O Acadêmicos do Salgueiro mostrou que vem muito forte em busca do tão sonhado décimo título de sua rica história, em mais um ensaio de rua realizado na Rua Maxwell, no Andaraí. Com pouco mais de uma hora de duração, os componentes cantaram o samba com grande potência, impulsionados por uma firme atuação da bateria dos mestres Gustavo e Guilherme. Outro ponto de destaque foi o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidcley e Marcella, mostrando a beleza e desenvoltura de costume. O treino foi acompanhado por um público bastante considerável. Muitos interagiam com os integrantes da escola e também cantavam o samba-enredo, já considerado um dos melhores do carnaval. Em 2024, o Salgueiro contará o enredo ‘’Hutukara’’, de autoria do carnavalesco Edson Pereira. A escola falará sobre a mitologia Yanomami, defendendo a preservação dos povos originários e da Amazônia. A agremiação será a terceira a desfilar no domingo de carnaval.

No começo do ensaio, o diretor de carnaval Wilsinho Alves fez um forte discurso para os componentes. “Hoje, comunidade, a gente tem que evoluir ainda mais. Semana passada senti a gente ainda um pouco preso. É claro, foi nosso primeiro ensaio de rua. Mas hoje, mais do que o canto, que foi muito bom semana passada, e a gente será melhor. Quero mais evolução, mais Salgueiro nessa avenida. Ninguém pode querer mais esse título do que o Salgueiro. Esse tem que ser a mentalidade. Estamos disputando com grandes escolas. E só vamos ganhar esse carnaval se a gente for muito melhor que os outros. Avante, Salgueiro”. Essa foi a senha para que os desfilantes fizessem um grande ensaio.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Os integrantes da comissão de frente não se apresentaram no ensaio. Então, coube ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Sidcley Santos e Marcella Alves, abrir o treino. Ambos continuam mostrando porque formam uma das melhores duplas do carnaval. Eles dominam todos os aspectos da dança. Em uma apresentação clássica, com breves momentos coreográficos, Sidcley e Marcella bailaram sempre exibindo muita leveza, fluidez e segurança. Os dois utilizaram muito bem o espaço da pista, e trocaram muitos sorrisos e olhares, mostrando ótima conexão em movimentos
limpos e singelos.

Harmonia

Os salgueirenses cantaram com muita força a obra musical, que é considerada por muitos como a melhor do próximo carnaval. O volume de canto se mostrou uniforme por praticamente todo o contingente. Algumas poucas alas cantaram com menos potência na parte final do cortejo, por conta da distância do carro de som, mas nada que preocupe. O destaque maior fica por conta do refrão principal ‘’Ya temí xoa! Aê, êa!/Ya temí xoa! Aê, êa!/Meu Salgueiro é a flecha pelo povo da floresta/Pois a chance que nos resta é um Brasil cocar!’’, que é uma grande explosão. O falso refrão no final da obra também se mostra bem potente ‘’Napê, nossa luta é sobreviver!/Napê, não vamos nos render!’’. O carro de som conduziu com firmeza o samba durante todo o treino. O intérprete principal Emerson Dias teve que deixar o ensaio em sua metade, pois não estava se sentindo bem. O cantor de apoio Charles Silva assumiu o microfone número um e teve ótimo desempenho.

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Charles falou sobre essa experiência no ensaio dessa quinta-feira. “Sempre que a gente canta em uma escola da magnitude do Salgueiro é diferente. Experiência maravilhosa. A gente sabe que o Emerson é um dos grandes nomes do carnaval. Estamos juntos há muito tempo, desde 2014. Já sei o que ele gosta, a ideia, o clima. A gente só tenta executar o trabalho que a gente vem ensaiando. Vamos com tudo”.

O diretor musical Alemão do Cavaco também avaliou o segundo ensaio do Salgueiro. “O ensaio é feito para a gente acertar as coisas. Descobrir o que precisa melhorar. O que está bom demais, a gente mantem. Não sei quem inventou esse negócio de que, no segundo ensaio de rua, tudo tem que estar 100%. Se fosse assim, não precisaria ensaiar mais até o carnaval. Mas a gente já percebe que muita coisa já está no lugar. São coisas que a gente vai pontuar, arrumar, melhorar, mas não tem nada de absurdo. Porque a bateria já vem construída há anos com o comando dos mestres e dos diretores. O carro de som vem com músicos excelentes. A gente se dá muito bem em termos musicais e entendimento. Agora a gente vai buscar se o andamento é esse, se pode ser um pouco mais ou um pouco menos. Se a gente segue com essa cadência de harmonia ou segura um pouco a mão. Esses ensaios servem pra isso. Acho que está tudo dentro dos conformes. Estou feliz. Temos certeza absoluta que até o carnaval estaremos tocando de olhos fechados. Se Deus quiser, com muita concentração e respeito, mas tendo certeza que tudo vai fluir”.

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Evolução

A vermelho e branco da Tijuca mostrou uma evolução muito competente e bem cadenciada por todo o trecho que percorreu na Rua Maxwell. A escola estava compacta. Não foram observados grandes espaçamentos entre as alas. O ritmo de desfile foi constante, sem correrias ou pausas longas. Como de costume nos últimos anos, Carlinhos do Salgueiro traz uma ala coreografada: a ala do maculelê. Homens e mulheres apresentaram uma dança bem forte e expressiva, ao mesmo tempo em que entoavam o samba com firmeza. De forma geral, os desfilantes mostraram muita alegria e garra no cortejo, impulsionados pela obra musical.

Wilsinho Alves fez sua análise do ensaio. “A avaliação é a melhor possível. A escola vem evoluindo a cada semana. Mas de semana passada pra hoje, a sensação é de que está tudo dando certo. Eu sempre falo que não tem escola pronta ainda em novembro. Mas a gente vem se aproximando do que queremos para o desfile”.

Samba-enredo

Outro ponto que é praticamente garantia de que o Salgueiro terá sucesso na Sapucaí. A obra tem grande qualidade de letra, que traduz muito bem o sentimento de abandono e a necessidade de socorro do povo Yanomami e da Amazônia. A melodia é muito bonita, valorizando o samba e propiciando um forte canto, como se fosse um clamor, e uma evolução potente. O time de canto conduziu a obra no tom certo e a bateria impulsionou o canto dos componentes com seu show de ritmo e bossas.

Mestre Guilherme falou sobre os testes que ainda vem fazendo, junto com mestre Gustavo, para a atuação da bateria. ‘’Como falei em outras oportunidades, estamos em momento de passar algumas coisas. A gente fez uma mudança, estamos trabalhando o andamento. Crescemos um pouco hoje pra sentir, pra ver como que ia sair. Tanto no carro de som, quanto nas nossas bossas. Acho que foi um acerto. Mas agora vamos ouvir, analisar o que a gente gravou. Esse é o processo de ensaio. Foi muito bom hoje, ritmo, andamento, apesar de ter sido um pouco diferente, carro de som. Todos na mesma sintonia. Agora é escutar e sentar de novo com meu irmão, com a diretoria do carro de som, e continuar trabalhando, porque nosso principal foco é o dia do carnaval”.

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O diretor Wilsinho Alves falou sobre a responsabilidade de desfilar com um grande samba-enredo. “A responsabilidade é para que a gente faça tudo para que o samba renda. Não podemos ofuscar o brilhantismo do samba. Ele vai, obviamente, impulsionar o desfile do Salgueiro. Então, todo mundo vai ter que trabalhar pelo samba. Já que temos o melhor samba do carnaval, com todo respeito às outras agremiações, vamos trabalhar para que o rendimento dele seja potencializado. A bateria vai tocar para o samba, sem egoísmos. O andamento será o que o samba pede. O carro de som vai respeitar o samba. A comunidade já tem cantado muito o samba. Todo mundo quer desfilar com o samba do carnaval. Eu já desfilei algumas vezes. A gente sabe o que pode render no futuro’’.

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Outros destaques

Como não poderia ser diferente, a rainha de bateria Viviane Araújo atraiu muitas atenções por onde passava. Diversas pessoas que acompanhavam o ensaio se amontoavam para tentar tirar fotos ou gravar a musa desfilando. Ela se mostrou muito solícita, atendendo vários pedidos de registros por parte dos populares.