Por Gustavo Lima e fotos de Rebeca Schumacker (Agência Enquadrar) – Colaboraram Will Ferreira, Lucas Sampaio, Nabor Salvagnini e Naomi Prado)
A atual bicampeã do carnaval paulistano, Mocidade Alegre realizou o seu segundo treino no Anhembi, na noite da última sexta-feira. O ensaio contou com forte canto da comunidade, grande performance do casal e ótimo desempenho da bateria. Também marcou um momento de emoção e união, onde as lideranças ao final fecharam os portões todos abraçados, simbolizando o “imenso cordão”, como diz o samba. A escola cruzou o final com 55 minutos, mas devido ao ato citado, o cronômetro da pista foi fechado em 59 minutos.
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A ‘Morada do Samba’ ainda tem mais um ensaio para fazer, no dia 16 de fevereiro, e levará para a avenida o enredo “Quem não pode com mandinga não carrega patuá”, assinado pelo carnavalesco Caio Araújo e o enredista Léo Antan.
Comissão de frente
Coreografada por Jhean Allex, a comissão de frente da Mocidade executou um desempenho com diversos atos entre sincronia dos bailarinos. A ala dançou pela pista o tempo todo, saudou o público e priorizou a coreografia no ritmo do samba-enredo. Também havia um tripé, cujo dois personagens destaques ficavam juntos a todo instante – Esses devem ter papel fundamental no dia do desfile. Tal elemento alegórico mencionado, quando os bailarinos subiam nele, fazia um efeito com espécies de pilastras, indo para um lado e outro. Com certeza terá surpresas, afinal não dá para decifrar, visto que a coreografia não se interpreta tanta coisa dentro do enredo e o tripé estava todo embalado.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Foi um dos destaques do ensaio. Novamente, vestidos com a fantasia do desfile oficial de 2024, o casal Diego Motta e Natália Lago, indo para o segundo ano juntos, se mostram cada vez mais entrosados. A coreografia dentro do samba é criativa e não perde muito tempo no mesmo lugar – Ou seja, eles dançam e evoluem com tranquilidade sem dar um trabalho a mais para a escola. A estratégia de ter vários guardiões ao redor da dupla também facilita para que não haja espaçamentos. Vale destacar a grande evolução que Natália teve nos seus giros, desde que assumiu o pavilhão oficial da agremiação, ainda com outro parceiro.
Harmonia
Sem dúvida, o maior destaque do ensaio da Mocidade. Embalados pelas falas da presidente Solange Cruz, tanto no esquenta, como na introdução do samba, o canto dos componentes se fez ouvir com força novamente. Se na chuva passada o canto já foi satisfatório, neste ensaio, com o tempo em boas condições, se tornou ainda melhor.
Vale destacar o refrão principal, onde os componentes aumentaram a força do canto justamente no apagão que mestre Sombra realizou com a “Ritmo Puro”. Isso aconteceu três ou quatro vezes. Os desfilantes também aumentaram a voz nos últimos três versos, que certamente são de destaques da obra: “Fé.. Na terça, o terço na mão/É… O dia da consagração/Dez! Mais uma estrela no pavilhão”.
Mostrando-se contente com a harmonia, o diretor de carnaval Júnior Dentista declarou que o quesito foi um dos destaques do ensaio. “O nosso primeiro foi muito bom, mas teve algumas falhas que trabalhamos muito durante a semana para corrigir. Achei a escola muito compacta, ai eu quero ver no drone como foi essa compactação. Eu estava acertando o tempo da apresentação do primeiro casal e da comissão de frente, porque vai ter umas ações diferenciadas e a gente precisa treinar aqui. Mas no contexto geral a escola cantou e evoluiu demais”, disse.
Evolução
A Mocidade mostrou uma evolução satisfatória. Da comissão de frente até a marcação da última alegoria, se viu uma escola bem compacta entre as alas, como sua característica de anos, sem deixar qualquer brecha para espaçamento ou buracos. As fileiras entre as alas e dança dos componentes também são destaques no quesito – Os integrantes das alas da Morada estavam soltos e leves para dançar e executar as suas coreografias.
Na segunda parte do samba, há movimentos que fazem efeito com a letra do samba: No verso “Nossa família, imenso cordão”, os componentes balançam para esquerda e direita. Já, nos últimos três: : “Fé.. Na terça, o terço na mão/É… O dia da consagração/Dez! Mais uma estrela no pavilhão” – Os componentes caminham de um lado para o outro com a mão erguida, sendo no último verso fazendo o sinal de ‘10’, para avisar que será mais uma estrela no pavilhão com a sua fé, como diz a obra.
Entretanto, houve uma questão com a evolução: Após a saída da bateria do recuo, a escola ainda estava com muito tempo para finalizar o percurso. O relógio estava por volta de 40 e 42 minutos. Sendo assim, para cumprir o mínimo de 55, as lideranças seguraram os últimos componentes por muito tempo, caminhando devagar, até dar o tempo necessário. Contudo, o diretor de carnaval Júnior Dentista relatou ao CARNAVALESCO que foi uma estratégia proposital com o intuito de analisar a evolução ‘zigue-zague’ dos componentes.
“Foi de propósito. Você traz o povo aqui para poder ensaiar e eu pedi para eles: ‘eu quero evolução, tem o zigue-zague’. Eu falei: ‘eu vou travar vocês e quando chegarem em mim, eu quero que vocês venham fazendo, porque a velocidade para menos pode, para mais que não pode. Eu estou dentro da regra. Então eu falei: ‘vou travar vocês porque eu quero ver a evolução’”, contou o diretor de carnaval.
Ainda dentro disso, Júnior disse que haverá ações no desfile, que esse tempo de 55 minutos irá virar 60. “Vamos ter algumas ações que não estamos mostrando aqui, então eu preciso me adaptar a elas. Vocês podem ver que eu saio no tempo de 55 minutos, que para mim já virou 60 minutos pelo que vamos apresentar. Nós vamos mostrar na hora e aqui eu preciso tomar muito cuidado com algumas situações, mas com certeza, dentro do esperado, foi certo”, concluiu.
Samba
O samba-enredo realmente pegou com a comunidade, como citado no forte canto do quesito harmonia. Devido a isso, os componentes conseguiram se soltar na avenida, sendo embalados pelo intérprete Igor Sorriso. O cantor, que sempre empolga a comunidade, não fez diferente na concentração. Desde os alusivos até o final.
Porém, apesar de solucionado, houve problemas com o carro de som da Mocidade Alegre. Em dado momento, perto do recuo de bateria, a voz de Igor sumiu por alguns minutos, e apenas se ouvia os apoios Lucas Donato e Fernandinho SP nas caixas de som do Anhembi. Depois tudo foi solucionado junto ao time de som da Liga-SP e o cantor oficial retomou o seu trabalho.
Igor Sorriso explicou a situação e contou que foi problema na bateria do microfone. “Acabou a bateria do microfone, eu senti que estava falhando. Eu tirei o fone e pensei: ‘É o fone que está falhando?’ Tirei o fone do ouvido no meu retorno e estava falhando também na caixa. Conversei com os operadores e aí eles trocaram a bateria e resolvemos”, contou.
Analisando a performance da ala musical, o intérprete diz que busca sempre a evolução para alcançar o tricampeonato. “O processo é sempre de evolução. Nós vamos buscando sempre ajustar os detalhes. Hoje tivemos a baixa da Talita, nossa cantora que está se recuperando de um procedimento, mas daqui a pouco ela está com a gente e faz muita falta. Acho que são os detalhes que fazem a diferença, os detalhes que fizeram a Mocidade ser bicampeã. São esses detalhes que a gente não pode deixar passar despercebido para buscar o tricampeonato”, declarou.
Igor também exaltou a comunidade da ‘Morada do Samba’. “Foi nítido o quanto o povo está cantando o samba e está se entregando. Portanto a gente fica feliz e o trabalho se torna mais fácil quando o samba é popular e o povo participa. Tudo se torna mais fácil”, finalizou.
Outros destaques
A bateria “Ritmo Puro”, de mestre Sombra, encaixou perfeitamente com o samba-enredo de 2025. Aliás, se adapta com qualquer obra desde os anos 90 e agora não será diferente. Apagões no refrão principal fazendo a escola cantar forte e a bossa do refrão do meio, mostraram um grau maior de criatividade da batucada da Mocidade Alegre.
‘’Estamos fazendo as correções, não existe perfeição, tem que continuar trabalhando, ensaiamos tudo direitinho e vamos ver com todos como foi. Estamos na média. Não posso falar de melhora, posso falar de ficar atento no trabalho, não teve nenhum erro Graças a Deus é isso que queremos então estamos caminhando devagarinho’’, comentou o mestre Sombra.
Vale destacar as baianas da escola. Vestidas com uma roupa elegante, estampas diferenciadas, saiotes azuis e colares laranja, deram um contraste diferente na pista.
A marcação das alegorias traziam significados do que será no desfile, como “Altares das irmandades pretas”, “Quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim”, “Mandingas para mais uma vitória”.
Ao final do ensaio, a bateria voltou da dispersão para a pista e encerraram o ensaio junto às lideranças da escola, que formaram uma espécie de corrente, com todos abraçados, simbolizando a união. “Nossa família, imenso cordão”.