Por Maria Clara Marcelo e Matheus Morais
A Em Cima da Hora abriu na noite de sábado e madrugada de domingo a temporada de finais de samba-enredo para o Carnaval 2025. Com cinco obras na decisão, a direção optou por uma junção (VEJA NO FIM DA MATÉRIA COMO FICOU A LETRA NO ANÚNCIO DO RESULTADO). O resultado saiu por volta das 6h e aclamou as parcerias de Jacopetti e Richard Valença. Assim, além dos dois compositores assinam a obra: Viny Machado, Marcelinho Santos, Guto Melcher, Lucas Pizzinatto, Pedro Poeta, Bruno Dallari, Serginho Rocco, Orlando Ambrosio, Marquinhos Beija-Flor, Márcio de Deus, Guilherme Karraz, Caxias Gilmar, Guinho Dito, Telmo W Motta e Júlio César. A agremiação será a sétima a desfilar na sexta-feira de carnaval, no dia 28 de fevereiro de 2025, pela Série Ouro, na Marquês de Sapucaí. A escola levará para Avenida o enredo “Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Rodrigo Almeida e escrito pelo historiador e professor Anderclebio Macedo. Vale lembrar que a Inocentes de Belford Roxo já tinha informado que reeditará a obra “Ewe, a Cura Vem da Floresta”, de 2008.
“Comemorar porque é uma vitória. Junção é motivo de comemoração para duas parcerias. A primeira impressão é de estranhamento, natural, porque você quer ver sua obra por inteira na Sapucaí. Sempre respeitamos a escola, se for melhor para ela, é para gente também. Espero que trabalhem bem essa obra, é minha quinta vitória aqui, uma escola muito especial”, disse o compositor Richard Valença.
“A gente está muito feliz de poder fazer um samba para a Em Cima da Hora, uma escola tradicional. A parceria vem de São Paulo, não é a primeira vez que a gente disputa no Rio, mas fazia muitos anos que a gente estava longe da Sapucaí. Não nos importamos com junção ou não. O importante é o melhor para escola. Nesse momento, a gente se sente parte do outro samba também. Estamos muito honrados e felizes de poder ter nosso samba nessa escola maravilhosa”, afirmou o compositor Jacopetti.
“Sou sempre de respeitar a decisão da escola. Estou muito feliz pela vitória. Espero que a escola faça um grande desfile. Agora, o samba será trabalhado, porque é uma nova estrutura. Estou muito feliz com a vitória”, comentou o compositor Marquinhos Beija-Flor.
Desfile com a bandeira contra o preconceito
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Rodrigo Almeida responsável pelo desfile de 2025, explicou como chegou a ideia do enredo “Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira”, que será apresentado no desfile do ano que vem.
“Depois do carnaval de 2024 a gente continuou com a ideia de fazer algo social. Surgiu uma questão de falar de preconceito. Encontramos uma ópera, criada em Salvador, no Pelourinho, despertou a nossa curiosidade. Essa ópera está conquistando o mundo. Está se apresentando em todos os locais. A gente pensou que isso está vencendo o preconceito, você pode estar em todos os lugares. A gente vive em um país, que não acredito que existem brancos puros, o que diferencia se você é negro ou não, além do tom da pele, é se você precisa andar com sua identidade no bolso, a nota fiscal, isso caracteriza o negro no Brasil, infelizmente, porque vem da cultural colonial. Quando a gente encontra negro cantando ópera, invandindo o ambiente do branco, e vê eles indo para Europa e ganhando o mundo, é a nossa glória. Nosso forma de falar do preconceito é mostrar o poder do negro”.
O carnavalesco Rodrigo Almeida revelou que novamente levará para Avenida uma escola com alegorias maiores, como aconteceu no desfile de 2024. Ele também falou da escolha do samba-enredo.
“O samba tem que contar o enredo. Somos a sétima escola de sexta, tem que empolgar o componente, ser claro e objetivo. Escolher o samba antes favorece o canto do componente. Puxamos a história para termos mais tempo de trabalho. Em 2024, eu passei falando que seria uma nova Em Cima da Hora, novamente falo que será uma nova escola. Com alegorias maiores, mais imponente, com roupas volumosas, um desejo da escola”.
Intérprete celebra cantar em escolas de sambas clássicos
Recém-chegado na escola, após cantar em dupla com Tiganá na Estácio em 2024, o intérprete Charles Silva celebrou entrar em uma agremiação com sambas clássicos e ressaltou a boa sintonia com mestre Léo Capoeira e a bateria.
“Em Cima da Hora é uma escola de tradição. Escola gigante. Tenho privilégio de cantar em várias escolas grandes e com sambas memoráveis. Comecei na Ponte, fui para Estácio e agora aqui com sambas gigantescos, como ‘Os Sertões’. Cantar aqui é uma honra. Desde quando iniciamos o trabalho para gravar os sambas concorrentes tivemos uma sintonia maravilhosa com a bateria e o carro de som. É o início, mas muito próximo do que pretendemos apresentar no desfile. Esse ano é muito diferente, ano passado dividi o microfone, não tivemos problema com o Tiganá, hoje é outro trabalho. Posso fazer tudo que penso, coloco minhas ideias em prática, agora é colocar em prática e desenvolver esse trabalho na Sapucaí”.
Presidente revela opção por antecipar escolha do samba
O presidente administrativo, Álvaro Lopes, o Alvinho, explicou a opção por escolher o samba-enredo 2025 no início do mês de julho.
“A decisão da diretoria foi tentar adiantar o máximo possível o trabalho. Fazer diferente dos outros carnavais. Mostrar que a Em Cima da Hora está fazendo algo inovador. A escola sempre teve grandes sambas, a obra de 2025 traz a comunidade, a nossa identidade e podem esperar um desfile melhor do que em 2024”.
Presidente de honra da escola, Heitor Fernandes, garantiu a força da obra escolhida para o Carnaval 2025.
“Saiu uma obra de arte. Primeira escola que escolhe o samba da Série Ouro. O samba vai abalar a Marquês de Sapucaí. Essa obra abrange todos da comunidade. Abrimos a escolha cedo do samba, porque ‘quem vai na frente bebe água fresca'”, comentou.
O diretor de carnaval, Thiago Gomes, também falou do processo antecipado da escolha do samba-enredo. Ele ainda citou que a agremiação pensa grande para o desfile do ano que vem.
“A gente achou muito importante começar a disputa cedo. A proposta foi pegar os melhores compositores ainda animados em compor e com tesão e saudade de escreverem sambas. Tivemos belas obras na disputa. A escola está preparada. Vamos desfilar novamente com 1800 componentes. Nosso carnavalesco já está fazendo os protótipos. Esse ano melhoramos em alegorias. Agora, vamos trazer mais volume em fantasias e também nas alegorias. A gente sofre que os barracões da Série Ouro são menores. Existe esse temor, mas estamos tentando dar a volumetria melhor nos carros. Vamos ter um desfile muito animado, uma ópera totalmente diferente do que estamos acostumados a ver na africanidade. É feliz, alegre, nada de navio negreiro. O negro trouxe o enriquecimento cultural para o Brasil e colocamos isso no enredo”.
Casal encantado com desenho da fantasia
A escola terá um novo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Winnie Lopes segue na agremiação e agora conta com a chegada de Marlon Flôres. A dupla conversou com o site CARNAVALESCO e deu detalhes da fantasia de 2025.
“Com a saída do mestre-sala, a escola me pediu e perguntou quem eram as pessoas que eu tinha afinidade. Lembrei do Marlon. Foi o nome principal. Nunca dançamos juntos, mas a gente se conhecia bem. Eu gosto que ele tem o bailado tradicional. Ele tem o jeito ‘malandreado’ e cortês. Me encanta muito isso nele. Já temos nossa fantasia desenhada e olha está babado. O nosso carnavalesco trabalha bem com cores, em 2024 estava com cor bacana e ele vai manter essa característica de brincar com as cores e vai ser bem legal”, revelou a porta-bandeira.
“É sempre gratificante poder exercer minha arte. Estou retornando para o carnaval do Rio. Desfilei no carnaval de Santos em 2024. A Winnie é uma excelente porta-bandeira. Conheço há muitos anos. Já admirava a dança dela, mas não nunca tivemos a oportunidade de dançar juntos. Recebi esse convite com muita alegria. Eu sou um mestre-sala que gosto de preservar o tradicional e a Winnie traz essa essência, ela tem um giro muito bom e vamos fazer uma parceria de sucesso. Estamos muito felizes com o nosso figurino, recebemos um presente do nosso carnavalesco “, completou o mestre-sala.
Bateria focada em recuperar décimos perdidos em 2024
Comandante da bateira da Em Cima da Hora, mestre Léo Capoeira segue com o trabalho de excelência dos últimos anos e focado em recuperar os décimos injustamente perdidos em 2024.
“O nosso desfile em 2024 foi muito positivo, mesmo com as notas que a gente não esperava. Fizemos um trabalho de excelência. Foi super produtivo. Para o ano que vem, todos os naipes vão ser importantes, cada detalhe tem sua particularidade. Não tenho nenhum preferido. Trabalho todos iguais. O nosso andamento é de 146 BPM (batidas por minuto) sempre trabalhando em cima do samba escolhido. A escola trouxe um ótimo intérprete que é o Charles. Vamso fazer um trabalho bem harmônico para alcançarmos a nota máxima. Esse enredo tem muita coisa que pretendo colocar na bateria. O público vai ficar bem impressionado. Vamos pegar os dois décimos que perdemos esse ano”, assegurou o mestre.
Dupla no comando da comissão de frente
Para o desfile de 2025, a comissão de frente da Em Cima da Hora segue com o coreógrafa Luciana Yegros e agora também a parceria de Carlos Aleixo. Ao CARNAVALESCO, eles falaram do projeto para o ano que vem e fizeram um balanço da apresentação em 2024.
“Estou muito feliz. A Em Cima da Hora me deu um presente, o meu retorno assinando a comissão de frente. Foi um sucesso. O resultado foi além da nossa expectativa. Para 2025, eu estou na parceria com o Carlos Aleixo, que assinou o figurino em 2024. Vamos na contramão em 2025. Todo mundo espera uma coisa e vamos de uma maneira totalmente diferente. Fora da caixinha”, disse a coreógrafa.
“A gente tinha uma ideia, trocou e foi muito melhor do que o imaginado. Ver na Avenida as pessoas reagindo foi muito bom. Esse ano vamos trazer com sensações. É um enredo afro e vamos tentar fazer algo bem diferente”, completou Carlos Aleixo.
Como passaram os sambas na final:
Parceria de Ricardo Simpatia: Foi a primeira da noite. Apesar da ótima condução do samba por parte do intérprete Wantuir a obra não mexeu com os segmentos da agremiação. Faltou canto também na passada exclusiva com a torcida.
Parceria de Leozinho Nunes: Torcida mais animada, cantando muito especialmente o refrão com o nome da escola, com os outros segmentos e pessoas presentes mais atentos e animados. Leozinho Nunes conduziu muito bem o samba.
Parceria de Jacopetti: Boa apresentação. O intérprete Tem-Tem Jr cantou muito bem. A torcida cantou forte em sua passada e foi bem para cima com a comunidade reagindo de forma parecida com a da parceria de Leozinho Nunes.
Parceria de Ricardo Bernardes: Torcida cantou muito forte o refrão principal, ao ponto de cantar antes mesmo da apresentação começar no palco. As pessoas que estavam na torcida ficaram muito empolgadas ao longo da apresentação e terminaram cantando mais um pouco. Outros segmentos também se animaram com o refrão final, especialmente, a partir de “o amor venceu”.
Parceria de Richard Valença: Igor Vianna e Tinguinha foram muito bem. A torcida cantou muito,e empolgou até quem não estava nela. Foi a obra que conseguiu mais mexer com o público, fora da torcida, na quadra.
Veja abaixo como ficou a letra do samba com junção das parcerias
TAMBOR QUANDO TOCA É VOZ DE ORIXÁ
É FEITIÇO DE ILÁ ÔÔ
TAMBOR QUANDO TOCA É VOZ DE ORIXÁ
QUANDO A PELE ARREPIAR, INCORPOROU
A MENSAGEM DE EXU NA BAHIA (Ê BAHIA)
NA TRAVESSIA DO BRADO DE NOSSO AXÉ
ENCRUZA DAS ONDAS E ALFORRIAS
ERGUEU A LUTA DO MEU CANDOMBLÉ
MARÉ QUE ME LEVA, ENCONTRO DAS ALMAS
A DOR QUE SE ACALMA, O GRITO AFLITO
É VERSO ESCRITO ENTRE AYÊ E ORUM
É CHORO INCONTIDO AO TOQUE DO RUM
MARÉ QUE ME LEVA, ENCONTRO DAS ALMAS
NO COURO, NAS PALMAS, NO CHÃO DO TERREIRO
O SOM BRASILEIRO NA PELE E NA COR
O AFRO ERUDITO EM BANTU E NAGÔ
SOU EU A MISTURA DA FÉ AFRICANA
A PAIXÃO QUE VENCEU A DEMANDA
ONDE O POVO RETINTO UNIU
EIS O MEU NOME ASSENTADO EM TERRAS DE PAZ
ONDE REINAM OS MEUS ORIXÁS
EU ME CHAMO ILÊ BRASIL (SAI DO CHÃO)
QUANDO RONCA SOM DO COURO
A MANDINGA DO CHÃO DE CRIOULO
SE FAZ CANTORIA DE AXÉ
E A RUA SE TORNA UM SÓ CARNAVAL
NOSSA ÓPERA É RITUAL
PRA LOUVAR O SEU CANDOMBLÉ
ALABÊ CHAMOU, EU VOU… E NÃO VOU ME EMBORA
A MAGIA DO PRETO… EM CIMA DA HORA
SEGURA O CORPO QUE EU QUERO VER
QUANDO A FORÇA DO MEU CANGERÊ
FOR TAMBOR DE ROMPER AURORA