A Estácio de Sá lançou, na tarde deste sábado, o enredo com o qual vai desfilar na Marquês de Sapucaí no Carnaval 2023. Em uma fábula criada pelo carnavalesco Mauro Leite, que assina seu segundo trabalho na vermelha e branca, a agremiação apresenta “ São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração”.
“Criamos uma homenagem a São Luís , no entanto, o enredo é autoral. Nossa ideia é mesclar o pagão e o religioso através do encontro entre São João e São Luiz, que se encontram no céu e decidem vir à Terra na companhia de outros santos, com a missão de abençoar o festejo junino do Maranhão”, explica o carnavalesco.
Com a presença do secretário de Indústria e Comércio, Cassiano Pereira Júnior e de uma comitiva vinda do Estado do Nordeste, o presidente Leziario Nascimento e o vice-presidente Edson Marinho exaltaram a escolha e apostam na inspiração dos compositores para compor um grande samba pra que a escola pise a Sapucaí forte na busca do campeonato. A inscrição dos sambas está prevista pra o dia 20 de setembro e a disputa começa no dia 24 do mesmo mês.
A presença do secretário Cassiano, endossa o apoio no desenvolvimento do tema. “Queremos contribuir o máximo que pudermos para que a Estácio faça um grande desfile. São Luís está despontando com essa nova vertente do São João, que aconteceu ao longo de dois meses e ter esta exposição no Sambódromo é muito importante para o reconhecimento e valorização do nosso potencial cultural”, comenta Cassiano, que viajou ao Rio representando a Secretaria de Cultura.
Novo palco para os shows
Durante a tarde, a agremiação também inaugurou o novo palco de shows, que traz ilustrações do artista Jambeiro, homenageando quatro grandes figuras estacianas: Ismael Silva, Luiz Melodia, Dominguinhos do Estácio e Gonzaguinha.
Sinopse do enredo da Estácio para 2023
Parece que há muito tempo
No céu, dois santos se encontraram:
São Luís e São João.
Eles não se conheciam
Viveram aqui na terra
Em tempos distintos
E lugares distantes.
São Luís foi Rei de França
Na época das Cruzadas
São João era um profeta
Que vivia no deserto
Passando mil sacrifícios
Mas, ali no céu
Conversa vai, conversa vem…
Ficaram amigos de infância
E era uma linda amizade
Firme, forte e duradoura
Estavam sempre a conversar
Sobre as bênçãos
Que lá do céu
Mandavam aos seus devotos
Mas, os mais belos frutos
Dessa amizade tão fértil
Ainda estavam por nascer
Um dia, disse Luís a João:
– Dei meu nome a uma cidade
Que há pouco foi fundada
Uma linda cidade..
Fica lá no Maranhão
Lugar mágico e misterioso
Belo e encantador
No Nordeste brasileiro
Tu devias conhecer!
Lá tem um povo diferente
Que sabe cantar e dançar
Como mais ninguém na Terra
Celebrando uma alegria tão pura
Que é a própria alegria de viver
São João foi se encantando
Seus olhos se encheram de brilho
E bondade
Seu coração bateu mais forte
Foi ficando quente como uma fogueira
E ele finalmente disse:
– Queria tanto conhecer esse lugar!
Aqui no céu a paz é tão grande
O silêncio é tão profundo
Que já tá ficando chato.
– É… já tá ficando chato.
Concordou São Luís
Puseram-se a pensar,
Meditar e orar
E no fim daquele dia
Tiveram a grande idéia:
– Vamos descer à Terra
E abençoar esse povo.
– Eu, Luís, serei o padroeiro.
– Eu, João, serei o festeiro.
– E juntos vamos criar
Uma festa nunca vista
– Mas tem que ser no meu dia,
Porque o festeiro sou eu, disse João
– Tá combinado, disse Luís.
Ficaram, então, pensando
Numa festa grandiosa
Que unisse todo mundo
Como numa grande roda
Num lindo congraçamento
De ritmos diferentes
De tantas danças diversas
Que deixasse o povo tonto
Com tantas cores e sons
Tanta comida
Tanta bebida
Tanta fartura
Viva! Viva!
Viva São Luís!
Viva são João!
Viva! Viva!
Ufa!
Ficaram exaustos
Pararam por um instante
Benzeram-se
Concentraram-se
E lá se foram os dois santinhos
Tão amados e animados
Promover a festança
Chegaram em São Luís
Prontos pra trabalhar
Mas já estava tudo pronto!
A cidade toda enfeitada de bandeirinhas
Já tinha Bumba-meu-Boi
Dramático e fascinante
A morte e a ressurreição do boi
Ao som de matracas e pandeiros
E os brincantes cobertos com mantos
De bordados e fitas
Girando, girando
Eh boi êh!
Êh boi êh!
Venha cá, meu boizinho!
Já tinha Quadrilha
Que era quase um minueto
Dos bailes da corte
Com balancê, balancê!
Merci, madame, anarriê!
Já estava lá São Benedito
Um velho amigo
Abençoando o Tambor de Crioula
De ancestral negritude
Mantendo viva
A herança africana
Que pulsa nos tambores
E nos corpos que giram
Giram
Giram
E vão girando, girando
Batendo os pés no chão
Já estava lá a juventude
Se requebrando malemolente
Ao som do Cacuriá
E de tantos outros ritmos
Que a gente até perde a conta
Tantos batuques e toadas
Tantos ritmos
Antigos e modernos
Que se juntam
Num grande som
Uma grande roda que gira e pulsa sem parar
E no meio desse povo todo
O coração da gente se aquece
Como o de São João
A fogueira se acende
Dentro do nosso peito
Luzes e bandeirinhas coloridas
Brilham em nossos olhos
Tudo vive
Tudo canta
Tudo arde
Tudo é festa
Ficou tudo tão bonito
Que aos dois santinhos
Só restou abençoar
Missão cumprida
Comeram alguns docinhos
E voltaram pro céu
De lá eles olham e oram por nós
Não sei se essa história é verdade
Só sei que foi assim
Viva São João!
Viva São Luís!
Viva Santo Antônio!
Viva São Pedro!
Viva São Benedito!
Viva São Marçal!
Viva o Maranhão!
MAURO LEITE/ Julho de 2022
BIBLIOGRAFIA:
GONZALEZ, LÉLIA – “Festás Populares no Brasil” Ed. Index Ltda / 1989
FRADE, CÁSSIA e outros – “Brasil – Festa Popular” || Livroarte Editora Ltda/ 1980
DE ANDRADE, MÁRIO – “Danças Dramáticas do Brasil” | Editora Garnier/ 2002