beija-Flor deu início à preparação para seu desfile no Carnaval 2025, com o já tradicional Encontro de Quilombos, na Avenida Mirandela, em Nilópolis. A convidada do último sábado foi a Mocidade Independente, que fez grande apresentação para brindar o público e abrir os trabalhos para o ponto alto da noite. Os sambistas presentes testemunharam o último ensaio de rua de Neguinho e a emoção tomou conta da pista, somado ao samba da Deusa da Passarela, em homenagem a Laíla. Um cenário perfeito para um ensaio que se tornou inesquecível. A Beija-Flor será a segunda escola a se apresentar na segunda-feira de carnaval (3 de março), com o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas”, desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo. Já a Mocidade, será a primeira a desfilar na terça-feira de carnaval, com o enredo “Voltando para o futuro – não há limites para sonhar”, dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage.
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Finalmente, aconteceu o encontro entre Beija-Flor e Mocidade. As duas já tentaram se encontrar em Nilópolis, mas chuvas fortes cancelaram e quiseram os deuses do carnaval que a Estrela-Guia estivesse presente no dia 7 dezembro de 2024 para guiar os caminhos ao último ensaio de rua do dono do grito de guerra que embala qualquer evento de norte a sul do Brasil. “Olha a Beija-Flor aí gente!” Gritou Neguinho, às 23h, pela última vez como cantor oficial da escola, em um ensaio de rua.
O início do fim de uma era, marcou a história da Avenida Mirandela, que estava lotada e viu passar o condutor do microfone da Beija-Flor por mais de 45 anos. A essa altura, a emoção já tomava conta e nada mais importava senão o que estava acontecendo no carro de som. Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor, aos 75 anos, encantando a multidão presente e enchendo os olhos de crianças, pequenos sambistas, que grudaram nele para ver a arrancada do samba.
“Comecei a amadurecer essa ideia de que o tempo passa. Aí, você tem que deixar a vez para a rapaziada que está chegando com todo o pique, todo o gás. Eu vou ver se nesses próximos cinco, 10 anos dou continuidade nos shows, para ver se garanto aí uma aposentadoria”, contou Neguinho brincando sobre o tempo que ainda espera estar nos palcos.
A Mocidade era a convidada de honra. Foi a primeira a se apresentar com um canto forte comandado pelo cantor Zé Paulo Sierra. O intérprete da Verde e Branca comentou sobre presenciar a despedida de Neguinho dos ensaios de rua.
“É um processo de despedida que a gente está fazendo para o Neguinho no carnaval. Para mim, além de ser muito honroso estar aqui em Nilópolis, é estar no último ensaio do Neguinho na rua. Foi incrível, uma experiência bacana, poder cantar no mesmo solo que o Neguinho canta. Estou muito feliz de estar aqui hoje”, disse Zé Paulo, puxando o coro dos emocionados endossado pelo presidente e fã declarado Almir Reis, da Beija-Flor.
“A minha reação foi de tristeza imensa. Acho que há muito tempo não me emocionava tanto. Esse anúncio da saída do Neguinho foi um choque para todos nós. Estamos todos muito tristes, mas ao mesmo tempo, nos deixou com mais sangue nos olhos para fazer um grande desfile. O Neguinho entrou na escola com a Beija-Flor ganhando e vamos torcer para que ele saia, mais uma vez, levando um título”.
O clima de emoção e reverência se sustentou até o fim do ensaio, marcado por uma ventania que desafiou a porta-bandeira da Mocidade, Bruna Santos. Os ventos de Oyá sopraram forte, secaram os olhos marejados pela aposentadoria do cantor e fizeram Nilópolis cantar em honra a Laíla, enredo da Beija-Flor.
Primeiro ensaio dá sinais de rolo de compressor pelo título
Conhecida por cantar muito qualquer samba que lhe é entregue, a comunidade da Beija-Flor está incorporada na energia de seu griô. De um jeito inconfundível, durante o ensaio, parecia que Laíla estava entre as alas falando que baiana também canta samba e passista tem que cantar para sambar. “Kaô meu velho! / Volta e me dá os caminhos” é o trecho entoado com mais força, depois do refrão principal. É uma prece.
Vídeos: Arrancada e ala a ala da Beija-Flor no Encontro de Quilombos com a Mocidade
“Esse enredo colocou para fora o lado emocional do componente. O nilopolitano quando canta o samba desse ano, ele bota para fora a sua história. Isso é fundamental. Muitas vezes você vê enredos que não têm um vínculo afetivo com a escola. Aqui, você tem um enredo desse que dá uma vantagem a mais”, comentou Marquinho Marino, que faz a sua estreia na direção de carnaval da Beija-Flor.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, Marino contou a sua relação com a comunidade e o que representa estar no comando da escola, dona de 14 títulos do Grupo Especial. “A Beija-Flor é uma escola imensa. Uma escola apaixonada que domina, não só uma cidade, como uma região inteira. São pessoas que amam a escola, que se doam de uma forma que é difícil até você ver e não se emocionar. Eu também estou emocionado. A oportunidade que o presidente Almir me deu, foi uma coroação pela minha humildade e a minha vontade de trabalhar. E sendo o enredo do meu mestre, que foi quem me ajudou muito, quem me guiou por muito tempo, me orientou, me aconselhou, eu acho que melhor é impossível. O resultado é consequência do trabalho, do desfile, mas se tudo caminhar conforme está caminhando, eu acredito que a escola disputará o título”.
Nos braços do povo, as lendas Claudinho e Selminha Sorriso viveram a emoção de começar mais uma temporada de ensaios conduzindo o pesado pavilhão da Beija-Flor. Por cada quadra da rua que passam, recebem aplausos. Alguns fãs mais acalorados chegam a ultrapassar a grade para abraçarem os dois. O casal de mestre-sala e porta-bandeira fez uma apresentação mais completa que a do desfile na Cidade do Samba, em homenagem ao Dia Nacional do Samba. A dança carregada de emoção arrepiou o público.
“É uma grande emoção e estou muito feliz pelo brilhante trabalho que a gente fez aqui e a entrega com esse povo maravilhoso ao nosso lado. A gente só tem que agradecer esse povo de Nilópolis por cantar o nosso samba maravilhoso. Estou muito contente com o trabalho que eu fiz com a minha porta-bandeira”, contou Claudinho.
“É lindo e demais e tão gratificante, porque se passaram tantos anos e o amor das pessoas, dos nilopolitanos, de adjacentes e torcedores que vêm de outras escolas, de outros bairros, dos estados e até países, é muito mágico. Aumenta a responsabilidade, porque eles esperam sempre o melhor de nós, nós temos que dar o melhor para eles e assim faremos a cada ano, enquanto os orixás nos permitirem passar por essa
Mirandela e pelo sambódromo. A gente está muito agradecido”, disse Selminha Sorriso que também deixou o ensaio emocionada.
Na emoção e na energia de Laíla, a Beija-Flor abriu seus trabalhos de ensaios para tentar seu décimo quinto título do carnaval. Por Laíla, Neguinho disse que não poderia deixar de estar no primeiro ensaio e o presidente Almir Reis, contou qual o espírito da escola para o desfile:
“A energia da Beija-Flor é trazer esse título. É uma obrigação nossa e nós vamos cumprir isso. A gente vai trazer esse título, se Deus quiser. Nosso maior triunfo é a nossa comunidade. O canto desse povo, dessa comunidade maravilhosa”.
Mocidade brilha em Nilópolis em apresentação contagiante
Se fala em energia, fala na estrela da Mocidade. A convidada da Beija-Flor para o “Encontro de Quilombos” fez uma apresentação que deu tom de gala à noite que guardaria tantas emoções. Da comissão de frente cativante, com o primor do primeiro casal, uma comunidade cantando forte, um samba encaixado, ao ritmo fantástico da ‘Não Existe Mais Quente’, a Mocidade foi luz e fez a Mirandela se sentir na Guilherme da Silveira, onde a Estrela-Guia ensaia, com a presença de mais de 800 independentes.
Vídeos: Arrancada e ala a ala da Mocidade no Encontro de Quilombos com a Beija-Flor
“Para a gente é uma honra estar com a Beija-Flor, com a Selminha e com o Claudinho que são nossos amigos e parceiros de dança. É maravilhoso poder receber o carinho de outra comunidade”, comentou a porta-bandeira Bruna Santos.
“Eu fico muito feliz. Troco demais com o Claudinho e pego aquele axé e a experiência dele. Dançar aqui no terreiro dele, vai ser muito importante para mim e para a Bruna”, também falou o mestre-sala Diogo Jesus, sobre o encontro com o lendário casal da Beija-Flor.
A Mocidade, que enche as calçadas de Padre Miguel para ensaiar, sentiu o clima da Avenida Mirandela. Em saudação à madrinha nilopolitana, o diretor de carnaval independente, Mauro Amorim, falou sobre a visita em Nilópolis.
“É uma honra imensa e as escolas são muito mais que irmãs. E a gente está feliz. Olha o quantitativo de gente que nós trouxemos. É importante esse laço e ele tem que ser fortalecido cada vez mais. Hoje é uma data que realmente entra na história da Mocidade, da gente poder participar desse evento tão grandioso que a Beija-Flor está fazendo”.
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