A Grande Rio começou a disputa de samba-enredo rumo ao próximo carnaval na última terça-feira. O CARNAVALESCO conversou com alguns integrantes da escola entendendo melhor sobre a recepção da safra deste ano, a possibilidade de um samba do Pará ganhar a disputa e mistura entre samba e carimbó para o próximo desfile. Mestre Fafá, ao falar sobre a safra, contou que esperava que ela fosse bem elogiada, por conta do enredo ser bom e bem explicado pelos carnavalescos da escola.
* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp
Ouça os sambas que seguem na Grande Rio para o Carnaval 2025
“É uma máxima que a gente já falou outras vezes, que bons enredos vão gerar bons sambas. Acho que a explicação do nosso enredo ficou bem explícita, muito bem acertada pelos nossos carnavalescos e nossa equipe de carnaval, e a Grande Rio fez algo que eu acho que é de suma importância para o carnaval do Rio que foi abrir para um grupo de fora, de Belém do Pará, então eu acho que é importante, bacana, e o resultado está aí com grandes sambas no Rio e grandes sambas no Pará, e a gente está quebrando a cabeça para ver e escolher o que vai defender a gente na avenida”.
Fafá continuou comentando sobre a abertura da disputa e o incentivo para as escolas de Belém também comporem sambas para o enredo da escola, e no que influenciaria nas disputas de samba como um todo caso um samba de alguma escola de Belém ganhe neste ano:
“Os sambas do Pará tem totais condições de ganhar, a galera mandou muito bem, assim como a galera aqui do Rio também, e acho que influenciaria positivamente, para mostrar que no Brasil existem vários compositores, que às vezes não são explorados até mesmo por falta de oportunidade, de achar que de repente é algo fechado, e que não é. Acho que a gente abriu um caminho que eu espero que a Grande Rio siga isso, independente do enredo que for, mesmo se não for um enredo que fale de um lugar específico, que continue abrindo para compositores de outro estado poderem colocar um samba aqui, pra gente ter essa noção. Acho que é bom para a escola, é bom para o carnaval, é bom para a cultura, só quem ganha é o carnaval e a Grande Rio com isso tudo”.
Sobre a união da bateria com o carimbó, o mestre comentou que estuda a possibilidade de unir o ritmo paraense ao samba desde que o enredo foi anunciado, mas que a decisão de como isso será feito virá somente após a escolha do samba de 2025.
“A gente vem estudando desde que o enredo foi lançado. Eu particularmente vou pra Belém do Pará, sou praticamente um cidadão de Belém, eu desfilo nas escolas de Belém, sempre estou lá, já conhecia muito sobre a cultura, e a gente vem trabalhando bastante com o grupo Paturiá, que é grupo que tocou com a gente na Cidade do Samba, na Festa dos Enredos, um grupo formado por mulheres incríveis que vem tendo uma troca muito grande com a gente. Eu particularmente não penso nada agora, penso assim que se escolher o samba. A gente tem uma ideia do que a gente pretende fazer na avenida, até pela questão do ritmo do carimbó e do ritmo e toque do tambor de mina, mas a gente está realmente esperando escolher o samba, vai ser uma briga gigante para a gente poder definir, e para a gente começar a trabalhar e ter a manutenção dos quarenta pontos”.
Por fim, mestre Fafá comentou sobre a disputa da escola ser mais curta neste ano, e como isso pode trazer mais benefícios para a preparação da comunidade.
“Acho que são muitos fatores que favorecem a disputa curta, primeiro a logística, o compositor gasta muito menos, a gente sabe o quanto é caro uma disputa de samba. Também facilita pra bateria, para a escola poder aprender, mesmo com o carnaval sendo em março, quanto antes a gente escolher, a gente começar a trabalhar o samba, a gente vai poder ter mais tempo para desenvolver, vai ter mais tempo para poder diluir esse samba na voz do Evandro com a bateria. É o que eu sempre digo, a gente é inimigo da pressa, então eu acho que a gente não tem que ter pressa, a gente vai escolher o nosso samba e vamos ter seis ou sete meses para poder trabalhar ele, para poder chegar com ele na avenida, redondo, para fazer um grande trabalho, e mais uma vez, um grande desfile”.
Thiago Monteiro, diretor de carnaval da agremiação, comentou como viu essa recepção da safra da escola, tanto os sambas do Rio quanto os do Pará pelas pessoas das redes.
“Sinceramente, a gente tinha uma boa expectativa, porque a gente sabe que um bom samba deriva de um bom enredo e a gente sabe que tem um bom enredo nas mãos. A gente sabe que a história que vai ser contada, que foi profundamente pesquisada e foi muito bem feita. E durante esse processo de produção dos sambas, tiveram muitos tira dúvidas. Algumas audições, tanto aqui como no Pará, que foi feita online, e aqui foi feito ao vivo, mas também audições semelhantes e a gente sabia que poderia vir coisa boa como veio. Vieram vários sambas bons, tanto aqui como lá no estado do Pará. Isso a gente fica muito feliz, né? Hoje a gente tá começando um novo processo”.
Thiago continuou, falando sobre a disputa no Pará, como foi institucionalozada em parceria com a liga das escolas de lá, e que algum samba, independente de ser do Rio ou de Belém, irá ganhar.
“A gente sabe que algum samba vai ganhar. Tanto no Rio como no Pará. Acho que só de já ter essa disputa no Pará, envolvendo as escolas de samba do Pará, envolvendo a Liga das Escolas de Samba do Pará, ou seja, uma coisa institucionalizada, isso por si só, para mim, já é um marco, já é um divisor de águas no processo de disputa como um todo. A gente sabe que ganhar ou perder é consequência. Um vai ganhar ou de lá ou daqui. Agora é só esse processo, a gente ter tido essa oportunidade de ter feito esse intercâmbio, não só contando o estado, contando o Pará. O nosso enredo não é o Estado do Pará, ele passa no Pará, tendo essa cultura paraense envolvida, não só no enredo, mas vivida durante o processo, isso para gente já é um marco divisor de águas. A gente sabe que tem alguns sambas lá também muito bem comentados, os daqui também, enfim. E aqui aproveito para agradecer a essa Liga do Pará com todos os presidentes das escolas de samba do Especial do Pará que compraram essa ideia junto conosco, Entenderam o nosso projeto, a nossa proposta. Eu fui lá, fiz reunião com eles e eles compraram o nosso, a nossa proposta e fizeram grandes obras para a gente”.
O dirigente comentou em seguida sobre a mistura entre samba e carimbó que a escola vai mostrar na Sapucaí, tanto na parte musical como estética, com tudo a ser acertado após a escolha do samba.
“Olha, lógico que o carimbó vai estar presente no desfile, não só na parte musical, mas como na parte visual, porque, afinal de contas, o carimbó é o fio condutor da história através das contas de carimbó. Já tá até no título do enredo. Ele vai delineando a história das princesas, da encantaria, enfim. Então, o Carimbó é o fio condutor. Agora, como ele vai estar especificamente na parte musical precisa esperar o samba que vai ser escolhido. Você vai ver como a bateria encaixa com isso, como o time de canto encaixa com isso. Como a comunidade responde a isso. A gente pode maturar melhor isso para frente. Agora que o carimbó vai estar presente em vários momentos desse desfile, isso não tem a menor dúvida”.
Thiago comentpu também sobre o modelo de disputa adotado pela escola neste ano, mostrando preferência a um modelo mais curto.
“Eu particularmente não gosto de disputa longa. Primeiro, porque você acaba onerando demais tanto os componentes como a escola. Eu acho que cinco datas é suficiente para a gente entender o que a escola quer, aonde os sambas vão. E nesse processo de quatro ou cinco datas, é mais suficiente para a gente compreender mais do que isso. A minha opinião é que cada escola tem sua realidade, e dentro da realidade da Grande Rio, passar de cinco é ruim para os compositores e prejudicial para a escola. A gente não começa a ensaiar a comunidade mais tarde ou seja a gente vai começar a ensaiar no início de outubro, primeira semana de outubro, a comunidade já está ensaiando na quadra. É um mês a mais para se preparar. Ou seja, a gente só tem vantagem nessa data”.
Por fim, Thiago Monteiro falou sobre a não obrigatoriedade de torcida durante a disputa, salientando a importância da qualidade dos sambas como o que define a vitória de algum.
“É totalmente indiferente. Ter torcida é bom para o espetáculo, é bom para o compositor. Mas quando a gente bota no regulamento, não ter torcida, isso não influencia em nada o a vitória ou a derrota de um samba. O que influencia a derrota e vitória de um samba é a sua qualidade musical e a sua qualidade harmônica. É a sua letra e como ele conta a história, ou de maneira explicativa ou de maneira interpretativa, enfim. Então, torcida engrandece o espetáculo, mas em nenhum momento ele é determinante para a vitória, assim como clipe, assim como views, nada disso é determinante para que você escolha um grande samba. A gente sabe o que tem dentro do barracão, a gente sabe o que tem dentro do projeto e a gente sabe o que a nossa comunidade precisa cantar. Então a gente quer convergir todo esse interesse para ter a melhor obra possível”.
Evandro Malandro, intérprete da escola, contou como foi para ele a recepção do sucesso da safra de 2025 da escola pelas redes sociais, com o carinho que os torcedores deram aos sambas concorrentes.
“Eu não imaginava. Pela Grande Rio ter sido uma escola que saiu com um enredo, vamos colocar, um pouco diferenciado, saindo das vertentes que ela vem vindo e saindo das vertentes que as outras escolas de repente foram e acabou que uma ou outra escola veio com o enredo um pouco parecido uma da outra, a Grande Rio veio na contramão disso tudo. Eu esperava que o público fosse: ‘ué gente?’, mas não, foi muito ao contrário. Fiquei muito feliz com essa recepção, com esse carinho que o público teve com a Grande Rio, que todo sambista teve com a Grande Rio e que o Brasil teve com a Grande Rio. Estou muito feliz, de verdade, com a safra da Grande Rio no Rio de Janeiro também”.
Evandro comentou como também está muito feliz com os sambas paraenses que estão na disputa da escola, e também sobre a possibilidade de um deles ganhar a disputa para ser o samba do próximo carnaval da Grande Rio.
“Eu estou muito feliz com as melodias que vieram do Pará, com as letras que vieram do Pará. Um samba totalmente feito com a cara do Pará, com um jeitinho do Pará, o samba feito com aquele sotaque. Eu estou muito feliz com esse encontro de compositores tanto do Rio de Janeiro, quanto de Belém do Pará. O ganhar ou perder é uma parte mais para frente. A gente está começando a escutar agora os sambas na quadra, primeira eliminatória aqui. Eu vou para o Pará agora, ainda essa semana, para conhecer as obras com a bateria lá na quadra, para sentir esse calor humano lá. De repente, daqui umas duas ou três semanas, eu tenho uma resposta mais certa”.
O intérprete também falou sobre a união do samba com o carimbó na parte musical da escola, onde comentou como esse processo vem ocorrendo desde o anúncio do enredo.
“Quando lançou o enredo os carnavalescos, juntamente com a presidência da escola e nossa diretoria, a parte da imprensa, a gente sentou, fez uma reunião. E a gente conversou sobre isso, essa interação de samba-enredo com carimbó. Essa interação foi muito legal, foi muito bacana. A gente ficou muito feliz, primeiramente, com o carinho que a presidência teve com a gente, chamar a gente e mostrar para a gente: ‘a gente vai falar disso. O nosso enredo é dessa forma’. Logicamente eles sempre deixam a gente muito à vontade para trabalhar o samba, para trabalhar essa parte artística, essa parte musical da escola. Mas, mais do que isso, esse ano eles mostraram para gente exatamente como que vai funcionar, para a gente sentir como é que a gente pode encaixar o carimbó. Tanto é que está aí a trilogia que está sendo muito elogiada pelo Brasil todo. A gente está muito feliz. Com esse carinho acho que vai dar muito ‘sambarimbó'”.
O cantor falou também sobre o tempo de disputa que a escola de Caxias está fazendo neste ano, e como o fato dele cantar todos os concorrentes nas versões lançadas pela agremiação ajudam o torcedor a perceber qual o melhor para a escola.
“Na verdade, não curta, porque são quatro semanas. Quatro semanas dá para você sentir bastante o samba. O Samba já lança antes, a pessoa já começa a trabalhar uma semana antes com todo mundo, aí já tem uma ideia, Uma outra coisa que de repente aproxima a escola do seu samba preferido, modéstia à parte, com todo respeito as nossas coirmãs, mas essa questão do cantor da escola gravar. Essa ideia do nosso presidente Milton Perácio, juntamente com Thiago Monteiro, Jayder Soares, Leandro Soares e o seu Helinho de Oliveira, eles tiveram essa sacada que foi muito importante para Duque de Caxias e para a Grande Rio. Isso já aproxima. Aí sim veio encurtar, porque a comunidade já sabe para onde vai: ‘Me senti melhor cantando esse samba aqui, porque o cantor já gravou’, ‘Mas aquele samba ali que o cantor também gravou, me senti bem’. Ela vai se sentir mais à vontade do que, com todo o respeito, torcer para o melhor cantor de uma escola ou de outra que gravou o samba. Ela vai torcer pelo samba que ela quer com o cantor da escola, cantando todos os sambas. Eu procurei o máximo fazer o melhor para todas as parcerias, ser padrão para todas as parcerias, mas eu acho que deu muito certo. E a comunidade fica muito mais a vontade para torcer pelo seu samba”.
Evandro falou também sobre a decisão de não ser obrigatória a presença de torcida na disputa da Grande Rio nesta disputa rumo a 2025.
“Eu acho maravilhoso! O não ter torcida acaba tendo, naturalmente, uma torcida. Porque a escola, voltando ao o que eu falei, a escola, a comunidade, a harmonia, o presidente deixa todo mundo livre. Não tem amarração, não tem torcida de nariz para aquela harmonia que está um pouco mais à vontade com aquele samba. Não tem isso. A Grande Rio deixa todo mundo muito livre. Pode ver que eu estou cantando todos os sambas. Eles me deram essa oportunidade de gravar todos os sambas e me deixam livre, livre em cima para cantar todos. Eu não fico nem com pasta na mão. O não ter torcida eu acho maravilhoso, porque, com todo respeito, falando da Grande Rio, não fica briga de melhor torcida, torcida maior, melhor coreografada. A torcida que melhor abaixa, melhor pula, tem mais dinheiro para colocar adereços, não! É o samba que está no palco. Voltando àquela era de que o samba ganha. É exatamente isso que a Grande Rio vem pensando. É priorizar o samba enredo e os compositores, e não fazendo eles gastarem rios de dinheiro para chegar numa final, porque se tem uma qualidade de um samba bom, você não precisa ter rios de dinheiro. Basta você trabalhar bem o seu samba, colocar um bom cantor, fazer um bom ensaio e, naturalmente, a torcida vem”.