O sonho de toda e qualquer escola de samba é chegar no Grupo Especial da região em que disputa o concurso. Após anos com desfiles competentes, a Mocidade Unida da Mooca finalmente desfilará no pelotão de elite da cidade de São Paulo no ano de 2026 após conquistar o vice-campeonato no Grupo de Acesso I de 2025. Chegar à elite, é claro, forçará a agremiação a fazer algumas dinâmicas distintas – sempre respeitando algumas características marcantes da instituição. Em entrevista ao CARNAVALESCO, no evento que define a ordem dos desfiles dos grupos organizados pela Liga-SP em 2026, Vitor Gabriel, um dos diretores de carnaval do MUM, falou sobre quais adaptações a agremiação da Zona Leste farão no ano de estreia no Grupo Especial – e, também, o que será mantido em relação aos últimos anos.
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Celeridade
No ciclo carnavalesco que culminará na estreia do MUM no Grupo Especial, a agremiação se adiantou e foi a primeira a lançar enredo e samba para 2026. Desenvolvido pelo carnavalesco Renan Ribeiro, o tema já está intitulado: “Géledés- Agbara Obinrin” foi revelado ainda no mês de abril. Na primeira semana de maio, o samba-enredo também foi revelado oficialmente.
Vitor Gabriel destacou que as datas não são por acaso – fazem parte de um adiantamento das dinâmicas da escola para sentir menos o peso da estreia no Grupo Especial: “Nós já temos todos os passos prontos. Como a gente já faz um processo de samba interno, tal característica da escola facilita um pouco o adiantamento desse trabalho. A gente tem uma pesquisa, a gente já senta faz o samba, faz a sinopse, o carnavalesco já vai desenhando. Esse ano, em específico, pela primeira vez no Grupo, foi fundamental a gente começar o planejamento antes”, afirmou.
É claro que a emoção pela chegada ao pelotão de elite do carnaval paulistano não foi deixada de fora: “São quase 40 anos de escola para a gente chegar a realizar esse sonho. Para a gente, tudo é novidade. Para as escolas que já estão, flui um pouco mais fácil a estrutura de alegoria, o conhecimento da Fábrica do Samba para desenvolver o barracão. Para a gente, tudo é novidade. A gente está atrás de todas as outras por essa falta de conhecimento do Grupo Especial. a gente precisa adiantar, de alguma forma, nossos processos”, comentou.
A síntese foi dada pelo próprio diretor: “É através do planejamento, é começar projetando, desenhando antes, apresentando fantasia antes, alegorias antes, que a gente pode ganhar. Se alguma coisa der errado no meio do caminho, a gente tem um tempo hábil para corrigir. Resumindo: esse ano, em específico, a gente precisau adiantar, porque é o nosso primeiro ano no Especial”, comentou Vitor Gabriel.
Enredo com a cara da escola
Há anos, a Mocidade Unida da Mooca se especializou em levar para o Anhembi temas ligados a minorias – pautas afrodescendentes, originárias, linhagens e femininas. Em 2026 não será diferente. Assim como Gui Cruz e Sté Oliveira, intérpretes da escola juntamente com Emerson Dias, Vitor Gabriel exaltou a escolha por tal tema: “Isso faz parte da essência do MUM. Pelo menos nos últimos anos, é a filosofia de trabalho que a gente buscou: vestir o real papel de uma escola de samba – que é desenvolver essa parte social, essa parte crítica, essa parte histórica. Isso é o principal papel de uma escola de samba dentro da sociedade: trazer um pouco de cultura, fomentar isso. Nós somos mais de mil pessoas passando pela avenida numa televisão aberta Esse é o momento de a gente trazer assuntos relevantes, esse é o papel da escola de samba”, refletiu.
O diretor segue: “Na Mooca, há anos a gente descobriu trazer isso e faz parte da nossa essência. Agora, chegando no Grupo Especial, não seria diferente. Isso é fundamental. O primeiro passo para um bom trabalho de uma escola de samba é esse, cumprir o papel de uma instituição como essa. É o primeiro passo para o caminho percorrer de forma correta”, comentou.
Renan Ribeiro, carnavalesco da agremiação, falou sobre o enredo de 2026 em entrevista ao PodCarnavalesco SP:
Cada escola de samba possui um conjunto de características que se tornam únicas. Uma das que mais se destaca na Mocidade Unida da Mooca envolve a relação entre o enredo escolhido e o samba-enredo. Mais que não realizar eliminatórias e confiar a obra a um grupo de compositores, a agremiação não utiliza uma sinopse para nortear a canção, algo natural na imensa maioria das coirmãs Brasil fora.
Quando a reportagem falou sobre tal característica da instituição para Vitor Gabriel, o diretor assistiu à chegada de Rafael Falanga, presidente do MUM, nas proximidades do local em que a entrevista estava sendo realizada. Ele, então, começou a responder brincando: “O principal responsável por isso é o meu chefe. Ele é o responsável por essas loucuras – que a gente gosta, a gente abraça e vai junto”, divertiu-se.
Logo depois, veio a explicação de como é possível construir o samba de tal maneira tão diferente das demais: “Para deixar bem claro: a maioria das escolas publica a sinopse nas redes sociais e na internet e tem as eliminatórias. E a Mooca, há anos, é uma escola que faz um samba internamente. O presidente, inclusive, é um dos compositores”, afirmou.
O diretor entra em ainda mais detalhes logo na sequência: “A gente tem, sim, um texto-base, há uma pesquisa inicial sobre o que a gente vai falar. Não é algo que a gente tira a cabeça para compor o samba. A gente realiza uma pesquisa preliminar, um texto bruto, e, em cima disso, a gente já compõe. Depois, a gente faz aquele refinamento e transforma aquela pesquisa numa sinopse. Para resumir: uma base, existe; mas a sinopse pronta, realmente, não existe”, finalizou.