Nesta quinta-feira, a Cidade do Samba foi palco da final LGBT+ da Corte Real do Carnaval Carioca 2026, uma noite dedicada à representatividade, à alegria e à força da comunidade LGBT+, que move a maior festa popular do mundo. Em um espetáculo que uniu música, luta e emoção, os vencedores foram John Sorriso (Muso), Viviane Carvalho (Musa) e Wend (Pessoa Não-Binária), que irão representar toda a história do movimento no carnaval ao longo do ano que vem.

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Fotos: Juliana Henrik/CARNAVALESCO

Com direção artística de Milton Cunha e apresentação de Wilson Neto, Rei Momo 2022, e Bianca Monteiro, rainha de bateira da Portela, a noite foi recheada de discursos e momentos inesquecíveis. Organizado pela Riotur com o lema “Celebrando a Ancestralidade”, o evento foi palco para que os escolhidos dessem seus depoimentos sobre o que significa ser um representante LGBT+ na Corte, e o que esse título significa para eles.

“Hoje, eu vim fazer uma homenagem à Preta Gil. Eu vim de sol, porque a Preta Gil foi luz todos os dias da sua vida, principalmente, na luta contra o câncer. Eu também queria uma salva de palmas para essa mulher que me inspirou a estar em cima desse palco hoje. E mostrar para mim que eu sou o sol, que renasci”, explicou Johnn Sorriso, que trouxe um retrato de Preta Gil dentro do costeiro de sua fantasia.

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“É muito importante a gente se sentir acolhido e abraçado por vocês. Hoje, o tema do evento é celebrar a ancestralidade, e eu queria pedir a todos que deem uma salva de palmas para os nossos ancestrais. Eles foram verdadeiros agricultores, que plantaram e cultivaram para que hoje, a árvore do samba desse frutos, assim como eu, vocês e todas essas candidatas maravilhosas que estão aqui. Eu venho de um lugar onde o samba era muito distante, e graças a ele, minha realidade mudou. O samba me fez conhecer lugares e pessoas. O samba me fez dançar”, declarou Wend.

“Eu vou contar uma pequena história: Em 2008, eu participei de um concurso numa boate, onde eu não pude levar a minha família, pois ainda estava naquela fase de ter vergonha do meu corpo. Hoje, com 40 anos, eu estou no palco da Riotur, com a minha família e os meus amigos, e me apresentando para eles nesse meu mundo. O universo LGBT+ vai muito além do que as pessoas falam, vai muito além das etiquetas que colocam na gente. Tudo isso aqui é pela comunidade LGBT+, porque a nossa comunidade é esplendorosa, poderosa e indestrutível”, revelou Viviane Carvalho, a musa eleita.

Assim como em outros dias, o júri foi composto por nomes especiais: David Brazil, jornalista e personalidade; Dayvisson Gomes, embaixador do Rio Carnaval; Thalita Zamprirolli, modelo e rainha de bateria da Unidos da Ponte; Lucinha Nobre, lendária porta-bandeira da Unidos da Tijuca; Samile Cunha, rainha drag do carnaval 2005; Myrela Matos, assessora da Secretaria de Diversidade do Rio e Leonardo Bruno, jornalista e comentarista de carnaval. Também fizeram parte da mesa o presidente da Riotur, Bernardo Fellows, o vice-presidente Luís Monsores e o diretor de operações Flávio Teixeira.

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“Essa é uma das noites mais emocionantes do concurso, porque ela representa a liberdade, o respeito e o orgulho de ser quem se é. O Carnaval é a expressão máxima da nossa identidade, e a Corte LGBT+ mostra ao mundo que o Rio é, acima de tudo, um lugar de amor e de acolhimento”, destacou Bernardo Fellows, presidente da Riotur.

A abertura da programação musical foi por conta do grupo Samba Que Elas Querem, que trouxe a força feminina e coletiva do samba em um show cheio de potência e empoderamento. Em seguida, a Imperatriz Leopoldinense subiu ao palco com a elegância e o talento que a consagraram campeã do Carnaval Carioca de 2023. Em uma bela performance surpresa, o grupo de dança coreografado pelo professor Fábio Batista, diretor artístico da Mangueira, fez uma celebração à memória dos homenageados anteriores, utilizando leques com seus rostos ao som de sambas-enredo clássicos do carnaval.

Na sequência, a artista Meime dos Brilhos entregou um espetáculo de cor e performance, seguida pela irreverente Karina Karão, uma das grandes vozes e personalidades da cena LGBT+ carioca, que fez uma apresentação cheia de humor. Encerrando a noite, o grupo Sambay, primeiro do gênero dedicado ao movimento, garantiu o clima de celebração, com muito batuque, dança e alegria, em um show que traduziu o espírito do Carnaval e da diversidade.

A noite homenageou a cantora Preta Gil, símbolo de coragem, autenticidade e pluralidade. Ícone da música e da luta por respeito e igualdade, Preta representa a energia inclusiva que o Carnaval do Rio sempre defendeu, um espaço onde todos têm voz, brilho e lugar para celebrar quem são, sendo inclusive homenageada em fantasias de alguns dos candidatos. Filha de Gilberto Gil, Preta foi uma das figuras mais influentes do Brasil nos últimos 20 anos, e faleceu em julho de 2025.

Gilsinho também foi celebrado no evento. O famoso intérprete da Portela, campeão em 2017, foi uma das grandes vozes do carnaval por duas décadas, com passagens marcantes também no carnaval de São Paulo. O cantor faleceu no dia 30 de setembro de 2025.

Os vencedores do dia se juntarão à realeza do Carnaval representando oficialmente o Rio em eventos, desfiles e celebrações, levando a mensagem de inclusão e alegria que define a festa carioca.

Confira mais informações sobre os vencedores da noite

João Vitor (Johnn Sorriso) – 21 anos
@johnnsorrisoofc
muso26
Nascimento: Rio de Janeiro
Escola de samba / comunidade: Portela / Oswaldo Cruz
Relação com o carnaval: Nasci e fui criado em Oswaldo Cruz, berço da Portela. O carnaval é parte da minha essência — o espaço onde posso ser quem eu sou com orgulho, onde a diversidade brilha e a representatividade ganha voz.
Por que quis ser eleito: Porque acredito na força da representatividade. Quero inspirar e mostrar que o carnaval é o palco de todos, onde a diversidade é sinônimo de beleza, resistência e orgulho.

Viviane Carvalho – 40 anos
@vivianeckarvalhoo
msa26
Onde nasceu: Rio de Janeiro
Qual a sua escola de samba / comunidade: Mocidade Independente de Padre Miguel / Cidade de Deus
Qual a sua relação com o carnaval: Tenho uma relação familiar com o carnaval. Meu pai foi intérprete e meu tio compositor de samba. Já atuei nos bastidores auxiliando minha sobrinha, destaque da Viradouro.
Por que quis ser eleita: Quero mostrar que nossa comunidade vai além dos rótulos. Somos potentes, alegres e capazes de representar o Rio de forma linda. Aos 40 anos, vivo meu melhor momento e quero celebrar isso como musa.

Wend – 25 anos
@wend_oficiall
binario26
Onde nasceu: Rio de Janeiro
Qual a escola de samba / comunidade: Salgueiro / Vicente de Carvalho
Qual a relação com o carnaval: Sou maquiador, influenciador e passista de show. O samba transformou minha vida e me levou a lugares que jamais imaginei. Fui um dos primeiros passistas da diversidade do Salgueiro.
Por que quis ser eleito: Para representar meu legado de perseverança e inspirar outras pessoas LGBTQIAPN+ a conquistarem seus espaços dentro do samba.