O Império da Tijuca desfilou na madrugada desta sexta-feira no Sambódromo e contou, de forma brilhante, a história da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo. O carnavalesco Guilherme Estevão trouxe para a Avenida a agremiação criada pelo intérprete Candeia, e fez várias referências ao baluarte da Portela na apresentação. Além do destaque para o enredo, o casal de Mestre Sala e Porta Bandeira também teve ótima exibição, assim como a Comissão de Frente. Fantasias sem grande impacto visual e pequenos erros de acabamento nos carros foram os pontos negativos. A escola passou na Avenida de forma correta, sem erros de evolução, em 54 minutos de desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

A Comissão de Frente da Império da Tijuca, coreografada por Lucas Maciel somou 14 componentes, sendo sete homens e sete mulheres. Batizados de ‘Ancestralidade e raiz’, o segmento trouxe, como diz o nome a raiz negra das escolas de samba. A Comissão de Frente também fez uma homenagem a Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, agremiação criada por Candeia para ressaltar a história preta. A dança foi dividida em três momentos: ritos africanos, cultura afro brasileira e a tradição do samba atual, com baianas e baluartes negros. A Comissão também utilizou um tripé que representou um trono, como altar para uma rainha africana, além de trazer a bandeira original da G.R.A.N.E.S Quilombo. A força e sincronia da dança, além da transformação da Rainha em uma Porta-Bandeira merece elogios. A apresentação durou cerca de 2m40s.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Império da Tijuca representaram alguns pilares da formação do G.R.A.N.E.S Quilombo, como a resistência e a proteção. Renan Oliveira trouxe fantasia em alusão à resistência do Quilombo, enquanto Laís Ramos representou a proteção espiritual do mesmo. O Mestre-Sala foi, no desfile, um guerreiro do quilombo dos Palmares, com referências no figurino a Ganga Zumba no filme ‘Quilombo’, de 1984. A Porta-Bandeira vestia figurino com representação ao orixá Oxum, com cores branco, ouro e amarelo, trazendo a ideia da proteção religiosa à escola e ao Quilombo. Os dois foram impecáveis em todos os módulos, mostraram entrosamento, envolvimento nos olhares e gestos, além de ótima dança.

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Harmonia

As primeiras alas da escola, além dos segmentos e casal, cantaram demais o samba. Composições do primeiro carro alegórico também não poupou a voz. No entanto, o canto caiu de ritmo a partir da ala 15, ‘Ao Povo Em Forma de Arte’. A ala passou praticamente muda pelo segundo módulo, seguida da 16, ‘Noventa Anos de Abolição’, que também decepcionou na voz. A última ala, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’, contudo, soltou a voz e gritou o samba no final.

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Enredo

O Império da Tijuca começou o desfile contando a história da criação da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo e seu principal fundador, Candeia. Neste primeiro momento, a escola também abordou o Quilombo dos Palmares, o mais famoso do país, e contou também a origem dos batuques afrodescendentes que se transformam no samba como conhecemos hoje. No segundo setor, a agremiação trouxe a resistência do povo preto em suas várias vertentes, como a música, arte e religião. Na sequência, a escola focou ainda mais na música e na arte oriunda do povo preto. Por fim, a escola relembrou os carnavais da G.R.A.N.E.S Quilombo, que desfilava como um bloco, sem competição, nos bairros do subúrbio carioca, e ainda promoveu um ‘encontro’ entra a escola de Candeia e o Império da Tijuca. Com alas e carros organizados, a escola conseguiu contar a história e manter a linearidade do enredo.

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Evolução

O Império da Tijuca conseguiu passar fluidez e cadência durante todo desfile. Sem correr, a escola apresentou seus quesitos em todos os módulos de forma completa. As alas passaram com bastante organização, animadas e brincando durante a apresentação, como a ala 20, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’. A bateria também não teve problemas para entrar e sair dos boxes.

Samba

O samba foi conduzido de forma magistral por Daniel Silva e tem vários momentos de ápice no canto, como o refrão e o refrão do meio. Os versos ‘Sou a poesia sem mordaça’ até ‘Heróis e heroínas da abolição’ merecem destaque. ‘Vem de Maracatu do caboclo lanceiro’ até ‘No rabo de arraia não leva rasteira’ também foi bastante cantado.

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Fantasias

Logo no primeiro setor, se destacou visualmente a ala das baianas, que teve inspiração não só na G.R.A.N.E.S Quilombo, mas como nas tradicionais fantasias das matriarcas da década de 1970, que tinham figurinos com traços de arte afro brasileira, com cores em preto, branco e dourado. A ala 4, ‘Pela Identidade do Preto Brasileiro’, também se destacou na beleza, com cores da bandeira brasileira somadas ao vermelho e uma homenagem a Candeia presente no figurino. Outra ala que que mereceu elogios pelo figurino foi a 15, ‘Ao Povo em Forma de Arte’, onde a escola rememora o samba de 1977 do G.R.A.N.E.S Quilombo e faz alusão a ‘Sankofa’, símbolo de grande valia para o povo da África Ocidental. Representações tribais, pintura e o preto e branco se destacaram a ala. Apesar de não terem muito luxo e brilho, e não causaram grande impacto visual, todas as fantasias correspondiam ao proposto com enredo.

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Alegorias

A primeira alegoria do Império da Tijuca, ‘Nova Escola’ trouxe as cores da G.R.A.N.E.S Quilombo, em amarelo, roxo e branco, com painéis inspirados em artistas pretos da cultura afro-brasileira, e homenageando grandes nomes da escola fundada por Candeia, como Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Nei Lopes, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Com luzes todas, o carro teve as cores ainda mais ressaltadas e abriu muito bem o desfile da escola.

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O segundo carro alegórico, ‘Resistência Pela Raiz’, como o nome diz, trouxe como pilar a ideia da resistência preta, principalmente vindo das escolas de samba e da G.R.A.N.E.S Quilombo. Heróis da liberdade do povo preto foram representados na alegoria, como Zumbi, Dandara, Gangazumba e Manuel Congo. O carro, contudo, não causou o mesmo impacto visual do primeiro e teve leve defeitos de acabamento. No último setor, um quadripé chamou atenção para homenagem a escola criada por Candeia.

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A terceira alegoria, ‘Sob a Proteção da Padroeira, a Resistência em Dia de Graça’, encerrou o desfila da escola com um grande encontro do G.R.A.N.E.S Quilombo com o Império da Tijuca. Ambas têm o orixá Oxum, sincretizada no Catolicismo como Nossa Senhora Aparecida, como padroeira. Por conta disso, as cores douradas e brancas no carro. A coroa superior teve o destaque ‘Bençãos da padroeira’, além de outros destaques como a ‘Resistência Imperial’ e ‘Oxum’. A Velha Guarda do Império da Tijuca desfilou neste último carro como a ‘Ancestralidade Imperial’. Assim como o segundo carro, a última alegoria também apresentou erros de acabamento, principalmente na parte traseira.

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Outros Destaques

Desfilaram na escola Selma Candeia (filha de Candeia), Vera de Jesus (Neta de Clementina de Jesus), Nilcemar Nogueira (neta de Cartola) e Geisa Ketti (Filha de Zé Keti), a cantora Tereza Cristina e músico Tunico, filho de Martinho da Vila. Fundador da G.R.A.N.E.S Quilombo junto a Candeia, Rubem Confete também desfilou na escola. As atrizes negras Cinnara Lea, Karen Mota, Aline Borges, Aline Wirley, Dandara Albuquerque, Jeniffer Nascimento, Katiuscia Ribeiro, Isa Black, Juliana Alves também se apresentaram com a agremiação. Adriana Salles, a catadora que viralizou na internet sambando no ensaio técnico da escola, também veio à frente do Império da Tijuca.

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