Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
Quinta escola a desfilar no Grupo de Acesso I de São Paulo, realizado neste domingo, a Colorado do Brás chegou à passarela para defender o enredo “Os Encantos da Raiz do Mandacaru”, que utilizava a conhecidíssima e característica planta de ambientes secos para fazer uma grande homenagem à região Nordeste do Brasil. Com uma coreografia toda especial que misturava personagens com temáticas quase circenses com outros tipicamente cangaceiros, a comissão de frente chamou atenção de todos no Anhembi. O samba, que não era dos mais aclamados no pré-carnaval, também teve bom rendimento, com boa atuação do intérprete Léo do Cavaco e da bateria da agremiação, sob a batuta de mestre Acerola de Angola. A exibição durou, ao todo, 57 minutos.
Comissão de Frente
Com o nome de “Raízes Nordestinas: Luta, Força e Alegria”, o segmento foi um dos destaques da apresentação, sem dúvida alguma. Surpreendendo desde quando ela foi apresentada, na época dos ensaios técnicos, o quesito comandado por Paula Gasparini recebia todos os olhares quando ganhava mais alguns metros na Evolução. Para o público, o ápice acontecia no momento em que a personagem de destaque feminina saía de uma mala e era apresentada com o corpo todo molenga, causando surpresa e arrancando aplausos de todos. O pequeno tripé, com a representação de cactos, fitas e um calango; e diversos componentes fantasiados de cangaceiros deixavam explícita a relação com o tema nordestino – algo primordial para que a mensagem fosse passada.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O que mais impressionou em Brunno Mathias e Jéssica Veríssimo foi a vitalidade e a velocidade com que executavam cada movimento – sobretudo os giros. Com ótima sincronia entre si, mestre-sala e porta-bandeira deslizavam com muita celeridade ao longo de todo o Anhembi – e, em alguns momentos, impressionavam com rodopios cada vez mais rápidos. Tal ousadia, é bem verdade, quase custou à dupla, já que, ao voltar de um giro, o pavilhão da escola quase enrolou no quarto módulo – e a rapidez de raciocínio de Jéssica impediu qualquer transtorno. No mais, apenas elogios ao Casal, que cumpriu todos os balizamentos obrigatórios e, ainda por cima, em determinados momentos, até mesmo pulava e dançava ritmos nordestinos para mostrar disposição.
Enredo
Para falar da temática nordestina, a agremiação escolheu um ponto de partida comum a boa parte da região: o mandacaru, cacto bastante conhecido pelos locais que tem características bastante específicas e que tornam o surgimento da planta ideal em locais com climas desafiadores – “firme, forte, casca grossa, capaz de se adaptar em qualquer situação e raiz cravada no solo”. O fio condutor leva o desfile e o samba-enredo por uma série de características marcantes ao Nordeste e ao povo do local, como a resiliência, a religiosidade e a alegria. Para encerrar a exibição, a completa comunhão da região com a escola dão o tom bastante positivo para o desfecho do desfile.
Alegorias
Um desfile sobre a temática nordestina costuma ter certa repetição nas cores utilizadas – muitos tons terrosos (como marrom e bege), vermelho, amarelo, laranja. Nesse aspecto, o desfile da Colorado do Brás surpreendeu muito positivamente. O abre-alas, “O Mar E Seus Mistérios”, como o próprio nome diz, era majoritariamente azul; já o segundo, “Resistência vem da Fé: o Sincretismo”, mostrava uma entidade de religião africana, com muitos detalhes em branco. Por fim, o último carro, “‘Arraiá’ do Brás – Bem-Vindos ao Nordeste”, aí sim, trazia uma cromática mais em comunhão com o que se pensa sobre o enredo. Como tudo estava dentro da temática, ficam apenas os elogios na agradável variação de cromia ao longo da exibição.
Fantasias
Seguindo a lógica estética das alegorias, as fantasias também tinham ótima mescla de cores. A ala 01, “A Ambição Aportou”, por exemplo, fazia referência aos invasores portugueses – logo, com muito rubro-verde. Já a Ala das Baianas, a 08, “A Lavagem do Bonfim”, era majoritariamente branca. O mesmo elogio feito no quesito “Fantasias” deve ser repetido aqui. Também é importante pontuar que acabamento, concepção e execução também foram muito bem pensados por toda a agremiação. Em sua maioria, os costeiros tinham envergadura média, tornando o desfile do componente ligeiramente mais leve – e sem atrapalhar o companheiro próximo.
Harmonia
A agremiação, é bem verdade, cantou o samba de maneira uniforme ao longo de todo o desfile, sem grandes destaques positivos e negativos a se apontar. Há, entretanto, uma observação a fazer: o volume dos componentes não era dos mais altos. Não é o suficiente para causar problemas para a instituição do Centro no dia da apuração, mas chamou atenção o fato dos Harmonias, em sua maioria, estarem preocupados com o alinhamento dos componentes em cada ala, e não em pedir mais voz de cada um deles.
Samba-enredo
Descrevendo de maneira bastante satisfatória o enredo apresentado, os compositores Lico Monteiro, Richard Valença, Leandro Thomaz, João Perigo, Lucas Macedo, Jefferson Oliveira, Telmo Augusto, Felipe Zizou e Mingauzinho aproveitaram todas as deixas possíveis que estão presentes no fio condutor do desfile e incluíram algumas expressões bastante marcantes do Nordeste – como “arraiá”, “avexe” e “fulô”. Vale destacar que, além dos refrões, o último verso da canção (“Puxa o fole sanfoneiro no forró da Colorado”) foi cantado com mais animação pelos componentes – sobretudo nos momentos nos quais a Ritmo Responsa faz uma bossa marcando tal passagem. A bateria, por sinal, foi comandada pela primeira vez por Mestre Acerola de Angola e, de cara, já foi visto um ritmo ligeiramente mais célere em relação aos ritmistas de anos anteriores. Outro grande destaque ligado ao quesito é Léo do Cavaco: “apenas” no segundo ano na instituição, ele já está perfeitamente adequado ao espírito da escola, tornando-se um líder em tudo que envolve o conjunto musical.
Evolução
Logo no começo do desfile, pouco antes do casal se apresentar no primeiro módulo, foi perceptível que a ala à frente do primeiro Casal, a primeira de toda a agremiação, “A Ambição Aportou”, o grupamento acelerou o passo enquanto a dupla se preparava para defender a pontuação – em questão de segundos, após rápida conversa entre alguns integrantes do staff da Colorado, a situação foi resolvida. Depois de tal momento, toda a agremiação evoluiu de maneira uniforme, sem sobressaltos. Como coroação do bom trabalho no quesito, vale destacar o recuo da bateria: com um movimento simples; na metade do caminho, os ritmistas pararam por alguns instantes, voltaram e ocuparam totalmente o box – toda essa dinâmica durou cerca de 90 segundos.
Outros Destaques
A Ritmo Responsa, comandada por Mestre Acerola de Angola, teve três destaques na corte: a rainha Camila Prins, a princesa Cami Mattos e a madrinha Daniele Sansone.