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Com forte Harmonia, Mancha Verde transforma o Anhembi em um pedaço da Bahia

Agremiação se mostrou extremamente à vontade para apresentar o enredo que homenageará o estado nordestino; canto forte e uniforme marcou presença na exibição

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins (Colaboraram Naomi Prado, Lucas Sampaio, Nabor Salvagnini e Gustavo Lima)

A Mancha Verde, definitivamente, entrou no espírito do enredo “Bahia, da Fé ao Profano”, que será o quarto a desfilar na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro). Com vários componentes com as pinturais corporais típicas da Timbalada (histórica banda formada em 1991 por Carlinhos Brown que popularizou o timbau, também conhecido como atabaque) desenhadas e até mesmo passistas fantasiadas tal qual Carla Perez e Débora Brasil, do Gera Samba (banda que deu origem ao É o Tchan!), a agremiação novamente teve um canto bastante forte e uniforme (algo bastante comum na agremiação da Zona Oeste, diga-se) no segundo ensaio técnico da Mais Querida, realizado neste sábado (08 de fevereiro), no Anhembi. Na cronometragem da instituição, o tempo do segundo ensaio foi de 67 minutos – e essa questão será abordada ao longo do texto em, ao menos, dois quesitos.

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É claro que, em um ensaio técnico, é possível sentir muito mais sobre a preparação de uma escola de samba para o desfile. O CARNAVALESCO esteve presente na apresentação da Mancha Verde e conta como ela foi realizada.

Comissão de Frente

Se, no primeiro ensaio técnico, realizado no último domingo, a apresentação deixava mais dúvidas que certezas, os coreografados por Wender Lustosa e Marcos dos Santos foram bem mais ousados neste sábado. A começar pelos trajes: os homens estavam com camisas do Olodum, gorros nas mesmas cores do movimento e com pinturais tribais do Timbalada e gorros nas cores; enquanto as mulheres estavam vestidas com roupas em tons majoritariamente vermelhos – algo que, no sincretimos, remete a Iansã. Um dos homens, porém, em diversos momentos da coreografia e por conta da expressão dele, parecia não entender o que os demais integrantes do setor estavam fazendo – eles faziam rituais baianos, como um jogo de capoeira. Conforme a coreografia vai avançando, porém, o integrante deslocado vai se sentindo mais à vontade. Vale destacar, também, que o espaço destinado ao tripé estava preenchido pela já famosa escultura de Iemanjá.

ManchaVerde et Comissao 4

Se a apresentação foi impactante, aqui começam as particularidades da Mancha Verde com o cronômetro. Embora a coreografia estivesse muito bem executada pelos componentes, eles aparentavam não avançar com muita velocidade. A comissão de frente chegou à parte da passarela paralela ao box do recuo da bateria com 25 minutos – ou seja, o primeiro setor da agremiação levou cerca de 38% do tempo de um desfile para ultrapassar por completo quatro dos dez setores do Anhembi.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Adriana Gomes é sempre um destaque da Mancha Verde – e não apenas pela dupla com Marcelo Silva. Na Concentração, ela estava sambando e interagindo com quem estava próximo à frente da Puro Balanço, bateria da escola, por exemplo. Na pista, ambos, novamente, encantaram. Com uma comunicação com o público singular, sendo muito apupados na Monumental, ambos executaram todas as obrigatoriedades do quesito com eficiência e o entrosamento mais do que natural da dupla. Se, na primeira apresentação da Alviverde, ela veio fantasiada de Iemanjá, os papéis se inverteram no segundo: Marcelo aparentava estar fantasiado de pai-de-santo, inteiramente de branco (tal qual a companheira de quesito), com o chapéu característico e um espelho.

ManchaVerde et PrimeiroCasal 3

O ótimo desempenho também foi avaliado pela dupla: “Eu e a Adriana, nós falamos em outras entrevistas que temos muitos significados importantes além de trazer o campeonato para a escola, com a responsabilidade da escola. Temos outros significados que queremos fazer um desfile para mostrar isso que vem desde 2023, 2024 com a minha ausência e muitas coisas que aconteceram no percorrer de 2024. Nós saímos emocionados porque estivemos trabalhando muito, mas muito mesmo para que seja um desfile maravilhoso. O ensaio de hoje a Adriana vai falar, mas eu não tenho o que falar, foi perfeito. Pequenos pontos que na hora acertamos, eu acho que essa sincronia, esse trabalho que eu tenho com a Adriana, de repente não era para ter saído aquilo, mas na hora os dois consertaram e saiu até uma coisa nova. Eu estou me lembrando muito bem disso, que os dois fizeram essas coisas novas juntos. Eu fiquei emocionado também por isso. Nós nos entendemos e eu fico feliz por isso”, comentou Marcelo.

Adriana falou em nota máxima: “A cada ensaio queremos nos aprimorar mais, queremos melhorar mais aquilo que achamos que está bom, mas que queremos melhorar. Nós colocamos alguns elementos daquilo que apresentamos semana passada e deu certo. Quando saímos felizes, emocionados, um olhando para o outro com o rosto marejado de felicidade é porque estamos trabalhando demais. Nós já conversamos sobre isso, viemos de alguns carnavais muito complicados no quesito mestre-sala e porta-bandeira não somente na nota, no percurso mesmo tivemos alguns percalços, mas eu sou muito confiante, eu acredito demais sempre. O nosso trabalho é para fazer 40 pontos, ele é pra fazer 40. Eles que resolvam”, disparou.

ManchaVerde et PortaBandeiraAdriana 2

Nada, é claro, que não possa melhorar: “Sempre. Até antes de pisar a faixa amarela no dia do desfile, com certeza vai ter alguma coisinha que vamos ajeitar, sempre tem algo para se ajeitar. Estamos bem hoje, felizes pelo contexto todo criado da dança de mestre-sala e porta-bandeira, que hoje deu muito certo. Agora, sempre há pequenos pontos. Inclusive durante o percurso na avenida no desfile, foi o que aconteceu aqui hoje. Tivemos pequenos defeitos, mas que foram consertados diante da nossa sincronia, de um olhar para o outro e entender o que vai fazer. Fazer junto é o que faz dar tão certo”, destacou Marcelo. Adriana concordou: “Acho que a nossa dança é sempre uma evolução. Nós ensaiamos uma coisa, mas o percurso é completamente diferente daquilo que pensamos. Nós queremos que ele seja o mais perfeito sempre, mas às vezes tem um apontamento da direção de harmonia que precisa que nós façamos alguma coisa para ajudar a evolução da escola, vamos mudando no meio do percurso aquilo que pensamos e sempre dá muito certo”, refletiu.

Harmonia

Se é contestado por muitos, o samba, novamente, funcionou na avenida. A cadência da Puro Balanço, comandada pelos mestres Cabral e Viny, certamente ajudou em tal aspecto (e os no mínimo quatro apagões realizados no último verso do refrão de cabeça, “Mancha Guerreira”), tal qual o carro de som comandado por Fredy Viana. Se é difícil destacar uma única ala graças à uniformidade do canto manchista, vale ressaltar a força dos integrantes que compõem Batucada do Fundão.

Uma boa Harmonia, como se sabe, costuma começar no esquenta. E a Mancha Verde entendeu isso como poucas agremiações. Pela ordem, foram executados a Exaltação à Puro Balanço (em introdução tocante de Tami Uchoa, do carro de som da agremiação); “Da pré-história aos transgênicos: Mato Grosso, Uma Mancha Verde no coração do Brasil” (samba-enredo de 2005 reeditado em 2016); “Oxente! Sou xaxado, sou Nordeste, sou Brasil” (samba-enredo de 2023); “Pelas mãos do mensageiro do axé a lição de Odu Obará: a humildade” (samba-enredo de 2012) e o hino da agremiação na sequência. No discurso, Paulo Rogério de Aquino, o Paulo Serdan, presidente da agremiação, destacou a força do primeiro ensaio técnico e pediu para que todos se imaginassem na noite do desfile oficial. Ele também destacou que o segundo ensaio “era de verdade” – o primeiro ensaio manchista, tradicionalmente, é utilizado como descompressão. Logo depois, entra a bela introdução do samba oficial de 2025 (“Ô ô ô, eu vou descendo o Pelô/Ô ô ô, eu vou descendo a ladeira/Ô ô ô, Puro Balanço chegou/Ô ô ô, é a Mancha Verde Guerreira”), no ritmo de axé music.

ManchaVerde et InterpreteFredyViana 3

A visão do intérprete da agremiação é semelhante à observada pela reportagem: “O ponto de destaque é a comunidade, eles estão cantando como ninguém e eles estão de parabéns. O presidente também, ele tem a escola na mão – portanto, é outro ponto positivo, já que ele sabe a importância de mostrar para o componente o que ele precisa fazer. Agora, o que tem para acertar, eu tenho que ver pela TV. Eu fico aqui no carro de som, não tem como, eu não vejo a escola no todo… mas eu vi a escola sorrindo, feliz, cantando. Isso, para mim, é o que vale”, destacou Fredy.

Ele, por sinal, se derreteu pelos profissionais que o acompanham: “Em relação ao carro de som, eu sou totalmente apaixonado por eles. Eles são profissionais exemplares, de primeiro escalão. Eu só agradeço a Deus por tê-los ao meu lado: o que eu peço, eles executam com propriedade”, disse.

Evolução

O estranhamento da reportagem visto no primeiro ensaio técnico no momento em que a bateria entrou no recuo foi completamente dissipado: na segunda apresentação no Anhembi, a Mancha Verde teve uma entrada no box bastante segura e leve, sem sobressalto algum e com muita fluidez. Fluída, por sinal, foi a dança dos componentes, que novamente curtiram o tempo desfrutado na passarela. Mas, como dito anteriormente, o quesito deixou algumas dúvidas. A primeira delas está na velocidade com que a Comissão de Frente executou a coreografia. Mesmo quando já era nítido que a instituição, se estivesse em um dia de desfile, precisaria acelerar o passo, a escola, aparentemente, optou por deixar o componente à vontade. Se a agremiação contabilizou o ensaio técnico em 67 minutos, a reportagem acompanhou o cronômetro do Anhembi até 69 minutos sem indicação de que a contagem estava encerrada.

ManchaVerde et Iemanja 17

Na visão de Paolo Bianchi, diretor de carnaval da agremiação, há explicações para o ocorrido com o cronômetro – mesmo com o bom nível técnico da apresentação: “A escola estava um pouco maior, tinha mais gente. Tem algumas coisas que, na chuva, não conseguimos ver direito. Combinamos de fazer o ensaio como se fosse um desfile e a Harmonia foi bem, a escola cantou bastante. A evolução não teve nenhum problema, eu fico lá no fundo coordenando. Aqui na frente também não teve. Estamos caminhando, para chegar pronto no dia 28. Tudo que combinamos deu certo. Tinha algumas situações, como as quase 300 pessoas que deveriam estar em cima do carro e estavam no chão – mas até ali funcionou. Foi tranquilo, estamos super felizes em relação ao ensaio em relação ao passado, que foi mais relaxado e na chuva. Consideramos que fizemos um ensaio legal, evoluímos um pouco”, comentou.

Samba

Na avenida, descobre-se uma característica que a canção possui e, talvez, quem tenha ouvido apenas versões preliminares e/ou a do CD não conheçam: a cadência. Com andamento bastante suingado executado pela “Puro Balanço”, a canção ganha força e torna-se facilmente cantado e brincado. Novamente, é importante destacar o quanto os mestre Cabral e Viny, os ritmistas e o carro de som comandado por Fredy Viana colaboram para que a obra tenha rendimento tão bom no Anhembi.

ManchaVerde et PresidentePauloSerdanFilhoPaulinho

Mestre Viny, por sinal, destacou o trabalho realizado pelos comandantes dos ritmistas: “É superinteressante a evolução que a bateria está tendo ensaio a ensaio. Nós não estamos desesperados com o resultado, estamos subindo degrau a degrau e o processo está sendo gradativo, está sendo bem gratificante. Acho que a bateria está evoluindo bem e lá na quadra, quando nós chegarmos, vamos conversar com os diretores, porque lá na frente nós não escutamos tudo, e vamos fazer uma análise mais assertiva do que aconteceu na pista”, comentou.

O ritmista-mor aproveitou para falar sobre os ensinamentos que a exibição na chuva trouxe: “Com certeza. A bateria precisa estar preparada para qualquer adversidade, seja chuva, chuva fina, garoa, chuva forte, granizo. A escola tem que passar na pista e temos que estar preparados. Temos que estar com sorriso no rosto, temos que entregar para a escola o que ela precisa, que é uma pulsação, uma energia absurda e é isso que tentamos entregar todos os dias. Quando viemos para a pista, todos os dias na quadra, com a mesma entrega, com a mesma energia”, disse.

ManchaVerde et MascoteManchao

Já Cabral destacou a o trabalho e a resiliência da Puro Balanço após o temporal do último domingo: “O que achamos de mais importante é a energia da bateria, que isso conta muito. Só no dia a dia nós sabemos o quanto todo mundo está trabalhando. A galera fica um pouco cansada, mas o desempenho da energia foi muito bom. Tem uns detalhes que temos que ver ainda porque como o Viny falou vamos conversar com os diretores para ver se aconteceu alguma coisinha, algum errinho que temos que corrigir. Essa semana, no ensaio técnico de domingo, porque de sábado não tivemos como corrigir nada porque não teve ensaio devido à chuva, na terça-feira, os instrumentos todos molhados, tivemos que abrir tudo, e na quinta-feira, que teve aquele temporal, não conseguimos ensaiar, o único ensaio que tivemos depois do primeiro ensaio técnico foi esse. Agora, na terça-feira, nós vamos corrigir algumas coisas que estávamos para corrigir o ensaio passado. Mas é isso, nós somos muito chatos, para ver pontos positivos nos ensaios técnicos é difícil, eu sou muito chato. Tudo bem, o ensaio foi muito bom, mas eu sou muito chato. Eu nunca estou satisfeito porque trabalhamos demais e continuamos trabalhando”, prometeu.

Fredy também falou sobre a canção executada por ele: “É um samba muito leve, é um samba com palavras fáceis, com repetições. O refrão do meio repete uma melodia várias vezes, então o povo pega com muita facilidade. Acredito que foi muito positivo para uma escola de samba que quer desfilar de uma forma leve, é o que a Mancha está fazendo”, finalizou.

Outros Destaques

À frente da bateria, Duda Serdan, princesa da Puro Balanço. E, ao lado dela, destaque para o Manchão (mascote da agremiação) de pelúcia, com um tambor e contas ao longo do corpo – mostrando o quanto a escola está, de fato, no ritmo do enredo.

Veja mais imagens do ensaio

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