Por Marcos Marinho e fotos de Magaiver Fernandes (Colaboraram Allan Duffes, Matheus Vinícius, Guibsom Romão, Marielli Patrocínio e Rhyan de Meira)
O Arranco do Engenho de Dentro levou à Avenida, no ensaio técnico, no último domingo, na Sapucaí, um treino que reverenciou a força, a resistência e os saberes das mulheres negras, com destaque para a comissão de frente composta por 15 mulheres que performaram a força feminina no axé. A apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Laryssa Victória, emocionou com gestos simbólicos de resistência e afeto, enquanto a bateria, comandada por mestre Gilmar, elevou o público com o ritmo contagiante do ijexá. Apesar de momentos em que a evolução oscilou, a escola mostrou dedicação e energia ao transmitir a mensagem do samba-enredo, celebrando o axé e a ancestralidade.
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“Excelente! Superou as minhas expectativas. A escola soube fazer um ensaio muito produtivo, que é uma coisa que a gente vem buscando. Hoje eu saí daqui satisfeito demais com o desempenho da escola. Sempre tem uma coisinha ou outra para melhorar até o desfile. Até mesmo porque cada ano é uma novidade pra gente. A gente pode ensaiar, fazer tudo 100%, que chega no dia, acontecem algumas coisas que fazem parte do processo. Eu sei que com a garra da escola a gente vai conseguir combater junto”, explicou Múcio Travasos, diretor de carnaval do Arranco.
Comissão de frente
Sob a concepção dos coreógrafos Lipe Rodrigues e Márcio Dellawegah, a comissão de frente do Arranco encantou a avenida com um bailado que reverenciou as mulheres detentoras dos segredos no axé. Composta por 15 mulheres negras, a apresentação destacou figuras poderosas, como a guerreira, a sacerdotisa, a yaô e a trabalhadora, simbolizando a diversidade das performances femininas. Em um momento de grande força e significado, uma cesta com frutas foi um importante elemento cênico, representando os alimentos preparados por aqueles que cuidam da comida dos orixás. Enquanto dançavam, os componentes entoaram com emoção os versos do samba-enredo, celebrando a ancestralidade e a resistência.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Laryssa Victória, apresentou uma dança tradicional e cadenciada, com movimentos suaves e elegantes. A proposta da coreografia, que priorizava a delicadeza e evitava movimentos bruscos ou rápidos, foi bem executada. No entanto, em alguns momentos, os movimentos poderiam ganhar mais vigor e presença para conquistar ainda mais os módulos de jurados.
Um dos pontos altos da apresentação aconteceu no trecho emocionante do samba, onde se canta “Yalorixá que homem nenhum enfrenta”. Nesse momento, Laryssa levantou a mão com o punho cerrado, em um gesto poderoso e cheio de significado, simbolizando resistência e força feminina e de axé. Já no trecho em que o samba diz “Embala eu mamãe / Teu colo é chão onde eu quero morar”, Diego transformou-se na figura de um menino pássaro, recebendo em seu coração um toque carinhoso da mãe. Esses momentos foram destaques da apresentação, celebrando tradição, sentimento e a conexão da dança do casal com o enredo.
“Hoje foi tudo dentro do nosso previsto. Por conta do horário a gente já imaginou o vento justamente, alteramos o ensaio para gente poder pegar esse tempo. Acredito que a gente fez tudo o que a gente queria fazer, tudo que a gente ensaiou, a gente conseguiu executar aqui hoje, vimos o que precisamos ajustar para o desfile. Eu estou muito feliz, acredito que meu mestre-sala também está porque tenho certeza que a gente entregou o melhor para a nossa escola. Acredito que a surpresa para o desfile oficial será a fantasia. O que a gente vem representando para esse enredo é muito importante”, revelou a porta-bandeira.
“Os ensaios técnicos tomaram uma proporção de desfile mesmo, só que a gente enquanto sambista tem que atentar que isso é um ensaio e a gente trabalha para que tudo ocorra na mais perfeita harmonia. Mas, aqui é o lugar de errar, aqui é o lugar de ver o que dá certo e o que não dá, o calor da emoção do público, da bateria ao vivo. Têm ensaios nossos que são a gente, a caixa de som e o coreógrafo. A pegada da bateria dá toda uma diferença na coreografia e hoje é o dia da gente ajustar o que cabe e o que não cabe. E a gente está feliz porque 95% que a gente preparou para o desfile conseguimos encaixar dentro do tempo da bateria, do andamento da escola, da ala que vem posteriormente e isso é muito importante e é um sinal de que a gente está caminhando o trabalho para o caminho certo. O que muda realmente no dia do desfile oficial nem é o nosso trabalho, mas é a questão de áudio e canto da escola para gente introduzir com a pressão”, completou o mestre-sala.
Harmonia e Samba
A harmonia da escola se destacou pelo canto honesto e envolvente, alternando momentos de maior intensidade com outros mais contidos. Embora a escola não tenha cantado o samba por completo, entregou com muita força e energia trechos marcantes, como o que diz: “É samba de Yaô, na curimba de mulher / Quem não pode com mandinga, não carrega meu axé / Tenho sangue de rainha, que o sagrado alimenta / Yalorixá que homem nenhum enfrenta”.
Os intérpretes Pamela Falcão e Thiago Acácio merecem elogios pela condução firme do samba, transmitindo da mensagem das mulheres que alimentam o sagrado com muito axé. Outro ponto alto foi o entrosamento impecável entre o carro de som e a bateria, comandada por mestre Gilmar. A bossa no ritmo do ijexá, trazida pela bateria, foi um dos grandes destaques da apresentação, com um ritmo contagiante que elevou ainda mais a energia da escola.
“Temos pontos a serem acertados, mas pontos acertados depois de tantos ensaios. Isso aqui é um teste, aqui é um treino, mas no geral pelo que a gente pôde sentir do termômetro, ali do carro de som, com a escola evoluindo, com as pessoas ali vibrando, que foi ótimo. E ainda temos ensaio de rua, comunidade do Arranco vai estar lá com certeza para nós entregarmos o melhor que pudermos. Podemos perceber que em uma bossa nossa com atabaques, ela não estava microfonada, então tivemos uma questão com o delay e são nove vozes para integrar, mas só precisamos ajustar essa questão”, disse a cantora.
“Só agradecer, a Liga RJ que fez um trabalho incrível, ofereceu para nós um carro de som maravilhoso, conseguimos fazer o nosso ensaio sem problemas técnicos nenhum, graças a Deus deu tudo certo. Estamos com um samba incrível, nossa comunidade cantou muito e estou muito feliz, ansioso pelo desfile porque vai dar tudo certo, o show está só começando. Podemos perceber que em uma bossa nossa com atabaques, ela não estava microfonada, então tivemos uma questão com o delay e são nove vozes para integrar, mas só precisamos ajustar essa questão”, completou o cantor.
Freddy Ferreira analisa a bateria do Arranco no ensaio técnico
Evolução
Algumas alas apresentaram certa desorganização, e o terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira teve pouco espaço para se movimentar com a liberdade que merecia. Após a saída do segundo recuo, com a bateria já totalmente de volta à avenida, surgiu um buraco no desfile. Rapidamente, os diretores de harmonia entraram em ação, correndo para segurar a escola e garantir que o ritmo e a energia fossem mantidos. Um momento de tensão, mas que mostrou a dedicação da equipe para evoluir na avenida.
“Minha avaliação é a melhor possível! Colocamos tudo em prática. Tínhamos um pouco de dúvida em uma bossa que era na cabeça e ela é bem perigosa porque a contagem é muito em cima, mas fluiu perfeitamente. Tenho que agradecer 100% à minha diretoria. Meus diretores de bateria fizeram um trabalho magnífico. Aos meus ritmistas, foi tudo impecável. Tudo que nós ensaiamos foi botado em prática, os atabaques, a Pamela e o Thiago, o nosso carro de som. Foi tudo perfeito! Quarta-feira que vem nós temos o nosso ensaio no Setor 11. Vamos para esse ensaio muito feliz e muito convicto do que fizemos hoje. Sempre tem uns detalhes que tem que melhorar, mas eu estou muito que, do que apresentamos hoje, nós só temos que lapidar. Não é preciso mudar, é só lapidar. Vamos continuar na mesma pegada. E algumas coisinhas a mais. Tem surpresa, mas é surpresa [risos]”, avaliou mestre Gilmar.