Por Alberto João, Marielli Patrocínio e Matheus Morais
Uma noite histórica na Estrada da Mirandela, em Nilópolis, com o “Encontro de Quilombos” mais inesquecível de todos os já realizados pela Beija-Flor, a atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Jogando em casa, a líder geral do ranking desde a fundação da Liesa, a Azul e Branco nilopolitana recebeu a Viradouro, primeira colocada do atual ranking da Liga, levando em consideração os últimos cinco carnavais. Foi um show de quesitos e força de duas potências reunidas em um dos principais terreiros de escola de samba.
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Diretor-executivo da Viradouro, Marcelinho Calil conversou com o CARNAVALESCO e falou da oportunidade de pisar em solo nilopolitano.
“É espetacular. Uma alegria imensa estar aqui. Recebemos esse convite com muita honra, muito carinho. A Beija-Flor é uma escola multicampeã e que não só faz um trabalho competitivo forte há bastante tempo, como também institucional. Uma escola que tem na figura de seu Anísio uma referência muito grande, um pilar social e cultural. Assim como a Viradouro leva o nome de Niterói, a cidade de Nilópolis também é guiada e levada pela Beija-Flor. Nossos ensaios de rua foram excelentes. Agora, na virada do ano, é aquele ajuste final. O Carnaval é no início de fevereiro, um pouco mais curto esse período do que o último ciclo. A escola está 80% pronta. Nesta reta final de janeiro e fevereiro, vamos acertar o que falta para, sem dúvida alguma, buscar esse campeonato. É o que a escola está pensando. Agora, depende também da gente realizar esse trabalho bem feito para entrar nessa briga também”, disse.
O presidente da Beija-Flor, Almir Reis, também citou a importância de receber a Viradouro em casa.
“Isso aqui é verdadeiro. É prova do quanto a gente se respeita, do quanto a gente é unido. Para você ver, eles são lá de Niterói. Para vir para cá, em peso, isso não tem preço, não só para a gente, mas para a nossa cultura, para o carnaval. Isso é um exemplo de união. Hoje estamos aqui para fazermos um teste do que nós treinamos dentro da quadra.”
Dois sambas magníficos
Na pista, foi possível definir que as duas escolas possuem grandes sambas-enredo para o Carnaval 2026. A atual campeã do Grupo Especial, em seu primeiro treino de rua para o desfile do ano que vem, teve a participação espetacular da dupla de cantores Nino e Jéssica. A comunidade passou o famoso rolo compressor no canto e na evolução. Palmas para o diretor de carnaval, Marquinho Marino, que deu desenvoltura para os componentes evoluírem na Avenida. O samba-enredo da Beija-Flor é, sem dúvida, um dos melhores do ano.
“Balanço muito bom do primeiro ensaio. A gente fez muitos, buscando técnica na quadra, que é um ambiente controlado. A vantagem de fazer o ensaio na quadra é rodar, evoluir. E, assim, tanto eu quanto a equipe de harmonia entendemos que temos uma joia na mão. A gente tinha condições de parar, consertar, conversar, explicar, um trabalho bem técnico mesmo. Buscamos trabalhar muito aquilo que vai ser cobrado no desfile, principalmente a Evolução, que terá os subquesitos. O rendimento do samba foi maravilhoso. O que eu sempre penso é que esse trabalho técnico tem que ser gradativo e evolutivo. Eu não gosto de chegar no ápice muito antes do desfile. Acho que a gente vai introduzindo alguns trabalhos técnicos ao longo dos ensaios. O nosso planejamento de introdução técnica está no tempo certo”, explicou Marino.
Do lado de Niterói, a Viradouro possui uma das obras mais bonitas do ano. A homenagem ao mestre Ciça toca os corações dos sambistas. Wander “A Voz” Pires teve mais uma atuação magnífica. A Vermelho e Branco do Barreto, sempre impecável na harmonia e na evolução, pisou muito forte em Nilópolis. Canto potente da comunidade. Enfrentaram uma longa caminhada e mostraram, no solo sagrado de Nilópolis, a força que possui o povo de Niterói.
“Estou feliz com o resultado. Tem coisa para fazer, não falo que é o bastante. Nós estamos a 45 dias do desfile. Temos um planejamento, nossos ajustes, ensaios setorizados. Muito feliz com a nossa comunidade. As pessoas que vão aos nossos ensaios estão vendo a emoção com que estamos cantando e evoluindo. A qualidade melódica do samba leva as pessoas a cantarem com algo mais. A gente está muito contente em relação a isso. Sempre tem algo para melhorar a partir de janeiro. Tem um trabalho mais voltado para as fantasias, baseado no elemento artístico que a gente vai compor. Essa lapidação das alas que trabalham muito mais com a questão coreográfica e com o adereço de mão”, revelou o diretor de carnaval da Viradouro, Alex Fab.
Casais impecáveis
Claudinho e Selminha, patrimônios do carnaval, exibiram toda a elegância do principal casal de mestre-sala e porta-bandeira do carnaval. Ela, em plena forma, com muita graciosidade e vigor na medida certa. Ele, perfeito cortejador, torna o cenário perfeito para o bailado de sua parceira.
“Com esse enredo do Bembé, com um ano tão especial para mim e para o Claudinho, completando 30 anos pela nossa Beija-Flor, está um axé inexplicável de tão maravilhoso. É, como o nosso presidente Almir nos condiciona, fazer o melhor sempre, sabendo que vamos fazer um grande desfile, mas com toda a humildade do mundo e respeitando todas as coirmãs. A gente vai levar para a Sapucaí uma manifestação popular, cultural e religiosa tão importante, o maior candomblé de rua a céu aberto do mundo. É uma missão. Será um desfile inesquecível, emocionante, vibrante, vai virar macumba na Sapucaí. Acho que até quem não gosta da Beija-Flor vai entrar também no clima, porque é a nossa manifestação religiosa, e nós vamos gritar para que não exista mais intolerância religiosa. É muito legal ver os nossos pares, como o mestre Ciça, recebendo protagonismo no samba, que é popular, que é nosso, que é do nosso povo. A Viradouro está de parabéns também, tem um grande enredo e vai ser lindo”, comentou Selminha.
“Acho que aqui é um esquenta para a Sapucaí, porque é um Encontro de Quilombos, onde a Beija-Flor recebe várias coirmãs. O samba não tem essa rivalidade. Ficamos muito felizes em ver vários amigos fazendo um ensaio dessa proporção. Quem ganha com isso é o samba”, completou Claudinho.
Julinho e Rute, craques do quesito, formam hoje uma das duplas mais talentosas entre os casais de mestre-sala e porta-bandeira. Ele, sem dúvida, está na lista dos melhores da história. Ela, na mesma sinergia, é exemplo de dança, aliando técnica e gana, fórmula mais do que perfeita do sucesso.
“O balanço é bastante positivo. Está acontecendo tudo mais ou menos dentro do que a gente planejou para esse período do ano. A gente está trabalhando muito. É uma honra estar aqui com o Claudinho e a Selminha. Esse público aqui merece muito. São componentes que vestem demais a camisa e carregam a escola no coração. Foi um dia muito emocionante”, afirmou Julinho.
“Foi um ano diferente. Eu comparo muito com todos os períodos passados. Percebo que a gente está mais evoluído do que no ano passado, mas isso não quer dizer que a gente deve parar de trabalhar, pelo contrário. Não existe perfeição, mas a gente corre para tentar chegar pertinho dela. Já terminamos a nossa coreografia oficial, agora estamos na fase de limpeza. Pode ser que alguma coisa ainda mude. A gente vai ensaiar ainda na semana de Natal e na semana de Ano Novo, porque o Carnaval é no início de fevereiro e janeiro corre. Estar aqui em Nilópolis é ótimo. Selminha é a minha madrinha de porta-bandeira. Eu tenho muito carinho pela Beija-Flor. Amo o Gabriel (David). Acho que estar aqui também é fazer um agradecimento a ele por tudo o que ele faz pelos casais, por todo o respeito que ele tem conosco”, completou Rute.
Ritmo forte das duas baterias
Impressionantes os trabalhos realizados pelas baterias “Soberana”, da Beija-Flor, e “Furacão Vermelho e Branco”, da Viradouro. Excelências no ritmo. Os mestres Rodney e Plínio, na segurança com tempero, e o mestre Ciça, que é enredo, além de comandante da bateria, com muita ousadia nas paradinhas. As performances favorecem, e muito, o canto das duas comunidades.
“Isso aqui é maravilhoso, eu nunca tinha vindo aqui. É uma união entre as escolas de samba. Achei muito legal o clima, o ambiente aqui da Beija-Flor. Espero que no ano que vem também possa estar aqui de novo. Muito legal. Sem competição, cada um faz o seu trabalho. Estamos trabalhando, acertando as arestas ainda, muita coisa vai vir aí”, garantiu Ciça.
“Eu sou suspeito de falar. Mais uma vez, a minha bateria é muito coesa, muito bem preparada, e os ritmistas levam a sério. O ensaio, para a gente, é desfile. Foram muito bem mais uma vez. Missão cumprida e bem cumprida”, assegurou o mestre Rodney.
Espetáculo! Arrancadas da Viradouro e da Beija-Flor no Encontro de Quilombos
Comissão de frente
Entre os pontos que chamaram a atenção no Encontro de Quilombos, a comissão de frente da Viradouro, dos coreógrafos Rodrigo Negri e Priscilla Mota, apresentou uma proposta totalmente alinhada ao enredo. A coreografia evocou a trajetória do mestre Ciça, que iniciou sua caminhada no carnaval como passista, apostando em movimentos diretos e na valorização do samba individual de cada bailarino. O conjunto demonstrou forte entrosamento e leitura clara da proposta. A escola de Niterói ainda destacou-se pelas alas coreografadas ao longo do ensaio, com atenção especial para a ala do tamborzinho, que despertou grande reação do público.
Pela Beija-Flor, a comissão de frente, dos coreógrafos Saulo Finelon e Jorge Teixeira, teve desempenho muito consistente, especialmente nas três primeiras cabines, com movimentos bem sincronizados e uma coreografia fortemente inspirada em gestualidades afro, dialogando diretamente com a temática do enredo. A figura feminina apareceu como elemento central da proposta coreográfica, conduzindo a narrativa apresentada, mesmo sem recorrer a movimentos mais bruscos ou de grande impacto. Ao longo do ensaio, a escola também apresentou diversas alas coreografadas, integradas de forma orgânica ao andamento da bateria e da comunidade, sem interferir no ritmo forte e contínuo da apresentação.









