Em entrevista ao CARNAVALESCO, o comentarista Milton Cunha, responsável pela direção artística do concurso da Corte do Carnaval 2026 do Rio de Janeiro , revela o novo conceito baseado em homenagens a grandes mestres e explica os critérios de seleção que vão além da beleza física, buscando carisma e pertencimento ao mundo do samba. Chamado com antecedência este ano para dar uma “arrumada de cunho artístico” no concurso, Milton Cunha detalhou as mudanças conceituais que visam resgatar a essência e a representatividade do evento. Diferente do ano anterior, quando foi convidado apenas para a final, agora ele teve tempo para implementar uma visão clara, começando pela formação da equipe, que manteve nomes como Wilson Neto, Bianca Monteiro, Alex Coutinho e Mayara Lima, e trouxe o reforço de Fábio Batista, diretor artístico da Mangueira. O pilar da nova fase do concurso é a ancestralidade. Cada noite do evento será dedicada a homenagear mestres que ajudaram a construir a linguagem do carnaval e deixaram um legado inesquecível.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

“É uma forma de dizer que ser rei, rainha, moça, princesa, vem lá de trás, que o concurso é tributário de quem abriu o caminho lá atrás. Esse é o conceito”, explicou Milton Cunha.

A lista de homenageados inclui Lygia Santos, Gilsinho, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Preta Gil (na final LGBTQIA+), Arlindo e Bira. A lista, que contava com sete nomes, infelizmente, cresceu para oito com o recente falecimento de Gilsinho. Cada tributo contará com uma apresentação de fotos e aplausos, em uma cerimônia de cerca de 10 minutos para relembrar a importância de cada um.

Resgate da representatividade

Milton Cunha reconhece que o concurso passou por uma fase em que “perdeu a representatividade”, com a participação de pessoas sem vínculo com as escolas de samba e a comunidade. No entanto, ele celebra a mudança de rumo.

“Resgatou, resgatou com força. É de escola, passista, vários corpos, tipos, tudo pode. Eu acho que agora é bem representativo”, frisou.

Essa nova fase se reflete diretamente nos critérios de seleção dos candidatos. Para Milton Cunha, a beleza física é relativa e não é o fator principal. O que realmente importa é um conjunto de qualidades que definem a alma do carnaval.

“Eu acho que a seleção é assim: pertencer, ter história, ter a cara, sambar muito, ser bacana, explosivo, enlouquecido”, define.

Ele complementa, afirmando que sua busca é por algo mais profundo: “Eu vou mesmo é pelo carisma, pelo tranchan, por funcionar. Eu acho que a corte tem que funcionar em público, tem que funcionar de longe, tem que ser grande, tem que ser espalhafatosa. É a cara do carnaval do Rio”.

Voz do talento e da negritude

A importância da equipe de instrutores e apresentadores, como Mayara Lima e Alex Coutinho, também foi destacada por Milton Cunha. Para ele, eles representam “a voz da negritude, é o lugar de fala do talento”. Ele ressalta que são artistas que “sabem fazer, eles falam de dentro”, e o papel da direção artística é criar o cenário para que eles possam brilhar. Essa autenticidade é o que, segundo Milton, o público busca.

“O público quer verdade. O público quer saber que essas pessoas não desceram de uma nave espacial naquele palco. Elas são do coração, pertencentes à família do samba”, finaliza Milton Cunha, reforçando que a emoção genuína, como a que Bianca Monteiro certamente sentirá na homenagem a Gilsinho, é o que torna o espetáculo significativo e verdadeiro.