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Do renascer das cinzas à primeira a chegar no Anhembi: a redenção da Primeira da Cidade Líder

Escola da Zona Leste precisou superar tragédia que destruiu todos os seus carros alegóricos para conseguir desfilar pelo Grupo de Acesso 2 no carnaval de 2025

Na noite da última quarta-feira, a Primeira da Cidade Líder foi a primeira escola de samba a levar seus carros alegóricos para o Sambódromo, onde no dia 22 de fevereiro desfilarão pelo Grupo de Acesso 2 do carnaval de São Paulo. Mais do que as horas madrugada adentro para realizar o transporte, a data ganha um significado ainda mais especial levando em consideração que há cerca de dois meses a agremiação perdeu todas as alegorias e adereços em um incêndio. Depois de renascer das cinzas, a escola mostrou que a força de sua comunidade é maior que qualquer tragédia, chegando no Anhembi carregada não apenas de alegorias, mas também de esperança e fé.

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Fotos: Lucas Sampaio/CARNAVALESCO

Momento de redenção

Os trabalhos realizados na Fupe tiveram a ajuda de integrantes da Cidade Líder, amigos compositores que assinam o samba da escola para 2025 e a presença do homenageado do enredo, Pai Tinho, que fez questão de acompanhar a chegada das alegorias na concentração do Anhembi. A conclusão desta etapa marcante do processo de redenção da Líder foi acompanhada pelo CARNAVALESCO, que conversou com o diretor de carnaval Rodrigo Minuetto sobre o sentimento de ver o trabalho de reconstrução enfim indo para o Sambódromo.

“Com lágrimas no rosto, é uma alegria conseguirmos. Não está fácil ainda porque ainda estamos com muita dificuldade financeira. Nós perdemos todas as alegorias e tivemos que gastar um dinheiro muito maior do que imaginávamos que gastaríamos para refazer, mas é uma emoção gigante. Nós só temos a agradecer a todos que ajudaram, as escolas que prestaram apoio, aos fornecedores que prestaram apoio, que nos ajudaram de uma certa forma, deram materiais, diminuíram o custo do material para nós, ajudaram dessa forma. Nós temos muitas pessoas que ajudaram, então só assim que vamos conseguir chegar. E a equipe que conseguimos montar para fazer o carnaval também, refazer esse carnaval todo em um mês e meio e o resultado é esse. As pessoas que forem ao Anhembi no fim de semana já vão acompanhar, se Deus quiser, as nossas alegorias já montadas e no sábado já dando retoques para no dia 22 nós estarmos passando, se Deus quiser, maravilhosamente bem”, declarou emocionado.

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Os desafios encarados pela Primeira da Cidade Líder vão além de simplesmente reconstruir as alegorias. Os custos envolvidos em torno de tudo que aconteceu são elevados e geram receios quanto ao futuro, e para Rodrigo o resultado do carnaval de 2025 pode ser determinante para os anos seguintes da escola.

“É o que eu costumo falar para o nosso povo: esse ano está sendo muito difícil financeiramente e a escola está quebrada financeiramente então como o nosso enredo de Oxóssi, nós só temos uma única flecha e ela tem que ser certeira, igual a de Oxóssi. Nós precisamos vencer, a escola precisa vencer para no próximo ano pelo menos conseguirmos equilibrar as contas. Se não conseguirmos vencer esse carnaval, vai ser muito difícil para nós nos próximos anos, financeiramente, para conseguirmos colocar a escola na pista de novo, pode acarretar muitos problemas futuros para a nossa escola. Eu não sei para o resultado do carnaval nos outros anos, eu não sei como que pode ser, mas a luta é essa, faz parte do carnaval”, afirmou.

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Rodrigo citou que nesta quarta também ocorreu um incêndio que destruiu as fantasias de três escolas de samba no Rio de Janeiro. O diretor fez um paralelo com o que aconteceu com a Cidade Líder e aproveitou para agradecer as coirmãs que cederam materiais para a reconstrução das alegorias da escola.

“Muitas escolas já pegaram fogo, inclusive hoje no Rio de Janeiro três escolas perderam suas fantasias. Eu acredito que perder as fantasias seja até pior do que as alegorias porque alegorias com um mês e meio você consegue reconstruir igual nós conseguimos, agora fantasia, dependendo da quantidade, não consegue refazer. Isso é muito triste, nós também sentimos muito a dor deles porque além de perder os carros, nós perdemos o galpão também, que nem é nosso, e vamos precisar pagá-lo. Nós tivemos um prejuízo de mais ou menos R$ 1 milhão, R$ 1,5 milhão por causa do galpão, que precisamos reconstruir porque não é nosso, é de uma outra escola de samba. Tem as alegorias, que infelizmente nós perdemos. Não temos mais os carros, eles já foram até cortados, torceram todos os ferros, não tem mais nada. Nós vamos desfilar esse ano com carros emprestados das escolas coirmãs, inclusive de uma que disputa junto conosco. É melhor eu não citar nenhuma escola para não ser injusto com ninguém, mas a todo mundo nós só temos a agradecer de coração, como foi no nosso ensaio técnico, com o discurso emocionado que nós fizemos e tenha certeza de que hoje também é um dia emocionante para nós”, comentou.

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A Cidade Líder optou por focar integralmente nos trabalhos de reconstrução para conseguir realizar os trabalhos com sucesso. O diretor exaltou o compromisso da comunidade neste momento de redenção, relembrando o desempenho da escola no ensaio técnico realizado no Anhembi.

“Hoje cedo o Guilherme Cruz, parceiro nosso de samba-enredo, mandou no nosso grupo umas imagens inéditas do nosso incêndio, que só ele tinha feito no dia, e falou: ‘rapaziada, hoje é o dia de vocês, vão lá e arrebentem!’. Por isso que eu estou emocionado, mas é isso. Nossa ideia foi apenas trabalhar, trabalhar, trabalhar para conseguir acabar. Ainda não estamos totalmente prontos, ainda tem umas pinturas para fazer, mas nós estamos preparados. Chegou o nosso ano, nós estamos preparados para chegar no Grupo de Acesso 1. Nós estamos nesse grupo há seis anos, a escola está preparadíssima. Fizemos um grande ensaio técnico, foi bom demais! A escola está cantando, nós estamos ajustando só as coisas que precisam ajustar, inclusive sábado nós temos mais um ensaio de ala em que vamos fazer uns testes. Podem esperar uma Líder madura para chegar no Grupo de Acesso 1 e se Deus quiser ficar lá para se preparar para ir para o Grupo Especial. Nós vamos chegar lá com muita fã em Deus”, disse.

Dia do incêndio: a salvação dos Exus

Rodrigo Minuetto explicou para a reportagem o que aconteceu no dia do incêndio no barracão das alegorias da Primeira da Cidade Líder. O diretor agradeceu a um funcionário que estava presente no local e conseguiu se salvar sem ferimentos.

“Houve uma perícia no local e foi comprovado que foi uma pane elétrica, curto-circuito dos fios. Nós não sabemos se a voltagem não suportou as máquinas de solda, dessas coisas, e acabou que esquentou os fios, derreteu eles e começou a pegar fogo, foi isso que aconteceu no barracão lá. Nós saímos de lá, inclusive estava eu e o Murilo, saímos de lá e o incêndio, uma hora depois, acordou o nosso parceiro. Quero aproveitar e mandar um beijo para o meu amigo Edinho, que é um dos nossos parceiros aqui da escola e que estava lá no local, ele estava dormindo lá no dia. Ele acordou xingando os caras achando que tinham deixado a luz ligada, só que os caras não deixaram a luz ligada. Quando ele saiu para ver, era um incêndio que estava consumindo o barracão todo. Graças a Deus ele está vivo e está conosco aqui hoje. Nós só temos a agradecer ao Edinho, graças a Deus ele está vivo. Graças a Deus ninguém ficou ferido, isso que é o mais importante, e graças a Deus a escola conseguiu superar. Nós vamos fazer um desfile de superação mesmo. Com toda a dificuldade que ainda estamos sofrendo, nós vamos fazer um desfile de superação”.

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Mesmo diante da tragédia, Rodrigo fez um relato surpreendente do que encontrou quando pôde enfim entrar no local e constatou que as fantasias armazenadas não foram afetadas.

“O incêndio foi no dia 4 de dezembro e o nosso planejamento era de entrega no dia 20 de dezembro. Naquela semana já estávamos em processo de finalização do Abre-alas e íamos entrar para o processo de finalização do segundo carro. Nós íamos virar o ano com as duas alegorias totalmente prontas já, estava tudo muito tranquilo. Para nós um baque, um choque porque você estar com duas alegorias prontas… Quando eu chego no barracão eu olhei pelo lado de fora porque o bombeiro não nos deixou entrar. Eu olhei para dentro e falei: ‘meu Deus’. Só torci para o Abre-alas não ter queimado, torci muito. Falei: ‘meu Jesus Cristo, tomara que o Abre-alas não tenha queimado’. A única coisa que não queimou por completo no Abre-alas foram os Exus que tinham na frente. Foram esses Exus que não deixaram pegar fogo na parte da frente do barracão, das outras coisas que tinham fantasias e tudo. Foram esses Exus, nas costas deles, que seguraram. Derreteram a escultura inteira, mas os rostos das esculturas ficaram intactos. Do fundo delas para trás os dois carros estavam totalmente queimados. Para nós foi um baque, um choque”, revelou.

O processo de reconstrução das alegorias da Primeira da Cidade Líder procurou seguir as ideias do que a escola concebeu no projeto original, conciliando com os recursos oferecidos por outras escolas. Rodrigo destacou o carinho com o qual a equipe de barracão cuidou de todo o processo que resultou nos carros que partiram nesta quarta-feira para o Anhembi.

“Fomos conversar com a Liga, ela prestou apoio e falou: ‘vocês vão fazer o carnaval, vão disputar’. Vamos lá então, vamos refazer o projeto. Começamos o projeto no mesmo dia, e aí vem aquele lance: o que dá para reaproveitar do que queimou? E aí nós fomos. Tivemos vários parceiros que nos ligaram, várias escolas. A Liga e tanto as escolas da Liga quanto as escolas da UESP ligaram para nós. Nós refizemos o carnaval em cima do que conseguimos pegar das outras escolas. Nós tentamos manter as idéias originais dos dois carros. O Abre-alas nosso é a África, o reino de Queto, e o último carro é Oxóssi renascendo nas matas do Brasil, é uma grande mata, vai ser um carro muito bonito onde vem a escultura de Oxóssi. Pegamos as esculturas das pessoas que nos ajudaram e refizemos o projeto em cima do que conseguimos. Os outros dois carros eram lindos também, mas o carinho foi bem diferente da gente fazer, o gosto foi bem diferente de fazer esse carnaval. Eu acho que a dificuldade fez com que a equipe também trabalhasse com mais amor. Nós precisamos conseguir esse lance da superação, foi isso que motivou todo mundo”.

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O diretor aproveitou para agradecer a toda a equipe da Primeira da Cidade Líder que participou desta redenção a qual a escola conseguiu alcançar.

“Eu quero agradecer a equipe também, que é a equipe de serralheria, equipe de madeira, a equipe de forração, de decoração. O nosso carnavalesco Cristiano Oliveira também que ficou enlouquecido, ele ainda está pirado. Hoje as alegorias estão saindo aqui e ele acabou de me perguntar: ‘você tem certeza de que não está precisando de nada? Você tem certeza de que o carro está legal? Eu estou preocupado de prejudicar vocês’. É a estreia do Cristiano no carnaval da Liga, ele sempre fez escolas da UESP. O Cristiano, além dele ser carnavalesco, ele é médico, olha que loucura! É a estreia dele, já dá para ele estrear no Especial, já fez quatro carros! Já dá não, senão vão ficar de olho no meu carnavalesco. Também quero agradecer o nosso carnavalesco Ewerton, que em todo momento esteve conosco no projeto nas ideias, nunca nos abandonou também, a equipe primordial. Meu irmão é um cara que até me emociono de falar, que é um cara guerreiro pra caramba, não deixa a barca cair. O cara que me enche o saco, parece até que é meu chefe, mas é um cara que é guerreiro também. Nosso presidente Mário, nossos parceiros compositores também, os caras não abandonaram a barca em nenhum momento. É isso, agradecer todo mundo que ajudou, sem exceção, igual foi no nosso ensaio técnico. Nós não temos palavras para agradecer. Obrigado por tudo. Vai dar tudo certo, se Deus quiser. Como o Oxóssi, a flecha tem que ser certeira, não tem para onde correr”, disse.

Um recado de Rodrigo Minuetto para a comunidade da Primeira da Cidade Líder

“Quero mandar um recado para todo mundo. Agradecer pelo ensaio que fizemos, por tudo que vocês fizeram por nós depois do incêndio, pelo que já faziam por nós em todos esses anos. Agora depois do incêndio, todo mundo deu a mão, se uniu e foi. Fizemos um baita de um ensaio, nós estamos reforçando o que dizemos no ensaio, arrumando o que achamos que tem que arrumar, e podem ter certeza: a Cidade Líder está madura e nós estamos preparadíssimos para chegar no Grupo de Acesso 1. Chegou a nossa hora, nós sentimos a cada segundo que passa que chegou a nossa vez. Chegou a nossa hora e nós vamos fazer o possível e o impossível, respeitando todas as escolas, para conseguir o campeonato. Essa é a nossa ideia, ganhar esse carnaval, na força do Ofá de Oxóssi, se Deus quiser”, concluiu com determinação.

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