Quitéria Chagas foi coroada no último sábado como rainha de bateria do Império Serrano. Ela, que já ocupou o posto de 2006 a 2010 e nos anos de 2019 e 2020, retorna atendendo a pedidos da comunidade. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, Quitéria contou o significado deste momento em sua vida, destacando a importância de seu papel e comentando sobre a tendência de rainhas com forte identificação com a escola voltarem a ocupar este posto.

Foto: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

A rainha destacou a importância histórica e pessoal de seu retorno ao posto, além de desabafar sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no mundo do samba. Quitéria comemorou o progresso e a profissionalização no setor, reafirmando seu compromisso com a tradição e a luta por reconhecimento e igualdade.

“Os bastidores de reinado, a minha coroa é bem pesada, tem um peso histórico de toda a ancestralidade do Império. Esta coroa tem um peso histórico, tem um peso das minhas lutas pessoais, de idas e vindas, e eu não saio e volto porque eu quero. Tem toda uma questão, enfim, os bastidores são muito complexos, mas graças a Deus e comunidade, graças ao mundo do samba e do carnaval, as pessoas nos comentários vão fortalecendo e faz nós mulheres do samba existirmos e resistirmos, porque profissionalmente nós temos um peso e uma exigência profissional, mas ainda não somos profissionais no sentido que a gente não tem contrato. É complexo, teve uma questão de erro histórico, porque as primeiras rainhas da história do carnaval ficaram ocultadas e tivemos o registro da primeira rainha da história do Império Serrano em 1950. A rainha é tão antiga quanto a porta-bandeira, mas por motivos históricos de não quererem divulgar na imprensa uma mulher preta com coroa, nos ocultaram e parece que é um posto novo, mas não é e aí ficou esquecido essa questão profissional que agora com o passar do tempo a gente vê dos gestores botando raiz profissionais do samba, passistas e cada dia que passa está aumentando mais a questão profissional nesse setor importante. Fico muito feliz de ver mulheres do samba crescendo”, destacou Quitéria Chagas.

Foto: Maria Clara Marcelo/CARNAVALESCO

Sobre a importância de seu papel como rainha, que é não apenas como uma figura de destaque na escola de samba, mas como uma representante de todas as mulheres, especialmente as mulheres negras, que enfrentam muitos desafios. Quitéria contou que sua posição carrega um peso histórico e ancestral, e seu objetivo é manter vivo o legado para as futuras gerações, dando continuidade a tradição e a luta de seus antecessores.

“A rainha representa todas as mulheres do samba e aqui no Império eu tenho que representar esse legado que os antigos me falaram: ‘Você tem que representar todas as mulheres do Império!’ E é um peso muito grande, quando eu atravessei a quadra chorando é porque eu lembro das lutas, dos bastidores, das minhas lutas e não é fácil, principalmente para nós mulheres pretas. É muita responsabilidade, não é só uma coroa, não é só dançar, é representar toda uma história ancestral e continuar esse legado, porque eu não sou eterna, apesar que as pessoas falam, ‘eterna rainha’, os antigos também, mas o que eterniza é o legado e a história, e dá essa continuidade para a nova geração”, contou Quitéria Chagas.

Quitéria revelou a importância dessa tendência de rainhas com identificação com a escola voltarem para esse posto, valorizando a luta contínua das rainhas do passado e do presente para ocupar um espaço de destaque no mundo do samba. Ela destacou o reconhecimento das personalidades que, ao longo dos anos, contribuíram para construir uma trajetória de resistência e representatividade, permitindo que hoje mais rainhas com forte ligação com suas escolas possam ocupar esse papel com orgulho e legitimidade.

“Isso é muito importante, porque na minha época não tinha muito isso, eram pouquíssimas. E eu fico muito feliz, porque é a luta de cada uma, a minha luta de outras rainhas, das antigas, que não puderam ser tanto, são personalidades importantes que elas construíram essa trajetória para chegar até aqui”.