Um enredo indígena irá dar o tom do carnaval da Mocidade Unida da Mooca para o Carnaval 2025. Isso será feito na figura de Ailton Krenak, um importante ambientalista, escritor e filósofo que defende o seu povo e suas terras nas obras desenvolvidas. Sendo assim a escola da Zona Leste paulistana deu mais um passo importante rumo ao próximo desfile, apresentando nesta sexta-feira, o samba-enredo que irá embalar a comunidade da ‘MUM’ no próximo ano. Com a quadra no bairro da Mooca recebendo um público agradável, a comunidade conheceu o hino e participou da gravação do clipe oficial realizado pela própria escola. O samba é fruto de uma encomenda escrita pelos compositores: Arlindinho, Lucas Donato, Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinicius, Biel e Salgado. A obra tem como característica questionar e ao mesmo tempo exaltar o povo indígena perante à sociedade que se acha superior. O enredo da agremiação é intitulado como “Krenak – O Presente Ancestral” ,desenvolvido pelo estreante carnavalesco Renan Ribeiro.
Reuniões naturais e enredos questionadores
Um dos compositores, Marcos Vinícius, popularmente conhecido como Marquinhos, relatou como foi o processo do samba. De acordo com o escritor, reuniões leves, divertidas e aleatórias fizeram o samba nascer, tudo com convite do presidente Rafael Falanga. “Eu tive uma relação com a MUM como músico da escola, já desfilei há uns três anos aqui, mas nunca tinha feito samba. Eram os meus amigos que faziam samba antes. Eu encontrei o Falanga em uma reunião e ele para começarmos o samba. Aí fizemos. Foi uma coisa muito natural. Uma reunião nada a ver e o samba começou a sair. Depois fui convidado para ser diretor musical da escola e trabalhar com o Emerson, que é meu amigo de carnaval de Uruguaiana e Rio de Janeiro. É uma coisa mágica. O samba está aí e agora a gente tem que lapidar alguns pontos para a comunidade. Eu espero que o samba leve a escola ao tão sonhado e Grupo Especial”, contou.
Marquinhos exaltou a importância dos enredos que a agremiação propõe ao carnaval. Segundo o diretor musical, é uma escola que foge do comum e educa, que é uma das funções do samba. “A Mooca já tem essa cultura de usar enredos emblemáticos. Nossa escola sempre vem fora da curva do que as demais geralmente fazem. O Rafael tem essa veia de resgatar ícones da nossa história, do nosso Brasil. Eu acho isso muito importante. Uma história tão rica do nosso país que temos tantas pessoas escondidas. Eu acho que essas pessoas têm que aparecer realmente para ser um tema. É porque o samba, na verdade, é a educação do nosso futuro. Eu acho que é muito importante a gente resgatar isso e no momento certo tudo vai acontecer da melhor maneira possível”, disse.
Surpreso com a força da comunidade
O estreante intérprete Emerson Dias se disse surpreso com a comunidade da Mocidade Unida da Mooca, pois com pouco tempo de contato com a obra, os componentes já pegaram a letra. “Para mim é muita surpresa, porque nas primeiras horas de contato com a música, com o samba novo, o povo já está cantando, pulando, se emocionando com o samba quase que 100% na ponta da língua. Então isso é para ser respeitado e muito enaltecido, porque não é qualquer escola que faz isso”, opinou.
Novamente enaltecendo o desempenho da comunidade da MUM, o renomado cantor carioca utilizou deste argumento para falar da qualidade do samba-enredo. O músico aproveitou para agradecer os compositores pelo presente dado no primeiro ano de carnaval paulistano. “Quando o povo tem esse desempenho, que a escola canta da forma que cantou, a qualidade já tá mais do que comprovada. Então, acho que os compositores foram muito felizes, deram um presente para mim. Eu estou chegando aqui agora na MUM. Um grande samba seria um grande privilégio, um grande presente. Eu acho que eles foram muito felizes. Eu estou feliz também”, afirmou.
Mostrando confiança, o intérprete disse que está em um ótimo momento da carreira e citou o carinho recíproco com a comunidade da Zona Leste, cujo é recíproco. “Eu acho que estava escrito isso, que tinha acontecido isso nesse momento especial. Estou em um momento legal da minha carreira. Mais maduro e experiente. Vim para uma escola que tem uma projeção muito grande, uma ambição de chegar ao Grupo Especial. Está mais do que na hora. Estou extremamente feliz de estar aqui. Eu estava aqui ontem, gravei o samba, fui embora para o Rio às 22h, cantei na Beija-Flor, acordei, trabalhei, peguei o carro, vim para cá, cheguei aqui agora 21h sem ensaiar. Foi na correria, mas de coração, porque são as pessoas. É uma troca, é energia e para mim tem muito valor”, completou.
Andamento será fundamental
O mestre de bateria Dennys Silva falou da ‘correria’ que foi para colocar o samba na rua antes do evento. O percussionista comentou sobre bossas que já estão sendo desenvolvidas pela ‘Chapa Quente’. “A MUM faz fechado o samba. O Rafael escolheu esse ano outra equipe de compositores e ali eles foram montando as melodias, foram entendendo a letra e eu já fui montando algumas passagens de tamborim, algumas coisas de surdo de terceira pensando em um projeto de bossa. Claro que agora temos alguns meses para lapidar. A bateria já vem ensaiando muito ritmo, muitos fundamentos, só que a gente já tinha mais ou menos a noção do samba. Aí nós gravamos ontem com uma grande equipe de grandes mestres do carnaval. Hoje foi a mixagem, eu saí de lá direto para cá. Aí tinha um projeto de soltar na internet às 17h. Eu consegui terminar 16h45 de mixar. O presidente ouviu uma vez e, antes dele aprovar, já soltou. Ele tem essa fama de vazar tudo. A galera em poucas horas já curtiu o samba e saiu cantando”, comentou.
Um andamento crucial e ensaios com a ala musical são os próximos passos que a batucada da MUM irá realizar. Desenhos de levadas de outros instrumentos serão feitos em cima da obra. “Primeiro a gente vai definir o andamento, porque gravamos em um andamento mais para trás para mostrar melhor a melodia. Primeiro eu quero entender o andamento junto com a ala musical. Agora a gente tem um diretor novo que é o. Marquinhos, meu grande amigo. Vamos fazer para a comunidade, não para a bateria. Eu já tenho uma ‘bossinha’ que eu até coloquei nessa prévia de gravação e que vai para a avenida. O diretor de tamborim vai terminar essa semana os desenhos de tamborim, chocalho, e surdo de terceira e, depois, a gente vai começar a fazer as outras coisas”, concluiu.
Resgate do DNA
O presidente Rafael Falanga enalteceu o evento e se diz contente com o trabalho desenvolvido peça comunidade na hora de pegar o samba, comprando o que o enredo propõe. “O lançamento de samba sempre é uma oportunidade de celebrar a união, de celebrar a essência da raiz do samba, canto e evolução. Eu estou muito feliz porque a comunidade compareceu em peso, porque é um samba de fácil assimilação. Entre meia hora e 40 minutos de ensaio a gente já tem uma amostra do que vai ser isso na avenida. A escola cantando e comprando a ideia do enredo, da causa, da luta e dos princípios desse enredo”, disse.
Sobre novamente a agremiação propor um tema questionador e temática forte, Falanga contou que essa é a essência da entidade desde a sua fundação, e assim vai continuar. “Vamos falar da Mooca de 1987: Ela é fundada com um enredo político. Essa retomada de temas políticos relevantes, não só afros ou com temática negra, indígena e que contempla a sociedade. Eles são uma construção de DNA da escola. Isso tem dado muito certo. A gente vai seguir nesse caminho. Por enredos afros, por enredos negros, por enredos com diversidade, por enredos que tragam proposta que dialoguem com a sociedade, que tragam reflexão e que ensinem. Eu acho que é, acima de tudo, isso que a gente vai fazendo, baseado nesse resgate do que é uma época de verdade”, finalizou.