Por Lucas Santos, Allan Duffes, Luan Costa, Maria Clara Marcelo e fotos de Nelson Malfacini
Optchá! A caravana da Imperatriz está em festa! E não é só pela honra de fechar os ensaios técnicos como campeã do carnaval passado, mas por ser hoje uma escola que tem trabalhado profundamente para não só se contentar pelo título e pela virada positiva que a escola tem passado nos últimos anos, mas, principalmente, por continuar brigando lá em cima e voltar a almejar o desejo de empilhar conquistas como no início dos anos 2000. Nesta noite de alto nível no sambódromo em que Mangueira e Viradouro já haviam realizados grandes ensaios técnicos, a Imperatriz não se intimidou e mostrou porque é a atual campeã, apresentando excelência e correção nos quesitos, um canto muito forte da comunidade, uma evolução fluída e cadenciada, mas, tudo isso, com uma dose de picardia, de emoção, de troca com o público, elementos que o carnavalesco Leandro Vieira prometeu trazer para a escola desde o ano passado e que é cada vez mais realidade na Rainha de Ramos. Apelidada pelo carnavalesco em suas redes como “ex-certinha” de Ramos para não rotular a Imperatriz como uma agremiação fria e de qualidades somente técnicas, a escola ainda continua desfilando muito bem como no final dos anos 90, início dos anos 2000, mas agora cada vez mais quente na Avenida. O bicampeonato, que nenhuma escola conquista desde a Beija-Flor em 2007/2008 é um objetivo palpável para a Verde e Branca da Leopoldina. O sonho pode virar realidade mais uma vez.
Em 2024, a Imperatriz vai levar para a Sapucaí o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, do carnavalesco Leandro Vieira. Buscando o bicampeonato, a Verde e Branca de Ramos irá encerrar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.
“Hoje foi o retrato do tanto que a gente trabalha e trabalha. É ensaio na chuva, ensaio sem chuva, ensaio sexta, ensaio domingo, é trabalho mesmo. E esse belo ensaio que fizemos hoje é realmente reflexo de tudo que a gente faz na Rua Professor Lacê. A escola está muito bem em harmonia. A escola está feliz, o povo abraçou o samba, aqui é um retrato disso. Faltando uma semana a gente vai trabalhar, trabalhar, trabalhar até fechar o portão”, disse emocionado, Mauro Amorim, diretor de carnaval.
“O que a gente viu aqui hoje é o reflexo de quase três meses de rua, de ensaio, ou seja, as pessoas dominam o andamento naturalmente, a evolução foi boa, a harmonia foi boa, o samba funcionou, a bateria funcionou, pode vir o dia 11 de fevereiro que a gente está preparado para brigar por esse campeonato. Eu tenho um olhar desse ensaio, o Mauro (Amorim) tem outro, a Cátia tem outro, o João tem outro. Amanhã a gente vai se reunir e vai afinar algumas coisas que alguém achar que pode não ter sido da melhor maneira. Mas o meu retorno, o feedback que eu estou tendo, é que foi tudo certinho. Agora só falta aparecer aqui na Avenida as fantasias e as alegorias que já estão prontas, só faltam participarem do desfile. Estou confiante no trabalho, estou confiante na briga por esse título, respeitando todo mundo, é uma briga no bom sentido. Mas a gente confia muito no nosso trabalho”, completou André Bonatte, também da direção de carnaval.
Comissão de frente
Marcelo Misailidis procurou mais uma vez manter os segredos da comissão e apostou em uma apresentação mais dançante, marcada pela elegância de vestimenta dos bailarinos e pela elegância também nos movimentos em uma dança cigana. Seis casais se apresentavam com muita doçura e altivez, enquanto outros quatro bailarinos faziam passos solos, mas integrados com o restante da exibição. Nos movimentos da cigana, o tom misterioso e a sedução. Um dos pontos de maior destaque acontecia quando as ciganas eram erguidas no ar por seus pares em um momento de maior intensidade da coreografia. Algumas partes do samba eram pontuadas pelos movimentos dos bailarinos como o “Vai Clarear” em que os componentes erguiam os braços ao céu. No trecho “a caravana está em festa” todos os integrantes estão mais juntos como que formando este grande grupo de ciganos dançando. A frente da comissão e do lado do coreógrafo Marcelo Misailidis, o cachorrinho da comissão de 2023, divertia o público antes da apresentação propriamente dita do quesito.
“Foi super válido, acho que isso é um termômetro de emoção, é um termômetro de entrega, então é um ajuste de projeto de desfile, tudo isso correu super bem e agora a expectativa é a melhor possível, a gente percebe uma escola que canta do início ao fim, que tem essa entrega maravilhosa, e o público vai participando porque o samba é contagiante”, disse o coreógrafo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
É incrível ver a cada dia o entrosamento da dupla que ficou alguns anos dançando com outros parceiros e que desde o retorno no carnaval passado parece que não houve nenhum hiato na parceria, e hoje com a coordenação de Ana Botafogo tem elevado o padrão de suas apresentações. Phelipe Lemos estava trajado de um elegante terno branco enquanto Rafaela Theodoro atraiu os holofotes todos com um até ousado, mas muito bonito vestido com a parte de cima em renda branca e a saia toda colorida em retalhos, finalizado com tiara de rosas na cabeça. Rafaela mostrou bastante intensidade sem perder a delicadeza e postura que lhe é conhecida. A dupla mesclou passos mais tradicionais com algumas pontuações do samba em movimentos. Os giros foram bem sincronizados e em grande velocidade. Não se observou nenhuma falta ou imprecisão. Phelipe e Rafaela demonstraram muita segurança daquilo que trouxeram para a Sapucaí.
“O coração está muito feliz, radiante, acho que, acho não, eu tenho certeza que nós conseguimos fazer o nosso melhor, fizemos o que nós nos preparamos esse tempo todo para fazer, utilizamos vários movimentos da nossa coreografia, então agora é só se resguardar essa última semana que falta, esperar o grande dia, para quem sabe é isso, se Deus quiser, e a cigana também, buscar o bicampeonato na Imperatriz. A gente não está 100% porque não chegou o dia. Sempre está precisando aprimorar, mas eu acho que o mais importante a gente apresentou que é a alegria, a leveza, o amor por essa arte e o amor que a gente tem nessa parceria. Essa aqui é minha irmã, uma guerreira, a melhor porta-bandeira que o carnaval carioca já viu”, disse o mestre-sala.
“A gente só tem que agradecer primeiramente a Deus, os orixás, todo povo cigano que esteve presente aqui, com toda a sua alegria, com toda a sua luz, com todo o seu axé, porque eu acho que é isso que o povo cigano traz, e combina perfeitamente com o carnaval, o samba cura, o samba tira toda a tristeza. Aqui a gente é feliz e é assim que a gente tem que levar o carnaval, com toda a felicidade, com amor no coração e transmitir isso para que cada um de nós consiga enxergar que a gente pode muito mais e que o samba com toda certeza ele tem que ser respeitado, tem que ser cultivado. Eu acho que essa semana é para a gente tentar manter o foco, a concentração. A gente vem ensaiando exaustivamente todos os dias e tudo o que a gente planejou saiu dentro do esperado, para isso que serve os ensaios de rua, os ensaios noturnos aqui na avenida, para que hoje a gente tivesse pisando aqui nessa avenida com a sensação de dever cumprido. Ajuste ele sempre vai ser necessário, mas que graças a Deus é o ajuste da mente e do corpo, porque a gente tem que controlar toda a ansiedade”, completou a porta-bandeira.
Harmonia
O canto foi, mais uma vez, um ponto alto e é a prova de uma escola que vive um momento muito diferente. A comunidade não só tem comprado a briga e cantado muito, como isso se tornou algo orgânico, não é mecânico, pois é espontâneo, é feito com muito gosto, com muita alegria, os componentes estão incorporando a cigana Esmeralda, e estão entrando no personagem. Cantam ao mesmo tempo que brincam, seduzem, dão o ar de mistério próprios da gente cigana, estão totalmente mergulhados no enredo. E gostam do samba. Isso é claro e evidente, e são os principais ativos hoje para defender essa obra na Avenida, ainda que a escola conte com um craque no comando do carro de som e com excelentes vozes de apoio, que hoje mais uma vez dominaram o samba, reproduzindo tudo aquilo que ensaiam e já exibem em Ramos todos os domingos. Aliás, esse alto rendimento do canto dos componentes também é, entre outros ativos da agremiação, mérito de Pitty de Menezes. Com o carisma e talento, foi conquistando o povo de Ramos e hoje o que ele canta eles vão juntos, sorte que o samba da Imperatriz ficou muito bom pelo trabalho musical da escola.Cantar o hino da agremiação em 2024 não é um sacrifício, é um prazer.
Evolução
A Imperatriz ontem parecia que estava realizando mais um dos seus ensaios na Rua Professor Lacê de tão fluída que foi a evolução da escola. Técnica, sem deixar buracos, sem correr, com um andamento que permitia com que o componente se divertisse e ao mesmo tempo que o público apreciasse o que foi preparado neste ensaio, a Rainha de Ramos, em quase 1h10 de treino, teve total controle de suas ações e não se pode observar nada que pudesse citar que deu errado ou que tenha atrapalhado a passagem da “caravana” verde e branca até a Praça da Apoteose. Destaque também para algumas alas que vinham coreografadas, em movimentos bem pertinentes e que não faziam com que o componentes perdesse muito da sua espontaneidade. A primeira ala da Imperatriz era um primor de colorido e criatividade com a caravana cigana que continha muito colorido nas roupas, muito brilho e algumas mulheres em pernas de pau. A escola também trouxe um tripé com a coroa da Imperatriz.
Samba-enredo
Talvez, ninguém se lembre mais de que o samba da Imperatriz para o carnaval 2024 foi resultado de uma junção de duas obras. Isso porque a escola trabalhou para que ficasse um resultado natural e o processo de ensaios com a comunidade, tanto na rua como na quadra, trouxeram para a veia da comunidade gresiliense o samba-enredo escolhido pela diretoria e ajeitado em estúdio com presença dos principais quadros da agremiação. Pontos altos mais uma vez neste ensaio, os refrões “Vai Clarear..” e ” O destino é traçado na palma da mão” (esse último já extremamente natural sem o “se’ da versão original), além do “o que é meu é da cigana..” com seu jeito mais malandreado, e o “prenúncio da sina …” que vem logo antes e é um primazia em termos de melodia. A introdução da obra com todos os componentes batendo palmas, mestre Lolo subindo a bateria até o “verde-esmeralda é vitória que virá para entrar no “Vai Clarear…” mostrou que não havia necessidade de surpresa, era só treinar esta entrada, como foi feito, que já tem a qualidade necessária para a escola começar o desfile com a energia lá em cima. O ensaio técnico, então, provou, a qualidade do trabalho feito pela Imperatriz com as duas obras escolhidas no concurso. É dos melhores deste carnaval.
“O samba foi nota mil. O samba está na boca do povo, na boca da comunidade. A comunidade está muito feliz, está leve. A gente cantou esse samba com uma leveza, a sapucaí toda cantando. Então é nota mil nessa avaliação, não tem outra nota, nota dez, nota mil. Essa bateria maravilhosa, o mestre Lolo, maravilhosa. Vamos rumo ao bicampeonato. Eu acho que a gente tem sempre algo para aprimorar, mas eu acho que a escola está pronta. A gente já sabe o que tem que fazer. A escola já sabe, já está ensaiando há tanto tempo. É chegar no dia aqui e praticar tudo que a gente estava ensaiando. Cantar com essa bateria é muito fácil. Ela leva a gente, ela conduz a gente. Então, carro de som maravilhoso que eu tenho. Rapaziada canta muito, as cordas. Mas cantar com mestre Lolo, com essa bateria, é muito fácil”, garantiu o intérprete Pitty de Menezes.
Outros destaques
A rainha de bateria Maria Mariá estava deslumbrante com uma brilhosa fantasia dourada. A vestimenta representava o amor, as nuances, a força , a vitalidade e o magnetismo único e matriarcal. O carnavalesco Leandro Vieira desfilou com seu tradicional chapéu de pirata. No esquenta, o samba campeão de 2023 sobre Lampião puxado por Pitty e com boa resposta do público. Logo depois, o intérprete também cantou “Pode chorar” que é cantado pelo Cacique de Ramos, além da música “Barracão Velha” que é da umbanda.
O diretor de carnaval João Drummond em seu discurso agradeceu a comunidade e convocou-os a lutar pelo bicampeonato lembrando que “nós somos do tamanho de nossos sonhos”. A musa Rafa Kalimann desfilou neste treino com uma roupa usada em 2011 pela ex-rainha de bateria da Imperatriz Luiza Brunet. O mimo foi um presente da antiga rainha. O clima cigano estava presente em cada acessório e bijuteria que as pessoas resolveram colocar no corpo para desfilar na Marquês de Sapucaí neste teste oficial.