“Jorge da Capadócia” foi o enredo que a Unidos de Bangu trouxe à avenida para o Carnaval de 2024. Contando a história do soldado que virou santo, e séculos depois foi sincretizado com Ogum, orixá guerreiro, marca que fica salientada na religiosidade de vários brasileiros, em especial nas religiões de matriz africana. Sabendo da popular devoção de São Jorge, o CARNAVALESCO conversou com alguns devotos do santo, que vieram desfilando pela escola Vermelha e Branca, ainda na concentração, numa conversa de fé e samba.
Ana Paula Paranhos, é devota de São Jorge há anos, andando sempre com uma medalha com a imagem, e desfilou pela primeira vez na Bangu por conta da devoção, depois de saber sobre o enredo pelas redes sociais, através de uma amiga: “Nossa, São Jorge é meu santo guerreiro de todo dia. Que ele que a gente chama, a gente clama e tá sempre do meu lado. Tô aqui hoje por conta dele. Esse enredo mexeu comigo.Uma amiga minha me chamou e quando eu soube que o enredo era esse e ouvi o samba, achei perfeito”. A componente, de quarenta e quatro anos, conta que pede sempre algo para o santo, principalmente pela família, costume que herdou da mãe: “Todo ano eu tô lá na igreja agradecendo. É a saúde dos filhos, é aquele momento de mãe, né? Que a gente fica desesperado e clama pra São Jorge. Foi herança até da minha mãe. Ela fazia isso, e eu faço com meus filhos hoje”. Sobre o enredo, e a figura de São Jorge no carnaval, ela acredita que sempre terá uma forma de falar dele: “Eu acho que se todo ano tiver uma escola falando, ainda vai ser pouco”.
Carlayle Júnior, de trinta e sete anos, contou sobre sua percepção do santo guerreiro: “Eu acho que São Jorge, como todo santo popular no Brasil, diz muito sobre a nossa cultura, a formação do nosso povo, o sincretismo religioso, misturado com essa questão dos santos católicos, com os orixás, com as entidades. Eu acho que São Jorge é o que talvez represente melhor isso”. O folião conta que além de São Jorge, tem devoção por outros santos, e acredita que, de uma forma, ou outra, seus pedidos, como saúde, trabalho, e tranquilidade, são atendidos, mas sem que os santos tenham uma “dívida” com ele: “Eu tenho uma devoção para São Jorge, São Sebastião, vários santos católicos, mas confesso que eu não chego a achar que eles têm que atender todos os meus pedidos, Mas acho que de uma certa maneira talvez sim, algumas coisas que eu tenha pedido sim”. E falando de samba, ele, que desfila pela primeira vez na escola, falou sobre as vezes que São Jorge veio como enredo, ou parte de um enredo maior: “Eu acho que todo enredo, toda escola vai sempre arrumar um jeito diferente, um outro enquadramento pra contar a história de um mesmo santo, de um mesmo tema. Então acho que a Bangu já encontrou um jeito diferente de contar essa história de uma outra maneira, assim como outra escola, o Império, vai vir com os orixás, que com certeza, são sempre bem vindos e são sempre bem celebrados aqui na Sapucaí”.
Beatriz Guerra, de vinte e oito anos, contou sobre a história do santo com a sua família: “São Jorge é fé, proteção, eu venho de uma família onde mulheres fizeram acontecer, embora ele seja de uma figura masculina, mas sempre foi muito presente na minha vida. Então, é referente às cidades que a gente vive, querendo dar uma questão da criminalidade, então ele sempre vem protegendo, abrindo os caminhos, nós que vivemos na noite gostamos de samba, somos boêmios, então ele representa não só a questão da fé, como também a questão da segurança”. Ela, que vem como um dos guerreiros de Ogum, conta que o santo não deixa em nenhum momento de atendê-la: “Principalmente na questão de saúde, trabalho”. Falando de samba e fé, Beatriz explicou sua visão sobre os enredos de São Jorge, e como cada escola, carnavalesco, presidente, vai ter uma visão diferente quando quiser trazer a história do santo mais uma vez para a avenida: “A cada ano uma escola escolhe abordar de uma maneira diferente, com uma visão de ou viver em sua comunidade, porque junta a visão do carnavalesco, a visão do presidente, a visão de toda uma comunidade, então ele vem representando, mas vem de uma outra visão, acaba sendo de outro contexto e uma abordagem movida da comunidade acredita, então acho que nunca vai ser saturado, o povo sambista é movido pela fé, ele é movido pelos seus guias. Pelos seus protetores, então acho que está sendo feito na medida”.
Rudgeri Gonzaga, que desfila há quatro anos na Bangu, começou definindo São Jorge em algumas palavras ao falar do santo: “Guerreiro, luta, força, coragem. São Jorge é especial em todos os momentos. É com ele que eu me pego, sempre”. Ele continuou contando que é sustentado pelo santo, e alguns dos pedidos que faz a ele, além de citar o momento que considera mais especial nessa relação: “Muita paciência para poder enfrentar os desafios do dia. São Jorge tem me sustentado muito. Todo dia 23 de abril, quando a gente vai na igreja de Quintino, eu acho que é um momento muito especial, que marca uma emoção muito grande de São Jorge, a presença dele na vida da gente. Quando tem a processão, então, é um momento muito emocionante”. Ao falar de samba, o desfilante de trinta e três anos, que veio de São Jorge, falou que é sempre pertinente homenagear o santo da Capadócia: “A gente tem que homenagear sempre São Jorge, eu acho que a gente tem que falar muito sobre Ogum, da representação da religião de Matriz Africana, que traz com muito louvor a história do santo guerreiro, seja em qual religião ele se destaca, porque eu acho que São Jorge é a força da representação do sambista, e a gente tem que trazer sempre”.