É cada vez maior a participação de escolas de Rio de Janeiro e São Paulo visitando umas às outras. Essa conexão é importante, pois engrandece a irmandade entre as agremiações e principalmente dos componentes. Os povos podem conhecer a discografia das escolas, a maneira como se faz samba, além de viagens para fazer o que mais gosta: Mostrar o seu trabalho. O CARNAVALESCO conversou com os mestres Dudu e Gustavo, que defendem a Mocidade Independente de Padre Miguel e Salgueiro, respectivamente, e a presidente Solange Cruz da Mocidade Alegre. Todos contaram histórias envolvendo as duas cidades, mas foi de unanimidade a palavra-chave que deve haver entre os carnavais: União. Na oportunidade, os entrevistados estiveram presentes no evento 24 Horas de Samba, realizado pela Morada do Samba, cujo a escola da Vila Vintém e a Academia do Samba se fizeram presente para encerrar a festa.
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Caminhar e crescer juntos
Mestre Gustavo, do Salgueiro, relembrou a história que viveu com a Mocidade Alegre, onde compareceu às 24 Horas do Samba na sua adolescência. Voltar ao local é um privilégio, diz o mestre. “Eu me lembro da primeira vez que eu vim aqui no 24 Horas de Samba. Hoje eu estou com 33 anos e eu tinha mais ou menos 15 ou 16 anos. Esse evento é uma parada muito especial. Não sei se eu estou velho, mas eu vi o Sombrinha pequeno. Participar deste evento é algo que eu não sei nem como explicar”, disse.
O salgueirense pregou a união que deve sempre haver entre as escolas do Rio e São Paulo, com o objetivo de ambos crescerem na mesma proporção. “Peço desculpas a todo o Brasil, mas Rio e São Paulo são as duas maiores metrópoles do nosso país e acaba que a gente consegue exportar muito a nossa cultura para o mundo. O carnaval do Rio e São Paulo é uma parada que tem que andar juntos sempre. São muito parecidos e precisamos caminhar juntos para crescer e conseguir exportar e crescer cada vez mais, sempre pelo nosso país”, declarou.
O músico falou sobre as diferenças e semelhanças das baterias dos carnavais. De acordo com Gustavo, a faixa etária do Rio de Janeiro é maior, o que possibilita ter a ‘malandragem’, mas a qualidade está no mesmo nível. “Uma pequena diferença é que a gente lá no Rio tem uma média de idade um pouco mais alta. Aqui a galera tem uma média mais baixa. Nós temos aquela malandragem, uma levada da galera mais velha. Fora isso, é a melhor coisa. Todo mundo andando junto sempre, a conexão mais forte possível. A gente ama o calor de São Paulo e eu acho que a galera de São Paulo ama o carnaval do Rio também. Vamos nos unir sempre”, completou.
Carnaval parelho e rivalidade de lado
Mestre da Mocidade Independente de Padre Miguel, Dudu, contou da amizade que seu pai mestre Coé tinha com Sombra e Solange. Para ele foi um privilégio participar das 24 Horas do Samba muito também por conta disso. “Vir aqui é um motivo de muito orgulho, porque o meu pai, mestre Coé era muito amigo do mestre Sombra, presidente Solange e toda a sua família. Eu peguei o Sombrinha no colo. A Mocidade veio para a Barroca semana passada, infelizmente não pude vir, mas aqui mexe muito com a minha memória. A Solange frequentava minha casa, ficava lá com meu pai em Vila Vintém. Ela já curtiu muito a Mocidade. Para mim é muito prazeroso fazer parte desse evento. Meu pai não está mais em vida e eu tenho eles como minha família de verdade. Sempre quando me chamarem eu estarei presente”, declarou.
Dudu exaltou a conexão entre as duas cidades e disse que na visão dele os carnavais estão parelhos. O diretor disse que não deve haver rivalidade entre as duas metrópoles. “O samba não tem fronteiras. A gente sabe que há uma rivalidade amigável. A minha escola, particularmente, não tem rivalidade com ninguém. Acho que o samba é isso. A prova que o samba é cultura brasileira está aí. O carnaval de São Paulo conversa bastante com o do Rio e essa união é importante. Antigamente o Rio superava, mas com essa troca que temos hoje, não tem mais tamanha essa diferença. Está muito parelho”, afirmou.
É fato que o samba-enredo de 2024 “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá!” caiu nas graças do Brasil. Sua melodia contagiante e seu refrão chiclete conquistaram os apaixonados pelo carnaval em todo o país. Não foi diferente no evento. A obra, quando cantada por Zé Paulo Sierra, levantou a galera na Arena Morada. Segundo o mestre Dudu, o samba irá marcar a história da folia. “É um samba que furou a bolha do carnaval. Não era o samba do ano, mas virou isso o que vimos. A Mocidade é isso aí: Uma escola pioneira que ressurge das cinzas de verdade. O samba do caju vai marcar, como ficou “Sonhar não custa nada”, “Chuê, Chuá”, “Criador e Criatura” e entre outros… Nosso samba de 2024 é amado pelo povo”, finalizou.
Parceria de muitos anos
A Mocidade Alegre está sempre pegando a Dutra para se apresentar no Rio de Janeiro. Devido a isso, a presidente Solange Cruz contou histórias que viveu com essas pessoas. A gestora da Morada revelou que existem amizades e parcerias com agremiações cariocas, além de conhecer os mestres Dudu e Gustavo quando eles eram jovens.
“Na realidade, eu tenho uma coletividade muito grande com o pessoal. O Dudu eu conheço há muitos anos. O Sombra era muito amigo do Coé, pai dele. Quando ele faleceu, a gente não estava em São Paulo e não conseguimos ir para o Rio, porque estávamos muito longe. E aí chegou o natal e o Dudu ligou para o Sombra dizendo que não iria quebrar a corrente, porque o Coé sempre ligava. Os meninos, Gustavo e Guilherme, nós vimos desde pequenos no Salgueiro. Conhecemos o pai deles. A gente se apresentava lá desde o mestre Louro. Temos uma parceria muito grande com essas escolas, assim como eu tenho com a Imperatriz. A Cátia liberou o Pitty, que veio cantar no sábado e deu um sacode. A galera não mede esforços e eu sou muito grata por essa união”, comentou a presidente.