Por Marcos Marinho e Matheus Vinícius
O Império Serrano definiu, na manhã deste domingo, o hino que vai embalar a comunidade da Serrinha na busca pelo título da Série Ouro no Carnaval 2026. Após uma noite de grande festa, o resultado foi anunciado às 6h, consagrando a parceria formada por Hamilton Fofão, Dudu Senna, Leandro Maninho, Cláudio Russo, Lico Monteiro, Jorginho da Flor, Silvio Romal e Marco Aurélio como vencedora da disputa. O samba dará voz ao enredo “Ponciá Evaristo Flor do Mulungu”, homenagem à escritora mineira Conceição Evaristo, desenvolvido pelo carnavalesco Renato Esteves. A obra promete unir a força da literatura negra à tradição imperiana, celebrando a escrevivência e o poder transformador da palavra que nasce da favela e floresce no mundo.
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Conceição Evaristo celebra o poder da literatura no samba
Emocionada com a homenagem, a escritora Conceição Evaristo destacou a importância simbólica de ver sua trajetória literária se transformar em samba-enredo.
“É uma alegria muito grande pensar que eu chego aqui por causa de um texto literário. Pensar que a literatura tem esse poder de convocação, para mim, vale mais do que qualquer prêmio. Eu tenho certeza que vou encontrar o aplauso do povo. Antes, quando eu entrava na avenida, as pessoas já gritavam meu nome, e agora será ainda mais emocionante. Vai ser um momento de encontro muito grande entre o público, a literatura e o samba”, afirmou.
Conceição também ressaltou a relevância da representatividade no desfile: “O que não pode ficar de fora é o fato de eu ser uma mulher negra. Isso tem uma importância muito grande pra gente. O enredo não pode esconder a nossa identidade”.
Samba vencedor emociona compositores e comunidade
Para os compositores da parceria campeã, a vitória coroou uma noite de celebração e pertencimento. Lico Monteiro falou com gratidão pela conquista: “Não tenho palavras para agradecer à parceria pelo convite. Ganhar no Império Serrano é um sentimento inesquecível, porque aqui é uma escola diferente. Tenho certeza de que a comunidade vai cantar muito esse samba”.
Já Hamilton Fofão, cria da Serrinha e sobrinho-neto do lendário Silas de Oliveira, não conteve a emoção.
“É um sonho. Sou nascido e criado no Morro da Serrinha. Comecei no Império do Futuro, fiz tudo como um imperiano apaixonado faria. Estou dando continuidade a essa corrente maravilhosa que é o Império Serrano. Esse é o meu primeiro samba-enredo campeão na escola, e a emoção é indescritível”.
Ele ainda destacou seu trecho preferido da obra: “A parte que mais me toca é ‘É Kizomba de preta literatura! É escrita sem censura no Império a florecer! Casa de preto também é academia! Serrinha! Ponciá Yalodê!’. É uma linda homenagem à nossa grande escritora Conceição Evaristo”.
Renato Esteves exalta sinergia e confiança na comunidade
O carnavalesco Renato Esteves, responsável pelo enredo e pela parte plástica, destacou a maturidade artística conquistada nos últimos anos e o envolvimento profundo com a comunidade imperiana.
“O Carnaval de 2025 foi um grande aprendizado. Foi o que reafirmou meu amor pelo Império Serrano, por essa festa e pelo ato de fazer carnaval. Aqui é quintal de casa. Fico super à vontade. A comunidade e a diretoria me abraçam. É um casamento perfeito”, refletiu.
Renato revelou que o enredo nasceu de um desejo antigo e que a escolha de Conceição Evaristo aconteceu de forma natural: “Eu já tinha esse enredo guardado e calhou que Dona Conceição nos escolheu também. Foi sinergia, foi o que tinha que acontecer e está acontecendo de maneira muito bonita”.
Sobre os preparativos no barracão, garantiu: “Os protótipos já estão finalizados, e estamos iniciando a reprodução. O ritmo é muito bom”.
Presidente Flávio França: ‘Império está focado em fazer um carnaval grandioso’
O presidente Flávio França comemorou a escolha do samba e reforçou o propósito coletivo que move a comunidade imperiana:
“A comunidade está unida e focada em fazer esse grandioso carnaval. Dona Conceição é uma mulher preta que representa a nossa comunidade. A literatura e a cultura têm um diálogo importante que pode impactar a juventude. Estamos consolidados, com um planejamento que tem foco e qualidade”.
França também explicou a escolha do tema: “Eu já pensava em levar um tema literário que dialogasse com a cultura. A história da Dona Conceição é perfeita. Sou amante da literatura e faço parte do movimento negro, do Jongo da Serrinha. A escrevivência dela conversa diretamente com a minha vivência”.
Sobre o desenvolvimento visual, ele mostrou confiança: “O Renato (Esteves, carnavalesco) acertou a mão. Já começamos a fase de reprodução no barracão. Agora é colocar o carnaval na avenida sem medo de errar”.
Intérprete Vitor Cunha: 35 anos de história e emoção renovada
O intérprete Vitor Cunha falou sobre o orgulho de representar o canto imperiano: “Cheguei aqui em 1992, com 12 anos. Meu pai, Carlinhos da Paz, foi intérprete da escola, e desde então o Império Serrano faz parte da minha vida. É uma história de amor e resistência. Estamos montando o carro de som, e agora teremos um formato mais minimalista, com menos cantores e fones de ouvido. É uma nova fase, um novo estilo, mas com a mesma emoção”.
Sobre a parceria com a bateria, destacou a tradição e o talento do novo mestre: “A bateria sempre foi um xodó. O mestre Sopinha é cria da casa, herdeiro de grandes nomes. O Império sempre teve a melhor bateria do Rio, e isso continua”.
Mestre Sopinha mantém essência e promete surpresas
O jovem Felipe Santos (Sopinha) elogiou o trabalho herdado e garantiu que a bateria manterá sua identidade: “A bateria está muito boa. Era o trabalho do mestre Vitinho, que dispensa comentários. Não mudei muita coisa, porque o time é o mesmo”.
Ele confirmou que o agogô seguirá como instrumento símbolo da escola e adiantou que algumas bossas já estão desenhadas, mas fez mistério: “Já temos algumas bossas prontas, mas é segredo. O agogô é a identidade do Império Serrano”.
Diretor de carnaval: ‘Estamos resgatando o brilho dos imperianos’
O diretor de carnaval Jeferson Carlos lembrou os desafios enfrentados pela escola e a recuperação da autoestima da comunidade após o difícil ano de 2025: “Viemos de um momento doloroso, mas estamos reconstruindo e resgatando o brilho dos imperianos. Hoje, com a quadra lotada, mostramos que seguimos fortes. O Renato (Esteves, carnavalesco) conseguiu interligar a história da Conceição Evaristo com a história do imperiano. Plasticamente, o desfile está belíssimo”.
Jeferson também revelou planos para os ensaios e números de componentes: “Devemos ter entre 2.500 e 3.000 componentes. Os ensaios de rua começam na primeira semana de dezembro, sempre às terças. A ideia é fortalecer o canto e o chão da escola”.
Casal celebra nova fase
A porta-bandeira Maura vibrou ter o mestre-sala Matheus como parceiro de dança: “Foi uma felicidade imensa. Já dançamos juntos e ele é um parceirão. Ele tem uma dança tradicional, malandra e muito dele. É maravilhoso dançar com ele”.
Ela elogiou o carnavalesco: “O Renato superou as expectativas. A fantasia está linda, exatamente como eu sonhava. Ele conseguiu traduzir tudo o que imaginei”.
O mestre-sala Matheus retribuiu o carinho e destacou a harmonia da dupla: “A Maura é uma porta-bandeira clássica, delicada e forte ao mesmo tempo. É difícil encontrar essa mescla. Estamos ensaiando muito para garantir nota máxima”.
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