Para embalar seu retorno à elite do carnaval de São Paulo, a Colorado do Brás apresentou no domingo o samba que contará em versos a história do enredo para 2025. A obra foi encomendada pela agremiação da região central de São Paulo para a parceria de compositores formada por Léo do Cavaco, Thiago Meiners, Sukata, Claudio Mattos e Rafael Tubino. Nem mesmo o frio intenso que não cedeu em nenhum momento do dia espantou a comunidade do Brás, que compareceu em peso ao evento promovido pela escola. A Colorado será a primeira escola a se apresentar na sexta-feira pelo Grupo Especial com o enredo “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”, assinado pelo carnavalesco David Eslavick.
Nascido da confiança no talento do artista
Para 2025, a Colorado do Brás optou por não organizar um concurso, decidindo confiar o samba da escola a compositores conhecidos da comunidade. Um nome que se destaca na parceria é o do próprio intérprete da escola, Léo do Cavaco. O presidente da Colorado, Antônio Carlos Borges, o Ka, conversou com o site CARNAVALESCO e falou sobre a decisão de encomendar a obra.
“Quando escolhemos esse enredo, a gente já vinha amadurecendo essa ideia de encomendar. Por quê? O nosso intérprete hoje é um compositor de muitos sambas de São Paulo, e aí eu falei: ‘pô, por que não fazer uma parceria com ele, principalmente, e dar esse voto de confiança pra ele?’. Porque é um desgaste muito grande você, nas semifinais, nas quartas, nas oitavas de finais, atiça as pessoas, perde amizades, e aí a gente falou: ‘pô, vamos tentar, vamos fazer cedo’. Ficou legal? Veio uma boa arte? Vamos abraçar a causa. Não ficou legal? A gente tem um tempo hábil para fazer os trâmites legais que a maioria das escolas fazem. Quando ele me mostrou o samba eu falei que gostaria de mexer nisso e nisso, e ele falou que seria fácil de mexer. Fiquei muito feliz, muito satisfeito com o samba que ele fez, o Léo e mais quatro compositores. Estou muito feliz que a gente chegou nesse samba aí que, é, vai dar trabalho”, declarou.
O presidente exaltou o trabalho que Léo do Cavaco tem realizado à frente da ala musical da Colorado, destacando a identidade que o artista desenvolveu com a escola e a confiança em seu trabalho.
“O Léo é uma pessoa que veio meio que desacreditada. A Colorado abraçou ele, ele também abraçou a Colorado e a gente se identificou muito. Ele tem uma essência diferente, e já vinha defendendo com competência sambas que não eram de composição dele. Acho que você defendendo uma coisa que é sua, você sabe o tom, você que fez. Ele tá muito feliz, eu também tô muito feliz e todo o voto de confiança para ele. Ele vem em uma crescente muito legal, o mundo do samba vem elogiando a crescente do Léo, que é visível, é notória. A gente tá muito feliz, eu tenho muita fé nele, aposto todas as minhas fichas nele”, disse.
Ka aproveitou para exaltar o novo carnavalesco da Colorado do Brás, David Eslavick, ao falar sobre os próximos passos da escola no ciclo do carnaval de 2025. “A gente tá muito feliz também com o carnavalesco. O David acabou de chegar como carnavalesco, mas ele já tinha um passado na escola. Os pilotos estão todos prontos, faltando terminar a baiana que até terça-feira agora a gente termina. Acabaram 16 alas, com todos os pilotos prontos. Aí o próximo passo, no terceiro domingo de setembro, a escola vai fazer o primeiro ensaio, e já estamos focados no andamento do barracão, nas alegorias. A gente sabe que alegorias no Grupo Especial aumenta mais uma e como a gente vem do Acesso, tivemos que fazer tudo do 100% do zero. É muita responsabilidade, é difícil pra caramba, mas a gente tá preparado, a gente tá trabalhando pra isso”, concluiu.
Desafio de cantar o próprio samba
Não é uma novidade no mundo do carnaval que intérpretes de samba-enredo participem de concursos por diferentes escolas como compositores. Alguns deles, quando as agremiações permitem, tentam a sorte nas próprias casas. Mas Léo do Cavaco recebeu da Colorado do Brás a missão especial de compor o samba da própria escola a qual defende, e viu nessa missão um desafio duplo para sua carreira.
“Confesso que é um desafio porque normalmente quando tem a eliminatória eu faço parte do julgamento. Eu escuto todos os sambas com o ouvido, entre aspas, fresco. Quando você está no processo da composição, você acaba se apegando com algumas questões ali, então você tem que tomar cuidado porque às vezes você tem uma opinião e a escola pode não curtir aquilo. Então a gente tem que ter esse cuidado para conseguir acertar o que a escola quer, e esse ano com a encomenda a gente foi muito feliz nisso porque a Colorado é uma escola que sempre vem com sambas marcantes, sambas fortes, sambas alegres, e a gente conseguiu trazer isso, trazer a energia também do Filhos de Gandhy para o samba. E eu acho que agora o desafio é duplo, né? Vou ter que cantar e me preocupar com a nota do samba também, que ano passado claro que eu também me preocupava, porque a nota também depende da nossa execução no carro de som, mas esse ano o desafio é duplo, então a preocupação é um pouquinho maior. Mas está tranquilo, até porque eu já era compositor antes de ser cantor oficial, então está tudo tranquilo”, afirmou o artista.
A partir de agora a missão da Colorado será trabalhar o samba junto com a comunidade para chegar no ponto ideal, e o intérprete explicou como será esse processo.
“A gente entregou o samba para a diretoria ali por volta de junho. A diretoria de carnaval solicitou que a gente fizesse algumas alterações, e a partir daí a gente começou a fazer encontros com alguns setores da escola para a galera já ir aprendendo o samba, para chegar hoje aqui já mais ou menos decorado. Agora vão começar os ensaios, então é o processo normal de trabalho até o carnaval. Talvez, pode ser que altere alguma coisa ou outra, a gente vai sentir, porque tem muita coisa que a gente só consegue sentir com o povo cantando. Na gravação, com o time de canto, são músicos profissionais, então a gente acaba adequando algumas coisas que só sente quando vem para a comunidade. Vamos fazer esse processo agora, alguns ensaios, até a gravação oficial para ver, mas podemos dizer que estamos aí com 99% do samba tranquilo”, disse.
Parceria de amigos que superam distâncias
Os compositores do samba da Colorado do Brás para 2025 precisaram superar as barreiras impostas pelas longas distâncias que os separam. O time conta com os cariocas Thiago Meiners e Cláudio Mattos, com os paulistas Léo do Cavaco e Sukata, e com Rafael Tubino, que viajou mais de 30 horas do Rio Grande do Sul até São Paulo e explicou como a parceria consegue superar as fronteiras.
“Somos um grupo de amigos. A gente faz samba há muito tempo junto. Tem compositores de São Paulo, eu do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, o Thiago Meiners, o Cláudio, o Sukata aqui de São Paulo. A parceria é de amizade, então é muito fácil a gente trabalhar. A gente faz tudo online, pelo WhatsApp. Vai um arrumando samba, o outro ajeita, o outro manda ideia e assim vem a construção com todos participando junto. Uma das melhores partes do ano é quando a gente começa a fazer samba, que daí começa todo mundo a conversar. E agora, quando a gente vem aí para o dia das apresentações dos sambas, finais de campeonato, a gente aproveita para todo mundo estar junto aí. E pode-se dizer assim mesmo, cara. É pura amizade. Para nós estarmos aí participando na Colorado do Brás, escola que eu acredito que tenho uns quatro já com o pessoal, é samba de amigos. A escola a gente sabe que é também de família, e para nós é muito bom. Acho que o carnaval de 2025 vai ser bem bacana para a Colorado do Brás”, relatou.
Sukata destacou a ligação que a Colorado desenvolveu com o Afoxé Filhos de Gandhy, que será homenageado pela escola, e exaltou seu filho Thiago Morganti, um dos diretores de carnaval e enredista da escola.
“Eu acho que o Filhos de Gandhy é um bloco da Bahia dos mais importantes, que é aquele negócio da paz, e isso foi tudo estudado. A Colorado abraçou e foi abraçada também por esse enredo. É muito legal porque tem um axé muito legal, e a Colorado precisa de um negócio bom, e esse ano nós vamos ganhar esse negócio. Quem fez o enredo é o meu filho que mora na Bahia, Thiago Morganti. Ele quem escreveu o enredo, ele quem foi conversar com o presidente. Ele mora em Salvador e é enredista da escola. É, enredista da escola e diretor de carnaval também”, disse.
Samba feito com várias mãos
A Colorado do Brás conta em diferentes segmentos com pessoas que também são experientes na arte da composição. Além de Thiago Morganti, enredista e um dos diretores, outro é o diretor Jairo Roizen, que contou como foi a relação da direção de carnaval com o processo de construção do samba.
“O processo foi muito tranquilo. O Léo é um compositor que já teve sambas em diversas escolas e formou um time com parceiros que já ganharam samba na escola e que são do meu convívio, porque também são de parcerias que eu disputo samba em outras escolas e a gente já ganhou também. Foi um samba feito com várias mãos. Lógico que o mérito é todo dos compositores, mas em todos os momentos, em toda a construção, a direção de carnaval esteve presente. ‘Esse ponto é importante, esse ponto aqui está faltando’. É muito importante também a gente citar a participação do Thiago Morganti, que também é compositor de samba-enredo, mas não está nessa composição, assim como eu também não estou, mas é o nosso enredista e faz parte da direção de carnaval também, que fez parte também de toda essa construção do samba e eu acho que o resultado é muito mais do que satisfatório. A gente está muito feliz com o samba para a Colorado do carnaval de 2025. É um samba alegre, para cima, um samba, como eu costumo dizer, para abrir o carnaval e essa é a missão que a Colorado vai ter no próximo desfile, de abrir o carnaval para a gente deixar bem evidente e não deixar nenhuma dúvida de que o lugar da Colorado do Brás é no Grupo Especial”, declarou.
O samba da Colorado do Brás se desenvolveu com o zelo de pessoas intimamente ligadas com a arte da composição, o que permitiu com que, na visão de Jairo, a missão dada pelo presidente Ka fosse cumprida de forma satisfatória.
“Eu acho que é uma composição de vários fatores. O Thiago Morgante é filho do Sukata, e ele é o nosso enredista. O Léo é o cantor da escola, então a gente já pôde sentir o samba na voz de quem vai interpretar ele no dia do desfile. O Thiago Meiners, o Tubino, o Claudinho Mattos, são nossos parceiros de samba em outras disputas de samba por aí. Eles já sabem o que a gente espera, já sabem o que a gente quer, já sabem como a gente gosta, então foi muito fácil. Foi um samba que saiu muito fácil e que saiu exatamente da maneira como o presidente pediu para a gente. Ele deu essa missão: ‘eu quero um samba alegre, um samba explosivo’, e quando ele ouviu a primeira vez, ele se emocionou, ele mostrou o samba para o presidente do Filho Gandhy, que também se emocionou, e a gente não teve dúvida de que essa é a trilha sonora que vai fazer a gente buscar o nosso carnaval mais importante e a nossa melhor colocação, o nosso melhor resultado no Grupo Especial até hoje”, afirmou.
Papel da bateria no desenvolvimento do samba
Encarregado de comandar a bateria “Ritmo Responsa”, o mestre Acerola de Angola já teve a experiência de defender sambas encomendados no passado e falou a respeito ao comentar sobre a forma intimista que a obra da Colorado do Brás nasceu.
“É a melhor coisa. Eu já venho de escola que fazia isso. Eu era mestre do Barroca, e a gente fazia isso também. No Barroca fazem isso até hoje, de compor o samba com pessoas da casa, participando, mexendo, e isso é bom para a escola. Acho que a gente perde aquele negócio da eliminatória, que é legal, que a gente gosta, mas, por outro lado é muito bom porque o problema de errar é muito menor, porque fica muito mais na nossa cara, ainda mais quando são compositores da escola, que estão aqui no dia a dia e sabem o que está acontecendo. O samba da Colorado de 2025 ficou maravilhoso. Eles foram arrumando, mexendo, organizando para que ficasse da melhor forma. Ele veio, a gente ouviu uma vez, ele voltou para mexer algumas partes. Aí ficou bom, do jeito que a gente queria. Eu dei uns palpites da bateria para que conseguisse fazer algumas coisas no samba. Vai ser maravilhoso. O samba ficou perfeito para a bateria”, declarou o mestre.
Mestre Acerola explicou como serão os próximos passos da bateria ao longo do ciclo do carnaval de 2025, e antecipou qual instrumento será introduzido para compor o conjunto dos ritmistas para levar para a Avenida uma apresentação digna do maior afoxé da Bahia.
“Os ritmistas também conheceram o samba hoje, agora a gente vai no processo de criação. Vai fazer os laboratórios, a gente tem algumas ideias já, eles têm outras, meus diretores também dão uma ideia e a gente vai criando o esqueleto para criar o mapa do que vai ser feito para o desfile. Daqui para lá é o processo de criação, até daqui dois, três meses para frente, depois a gente engata e aí começa a sair o que foi criado. A gente voltou com os timbais, que tinham na bateria antes, mas depois saiu e não usou mais. Eu, no primeiro ano aqui ano passado, não usei timbal porque era um enredo que falava muita coisa de forró, um enredo nordestino de forró. Esse ano agora a gente tem o afro, o afoxé, os ritmos afros, que dá para usar bastante timbal. Agente voltou com o timbal agora e gente vai usar bastante”.
Preparação de Brunno e Jéssica para dançar o Afoxé no Anhembi
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Colorado, formado por Brunno Mathias e Jéssica Veríssimo, falou o que acharam do samba apresentado pela escola para o carnaval de 2025.
“Pela história que a gente conhece da nossa escola, não poderia ser diferente. Homenagear os Filhos de Gandhy, que é uma instituição tão importante para a Bahia, para Salvador e para o mundo. Eu acho que a união do carnaval de São Paulo com essa comunidade de Salvador tem muito a agregar. É trazer a história deles para cá e levar um pouco da nossa história para lá. Estou muito feliz que a gente vai abrir o Carnaval com o axé da Bahia. Vai abrir os caminhos e com certeza vai dar bom para a gente. Vai ter muita energia positiva e a minha escola vai dar o melhor que puder”, disse Brunno.
“É um samba forte. É um enredo que eu já queria, puxando o afro. Sempre falei para o Brunno que queria um enredo para a gente vir com bastante energia. É o que o meu mestre-sala falou, esse cuidado, esse carinho cultural, falando dos Filhos de Gandhy. Estive na Bahia recentemente também para conhecer um pouquinho mais sobre a cultura e entender mais até por conta do nosso personagem na pista. É um samba forte e é o que o Ka falou, nós vamos passar passando. Vamos trabalhar muito, já estamos aí trabalhando bastante. Eu amei o samba, então não tenho o que falar. É um samba que a gente queria”, afirmou Jéssica.
Um enredo de temática baiana pressupõe a presença inevitável dos ritmos tradicionais do tradicional carnaval de rua nordestino. O casal falou como a caracterização ocorrerá na dança a ser apresentada no desfile.
“Assim que o nosso presidente passou o tema, a gente tem a Dani Renzo, que é a nossa preparadora, e a gente estuda muito. A gente começa a ver vídeos, conhece um pouco da história, da cultura, para fazer os movimentos corretos na Avenida, para representar a religião que a gente vai levar para a Avenida. A gente está estudando os movimentos, estudando a história e montando a coreografia para fazer bonito para o jurado e ele dar um sorrisinho para a gente. Dez, dez, dez, fechar com quarenta e a minha escola lá em cima”, explicou Brunno.
“É isso. É coreografia, é dança afro, podem esperar, não tenham dúvida disso. É algo que eu queria muito e surpresas vêm aí”, completou Jéssica.