A Estrela do Terceiro Milênio fez na noite de sábado seu segundo ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi, e fez importantes correções no canto da comunidade do extremo sul de São Paulo. O ponto a ser destacado foi justamente a harmonia, o canto da escola foi muito forte, assim como no primeiro ensaio, mas desta vez mais coeso, e junto a Pegada da Coruja do Mestre Vitor Velloso teve destaque. A Milênio com o enredo “Me dê sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir”, será a primeira escola a desfilar no sábado, dia 18 de fevereiro.
Comissão de Frente
Com um tripé que era muito utilizado pelos componentes, e que por um momento parece que fará referências a representantes do riso. Na apresentação, houve um ato em que uma criança era a destaque e guiada pelos demais. Outro momento sentavam nas escadas do tripé, e até em referência ao ‘banco da Praça’. Um detalhe: a coreografia iniciou logo que a escola entrou na pista. Uma comissão bem cênica e passando um realismo enorme, interagiam com a plateia, imprensa, parecendo que fazíamos parte da apresentação e por vezes, quase quem vos escreve entrou na pista para realmente ajudar. Pois os componentes dizem algo ‘me ajuda lá’, e outras referências que fazem crer que fazemos parte da encenação.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Daniel Vitro e Edilaine passou pela pista molhada, inicialmente com certa cautela, mas foram se soltando e com perfeição nos giros. Conectados nos olhares após algumas voltas. Daniel com seus passos envolventes, um jogo com as pernas que é sempre um destaque, e a Edilaine também com seus lindos passos, e destaco o seu sorriso. A conexão do casal é algo que devemos destacar, a sintonia nos passos, conexão dos olhares, nos giros, funcionou bem no ensaio. Não foi diferente do primeiro, mas fizeram ajustes com o andamento da escola.
Analisando o ensaio, o mestre-sala Daniel deu seu panorama e explicou o motivo da cautela: “Na verdade foi incrível, porque tivemos a oportunidade de testar algumas adversidades que de fato podem ocorrer no dia do desfile. Hoje foi a chuva e o chão. A gente hoje soube que, mediante ao chão escorregando, terão que haver algumas adaptações coreográficas, mas nada que estrague a coluna vertebral do trabalho. A gente já conseguiu fazer a apresentação em todas as cabines dos jurados, meio que adaptados em alguns pontos pela questão do alagamento, mas foi tranquilo, é muito bom na verdade. É ruim descer na chuva pelo fator de molhar, mas esse clima que causa desconforto, escorregando, é uma coisa que pode acontecer no dia do desfile e a gente tem de aprender, e eu sou pós-graduado em chuva no Carnaval”.
Complementando seu mestre-sala, Edilaine disse os motivos das adaptações: “O giro é diferente. Quando a pista está escorregadia e molhada do jeito que estava hoje, não podemos dar um estirão de giro. Tem que ser um giro contrapassado, como a gente fala. E foi tranquilo, a experiência conta nessa hora”.
A porta-bandeira ainda prosseguiu contando sobre a preparação: “Como nós fazemos os nossos específicos durante a semana, já sabemos os pontos da pista que não está 100% adequado à dança. A gente posteriora ou antecipa o movimento, e onde vemos que está com remendinho, vamos para trás ou para a frente. É só questão de adaptação”.
O casal contou que foi prometido uma pintura que ajudasse na dança, diminuindo assim riscos de escorregar, mas que até o momento não foi cumprido, atrapalhando os casais que trabalhavam com a hipótese do piso mais aderente. Revelaram que terá ‘muita surpresas’ no próximo ensaio e no desfile.
O mestre-sala Daniel revelou seu destaque no ensaio: “É a pegada da comunidade. Eu falo que a gente como Mestre-Sala e Porta-Bandeira só existimos, o pavilhão só existe porque existe a comunidade. É lógico que dançamos pela vaidade? Dançamos, é claro, mas atrás desse pano colorido, com o brasão da escola, a gente traz os sonhos e as emoções de cada uma dessas pessoas que atravessaram a cidade por quase 60 minutos para estar aqui, tomando chuva, e que voltarão mais 60 minutos, mas sorridentes. É por eles que nós existimos. Buscamos o resultado para eles”.
Aproveitando o gancho, a porta-bandeira deixou seu recado para a comunidade do Grajaú: “Minha comunidade, continuem acreditando, continuem se dedicando. Não é fácil, jogo é jogo e não sabemos o resultado do jogo, mas com toda essa dedicação que vocês estão tendo, com todo esse empenho, com certeza vamos chegar juntos e sorrimos muito na terça-feira de Carnaval”.
Harmonia
A comunidade do Grajaú canta muito, e não foi diferente, tiveram vários momentos altos no canto, nítidos em várias alas como a ala 6 no início da escola. Percebi a ala 10 com diretores pedindo mais canto, sendo que já cantavam muito, e eles realmente aumentaram o tom. Ainda as alas 13 e 14 que vinham quase juntas, explodiram no apagão ao passarem justamente pelo recuo da bateria. Um detalhe voltando para o início, a ala 1 era bem cênica, coreografada, com pintura no rosto, mas bem interativa. Até mesmo nas alegorias dava para sentir uma escola bem animada, com coreografia, interação, palmas, mostra o quanto a escola tem fluído no quesito. As baianas também sempre charmosas, com sua saia azul, vermelha e branco.
O diretor de harmonia, Japa, citou sobre o que também abordamos na análise do primeiro ensaio, sobre o canto no segundo setor ter tido problemas, e ressaltou o ajuste no segundo: “Corrigimos alguns erros que detectamos no primeiro ensaio. Conseguimos arrumar, e a escola veio ajustada, estava sem som no primeiro ensaio. Então deu para perceber que a escola cantou muito mais, foi nosso pedido”, e complementou em outro momento: “Tinha algumas alas que não estavam cantando conforme todas, mas ajustou, todas as alas cantaram igual, forte, como pedimos”.
Evolução
Evolução ocorreu bem, escola movimentando bastante com braços, animada e solta na pista, o que é um ponto importante. Mas não deixando de fazer seus movimentos já estabelecidos. Bateria ainda parou na frente da linha amarela, fez seu show por um minuto e passou a linha completando ensaio em uma hora exata, 60 minutos e 10 segundos. Ou seja, foi um ensaio bem leve da comunidade da Zona Sul, o tempo passou rápido, sinal que a escola conseguiu fazer fluir sua passagem pela pista neste segundo ensaio.
Na análise do diretor de harmonia, Japa, a escola foi bem no quesito: “Evolução conseguimos tirar a escola no tempo que terminou, foi muito positivo, temos mais um e com certeza faremos mais um belo ensaio”.
Samba-Enredo
Grazzi Brasil comandou o som, Bruno Ribas não esteve presente por conta de ensaio no Rio de Janeiro. Entretanto, a intérprete cumpriu muito bem seu papel – como de costume – com sua voz marcante e mostrou também a força da ótima ala musical da escola, acabaram conduzindo de maneira tranquila no samba, entrosamento com a bateria Pegada da Coruja. Conduziram bem a comunidade para o canto, tanto é que foi o destaque dentro do quesito harmonia, e tem muito dedo do carro de som funcionando.
A intérprete avaliou para o site CARNAVALESCO após o ensaio: “Deu para avaliar algumas coisas, sim. Mudamos algumas coisinhas discretas. Acho que deu um lance a mais aí, sim, acredito eu. Achei bem gostoso, estou bem feliz. E pouco tempo depois teremos o último, mas não com tão pouco tempo. Mas já deu para avaliar algumas coisas para no dia 03 está legal, aí avaliamos de novo para, no dia do desfile, estar bem legal”.
Entrosamento com a Pegada da Coruja não é novidade, e a Grazzi contou sobre bossas e parte que componentes da bateria se abaixam e diminuem o volume: “São vários! Esse lance a gente já estava fazendo, porém, o nosso diretor musical falou para fazermos a mesma dinâmica da bateria, com a descida e a subida. Dá um grande lance, eu achei bem bacana. A nossa ala musical é maravilhosa, então é só a dinâmica da voz, mesmo. E o sentimento, já que samba é sentimento, carnaval é sentimento. Mesmo em um samba tão alegre, tem que ter essa sutileza. Na música não pode faltar isso, ponto. Em tudo eu quero encontrar sutilezas”.
Por fim, comentou sobre sua parte favorita do samba: “Eu gosto do ‘sou o riso da criança’. Acho que não existe nada mais puro e verdadeiro. Criança é vida e caminho, Erê é caminho. Essa parte me deixa bem feliz”.
Outros destaques
A bateria ‘Pegada da Coruja’ crescendo demais, ousou nas bossas, inclusive em um longo apagão que fez no Setor B, trazendo a escola mais para dentro ainda do samba. No antepenúltimo setor, a bateria abaixou e em seguida fez outro apagão de alguns segundos, novamente com a escola explodindo.. As meninas do chocalho vieram fantasias com meia no arco íris, saia colorida, pintura de nariz de palhaço no rosto.
Sobre o longo apagão, Vitor Velloso reforçou o que disse no primeiro ensaio ser apenas um teste elaborado pela harmonia e direção de carnaval: “Fizemos no primeiro ensaio, e hoje foi feito no box, recuo, mas isso não vai ser feito na avenida, é uma coisa de ensaio mesmo. Pois nosso diretor de carnaval e harmonia, Carlão e Japa, eles fazem para sentir o canto da escola, como está cantando e deixando uma boa impressão para a galera. No desfile não, se faz isso é complicado”.
Analisando o ensaio, o mestre de bateria da ‘Pegada da Coruja’, disse que não teve tempo para correções, mas aprovou o desempenho no geral: “Sobre o ensaio, fizemos na terça, véspera de feriado, não teve tempo de ajustar nada. Viemos direto para cá no segundo ensaio, o que tinha que arrumar foi ajustado em conversas, gostei, foi bem melhor que o primeiro. Bateria, hoje, estava mais encorpada, primeiro ensaio tem aquele gelo, muita gente da escolinha, quebrou o gelo, e a galera estava mais tranquila, confiante, solta. Então assim, temos mais um ensaio dia 3 de fevereiro, mais uma oportunidade de acertar algumas coisas que precisa. É trabalhar, ensaio de quadra até dia 3, mas ao todo ensaio foi bacana, tivemos desempenho bacana na bateria, todos os naipes”.
Mestre Vitor Velloso disse o que espera para o próximo ensaio, pediu para mais ritmistas aparecerem: “O contingente, por conta da chuva faltou uma galera, acredito que no próximo ensaio estará maior e melhor. Muda muito também, você tem uma bateria menor, vamos sair com 220 ritmistas, hoje tinha 170, 180, falta uma galera. Então isso daí é uma evolução, não deixa de ser, mas com bateria menor é um desempenho, com maior é outro. Então acho que esperar a bateria em massa dia 3”, e revelou seu ponto alto neste ensaio: “No geral, a comunidade, a Terceiro Milênio é uma comunidade forte, está construindo um chão forte na escola. Você vê que a galera veio em peso hoje, então estão fechados com a escola, está na pegada, vontade, e é isso que acredito que seja o ponto principal dos dois ensaios falando no todo”.
Destacando outras situações, seis membros como destaque de chão na frente da primeira alegoria, bem alegres e com coreografia, bem cênicos e uma dança remetendo ao palhaço. Tem uma ala coreografada no meio da escola com um tripé, chamada de ‘Auto da Compadecida’, pelo menos em suas camisas, é bem interativa, mas sinceramente estou mais curioso para entender como será no dia do desfile.
Estrelas do Grajaú a frente da bateria junto com Carla Diaz e Mirela, destaco que a Carla Diaz que chegou como madrinha, interage bastante com as companheiras de bateria, sem estrelismo. E as crias da comunidade mostram muito samba no pé em conjunto, somam uma boa força.
Colaboraram Gustavo Lima, Lucas Sampaio e Will Ferreira