Para o Carnaval 2025, a Independentes de Olaria prepara um desfile sobre o olhar cronista de Francisco Guimarães, o “Vagalume”, um dos raros jornalistas negros de seu tempo e principal cronista carnavalesco das ruas do Rio Antigo. Conhecido pelos seus enredos culturais, o lobo forte da Leopoldina embarca em mais uma viagem ao passado em busca do seu campeonato na Série Prata.
Vagalume viveu no Rio de Janeiro, entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, documentando os aspectos sociais de uma cidade em constante transformação. Atuante nos principais jornais da cidade, ele foi um homem da noite, fazendo do breu das madrugadas a sua grande redação. Notívago e atento aos contrastes do Rio, o cronista transitava entre ricos e pobres, entre o centro e o subúrbio, entre o morro e o asfalto. Em um período histórico em que os negros geralmente só apareciam nos jornais em páginas polícias, Vagalume lançou luz para a população afro-carioca até então marginalizada pela imprensa nacional. Em breve a escola divulgará o título e o logo do enredo.
Em sua coluna de jornal intitulada “Ecos Noturnos”, Vagalume mergulhou na noite, tendo a lua como testemunha e a caneta como companheira. Ele documentou os carnavais de rua, os clubes dançantes, a vida dos trabalhadores portuários, os terreiros de candomblé, as rodas de samba e muitas outras manifestações cotidianas, destacando a primazia negra e colocando-a no centro da vida cultural da cidade. Contrariando a lógica excludente e confrontando seus pares, ele revelou para o mundo saberes e sociabilidades até então ignorados.
Enredar a produção de Francisco Guimarães é resgatar o trabalho de um homem que dedicou sua vida a lançar luz sobre os que não tinham vez. Recordar seus caminhos e escritos é voltar aos primórdios do carnaval urbano e compreender a cidade, ruas e praças através de sua madrugada. Assim, a Independentes de Olaria lhe convida também a ser notívago, admirador da noite, pois, como certa vez disse o próprio Guimarães: “Notívagos são apelidados vagalumes. Por isso, sejamos todos vagalumes também”.