Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins (Colaboraram Lucas Sampaio, Gustavo Lima, Nabor Salvagnini e Naomi Prado)
Tradicionalmente, o primeiro ensaio técnico da Mancha Verde é utilizado para descompressão e para que os componentes que não tenham desfilado no Anhembi reconheçam o Sambódromo. Apesar dos discursos dos ouvidos pela reportagem indicar tal flexibilidade na cobrança de quesitos, a Mais Querida provou que, mesmo quando vem “tirar uma onda”, é bastante competente. A Harmonia da agremiação se destacou na apresentação deste domingo (02 de fevereiro); e o samba, muito criticado no universo carnavalesco paulistano, deu resposta à altura – isso mesmo perdendo a comunicação pelos rádios por conta da chuva, mas estimando o ensaio técnico do enredo “Bahia, da Fé ao Profano”, que será o quarto a ser exibido na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro) em 61 minutos.
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Presente no ensaio técnico da Alviverde, o CARNAVALESCO analisa o quesito a quesito da agremiação e destaca que, se a agremiação volta para o Desfile das Campeãs desde 2018, a força em cada quesito é o ponto forte da instituição – que martelou bastante no fato do dia 02 de fevereiro ser o Dia de Iemanjá, sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes na religião católica.
Comissão de Frente
Ao contrário de boa parte das coirmãs, a Mancha não trouxe o tripé da comissão de frente – “apenas” marcou o espaço do elemento com faixas. Dentre os personagens, a impressão que passaram foi a de que os masculinos são Filhos de Gandhy e as femininas estavam fantasiadas tal qual baianas de escola de samba. Os dois grupos interagiam bastante entre si e não utilizavam tanto o espaço destinado ao tripé – que tinham dois integrantes, um de cada sexo, praticamente fixos.
Mestre-sala e Porta-bandeira
A chuva, é claro, prejudica deveras o quesito. Mas, ainda assim, Marcelo Silva e Adriana Gomes tiveram a habitual competência para sustentar com brio o pavilhão manchista. Vale destacar que, mesmo com a chuva e com a passarela molhada, ambos ensaiaram com calçados para asfalto seco – o que traz ainda mais brilho para a apresentação da dupla. Com diversas interações com o samba, vale também destacar a fantasia de Adriana, que estava de Iemanjá – Marcelo veio inteiro em um modelito verde com detalhes brancos, cores da agremiação. Ambos também tiveram ótima comunicação com a arquibancada, sendo muito saudados na Monumental.
Harmonia
Historicamente forte no quesito, a Mancha, novamente, se superou no canto. Com canto bastante forte e uniforme, os componentes (e até mesmo as arquibancadas) respondiam, sobretudo, na convenção que começava com um apagão no verso “Mancha Guerreira” e voltava na passagem seguinte do refrão de cabeça. Vale pontuar, também, que a chuva parecia um combustível para que os desfilantes cantassem ainda mais a canção – que, inclusive, funcionou a contento. Outro ponto de destaque está nos berros a cada vez que o refrão do meio era encerrado.
Vale destacar que o esquenta da agremiação teve a participação de Sandro Luiz, umbandista que também tem destaque na música. Primeiro, ele cantou o Ponto de Iemanjá; depois, Tem Que Ter Fé.
Evolução
Como dito anteriormente, o staff da Mancha perdeu o contato que tinha entre si via comunicadores. Nada que comprometesse a ótima movimentação dos componentes, que curtiram bastante o ensaio técnico – e que, inclusive, se mexiam ainda mais com a chuva mais forte. Adornos como pompons foram muito utilizados, e as baianas que estavam na frente da tradicionalíssima ala jogavam rosas brancas para os presentes. Também é nítido que a agremiação segue investindo forte no Grupo Rítmico, com três alas coreografadas em diferentes momentos da exibição. No quesito, entretanto, esteve o grande ponto de atenção de todo o ensaio técnico: quando o segundo carro alegórico (marcado por caminhões de uma parceira da agremiação, inclusive) estava na Monumental, a agremiação ficou alguns minutos com movimentação bem mais vagarosa do que estava anteriormente.
Diretor de carnaval da Mancha Verde, Paolo Bianchi comentou sobre o fato acontecido na Monumental: “É uma estratégia que a gente faz há uns cinco anos de segurar a escola, mesmo. Travar a escola. Eu sou o cara que vem lá atrás, Olhando quando a parte de trás da escola, O rabo da escola, começa a parar. Quando ele trava, A gente estabiliza a escola. Isso tem dado certo para a gente. Na entrada da bateria no recuo, a gente sim permite que a escola dê sua assentada. Isso tem sido bem positivo para a gente nos últimos tempos”, explicou.
O diretor também analisou a exibição: “A gente estava com 90% da escola aqui, praticamente do tamanho normal dela. E a gente combinou de fazer o tempo certinho – e a gente conseguiu fazer. Muita chuva, principalmente quando a bateria estava lá na Monumental. Acho que a Mancha conseguiu, além de treinar, identificar muita coisa. A gente vê algumas coisas em ensaios, eu acho que a chuva acabou atrapalhando um pouco no final, mas não em relação à empolgação nem em relação ao canto, mas no andamento. Pouca coisa aconteceu que a gente estava imaginando que ia ter que consertar. Mas, para o primeiro ensaio com essa chuva, o resultado é muito bom. A gente está muito feliz. Já tiveram ensaios que a gente saiu daqui preocupado. E é engraçado que sempre o primeiro ensaio é bom, aí fica preocupado para o segundo. Na minha avaliação eu vi algumas coisas, claro – até porque a chuva atrapalhou bastante. Mas a gente tem que estar preparado para desfilar na chuva, como já foi em 2023. Acho que foi um super ensaio, foi muito bom. o canto foi muito bem. uma pena que estava chovendo e tinha pouca gente no Anhembi, mas a gente está muito feliz”, confessou.
Samba
Muito criticado por diversos integrantes do universo do carnaval paulistano, a canção teve exibição bastante satisfatória no primeiro ensaio técnico. A Puro Balanço, bateria da agremiação comandada pelos mestres Cabral e Viny, veio cadenciadíssima, facilitando o canto e, também, a Evolução dos desfilantes. O carro de som, comandado por Fredy Vianna, também teve excelente desempenho – apostando em corais para marcar determinadas partes do samba, como as vozes de fundo no verso “Vem brindar, purificar a alma e o coração”.
Mestre Viny, um dos comandantes da Puro Balanço, foi comedido ao fazer elogios à bateria no ensaio técnico: “Ainda vamos conversar com a nossa diretoria sobre a nossa apresentação. Acredito que foi um baita de um ensaio, apesar da chuva. Tem algumas coisas para corrigir, como a questão de afinação, mas isso tem muita relação com a chuva de hoje. Vamos ver o que aconteceu de ocorrência lá no meio porque nós não conseguimos ouvir tudo o que acontece lá da frente. Mas acredito que tenha sido um bom ensaio, que tenha sido um pontapé inicial bacana para nós”, frisou.
Mestre Cabral também foi cuidadoso ao analisar a apresentação: “É um trabalho que a gente só dá a certeza de alguma coisa perto do desfile. É o nosso primeiro ensaio com a escola no Anhembi e foi o que o Viny falou: foi um bom um ensaio, com energia mesmo chovendo. Quando você vai desfilar e começa chovendo no ensaio, beleza… agora, chovendo antes do ensaio, a gente dá uma segurada. A escola se soltou, ouvimos a escola cantar, a bateria veio muito bem, com uma energia que a gente não vê há muito tempo. O ponto positivo a gente só consegue dar perto do desfile. Agora, são muitos ajustes. Foi o que o Viny falou: nós temos que conversar com os diretores. Lá da frente, a gente não tem muita noção. Mas, até então, foi um bom ensaio”, comentou.
Outros Destaques
Rainha da “Puro Balanço” desde 2002, Viviane Araújo se fez presente no primeiro ensaio técnico da Mancha – vestida com patuás. Princesa da corte da bateria, Duda Serdan também estava à frente dos ritmistas – com fitinhas do Senhor do Bonfim na indumentária. Junto delas, o Manchão, mascote da agremiação, também apareceu.
Além dos caminhões para marcar os carros alegóricos, um imenso tripé de Iemanjá também se fez presente – orixá que Paulo Serdan, presidente da agremiação, afirmou que aprendeu a respeitar ainda na infância, quando ia para a cidade de Praia Grande, na Baixada Santista.
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