Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins (Colaboraram Will Ferreira, Lucas Sampaio, Nabor Salvagnini e Naomi Prado)
A Acadêmicos do Tucuruvi realizou o seu primeiro ensaio técnico, no último sábado, no Anhembi, para aperfeiçoar as suas condições rumo ao Carnaval 2025. O treino foi marcado por uma grande exibição da comissão de frente. Foi um teatro que mostrou muito do povo originário e o que realmente é o enredo. As palavras ‘força’ e justiça’ pintadas nos corpos dos componentes deram o impacto do teatro. Outro destaque foi a “Bateria do Zaca”, sob a regência de mestre Serginho – nesse quesito se sobressaiu as bossas criativas e o correto andamento que o samba-enredo precisa, perfeitamente conduzido pelo intérprete Hudson Luiz e sua ala musical.
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Vale destacar que a agremiação ensaiou comemorando o seu aniversário, o que, sem dúvidas, causou um sentimento maior nos seus componentes. A Tucuruvi será a quinta escola do sábado, com o enredo “A busca pelo manto”, assinado pelos carnavalesco Dione Leite e Nicolas Gonçalves, além de pesquisa do enredista Vinicius Natal.
‘’Acima da expectativa, um dia feliz para toda a comunidade, um dia feliz para nós. Aniversário do nosso pavilhão, aniversário da nossa escola, nada melhor do que fazer um desfile atípico, com chuva, todos felizes, concentrados. Estou muito feliz por todos. Sempre tem que melhorar alguma coisa. Agora vamos voltar para casa, vamos assistir a todos os vídeos e procurar ver o que tem para acertar”, analisou o vice-presidente e diretor de carnaval Rodrigo Delduque.
Comissão de frente
Comandados pelo coreógrafo Renan Banov, a grande maioria dos bailarinos da comissão de frente da Tucuruvi foram todos vestidos com cocares dos nativos. A dança foi feita no chão e em um grande tripé. Havia dois personagens que se destacavam: Uma representava o manto tupinambá e a outra uma pessoa indígena. Em todo o teatro na pista e interações com os demais dançarinos, o principal momento era quando o manto abraçava a indígena, mostrando a conexão dessa sagrada vestimenta com os povos originários.
Os outros dançarinos, que subiam e desciam o tripé a todo instante, tinham como vestimenta uma pintura corporal nas cores marrom e branco. Em seus peitos e abdomens estavam escritas as palavras ‘força’ e ‘justiça’. Muita maquiagem e pintura labial se viam nos rostos destes personagens.
Vale destacar também a sustentação de todos diante de uma pista molhada. Havia chovido bastante no ensaio anterior e, pegaram um piso muito escorregadio, mas mesmo assim, com a garoa persistindo, conseguiram realizar o teatro indígena e transmitir ao público a mensagem do enredo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Luan Caliel e Beatriz Teixeira realizou um ensaio correto dentro das condições da pista, e foi além. Esse é o quesito que mais sofre com a chuva, mas ambos conseguiram executar a criativa coreografia de forma correta e não cederam à água. Vale destacar o grande desempenho de Beatriz dentro dos seus giros com intensidade que, novamente pontuando, no chão após muita chuva. Com o mestre-sala não foi diferente, onde acompanhou o desempenho. Um ensaio satisfatório da dupla.
Harmonia
O canto da comunidade da Cantareira com essa ‘nova Tucuruvi’ tem se ouvido cada vez mais, e não foi diferente neste ensaio. Foi um começo arrasador, uma largada impressionante e uma empolgação total. Porém, a partir do momento em que o ensaio foi se desenvolvendo, houve uma queda no volume do canto em todas as alas. A comunidade sabe o samba-enredo de ponta a ponta, todas as palavras consideradas ‘difíceis’ estão na ponta da língua, mas o nível de empolgação entre começo, meio e fim foi diferente. A escola terá mais dois ensaios para corrigir essa questão.
Vale destacar a parte que é cantada com mais força, principalmente na bossa do apagão: “Clamo a ti força maior, seu poder não me oponho/Abençoe a nossa escola, realiza o nosso sonho”.
Evolução
A escola evoluiu corretamente, não deixou espaços, as fileiras entre as alas estavam com um satisfatório espaçamento para os componentes se moverem na pista. Tudo correto nessas questões. Não há coreografia na evolução, mas na bossa da paradinha que se localiza nos versos finais da segunda parte do samba, todos os componentes cerram os punhos no alto, pois a letra nesta hora é um forte questionamento. Uma coisa chamou atenção: A escola optou por não colocar cordas para demarcar os espaços das alegorias, somente identificar com nome. Isso dificultou prever a largura e os comprimentos dos carros. Em São Paulo é comum ver esse tipo de estratégia em ensaios de rua, mas no Anhembi não é costumeiro. Apesar disso, imagina-se que para a agremiação está tudo certo, afinal foi uma opção deles.
Rodrigo Delduque revelou que para ele há um incômodo com as cordas e é algo que viu no Rio de Janeiro e quis colocar em prática na Tucuruvi. ‘’Já venho uns dias me incomodando com a corda e não vou negar que também vi algumas coisas no Rio de Janeiro, achei bacana e resolvi introduzir na alegoria, eles aceitaram e a escola também aceitou. Deu tudo certo”, comentou.
Samba
Não é novidade para ninguém que a Tucuruvi tem um dos melhores sambas do carnaval. É uma letra bem executada que rima as palavras da linguagem tupi com o nosso português e outras coisas que tornam este hino do Zaca complexo e novamente atemporal, como foi 2024. A obra ficou ainda mais potente na voz do intérprete Hudson Luiz e sua ala musical, uma das melhores de São Paulo: André Luiz, Thiago Melodia e as vozes femininas Carol Oliver e Helen Cristina. Essas duas mulheres são importantíssimas para o rendimento do carro de som, principalmente quando o cantor executa os seus cacos. Realmente é um primor de trabalho musical que a Tucuruvi vem realizando.
Outros destaques
A “Bateria do Zaca”, tendo comando de mestre Serginho foi o outro destaque no ensaio, realizando bossas criativas e dando um andamento correto que o samba pede. É impressionante como a orquestra de Serginho se adequa a toda obra, além de já criar uma ótima sintonia com a ala musical.
O mestre cita a chuva como um empecilho natural e diz que há coisas a se ajustar. “No começo a gente pegou a chuvinha e tudo fica mais corrido para ajustar as coisas. Conseguimos arrumar rapidinho, porém é bem difícil com essa chuva que está atrapalhando todo mundo. Como é o primeiro ensaio técnico, muita coisa dá certo, muita coisa tem para ajustar, que é natural mesmo do primeiro ensaio técnico. Fizemos alguns testes mas acredito que o saldo é positivo. Geral da bateria também curtiu, mas vamos voltar para casa agora e estudar. Temos 15, mas no geral acredito que foi bem satisfatório”, avaliou.
Serginho falou sobre as dificuldades com as caixas de som e afinações. Segundo o mestre, agora será feita uma reunião para ver um aprimoramento para o próximo ensaio. “Senti que tinham umas caixas de som que pareciam que estavam num tempo diferente das outras. Eu não sei o porquê, mas também é uma coisa. Hoje é o primeiro dia das caixas de som, acredito que vai melhorar. A parte da frente da bateria como sempre tem um rendimento alto. Outra coisa que temos que melhorar para o próximo é a afinação. Agora a gente vai sentar com a diretoria de bateria, cada um vai falar uma coisa, vai dar algum ponto, mas acredito que foi bem satisfatório”, completou.
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