A comissão de frente da Estrela do Terceiro Milênio vem impactando o público nos últimos desfiles. No enredo “Ô Abre Alas Que Elas Vão Passar”, quando a agremiação conquistou o acesso ao Grupo Especial, a escola quis impactar e mostrou a força das mulheres, dando uma abertura especial ao desfile. No ano seguinte, quando a agremiação teve como tema “Me Dê a Sua Tristeza Que Eu Transformo Em Alegria”, o público foi surpreendido por ilusões de óticas, onde vídeos circulam até hoje na internet. É uma característica do coreógrafo Régis Santos, que, na intenção de impressionar, combina com o pensamento da Coruja do Grajaú. O profissional conversou com o CARNAVALESCO e falou sobre o enredo para o próximo ano, características da comissão de frente e suporte ao seu trabalho.

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coreografo milenio
Foto: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Atitude de escola gigante

Muitos enredos que tem a famosa frase ‘pé na porta’ para dizer que é forte e que tem contexto de alta crítica, são realizados de forma correta todos os anos. Entretanto, um tema desta magnitude, com esse manifesto, talvez seja a primeira vez que foi anunciado. O coreógrafo celebrou a atitude da agremiação do Grajaú e disse que é um salto importante para o carnaval. “É um presente para a comunidade LGBTQIAPN+, porque a gente sempre falou de corrupção, de preconceito racial, de tantos temas polêmicos e o mundo do carnaval nunca falou disso. A Milênio dá um salto que é a cara dela. Eu acho que a escola tem uma característica de querer fazer um carnaval bonito, ter uma postura de gente grande que ela é. Você vê que surgiu o enredo e logo na sequência surgiu o do Tuiuti, mas o da Milênio foi anunciado antes. É de uma significância politicamente e socialmente para a comunidade do Grajaú. Quando a gente está falando de um extremo sul, da periferia, a gente trazer isso é muito importante. Boa parte das pessoas e o mundo LGBTQIAPN+ são das periferias. Vir deste lugar, essa atitude, tem uma simbologia muito importante para o carnaval”, declarou.

Comissão de frente em 2025

Régis não quis revelar exatamente a proposta da ala para o próximo carnaval, mas falou sobre as mazelas que acontecem com as pessoas LGBTQIAPN+ e deve ter uma atenção maior a esses fatos. “A gente não pode ser pouco atento, esperto, antenado de pegar uma oportunidade dessa e só falar de glamour. A gente não pode só falar de plumas, a gente não pode só falar do leque que abre e da ‘bicha’ que faz rir, porque isso é o que elas são na essência e muito além. Mas eu acho que a gente tem que falar também do que acontece como ser humano. Eu particularmente, que sou um homem LGBTQI, sei o que significa ser isso em um país que mais mata. O que significa ser isso em um país que se revelou nos últimos anos tão conservador. Na verdade não se revelou, ele saiu do armário. O que eu posso dizer é que a gente vai falar de muita coisa nessa comissão de frente, tendo um olhar social para isso”, explicou.

Ambição do Grajaú

O profissional desfila com a escola há um tempo. Sua comissão de frente, mesmo com o descenso em 2023, foi um dos maiores sucessos do carnaval. Apesar da queda, Régis optou por ficar na agremiação. O coreógrafo falou sobre injustiça sofrida, mas elogiou a ambição que a escola demonstra. “A Milênio tem tido resultados de carnavais esplêndidos. Se a gente parar e pensar o que a escola sofreu em 2023 foi uma grande injustiça. Não quero dizer que a Milênio ficaria entre as cinco ou muito menos seria campeã do carnaval, mas o mundo do samba sabe o que fizeram com a escola. A Estrela fez um carnaval para encantar e ser campeã? Não. Mas fez um desfile para ficar. Aí você pega carnavais anteriores, a escola é vice, campeã ou terceira do Acesso. O enredo das mulheres é gabaritado, todas notas 10. A agremiação já é grande e quer fazer acontecer, quer chegar na elite e tem uma experiência maior para desenvolver seus projetos”, afirmou.

Casamento que deu certo e pensamento igual

Régis Santos diz que a união é positiva, pois ambos gostam de ousar e a escola quer impactar e, por isso, não regula investimento somente para a ala. “Com relação ao meu trabalho, meu casamento com a Milênio é muito auspicioso. Eu sempre falo que esta escola gosta de ousar, não é acomodada, não quer regular em gastos na comissão de frente. Ela quer algo que impacte e emocione, mas também que traga a nota máxima, e eu também penso desta forma. Eu sou esse cara que gosta disso. Sou chato, exigente e se não vem um 10 é porque geralmente aconteceu alguma coisa que não foi da minha ossada. É só olhar as justificativas, que é raro. Eu tento buscar aquilo que a escola quer. O pedido por algo impactante na minha comissão. Depois já vem o casal arrebentando, abre-alas… Eu acho que é uma união positiva”, finalizou.