Um dos anos mais devastadores para humanidade é, sem dúvida, o mais difícil para o mundo do samba. Desde de março de 2020, os sambistas sofrem sem suas batucadas e somam perdas e mais perdas de referências da nossa cultura. Foram inúmeras mortes por Covid-19 ou por outras doenças. Soma-se também o impacto financeiro com o desastroso trabalho político, cultural e econômico. Os trabalhadores das rodas de samba, dos barracões e de toda cadeia produtiva da folia ficaram totalmente desemparados.
Houve solidariedade, através de iniciativas sociais de segmentos, como bateria, carnavalescos e casais de mestre-sala e porta-bandeira, mas também tivemos muitos dirigentes se esquivando para realidade de seus funcionários/colaboradores. Nesta quarta-feira, 2 de dezembro, é o Dia Nacional do Samba, mas temos o que comemorar neste ano terrível? Sabemos que os últimos anos foram pesados, de resistência e que a tendência é que aconteça uma volta no tempo e melhora da realidade do carnaval, a partir de janeiro de 2021, mas isso basta? Obviamente, a resposta é não.
A pandemia escancarou a precariedade do carnaval das escolas de samba. A total falta de responsabilidade com quem produz o espetáculo é avassaladora. É cada um por si e seja o que Deus quiser. Após nove meses, as pessoas estão cada vez mais nas ruas, correndo atrás do ganha pão e os funcionários do carnaval seguem na penumbra. Não existe trabalho, sindicato, cooperativas, ou seja, estruturas representativas que possam garantir alguma fonte de renda. Promessas e mais promessas não param. Lei Aldir Blanc foi aprovada, inscritas feitas, mas até agora nenhum centavo caiu para quem precisa. As escolas vão receber, dizem que ainda em 2020, mas como será o repasse para seus colaboradores? Ninguém sabe e nem saberá. A caixa preta do carnaval dificilmente será aberta um dia.
O samba tão reverenciado lá fora, mas carece de respeito por aqui. O poder público precisa entender, de uma vez por todas, que o samba gera milhares de empregos e movimenta a economia. Sambista não é vagabundo. É trabalhador. Hoje, além de tudo, ainda temos que lutar para mostrar e reafirmar para sociedade nossa importância. Milhares de pessoas odeiam a “festa da carne”, gritam em palanques que o carnaval não precisa de dinheiro, que é melhor dar para creche ou construir hospitais e escolas. São formas de destruição criadas por movimentos conservadores e religiosos contra uma manifestação cultural e representativa do povo mais humildade e que celebra a força das matrizes africanas. É perseguição em pleno século 21.
A expectativa pela vacina contra Covid-19 é imensa. Porém, a gente sabe que não basta. É necessário política pública de incentivo aos eventos e aos trabalhadores que giram a roda do Rio de Janeiro. Por isso, ainda não conseguimos ter certeza de nada sobre 2021. A torcida é seja possível ter algo, mas o sambista não é louco. Só iremos para Avenida, caso exista segurança sanitária.
As escolas de samba estão se mexendo, ainda que timidamente, com projeto desfiles em julho de 2021 (reafirmando que somente com a existência da vacina), e aos poucos reabrindo suas quadras, fazendo o que possível. Infelizmente, por uma liberação política e temerária, a gente ainda pode ter que retroceder e fechar tudo novamente. Por isso, o que podemos fazer agora é nos cuidarmos, seguirmos os protocolos sanitários, produzirmos de forma segura e possível, sempre com distanciamento social. Caso não seja viável, é melhor cancelar do que aglomerar.
Vamos usar o dia 2 de dezembro de 2020 para uma reflexão geral e torcer para que no ano que vem a gente posso comemorar o Dia Nacional do Samba com muita festa e alegria.