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Do Samba ao Funk: A Corporeidade Negra que Dança e Resiste no Carnaval da Mangueira

Com o enredo “À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França, a Mangueira fez uma celebração das sonoridades que ecoam pelas ruas da cidade. Ritmos como o samba e o funk foram apresentados como exemplos do legado bantu e das estratégias de recriação do cotidiano da negritude.

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Em entrevista ao CARNAVALESCO, Luiz Antonio Simas, historiador e componente da quarta alegoria, falou sobre a semelhança entre duas das mais populares manifestações culturais cariocas. “O samba e o funk tem uma semelhança evidente porque são oriundos das populações afro-cariocas”, afirmou o historiador que relembrou do processo de marginalização do samba no início de século XX: “Se a gente pega o samba na década de 10 ou 20, a gente percebe que o samba era criminalizado pela vigência da lei de vadiagem. Samba era coisa de vadiagem. João da Baiana foi preso porque estava com um pandeiro e o pandeiro dele foi considerado a prova do crime, a prova da vadiagem”.

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Para ele, o funk, assim como foi com o samba, passa por um processo de criminalização e se reinventa por construir sentidos a partir da corporeidade da negritude. “O funk passa por um processo de criminalização muito parecido com o que aconteceu com o samba, porque é um contexto mais amplo de criminalização das manifestações das populações afro-cariocas. Agora, da mesma maneira com o samba, o funk foi se reiventando”, afirmou.

Para Leda Maria Martins, escritora e professora, a criminalização das manifestações culturais negras são cíclicas. Sob argumentos de que esses ritmos fazem apologia às drogas, à pornografia e à violência, as culturas negras são demonizadas. Na contramão, o samba e o funk recriam um corpo que dribla o escopo determinado da marginalização. “Basta você dar uma olhada aqui pelo Sambódromo. Dá uma olhada no no movimento do corpo carioca, do corpo em geral do corpo brasileiro e, principalmente, do corpo negro do brasileiro. É uma corporeidade dinâmica, dançante, bailarina. É uma elasticidade do corpo, uma disponibilidade do corpo para o movimento, para a criação e para a memória do conhecimento. É um modo alternativo de escrever o conhecimento”, concluiu.

Jonny Santos, de 31 anos, componente da ala 20, lembra que a marginalização foi um modo de circunscrever a corporeidade negra nos limites da branquitude. “O nosso corpo fala o tempo inteiro, nos movimentos, na forma como conduz o andar, os gestos dos braços, das mãos, ele está falando o tempo todo. Os movimentos perseguidos são movimentos onde o corpo do negro está falando de uma forma diferente da forma permitida pelo branco colonizador”, afirmou o componente da ala 20 que vem representando o funk carioca dos anos 70.

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A Mangueira não apenas celebrou as sonoridades que ecoam pelas ruas do Rio de Janeiro, mas também destacou a resiliência e a capacidade de reinvenção das culturas negras. No Marquês de Sapucaí, a verde e rosa contou uma história de luta, paixão e resiliência, mostrando que a cultura negra, seja através do samba ou do funk, é uma força viva e pulsante que não pode ser silenciada.

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