A Dragões da Real revelou que o novo espaço do Memorial da Caverna. A inauguração aconteceu na noite da última sexta-feira, em um coquetel promovido pela escola de samba da Vila Anastácio, Zona Oeste de São Paulo. O local seria, basicamente, para celebrar a história da agremiação, que soma 24 anos – completados no dia 17 de março. Escolhido por meio de votação nas redes sociais destinadas à comunidade, o nome decidido foi “Memorial da Caverna”. É importante ressaltar que a quadra da Dragões da Real é conhecida como “Caverna do Dragão”.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Emoção do diretor e fundador

Mesmo sendo a agremiação mais nova no Grupo Especial de São Paulo (e chegando ao pelotão de elite com apenas doze anos de idade, no ano de 2012), a Dragões já pode contar muita história. Elias Vieira, diretor geral da escola de samba, por exemplo, é um dos fundadores da instituição.

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“Eu estou na Dragões desde a fundação, sou um dos fundadores. A gente jogava bola, participávamos de outras escolas com alas e etc. Em um dia, curtindo um samba na quadra que a gente jogava, pensamos no motivo pelo qual a gente não formava a nossa própria escola. Começamos a ver como montar uma escola e montamos. Dá muito orgulho ver o que virou a Dragões, o nome da escola é motivo de orgulho e virou referência no carnaval para muita gente pelo trabalho que fazemos, bem sério e tratando o samba como ele deve ser tratado”, comentou, já refletindo sobre a grandeza do evento.

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Seis anos depois, a Dragões conseguiu a própria quadra – que foi, ano após anos, ganhando corpo. Elias relembrou o trajeto dos primeiros anos da escola: “Nossos primeiros ensaios foram na quadra do Lavapés, na Baixada do Glicério. Depois, ensaiamos no viaduto Santa Ifigênia, no Centro, em frente a nossa antiga sede. Depois, fomos para a Mocidade Unida da Mooca, tivemos um período na quadra da Caprichosos de Piqueri e, em 2006, viemos para esse atual terreno com tendas, montávamos tendas e ensaiávamos embaixo delas. Hoje, você vê o progresso da Dragões, o trabalho que a gente teve para construir essa quadra – que eu posso dizer que é uma das mais bonitas do carnaval de São Paulo atualmente”, orgulhou-se.

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Ele próprio se emociona com toda a trajetória que ajudou a construir – seja como componente, seja como diretor: “A ficha às vezes não cai. Tem alguns eventos e ensaios nossos em que a gente sobe na quadra e tem a visão de todo o local. Nessas horas, a gente para pra pensar no que a gente se tornou e conseguimos fazer. Não dá para acreditar o quanto a gente lutou e trabalhou para ver esse sucesso. É um orgulho! Às vezes, as lágrimas chegam a cair dos olhos quando você vê um evento cheio. Hoje, entregar para a comunidade mais um espaço, o Memorial, contando um pouco da história da escola… é lindo. Tem um item particular meu, que está lá dentro, de casa, sendo que eu trouxe de metrô, mas isso é um grande orgulho. A maioria das quadras que estão lá dentro são minhas, é um grande orgulho ver tudo isso e ver que eu fiz parte disso. Bati um prego, coloquei um tijolo nisso tudo. Sou uma pessoa que sempre fui muito participativo: hoje eu trabalho no barracão e já madeirei carro alegórico, por exemplo. Já fiz fantasias… tudo que podia fazer em relação ao carnaval eu já fiz. É sempre bem legal entregar uma novidade para a comunidade”, contou.

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Inovação também é olhar para o passado

Acostumada a ser pioneira em diversos momentos, chegou a hora da Dragões também se orgulhar de tudo que já foi construído, explica Márcio Santana, diretor de carnaval: “É muito especial inaugurar o Memorial em se tratando de revigorar os ânimos de uma comunidade. É o resgate de uma escola que é tão jovem, mas que, muitas vezes, pela força do cotidiano e por sempre pensar para frente, a gente acaba negligenciando um pouco o que já passou. A gente está prestes a completar 25 anos, a escola precisa ter o olhar e a sensibilidade de ver de onde veio”, comentou.

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Ubaldo Vieira, diretor do Departamento Social, também comemorou a inauguração: “É muito gratificante a gente memorizar tudo que a Dragões veio fazendo nesses últimos anos. Desde os tempos da quadra de terra até hoje, é lindo ver o que a Dragões é”, enfatizou, relembrando os primeiros momentos no espaço.

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Vale destacar, também, que até mesmo ex-diretores da escola foram convidados para o evento – e foram chamados para o espaço em frente ao Memorial, que estava coberto com um pano vermelho. Dentre eles, por exemplo, estava José Jorge Teles Santos, o mestre Tornado, histórico comandante de baterias do carnaval paulistano e comandante da “Ritmo Que Incendeia” entre 2015 e 2022 – desde então, os ritmistas são comandados por mestre Klemen Gioz.

High tech

Renato Remondini, o Tomate, presidente da agremiação, sempre gosta de exaltar todas as inovações que a Dragões da Real já proporcionou ao carnaval paulistano. E, na visão do principal mandatário da instituição, a criação do novo espaço na quadra está em tal contexto: “Esse nome foi eleito pelos próprios componentes da escola: nós sugerimos vários nomes e esse foi o mais indicado. A Dragões é uma escola pautada na inovação, na busca pelo novo, e essa sempre vai ser a nossa forma de atuar. Primeiro banheiro com acessibilidade foi nosso, em 2016. Em 2021, fizemos o primeiro espaço kids físico. Agora, veio a ideia de fazer o Memorial. Infelizmente, nós não temos muito espaço, há anos nós não tínhamos como imaginar que ela se tornaria uma quadra pequena – embora cheia de amor, de carinho e de afeto. Nada melhor que contar um pouco da história e da trajetória da escola para dar a oportunidade de quem chegar agora nos conhecer – ou quem também tem que ser eternizado e valorizado por contribuição. Criamos um pequeno espaço (que não é gigante, mas é legal) que, se Deus quiser, vai se tornar pequeno para os troféus. A ideia, lá, é não ter apenas os troféus, mas teremos uma parte tecnológica”, surpreendeu.

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Perguntado pela reportagem sobre como seria tal parte tecnológica, ele revelou muito da conexão com a comunidade e com o componente que o local terá: “Teremos, lá, muita interatividade. Se você estiver em uma feijoada, por exemplo, você pode marcar algo do dia – e você, automaticamente, vai estar em uma tela touch que você mesmo vai poder acessar. Lá também colocaremos fotos da ala X de 2010, por exemplo. Queremos que o componente participe disso e fomente o sistema. Lá também teremos uma exposição itinerante de camisas dos anos anteriores. Hoje, inauguraremos com camisas dos enredos dos primeiros anos. Depois, mudaremos e colocaremos novidades lá. Essa é a ideia: cada vez mais trazer conhecimento e respeitar a nossa comunidade”, destacou.

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No discurso de inauguração, Tomate destacou (e parabenizou) o responsável por tal tecnologia no Memorial da Caverna: trata-se de Rogério Felix, diretor de Harmonia da agremiação – chamado de “gênio” pelo presidente.

Comunidade solidária

Diversos segmentos da escola falaram da força dos componentes da instituição. Mais que cantar forte os sambas na avenida, a Dragões da Real também se notabiliza por uma série de projetos sociais, como explicou Ubaldo: “Nós temos o projeto de cadeira de rodas: a comunidade junta tampinhas de plástico e lacres de alumínio, fazemos a troca, compramos cadeiras de rodas e doamos. Hoje, já temos 250 cadeiras de rodas doadas desde o início do projeto. Com tampinhas e lacres, também doamos rações animais. Também doamos cestas básicas: em média, a cada quarenta e cinco dias, doamos trezentas cestas básicas. Também temos a Dragões do Amanhã, em que recebemos as crianças carentes de comunidades próximas da escola para trazer que elas são diferentes, nós temos alegria em recepcioná-las e dar carinho e amor, pra mostrar que amanhã ela pode ser alguém, com muita garra”, explicou.

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Do passado para o ano que vem

Não só de um olhar especial para o passado foi a noite na Vila Anastácio. Alguns importantes nomes da Dragões também falaram sobre o carnaval 2025, no qual a escola apresentará o enredo “A vida é um sonho pintado em aquarela!”, idealizado por Jorge Freitas.

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Tomate foi um deles, já trazendo informações sobre o andamento da agremiação visando 2025: “A Dragões é muito certinha. Eu trabalhei muitos anos na iniciativa privada, e a palavra ‘planejamento’ é fundamental. Hoje, estamos reproduzindo alas, estamos com o nosso abre-alas madeirado e esculturas sendo reproduzidas. Toda a equipe de Parintins também está aqui. Estamos a pleno vapor! Já estamos indo para as ferragens do segundo carro alegórico. Nossa meta é, em dezembro, estarmos com o trabalho todo concluído”, ejactou-se.

Utilizando a mesma palavra destacada pelo presidente, Márcio aproveitou para destacar o quanto a agremiação está adiantada e democratizada na eliminatória de samba-enredo. “A Dragões é muito leal ao nosso planejamento: aqui, a gente não rasga planejamento. Vou te dar um spoiler: acabei de sair do estúdio e as obras que vão competir nas nossas eliminatórias foram todas finalizadas. Abrimos um novo processo, em que os compositores tiveram a oportunidade de se valer daquilo que a escola estava oferecendo – um estúdio, ala musical, coral e todos os profissionais da escola gravando os sambas que competirão. Para a eliminatória, estamos 60% encaminhados. Agora é quadra e disputa”, prometeu.

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O diretor de carnaval, por sinal, revelou as datas relativas à escolha da canção para 2025: “A primeira eliminatória será no dia 10 de agosto. A partir dali, seguimos por três finais de semana: serão apenas três eliminatórias, curta, para otimizar a questão financeira dos compositores. Sabemos que uma disputa de samba é muito cara, acaba onerando muito. Estamos tentando trazer a essência da disputa de samba-enredo. Não queremos a parceria mais rica, a que tenha mais recursos financeiros ou o maior número de integrantes: queremos, simplesmente, o compositor com a sua essência. Caminhamos para ter um resultado muito positivo a partir dessa sistemática que a gente vai começar a colocar em prática na quadra, para a comunidade, a partir do dia dez”, finalizou.

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