Neste domingo, são oito pavilhões disputando duas vagas no Grupo Especial em 2024, e duas serão rebaixadas para o Grupo de Acesso II, pavor para qualquer escola de samba. Pois a disputa é intensa, são quatro campeões de Grupo Especial na briga, Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e X-9. Ainda Colorado do Brás, Pérola Negra, Morro da Casa Verde e Mocidade Unida da Mooca.
São oito escolas na disputa, o começo será às 21 horas, e pela programação, a última entra na pista às 4 horas da manhã. Curiosamente, as quatro primeiras são as tradicionais que já venceram o Grupo Especial, e das oito escolas, apenas a Mocidade Unida da Mooca nunca disputou a elite até o momento.
Segue um giro sobre cada escola como chegam para essa disputa intensa no Sambódromo do Anhembi:
21h00 – Nenê de Vila Matilde
De volta ao Grupo de Acesso I após passagem pela terceira divisão do carnaval, a Nenê de Vila Matilde vai cantar “Faraó-Bahia” e busca o retorno para o Grupo Especial que não disputa desde 2017. Na visita ao barracão da Nenê, o carnavalesco Fábio Gouvêia contou sobre o enredo que estará na pista em entrevista para o site CARNAVALESCO.
“Faraó-Bahia vem do hit de carnaval onde todo mundo imagina que é a música que a Margareth Menezes eternizou, mas que tem um outro lado. Não é só a festa. Ela fala do empoderamento. Vem de encontro do não aos 100 anos de abolição da escravidão. O autor, juntamente com o Olodum, quer algo para ir contra. Não há o que comemorar. O nosso povo não foi liberto. Houve uma falsa história contada. E aí a música vem na contramão, porque antes o carnaval para os negros era só puxar a cordinha. O que mudou com essa abolição? Nada. Nós vivemos uma mordaça social e isso que a música quer dizer. Nós descendemos de reis e rainhas. De deuses do Egito antigo. A música nos empodera e diz que vamos substituir os turbantes por tranças. Vamos colocar as nossas caras nas ruas. O Faraó-Bahia faz isso. Ele pega esse norte sobre essa luta, empoderamento negro e começa a dar espaço para outras ações”.
A campeã onze vezes do carnaval, última vez em 2001, chega no Acesso I com o sonho de retornar a elite logo de cara, a ver como será o trabalho da comunidade da Zona Leste de São Paulo.
Fundação: 1949
Escola madrinha: Portela
Melhor resultado: 11 vezes campeão do Grupo de Especial (último em 2001)
Títulos: Primeira Divisão (1997 e 2000), Segunda Divisão (1994 e 2017), Terceira divisão (1981 e 1987), Quarta divisão (1986)
Último ano: Campeã do Grupo de Acesso II
22h00 – X-9 Paulistana
Com uma homenagem para lenda brasileira, a X-9 Paulista quer voltar ao caminho do Grupo Especial, e cantará: “Dona Ivone Lara, mas quem disse que eu te esqueço?”. Na nossa visita ao barracão da agremiação, o carnavalesco Leno Vidal contou sobre o enredo.
“Abracei porque não tem como não abraçar Ivone Lara no Carnaval. Todo sambista que se preze sabe que falar de Ivone Lara é falar da nossa vida, da nossa história no samba e do Carnaval como um todo. Fomos lá no Rio de Janeiro, a família nos recebeu, Dona Eliana Lara com os filhos e netos, e lançamos de lá o enredo, da casa onde viveu Ivone Lara. Já tínhamos começado a escrever a sinopse e li naquele momento. Eu busquei um fio condutor poético que foi o pássaro tiê, que nos iria acordar com Ivone Lara já no samba como a grande Rainha do Samba, já dentro do Carnaval, e depois começaríamos a fazer o sobrevoos de passagem na vida, na obra e no legado de Ivone Lara”.
A última vez que a escola esteve no Grupo Especial foi em 2020, depois veio a pandemia, e claro, atrapalhou a comunidade. Vale ressaltar que teve mudança de gestões, Mestre Adamastor assumiu e vai implantando um novo ritmo na escola da Zona Norte.
Fundação: 1975
Escola Madrinha: X-9 de Santos
Participações no Grupo Especial: 25 vezes (última 2020) e no Acesso: 12
Melhor resultado: Dois títulos no Grupo Especial em 1997 e 2000
Títulos: Primeira Divisão (1997 e 2000), Segunda Divisão (1994 e 2017), Terceira divisão (1981 e 1987), Quarta divisão (1986)
Último ano: 6º lugar no Grupo de Acesso I
23h00 – Camisa Verde e Branco
A terceira da noite é a tradicional Camisa Verde e Branco cantando “Invisíveis”, e a agremiação da Barra Funda sonha com a retomada do caminho vencedor dos anos. O jovem carnavalesco Renan Ribeiro é quem assume o projeto e com um enredo que tem a cara do Camisa tradicional dos anos 80, e ele nos contou um pouco sobre o enredo.
“O enredo nasce a partir do momento que tenho uma visão que o carnavalesco tem uma função além de cultural, agente de cultura, tem uma função de cronista social, porque marcar o período, e meu jeito de pensar. E estamos passando por um período que questões sociais se esticaram, foram levadas a consequência muitos sérias. E as distorções sociais se tornaram fatores muito evidentes no dia a dia, então baseado no momento político que vivemos e como isso tem interferido no dia a dia, senti a necessidade de falar sobre essas distorções sociais, baseado nos direitos sociais e usando o artigo sexto da constituição. Onde diz que é direito de todo mundo brasileiro, educação, saúde, moradia, trabalho, segurança pública, enfim uma série de direitos, que o estado não cumpre. Dai não falo de governo, de política partidária, falo de política social e daí eu baseado em série de leituras, sociologia, antropologia, faço esses estudos sobre movimentos sociais que buscam fazer as leis serem cumpridas neste vácuo da constituição”.
O Camisa vive sua maior sequência no Grupo de Acesso I, está lá desde 2013 e de 2018 para cá tem tido colocações apenas de meio de tabela, sem grande projeção por acesso. Mas também escapa do rebaixamento. Vale dize que desde 2012 não disputam o Grupo Especial.
Fundação: 1953
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 36 vezes (última em 2012)
Melhor resultado: 9 vezes campeã do Grupo Especial (1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993)
Títulos: 9 vezes na Primeira Divisão, Segunda Divisão (1997) e Cordões (1954, 1968, 1969, 1971)
Último ano: 5º lugar no grupo de Acesso I
00h00 – Vai-Vai
Pela segunda vez no Grupo de Acesso I, o que é uma tortura para a maior campeã do carnaval de São Paulo, o Vai-Vai reeditará um enredo de 2005: “Eu Também Sou Imortal”. Apesar de tudo pronto, só seguir aquele ano, Luiz Robles que é um dos responsáveis pelo projeto da escola em 2023, contou para o site CARNAVALESCO.
“Já tínhamos a sinopse e todo o trabalho de 2005, mas resolvemos mudar tudo. Não descartando tudo totalmente, mas queríamos realmente o zero. Fomos com a cabeça fresca, do zero, sem olhar o que foi feito lá para fazer o novo. Até a sinopse é diferente. Quando você vir o que colocaremos na pista e comparar com o que fizemos em 2005, não tem nada parecido. Não foi nem uma adaptação, colocamos na sinopse o que o samba acaba nos trazendo, ou seja, o que formos cantar você verá na pista, ficará simples de identificar”.
O Vai-Vai contém uma legião de torcedores, é a maior campeã do carnaval de São Paulo, e não é só antigamente, venceu o último em 2015, teve uma fase vencedora recente. Portanto busca o retorno ao grupo na qual quase a vida inteira foi seu lugar.
Fundação: 1930
Melhor resultado: 15 títulos do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1978, 1981, 1982, 1986, 1987, 1988, 1993, 1996, 1998, 1999, 2000, 2001, 2008, 2011 e 2015), Segunda divisão (2020) e Cordão (1934, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1947, 1967 e 1970)
Último ano: 14º lugar do grupo Especial
01h00 – Morro da Casa Verde
Mantendo-se no Grupo de Acesso I, o Morro da Casa Verde traz um enredo interativo: “Dynasteia. História, Poder e Nobreza”. Para comandar o projeto, o jovem carnavalesco Danilo Dantas contou sobre o trabalho e até uma mudança para adaptar com a comunidade da Zona Norte.
“Toda mudança gera coisas positivas e negativas. Lógico que tem aqueles que falaram que não é a cara da escola, mas outros acharam que era isso que precisávamos para brigar de vez pelo título. A recepção de início foi de estranheza, mas depois as pessoas entenderam que o enredo fala basicamente de impérios e reinos que formaram a humanidade, passou a ser aceito de uma forma boa. No final fizemos uma mudança no planejamento para poder entrar e encaixar na proposta da escola. Inicialmente não tinha nenhuma dinastia ou ligação africana no enredo. No final, coloquei uma ligação da escola com a sua raiz africana e também uma das dinastias africanas, que é a do Império Mali, que inclusive é a nossa bateria, dando aquele toque de africanidade que faltava no enredo. Fora o samba, que ficou com a cara que o Morro tem”.
O Morro disputou o Grupo Especial pela última vez em 2002, faz um tempinho, e esteve no Acesso II em por três anos, até subir em 2020 e aí veio a pausa da pandemia. Mesmo com tanta gente colocando como potencial rebaixada em 2022, manteve-se e está no sonho de voos maiores neste ano.
Fundação: 1962
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 9 vezes (última em 2002)
Melhor resultado: 6º lugar no Grupo Especial em 1970
Títulos: Segunda divisão (1971) e Terceira Divisão (1993, 1995, 2005 e 2020)
Último ano: 7º lugar no Grupo de Acesso II
02h00 – Colorado do Brás
A Colorado do Brás foi rebaixada do Grupo Especial para o Acesso, mas foi devido a punição sofrida de um ‘merchandising’ de um componente que usou uma roupa de uma marca, proibido no carnaval. Para retornar ao Grupo Especial, cantará “A Ópera de Um Pierrot”, um dos carnavalescos do projeto, Anselmo Brito nos contou em visita ao barracão.
“A ideia da trama dessa grande ópera do Pierrot é abrir a cortina de uma história romântica e trazer esse romantismo e essa luta pelo amor e pela paixão desses personagens envolvidos para a história da escola. Nós vamos pegar essa história, a difícil paixão entre esse plebeu pela grande princesa, ninguém mais que a Colombina. Nisso, ele faz várias declarações de amor, porque amar vai além de tudo isso, como diz o escritor. O amor é infinito. Em cima dessa frase e desses personagens, a Colorado vai trazer para o seu personagem, o componente, o amor que ele tem pela escola”.
Foram três anos consecutivos no Grupo Especial, a escola é bem tradicional, e conhece o caminho do Grupo de Acesso I, na qual foi vice-campeão em 2018. Com um enredo falando de amor, procura o retorno ao grupo de elite do carnaval.
Fundação: 1975
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 9 vezes (última em 2002)
Melhor resultado: 11ª lugar no Grupo Especial em 2019
Títulos: Terceira Divisão (1979, 2000 e 2013) e Quinta Divisão (2011)
Último ano: 13º lugar – grupo Especial
03h00 – Pérola Negra
Outra homenagem no Grupo de Especial, e de um nome bem forte da arte e música brasileira, o enredo da Pérola Negra é ”Prepare o seu coração: Jair Rodrigues, Festa para o Rei Negro”. O carnavalesco Cláudio Cebola explicou o que pretende trazer na homenagem ao grande Jair Rodrigues.
“Apesar de outras agremiações terem trazido, sofri um pouco de crítica. Mas Jair Rodrigues não é um intérprete de um enredo só. Ele cabe em vários enredos, tem tantas outras vertentes sendo apresentadas e porque elas cabem em outros enredos. Jair cabe no meu enredo, que na verdade, não vem com a proposta da bibliografia, vem com a discografia do maior intérprete negro da música popular brasileira que foi Jair Rodrigues. E essa vertente discográfica que iremos apresentar na avenida”.
Campeã do Acesso I em 2019, mas rebaixada no Especial em 2020, a Pérola Negra viveu montanha russa de acesso e queda nos últimos anos. Em 2022 ficou com o terceiro lugar no Grupo de Acesso, atrás de Milênio e Independente, neste ano a briga é contra tradições do samba, como ela também é.
Fundação: 1973
Escola Madrinha: Acadêmicos do Salgueiro
Participações no Grupo Especial: 19 vezes (última 2020) e no Acesso: 26
Melhor resultado: 5ª lugar no Grupo Especial em 1976
Títulos: Segunda Divisão (1975, 1989, 2000, 2013 e 2015), Terceira divisão (1974 e 1988)
Último ano: 3º lugar no Grupo de Acesso I
04h00 – Mocidade Unida da Mooca
Fechando a noite, temos a única escola do Grupo de Acesso que ainda não disputou o Grupo Especial de São Paulo. Conhecida como MUM cantará o enredo: “O Santo Negro da Liberdade”. Em conversa com os carnavalescos da escola, contaram sobre a ideia do enredo que vai falar de Chaguinhas, um ativista muito importante na história paulistana.
“Era um personagem que eu tinha ouvido falar muito por alto quando estavam mudando o nome da estação da Liberdade para ‘Japão Liberdade’. Eu li alguma coisa sobre a história do Chaguinhas, mas tudo muito superficial. Quando a gente começou a fazer a pesquisa, já falamos que era esse. Achamos que tinha muito a ver com o que a Mocidade Unida da Mooca tem construído como identidade e é um enredo que está falando sobre a nossa cidade também. Acho que aqui em São Paulo está faltando muito temas que olhe mais para nossa construção enquanto cidade. A gente acaba pegando referência mais de fora”.
Apesar de ter nascido nos anos 80, a MUM ainda não conseguiu chegar à elite, mas ao mesmo tempo é uma escola que vai consolidando seu espaço no carnaval, sempre mostrando bons desfiles e perto do Acesso. Ou seja, sonha com isso, mas terá que driblar a questão da alegoria que foi reconstruída em poucos dias após queda devido ao vento no Terrenão, onde alegorias ficam guardadas.
Fundação: 1987
Escola Madrinha: Mocidade Alegre
Participações no Grupo Especial: Nenhuma, e no acesso duas: 2019 e 2020
Melhor resultado: 4ª lugar no Grupo de Acesso em 2020
Títulos: Terceira divisão (2018), Quarta divisão (2014 e 2016), Quinta divisão (1999) e Sexta divisão (1991)
Último ano: 4º lugar no Grupo de Acesso I