A Inocentes de Belford Roxo realizou em sua quadra no bairro São Vicente, na noite dessa quarta-feira, o primeiro ensaio de canto visando o Carnaval de 2024. O evento serviu de apresentação para a comunidade e para os componentes do samba composto por Cláudio Russo, Thiago Brito, Zé Luiz, Chico Alves, André Félix e Altamiro que irá embalar o desfile da agremiação no ano que vem. Na ocasião, a vermelha, azul e branca levará para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí o enredo “Debret pintou, camelô gritou: ‘compre 2 leve 3’! Tudo para agradar o freguês”, desenvolvido pelos carnavalescos Cristiano Bara e Marco Antônio Falleiros. A Caçulinha da Baixada será a quarta escola a cruzar a Avenida na sexta-feira de folia, dia 09 de fevereiro, em busca do tão sonhado título da Série Ouro e do segundo acesso ao Grupo Especial em sua história.

“Nos últimos anos, duas vezes fomos quarto lugar e mais recentemente terminamos em terceiro. Se formos seguir essa linha, em 2024 a tendência é sermos segundo ou primeiro lugar. Toda escola diz que vai ganhar, que quer ser campeã, mas nós estamos trabalhando arduamente para isso. Acreditamos em nós mesmos e vamos vender muito bem a nossa mercadoria lá na Avenida ano que vem. Esperem um desfile muito descontraído, muito comunicativo da Inocentes. Vamos fazer um Carnaval nos colocando no lugar de um camelô, de um vendedor, de um ambulante que está ali passando alegria e vendendo o seu produto da melhor forma possível”, afirmou o presidente em exercício da Inocentes, Ícaro Ribeiro, em entrevista concedida a reportagem do site CARNAVALESCO.

Inicialmente, a Caçulinha da Baixada apresentaria no ano que vem uma homenagem à cidade de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos. No entanto, alegando questões estruturais, a agremiação decidiu alterar o enredo e anunciou, no começo de setembro, um novo tema sobre os ambulantes e o comércio popular. Na conversa com a reportagem, o presidente em exercício da escola comentou acerca dessa mudança de proposta para 2024.

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Ícaro Ribeiro, presidente em exercício da Inocentes

“Às vezes, tem males que vem para o bem. Houve alguns problemas que impossibilitaram a gente de falar sobre Búzios. No entanto, surgiu esse enredo sobre os camelôs que, para a nossa surpresa, os carnavalescos conseguiram desenvolver de uma forma tão bonita que fez valer a pena essa troca. Então, esse é um exemplo de um mal que veio para o bem. Posso garantir que agora está saindo tudo muito perfeito. Nossa dupla de carnavalescos está de parabéns”, opinou Ícaro Ribeiro.

O Carnaval de 2024 é o sexto, de forma consecutiva, em que a Inocentes de Belford Roxo opta por encomendar o samba-enredo. Apesar do modelo ser considerado muitas vezes uma garantia de notas máximas, apenas em um único ano, até agora, a escola não perdeu décimos no quesito. Em 2022, a obra de autoria de Claudio Russo, Tem Tem Jr, Júnior Fionda, Lequinho, Fadico, Marcelinho Santos, Tem Tem Sampaio e Altamiro obteve três notas 10 e um 9,9, sendo este último descartado. Mesmo assim, o presidente em exercício Ícaro Ribeiro avaliou o formato como bem-sucedido.

“Encomendar samba tem dado certo para a escola. Todas as vezes que a Inocentes optou por esse modelo, o resultado foram obras muito boas que até conquistaram prêmios. Então, a encomenda de samba está valendo a pena. Além disso, financeiramente é melhor para todo mundo, inclusive para os próprios compositores. A pessoa quando vai colocar um samba para concorrer em uma disputa gasta muito, se endivida e na maioria das vezes acaba não ganhando. Todo mundo que faz samba acha que o seu vai ganhar, que é o melhor, e se frustra quando não consegue. A encomenda está sendo o caminho certo. É um modelo que não só veio para ficar, como já ficou”, ponderou o dirigente.

‘Certeza que muitos vão se surpreender’, afirma Cristiano Bara

O carnavalesco Cristiano Bara também conversou com a reportagem e falou sobre as expectativas para o desfile de 2024, que marcará o seu retorno para Inocentes após mais de uma década. Na passagem anterior, o artista assinou em 2010 o enredo “Água para prover a vida”, que alcançou um vice-campeonato no então Grupo A, atual Série Ouro. Ele também desenvolveu no ano seguinte “De Guarulhos para o palco da folia, sonhos, irreverência e alegria. Mamonas para sempre!”, sobre a banda paulista que fez história nos anos de 1990. No entanto, diferentemente do primeiro trabalho, esse tributo aos Mamonas Assassinas não obteve êxito e a escola terminou a apuração em um modesto oitavo lugar.

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Carnavalesco Cristiano Bara

“É uma felicidade imensa estar de volta a Inocentes. Fui muito bem recebido nesse retorno para escola e isso só me deu mais combustível para produzir um grande Carnaval. E falar de Debret com a missão francesa, mostrando que ele documentou os primeiros ambulantes no Rio de Janeiro no período colonial, é um baita enredo. Queremos dar uma força e trazer visibilidade para essas pessoas que, muitas vezes, são marginalizadas, como é o caso do camelôs. A gente tem aquela imagem da polícia correndo atrás deles, os proibindo de vender, do produto falsificado, mas o ambulante não é só isso. Vamos dar um glamour para essa história toda, mostrando que quem os documentou primeiro era alguém que realmente entendia o Brasil, afinal Debret pintou a primeira bandeira nacional. Então, a gente conta essa história a partir de Debret e desenrola até os dias de hoje. É muito interessante, bem legal”, pontuou Cristiano Bara em entrevista concedida a reportagem do site CARNAVALESCO.

Além dos aspectos históricos e de exaltar a importância dos camelôs, o enredo da tricolor de Belford Roxo também terá como proposta mostrar a expansão dos ambulantes em todo país. Desta forma, mercados populares, feiras e ruas serão retratados no desfile, assim como pontos importantes para este tipo de negócio na cidade do Rio, como são os casos do Mercadão de Madureira, da Rua Uruguaiana e da Central do Brasil.

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“É um trabalho com um colorido maravilhoso, por exemplo. Vamos falar do Brasil Império até os dias de hoje, botando tudo na perspectiva do dia a dia, mas com uma nova roupagem. A ideia é retratar a evolução do comércio popular e como ele movimenta a economia do país. Isso tudo com uma estética de luxo visual. É tirar o que a gente não tem no bolso da cabeça, da criatividade. O Marco Falleiros e eu vamos desenvolver o enredo de uma forma fabulosa, tenho certeza que muitos vão se surpreender. Quem pensa que vai para a Avenida ver barraquinha de camelô, até vai ver, mas também poderá conferir muita coisa interessante. A história do comércio ambulante e dos mercados populares, como o Ver-o-Peso em Belém do Pará e o Mercadão de Madureira, estará presente no nosso desfile, assim como as brincadeiras que o camelô faz no cotidiano. Abordaremos ainda causos como o do camelô que vendia água e que ficou famoso; do Silvio Santos, que de vendedor ambulante virou dono de emissora de TV; além do seu Anísio, presidente de honra da Beija-Flor, que foi camelô e receberá uma homenagem. São passagens curiosas que levaremos para o Sambódromo e que vão enriquecer o nosso espetáculo, que se Deus quiser será coroado com o primeiro lugar”, explicou o artista.

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Ainda no bate-papo com a reportagem do site CARNAVALESCO, Cristiano Bara deu detalhes sobre a parceria com Marcos Antônio Falleiros na confecção do Carnaval do ano que vem da Caçulinha da Baixada. De acordo com o artista, cada um deles exerce uma função dentro da estrutura, todavia existe uma troca frequente entre os dois, até para não haver prejuízos para agremiação, evitando assim a falta de unidade.

“Já trabalhei com ele há um tempo, quando eu tinha ateliê, algumas coisas assim. Temos uma relação muito boa. Somos amigos, então é muito mais fácil. Basicamente, eu cuido de uma parte, enquanto ele se dedica a outra, depois a gente se integra e faz a coisa acontecer. Atualmente, estou responsável pelos protótipos e ele está direto no barracão. Porém, eu vou ao barracão visitar, ele também acompanha os protótipos, rola essa troca constante entre a gente, justamente para que possamos entregar na Marquês de Sapucaí um grande espetáculo, um grande desfile”, frisou.

Thiago Brito relata experiência de compor samba da Inocentes 

O intérprete Thiago Brito fará em 2024 o seu quarto desfile defendendo o microfone principal da Inocentes de Belford Roxo. A primeira passagem ocorreu nos carnavais de 2012, quando a escola conquistou o título do Grupo A (atual Série Ouro), e de 2013, ano em que a agremiação e o próprio cantor debutaram no Grupo Especial. Já o retorno aconteceu no ano passado, quando a Caçulinha da Baixada alcançou um terceiro lugar, melhor resultado em uma década. Com um retrospecto tão marcante na vermelha, azul e branca, Thiago recebeu o convite para se aventurar em uma nova função e topou o desafio de ser um dos compositores do samba-enredo oficial para o ano que vem.

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“Quando retornei à escola no ano passado, eu não entrei na encomenda, mas mesmo assim acabei participando do processo. Afinal, o cantor sempre tem que dar aquele jeitinho, adequar a obra a sua interpretação, deixar ela da melhor forma para ele cantar. Então, este ano, o Cláudio Russo falou comigo bem antes, quando o enredo ainda seria sobre a cidade de Búzios, e me chamou para fazer parte da composição desse samba para 2024, até por conta da identificação que tenho com a Inocentes. E o Cláudio Russo é um fenômeno, não tem o que falar, é alguém sem explicações. A gente começou conversando por WhatsApp e depois marcamos um encontro presencial com todo mundo. Em seguida, eu fiz uma guia no estúdio que tenho, a gente foi lapidando algumas coisas e finalizamos na gravação realizada na semana passada para a divulgação. Graças a Deus, a repercussão da obra está sendo muito bacana e o saldo super positivo. Acredito que a gente vai em busca dessa nota 40”, declarou o intérprete, confiante.

Na entrevista concedida para reportagem do site CARNAVALESCO, o cantor também avaliou os impactos dessa decisão da escola em encomendar os sambas ao invés de realizar uma disputa tradicional. Para Thiago Brito, esse atual modelo adotado pela Inocentes é positivo, uma vez que permite um trabalho mais cauteloso e apurado sobre a obra, antes mesmo da gravação oficial.

“A gente tem mais tempo para trabalhar em cima do samba. Na encomenda, a obra é apresentada para o presidente, para a diretoria, para todos os segmentos, algumas alterações são feitas, detalhes são ajustados, tudo antes mesmo de acontecer a divulgação, a apresentação para o público. Já no modelo tradicional de disputa isso não é possível. Já aconteceu aqui mesmo na Inocentes, quando eu estava na minha primeira passagem, da gente escolher o samba e dois dias depois estar no estúdio fazendo a guia. Então, você não tem aquele tempo de concretizar algumas coisas, de lapidar com calma, porque é tudo muito em cima. A encomenda já te dá mais essa tranquilidade, de pegar o samba, escutar, testar, ver o melhor tom… Particularmente, acho esse modelo muito bom. É claro que para nós intérpretes a disputa é um momento muito importante do ano. Mas, pensando na escola, como cantor dela, é muito mais vantajoso ter uma encomenda”, analisou Thiago Brito.

‘Não vamos passar simples’, garante mestre Washington Paz

Após dois carnavais, o mestre Washington Paz está de volta ao comando da bateria da Inocentes de Belford Roxo. Ele dividirá com mestre Juninho a chefia dos ritmistas da “Cadência da Baixada” em 2024 e falou com a reportagem do site CARNAVALESCO sobre os preparativos para o próximo desfile, além de responder como é para ele trabalhar com o modelo de encomenda de samba.

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“Trabalhar com samba encomendado é algo que não me afeta muito. A escola está acostumada com esse modelo, uma vez que já adota ele há alguns anos. Infelizmente, a troca de enredo acabou por atrasar um pouquinho a entrega, mas nada que atrapalhasse os preparativos da bateria. Já estamos pensando e estudando algumas possibilidades de bossa, de paradinha, então posso garantir que não vamos passar simples não, vamos arriscar tudo. Vai ter muita coisa legal, mas a maioria é surpresa”, contou Washington Paz, mantendo o clima de mistério.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira celebra sucesso da parceria

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Inocentes, Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, fez sua estreia juntos no Carnaval de 2023. Logo no primeiro ano, a dupla mostrou ter dado certo e alcançou três notas máximas, além de um 9,9 que acabou sendo descartado. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, os dois fizeram um balanço desse começo de parceria e destacaram o que mais admiram um no outro.

“Amo trabalhar com o Matheus, é alguém que tenho como filho pra mim. É um menino bacana, uma pessoa que me completa e que me trouxe uma coisa que acho muito importante para toda porta-bandeira que é a jovialidade. A idade não importa, você tem que ser jovial, porque a dança é uma coisa que tem que ter leveza. O Matheus trouxe essa leveza pra mim. Estou muito feliz de estar dançando atualmente com ele. Sou extremamente grata por essa parceria que só me dá coisas boas”, pontuou Jaçanã.

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“Graças a Deus, a gente se dá muito bem. Temos uma parceria muito forte desde o primeiro momento. Quando recebi a proposta de vir para Inocentes e soube que ia dançar com a Jaçanã, eu fiquei bastante feliz, até porque era o que queria também, afinal nós temos uma ligação que começou aínda na minha infância. Então, só tenho elogios sobre a Jaçanã. Cada ensaio nosso é um momento de alegria. A gente tem prazer em se encontrar. Hoje mesmo, a gente pegou o trem juntos e veio rindo da Central do Brasil até Belford Roxo, só falando besteira e fazendo piada”, contou Matheus.

A dupla também falou sobre a rotina de ensaios para o Carnaval do ano que vem. De acordo com a dupla, os treinos irão começar agora, já com o samba-enredo oficial, e devem seguir a mesma intensidade do ano anterior.

“Nossa rotina varia muito. Ano passado a gente ensaiou bastante, todos os dias praticamente. A gente ia várias madrugadas para a Marquês de Sapucaí, por exemplo. Este ano, por conta de algumas questões, eu não vou poder mais ensaiar esse horário da madrugada, só mais cedo agora, mas mesmo assim a gente vai continuar treinando intensamente. Nosso objetivo é dar o melhor para Inocentes sempre. Se Deus quiser, vamos trazer esse título para escola e conquistar todas as notas máximas”, relatou Matheus.

“Gostamos de estar um com o outro, é sempre muito divertido, é algo muito leve. Então, a gente até reclama quando não ensaia. Assim, eu não sei como são os outros casais, mas nós esperamos ansiosamente para ensaiar. Essa cumplicidade, essa amizade que nós temos ajuda a tornar o trabalho menos pesado”, ressaltou Jaçanã, em seguida.

Também na entrevista com a reportagem, o mestre-sala e a porta-bandeira da Inocentes de Belford Roxo comentaram sobre o figurino para o Carnaval de 2024. Eles responderam ainda se costumam fazer muitas exigências em relação à fantasia e como é o diálogo deles com os carnavalescos.

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“A gente não tem o hábito de fazer muita exigência. Graças a Deus, o Cristiano Bara é uma pessoa que está entendendo o nosso visual, como é que a gente gosta de vir vestidos. Ele já escolheu até a pessoa que vai fazer a nossa roupa, conversamos e está tudo certo. De um modo geral, a gente costuma tentar ter essa troca com o carnavalesco, principalmente em termos de melhorias para o casal. Por exemplo, se a fantasia tiver alguma coisa que não seja legal para nossa dança, que possa nos atrapalhar, tentamos dialogar para chegar em um denominador comum. A ideia é sempre encontrar uma solução que seja a melhor para todo mundo”, assegurou a porta-bandeira.

“Como a Jaçanã disse, não temos o costume de palpitar muito, até para deixar que cada um faça o seu trabalho. Ele desenha, a gente dá algumas ideias, no máximo. Até gostamos de umas ousadias na fantasia, mas no geral não pedimos nada e nem interferimos muito. É o carnavalesco fazendo papel dele e a gente fazendo o nosso”, complementou o mestre-sala.