Por Gustavo Lima e Will Ferreira

Atual campeão do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, a Rosas de Ouro escolheu o samba-enredo 40 da eliminatória, composto por Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinícius, Lucas Donato, Salgado Luz, Fabian Juarez, Fábio Gonçalves, Cabide, Biel e Wagner Forte, para embalar o desfile de “Escrito Nas Estrelas”, assinado pelo carnavalesco Fábio Ricardo. Com alterações pontuais, a parceria consagrou-se bicampeã na Rosas de Ouro azul e rosa – e o CARNAVALESCO se fez presente para conferir o evento.
Novamente campeões
Conquistando pela oitava vez o concurso de samba-enredo da Rosas de Ouro, Aquiles da Vila valorizou os vinte e dois concorrentes – número bastante alto para a eliminatória: “Aqui na Rosas de Ouro é sempre uma disputa extremamente difícil onde todo mundo quer participar. Tinham muitos sambas. É um enredo bastante profundo e a gente buscou uma vertente um pouco diferente – tentando poetizar os astros. Acho que deu certo e realmente estamos ‘de alma azul com ascendente em rosa’”, cantarolou, fazendo referência ao refrão do meio da canção.

O próprio compositor, por sinal, revelou como surgiu a parte do samba que já caiu nas graças do público: “A gente tinha um refrão de meio pronto e faltava isso. Eu sugeri o termo ‘signo azul’, mas a palavra ‘signo’ é muito ruim de ser cantada. Também tentamos colocar ‘sangue azul’, mas é uma coisa muito europeia. Depois, no churrasquinho, surgiu de ‘alma azul”, relembrou.
O refrão do meio, por sinal, também foi citado por Lucas Donato como o trecho preferido da canção – e o compositor, por sinal, fez questão de elogiar a sinopse, encabeçada pelo enredista Roberto Vilaronga: “Foi tudo bem explicado. Uma sinopse bem feita. O carnavalesco e o enredista foram muito atenciosos com todos os compositores. Não dificultou em nada para nós. A gente seguiu por um caminho totalmente diferente do que as pessoas poderiam ir, e essa foi a nossa maior aposta”, comentou.
Outro olhar
Se o refrão do meio já pegou entre a comunidade azul e rosa, Carlos Junior, popularmente conhecido como Carlão, destacou outros trechos da canção: “A cabeça do samba é muito bonita. O começo da segunda parte também é muito legal, eles saíram do óbvio. ‘E ao despertar, cruzar a paz, reafirmar, um sentimento’… não sei como o povo vai entender isso. A gente, como musicista, fica questionando isso. Mas nós estamos aqui para ensaiar e realizar repetições. O refrão não me comove muito. Esse negócio de ‘és’ já passou. Isso é da época do Cartola. Tem que ser ‘É meu amor’ e acabou. Também fica mais simples para cantar. Mas é o padrão Rosas de Ouro, e time que está ganhando não se mexe. O carnaval de São Paulo gosta disso”, explicou.

O intérprete aproveitou para revelar outra mania bastante característica de um dos nomes mais particulares e conhecidos do carnaval paulistano: “Eu fico com dó quando o samba da maioria não ganha. Por isso hoje eu fiquei aqui dentro e não assisti. Só saí quando deu o resultado. Acho que eram três sambas muito parelhos. Dos vinte e dois sambas que entregaram, realmente esses tinham que vir para a final. Mas existe aquelas coisas de letra que eu não consigo mais me aplicar nesse sentido. Eu sou totalmente melodia e não quero saber se a letra está ruim. Tem vários caras que cuidam disso. Uma grande comissão composta por diretores de carnaval, harmonia e presidentes”, ressaltou.
Empilhando títulos
A parceria vencedora da Rosas de Ouro em 2026 está se acostumando a emplacar sambas-enredo campeões em eliminatórias ou por meio de encomendas. Apenas na temporada corrente, Acadêmicos do Tatuapé, Mocidade Alegre, Mocidade Unida da Mooca e Pérola Negra (esta última ainda sem lançamento oficial) confiaram a tais compositores a responsabilidade de embalar o desfile de cada uma das agremiações.
Lucas Donato comentou a respeito: “É a vitória da lealdade! Rosas de Ouro, Tatuapé, Mocidade Alegre, Mocidade Unida da Mooca, Pérola Negra. Aqui existe amizade e respeito. Não tem conveniência”, destacou.
Marcos Vinícius, outro compositor da parceria campeã, também exaltou a cumplicidade entre o grupo: “É uma parceria de amigos que faz música pela verdade e pelo o que a escola gosta. A gente respeita cada pavilhão com uma música que é a sua escola. Nós vamos seguir respeitando a música sempre. Esse é o nosso primeiro plano. Qualquer coisa diferente disso não é a nossa parceria”, afirmou.
Elogios diversos
Presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio elogiou não apenas a escolha do samba, mas também todos os momentos da noite: “Foi uma festa maravilhosa. Os finalistas vieram em alto nível, altas produções. A gente até se espantou com os efeitos. Muitas bexigas, o ambiente está maravilhoso, muitas crianças, famílias. Estou muito feliz. O samba foi difícil para escolher, porque primeiramente a comissão se reuniu e ficou só a semifinal e a final. Foi uma missão de alta responsabilidade escolher os três finalistas até chegar ao resultado final”, destacou.

Quem também foi agraciado com palavras bastante elogiosas da mandatária azul e rosa foi Fábio Ricardo: “Eu fiquei quarta e quinta morando no barracão com a equipe. Eles estão muito cansados. O diretor de criação e o Fábio querem acabar logo os figurinos e a gente está tendo um entendimento bacana do enredo, o que é astrologia e o que os astros influenciam na nossa vida”, refletiu.
Sempre de uma maneira bastante própria, Carlão também elogiou a escolha da escola: “O samba que ganhou é nota 9. Ele tem a característica da escola. O Samba 9, se ganhasse, seria um jeito novo de fazer carnaval. Desde quando o Royce chegou, essa linha de samba tem prevalecido dentro da Rosas de Ouro. Por outro lado, também gosto daquele ditado que fala que ‘em time que está ganhando não se mexe’. E eu queria aproveitar o seu espaço para dizer que a galera do Samba 7 é muito guerreira. Eu comecei como compositor no Camisa Verde e Branco e, em uma certa época da minha vida, prometi para mim que eu nunca mais ia fazer concurso. Eu sou filho de Xangô e não gosto de injustiça. Todo ano tem uma escola que vai fazer isso. A galera do Samba 7 não para de concorrer e isso me alegra muito”, finalizou.
Animação de campeã
Com ótima presença de público, a tradicionalíssima quadra da Rosas de Ouro, na rua Coronel Euclides Machado, na região da Freguesia do Ó, Zona Norte de São Paulo, teve recepção com DJ. Já com muitos presentes, a Bateria com Identidade, comandada por mestre Rafa, fez o esquenta dos ritmistas – e, a partir daí, apenas o samba deu o tom no terreiro azul e rosa. Com hinos, sambas-exaltações e segmentos apresentados, alguns clássicos da discografia da Roseira (como “Mar de Rosas”, de 2005; e “’Non Ducor Duco’, qual é a minha cara?”, de 1992) foram executados. Depois, chegou a hora das apresentações das três obras finalistas.
Disputa
O primeiro a tocar foi o samba 09, da parceria de Godoi, Luciano Godoi, Jacopetti, André Ricardo, Marcelo Lepiane, Antonio Junior, Douglas Chocolate, Guto Cachaça, Nelsinho Portuga, Gabriel Irajá, Rodrigo Minuetto e Rodolfo Minuetto. Logo na sequência, veio o de número 40, que se sagrou campeão.
Por fim, chegou a hora da obra de número 07, composta por Léo do Cavaco, André Valencio, Sukatinha, Robson DC, Sandra Miranda, Thiago Piccirillo, Daniel Osmak, Zezé Claudia, Alexandre Auê, André Aranha, Diego Laureano, Wilson Mineiro e Tubino.
Enquanto a eleição acontecia, mais alguns sucessos foram executados pela ala musical da agremiação: pela ordem, “De piloto de fogão a chefe da nação” (1991), “Convivium. Sente-se à mesa e saboreie” (2017) e “Sanitatem” (2022). O anúncio do samba campeão foi muito celebrado pelos presentes.