O historiador, escritor e compositor Luiz Antônio Simas é um dos autores do samba-enredo do Paraíso do Tuiuti para o Carnaval 2026, ao lado de Claudio Russo e Gusttavo Clarão. O trio assina a obra que vai embalar o desfile sobre o Ifá, sistema oracular da tradição iorubá, tema que dialoga diretamente com a trajetória pessoal e intelectual de Simas.
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“Eu recebi um convite do presidente via Claudio Russo e Gustavo Clarão pela minha afinidade com o tema, porque o Ifá é um tema que me interessa. Eu tenho uma relação com a religião, com o Ifá há muito tempo. A gente já vem trabalhando desde que o enredo saiu. Eu e Claudio aqui, o Gustavo nos Estados Unidos. Fomos testando samba, experimentando o que funcionava e o que não funcionava, e acabou saindo esse samba”, contou Simas, em entrevista ao CARNAVALESCO.
O compositor também refletiu sobre a experiência de fazer um samba encomendado, modelo que o Tuiuti vem adotando nos últimos anos.
“Eu não sou exatamente um compositor de samba-enredo. Gosto de temáticas vinculadas ao universo afro-religioso. O ideal seria os velhos tempos de ala de compositor fechada, aquele negócio todo. Mas a gente sabe que não é mais assim há muito tempo. O que a encomenda traz de positivo é o tempo de maturação para você preparar o samba, testar e não ter o calor da disputa. Essa experiência do Tuiuti foi interessante. É um samba bem maturado. Agora é trabalhar até o carnaval, porque samba-enredo é obra em processo”, avaliou.
Entre os versos, Simas destaca um momento especial, que conecta África e América com leveza e beleza poética.
“Esse samba conta uma história. Ele começa na esteira de um babalaô e termina na esteira de um babalaô. O trecho que eu mais gosto é como a gente solucionou a transição do Ifá entre a África e Cuba. Um personagem citado no enredo é Adestina, um nigeriano que se libertou e introduziu o Ifá nigeriano em Cuba. A gente não queria trabalhar com aquele peso do tráfico negreiro, e aí a gente fala: ‘E o negro iniciado no segredo do Reino de Olokun fez sua trilha’. É um trecho de que eu gosto muito”, explicou.
Com sua visão sempre crítica e humanista, Simas valorizou a dimensão pedagógica do samba-enredo e defendeu o espaço das temáticas iorubás na avenida.
“As pessoas têm uma certa dificuldade com o iorubá, mas é um enredo com temática iorubá. Eu acho que escola de samba tem uma dimensão pedagógica e é uma oportunidade de aprender. Até porque o português que a gente fala no Brasil é aquilo que a Lélia González chamava de pretuguês. E muito me surpreende quando se pensa em escola de samba, que são instituições construídas a partir das sociabilidades afrocariocas, com vínculos espirituais muito fortes com a cultura de terreiro, e se estranha quando o enredo traz esse universo. A temática tem que trazer isso, é absolutamente fundamental”, afirmou.
Mesmo à distância, já que Clarão mora nos Estados Unidos, a parceria entre os três compositores fluiu com naturalidade. Simas ressaltou como a tecnologia aproximou os parceiros e facilitou a criação da obra.
“O WhatsApp facilita muito. A gente mandava melodia, sugestão de letra… É o tipo de coisa que não ocorreria há 20, 30, 40 anos. É usar essa disponibilidade trazida pela rede para poder fazer o samba”.
O samba do Tuiuti 2026, inspirado, ritualístico e ancestral, nasce, nas palavras de Simas, “bem maturado”, pronto para ser trabalhado até a avenida. Um canto de fé e sabedoria, forjado no diálogo entre o sagrado e o popular.









