Marcando seu retorno à Marquês de Sapucaí, o Arranco do Engenho de Dentro teve a missão de abrir o primeiro dia de desfiles da Série Ouro em 2023. Foram mais de 10 anos longe do palco principal do carnaval carioca e alguns erros estiveram presentes na apresentação da azul e branca, o maior deles, a evolução, o carro abre-alas travou no início do desfile e passou por toda a avenida com lentidão, ao menos dois grandes buracos foram observados na altura do primeiro e segundo módulos de julgamento. O último carro também teve problemas e um buraco foi formado no primeiro módulo. Outro grande problema foi com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yuri Souzah e Gislaine Lira, no segundo módulo, ao realizar um bandeirada no final da apresentação, Gislaine enrolou a bandeira e ao ficar nervosa, demorou para conseguir desfraldar o pavilhão. O destaque positivo foi o conjunto de fantasias da agremiação, em sua estreia como carnavalesco, Antônio Gonzaga caprichou no uso de cores. O enredo, que festejou os cinquenta anos de fundação do Arranco e homenageou o Zé Espinguela, se mostrou um acerto. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
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Apresentando o enredo “Zé Espinguela – Chão do meu terreiro”, assinado pelo carnavalesco Antônio Gonzaga, a azul e branca do Engenho de Dentro passeou pela história de sua própria fundação, que completa 50 anos, e também pelo nascimento dos desfiles das escolas de samba. A agremiação terminou sua apresentação com 54 minutos.
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Comissão de Frente
A comissão de frente coreografada Fábio Batista apresentou a figura central do enredo, Zé Espinguela, em três momentos de sua vivência carnavalesca. No primeiro ato, sua relação com as ruas e os morros. O segundo ato da apresentação mostrou a relação de seu perfil carnavalesco com sua ligação ao sagrado e à religião. No terceiro ato, mais contemporâneo, houve a contemplação de seu legado. A comissão contou com 15 componentes, sendo sete mulheres e oito homens, eles realizam movimentações baseadas nas técnicas de danças do samba,também foram exploradas as técnicas da dança afro-brasileira e dança moderna.
Durante a mudança dos atos, as divisões cênicas da apresentação foram permeadas por movimentos teatralizados. Durante as apresentações para o módulo de julgadores a comissão passou por alguns problemas, no primeiro módulo, ao final da apresentação as mulheres a mudança de roupa não foi bem feita, alguns componentes também não conseguiram colocar as máscaras e seguraram na mão. Nos módulos seguintes o problema foi alguns desencontros entre os bailarinos.
LEIA MATÉRIAS ESPECIAIS
* Alegoria do Arranco ressalta que “voz do samba é alforria”
* Arranco homenageia Cartola, Paulo da Portela e Ismael Silva no enredo sobre Zé Spinguela
* Integrantes do Arranco desfilam orgulho e identidade com a homenagem a Zé Espiguela
* Tradição e resistência, as baianas do Arranco desfilam representando a herança do semba e as mães do samba
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yuri Souzah e Gislaine Lira, estiveram presentes no primeiro setor da escola denominado “As Raízes”, a fantasia significava o destino de ifá e grafismos faziam referência às estampas africanas e remetiam a ideia de raízes, o figuro, apesar de simples, não comprometeu a dança do casal. Apesar de ser o primeiro ano juntos, eles demonstraram muita sincronia e harmonia, porém, por conta da pista molhada e do forte vento a porta-bandeira optou por movimentos mais lentos. No segundo módulo de julgamento, ao final da coreografia Gislaine realizou uma bandeirada, o movimento arriscado não foi bem executado e a bandeira enrolou, ao tentar desfraldar o pavilhão, o mesmo ficou ainda mais enrolado.
Harmonia
Apesar de bastante animação por parte dos componentes, a escola enfrentou alguns problemas em harmonia, o principal deles foi a falta de canto uniforme entre as alas, a maioria só cantava quando chegava o refrão principal, em alguns momentos ficou evidenciado que muitos não tinham conhecimento do samba da escola, o que gerou um canto irregular. As alas “Adeus escola de samba, adeus” e “50 anos de resistência – Quilombo do Arranco” que vieram no final da escola são exemplos de pouco canto por parte da maioria de seus componentes.
Enredo
O jovem carnavalesco Antônio Gonzaga foi o responsável por desenvolver o enredo “Zé Espinguela – Chão do meu terreiro”, o enredo contou de forma correta e de fácil leitura a história de Zé Espinguela, personagem de importância ímpar para entendermos a formação da identidade cultural das escolas de samba cariocas e para o desenvolvimento das raízes negro-brasileiras. Antônio Gonzaga optou por dividir o enredo em quatro setores, o que se mostrou um acerto, a história de Zé Espinguela é muito rica e contá-la na avenida era essencial, o enredo passou de forma, e mesmo com uso de materiais simples, o conjunto visual contribuiu para o fácil entendimento do mesmo.
O primeiro setor, denominado as raízes, mostrou a ancestralidade do samba carioca e do Zé Espinguela, o segundo, chamado de a semente, mostrou os blocos de rua que o homenageado frequentava no final dos anos 1920, no terceiro setor, o tronco, foram contadas outras vivências de Zé Espinguela, permeado pela vivência musical dele. Por fim, o último setor, chamado de os frutos, mostrou a herança e o legado que ficou, assim como a comemoração pelos 50 anos de fundação da azul e branca do Engenho de Dentro.
Evolução
O quesito foi comprometido logo na abertura do desfile por conta de problemas no carro abre-alas, um avance que vinha á frente carro travou na altura do primeiro módulo de julgamento e um grande buraco se formou, o mesmo problema foi ocorreu no segundo módulo de julgamento, o buraco nesse módulo foi ainda maior, por conta desses erros, a escola precisou desacelerar e ficou um bom tempo parada. Os problemas com a alegoria se mantiveram e em certo momento o carro não conseguiu ficar no meio da avenida e foi em direção às frisas, os empurradores tiveram muita dificuldade para deixar o mesmo alinhado. O último carro também teve problemas ao entrar na avenida um pequeno buraco foi deixado no primeiro módulo. Outro problema foi a dificuldade das alas em permanecerem alinhas, em todo momento os diretores de harmonia precisam pedir atenção aos componentes.
Samba-Enredo
De autoria dos compositores Junior Fionda, Niltinho Tristeza, Antônio Carlos, Rafael Pereira, Marcelinho Santos, Alex Magno, Rogério Santa Cruz, Gigi da Estiva, Tem-Tem Jr, João Afonso, Vinicius Sarciá, Valtinho Botafogo e Diego Nicolau, a obra foi conduzida pelo intérprete Diego Nicolau, que fez sua estreia no Arranco ao lado de Pamela Falcão, a presença dela inclusive trouxe uma harmonia bem interessante para o canto, no geral, o desempenho do carro de som inclusive foi fundamental para impulsionar o bom samba da escola. Vale destacar que o refrão principal foi a parte mais cantada pelos componentes.
Alegorias e Adereços
O Arranco contou com três alegorias e um tripé e apesar de simples, os carros conseguiram passar com clareza o enredo. A primeira alegoria da escola, “Pedaço de África, Engenho de Dentro”, levou para a avenida a simbologia do tabuleiro de Ifá como oráculo que rege nossos destinos e nossos saberes ancestrais, o avance utilizado na frente do causou problemas e travou o andamento da escola, na altura do setor seis o carro inclinou para a arquibancada, causando um susto. O carro dois, “O Concurso – era dia de Oxóssi”, representou a realização do concurso entre escolas de samba realizado por Zé Espinguela em seu terreiro do dia 20 de janeiro de 1929, a alegoria contou com uma pintura de arte na frente. Logo depois, vimos o tripé “Adeus Escola de Samba, Adeus”, o elemento representou a última canção feita por Zé Espinguela já no final de sua vida, uma escultura de baiana com as cores da Mangueira carregava um grande estandarte, a escultura estava com problemas aparentes de acabamento. A última alegoria, “Onde a voz do Samba é alforria”, representou um quilombo do samba, foi observado um belo uso de estamparias, neste carro a porta-bandeira Lucinha Nobre foi destaque.
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Fantasias
Em sua estreia como carnavalesco, Antônio Gonzaga apresentou um belo conjunto de fantasias no Arranco, no total, foram apresentadas 17 alas, além das composições de alegorias. Em sua maioria, o bom gosto foi predominante, o uso de cores foi utilizado de maneira brilhante, o cartão visitas foi a ala de baianas, logo na abertura do desfile, as senhoras evocaram as raízes negras do carnaval, predominantemente branca, mas com estamparias africanas, o figurino estava muito bem confeccionado e aparentemente confortável. As fantasias em homenagem a Mangueira, Portela e Estácio de Sá encantaram pelo uso das cores e a fácil leitura, o acabamento também foi um destaque dessas alas. As fantasias “Era 20 de Janeiro – Salve São Sebastião” e “O jornalista” também são exemplos de bom gosto e beleza.
Outros Destaques
O desfile do Arranco foi o primeiro a contar com um homem a desfilar como porta-bandeira na Marquês da Sapucaí, trata-se de Anderson Morango, a fantasia de Anderson fez menção ao bloco Arengueiros, bloco que deu origem à Estação Primeira de Mangueira.
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A bateria comandada pelos mestres Cabide e Marley também representou a Mangueira, com a fantasia “Batucadas no Buraco Quente”, os ritmistas estavam predominantemente de rosa, assim como a rainha Heather Anchieta.