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Com enredo potente e desfile de estética primorosa, Viradouro reafirma sua força na disputa pelo bicampeonato

Atual campeã levou para a avenida a história de Malunguinho em um espetáculo grandioso, com comissão de frente impactante, mas evolução inconstante merece atenção

A Unidos do Viradouro foi a terceira escola a entrar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. Atual campeã do carnaval, a agremiação de Niterói veio determinada a brigar pelo bicampeonato, feito que não ocorre desde 2008. A entrada da escola foi triunfal, com a comissão de frente assinada por Priscilla Mota e Rodrigo Negri incendiando a Sapucaí e levando o público ao êxtase. O mesmo aconteceu na passagem de Julinho e Rute, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, que reafirmou porque é referência no quesito. O talento de Tarcísio Zanon ficou evidente, especialmente na condução da narrativa do enredo e na concepção das alegorias, reafirmando sua identidade artística e sua capacidade de imprimir, a cada ano, um estilo próprio ao desfile.

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O único ponto de atenção foi a evolução, que apresentou oscilações ao longo da apresentação. A escola alternou momentos mais lentos com outros mais acelerados, comprometendo um pouco a fluidez do desfile.

A Viradouro levou para a avenida o enredo “Malunguinho – O Mensageiro de Três Mundos”, retratando a história de João Batista, figura mítica da resistência negra em Pernambuco, conhecido como Malunguinho. A apresentação foi concluída em 77 minutos.

Comissão de Frente

Sempre cercada de grande expectativa, a comissão de frente da Viradouro, intitulada Sobô Nirê Mafá, foi concebida e coreografada pela dupla multicampeã Priscilla Mota e Rodrigo Negri. Mais uma vez, eles conseguiram emocionar o público e foram ovacionados ao final da apresentação. O espetáculo sintetizou o enredo com maestria, aliando teatralidade, efeitos visuais e uma coreografia intensa.

O tripé foi extremamente funcional, revelando um surpreendente efeito em que bambus pareciam brotar do cenário. Chapéus voavam pelo ar guiados por drones, e o grande clímax veio no encerramento, quando chamas reais surgiram do carro, fechando a apresentação com chave de ouro.

Além dos elementos visuais, a coreografia se destacou pela entrega e força dos bailarinos. O único detalhe foi que, no último setor, a intensidade do fogo diminuiu, mas sem comprometer o impacto do número.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, representou Xangô com uma indumentária que impressionou pela riqueza de detalhes e pelo uso harmonioso das cores. A dança da dupla manteve a essência clássica, mas incorporou, de forma orgânica, movimentos inspirados em manifestações da cultura popular e afro-religiosas, especialmente em momentos estratégicos do samba.

Um exemplo marcante ocorre na passagem “a quem do mal se proclama, levo do céu pro inferno”, quando os dois dão as mãos e fazem um movimento rápido em direção ao chão, traduzindo com força e expressividade a intensidade da letra.

A performance equilibrou delicadeza e energia com maestria, criando um contraste envolvente que cativou o público.

Enredo

O carnavalesco Tarcisio Zanon foi o responsável pelo enredo “Malunguinho – O Mensageiro de Três Mundos” e levou para a Avenida a história de João Batista, figura mítica da resistência negra em Pernambuco. Conhecido como Malunguinho, ele foi um líder quilombola que combateu a opressão dos senhores de engenho e se tornou símbolo de luta e liberdade.

O desfile apresentou sua trajetória desde os tempos de cativeiro até sua ascensão como entidade espiritual na Jurema Sagrada. A narrativa passou por três mundos fundamentais em sua história: Mata, Jurema e Encruzilhada. A Mata representou o refúgio e a força ancestral, a Jurema simbolizou a espiritualidade e o encantamento, e a Encruzilhada marcou os caminhos e decisões de sua resistência.

A Viradouro apostou em um desfile visualmente impactante, ressaltando a conexão entre Malunguinho e Xangô, orixá da justiça, além de explorar a força dos povos originários e afrodescendentes na construção da identidade brasileira. Mais uma vez, a escola de Niterói blindou o público com um enredo inédito, que poucos tinham conhecimento e com o protagonismo preto.

Alegorias e Adereços

A Unidos do Viradouro apresentou um conjunto alegórico impactante, retratando com imponência a trajetória de Malunguinho e sua conexão com os três mundos da Jurema: Mata, Jurema e Encruzilhada. O talento de Tarcísio Zanon ficou evidente, reafirmando sua identidade artística e a capacidade de imprimir, a cada ano, um estilo próprio na concepção de suas alegorias. Além disso, todos os carros souberam explorar a iluminação cênica da Sapucaí, potencializando ainda mais o impacto visual do desfile.

O Abre-Alas, intitulado “Acenda Tudo que For de Acender”, representou Malunguinho como uma semente que germina e se transforma em força de resistência. A alegoria trouxe imagens das árvores do Catucá, protetoras de João Batista, e destacou os clãs ancestrais indígenas e africanos que o guiaram, como os Kariri-Xocó, Fulniô e Xukuru-Kariri. Elementos de fogo e luz reforçaram a ideia do levante e da luta por justiça.

O segundo carro, “Evoco, Desperto, Nação Coroada”, celebrou a elevação de Malunguinho à condição de rei espiritual. A alegoria explorou a presença de Xangô, orixá da justiça, e a ancestralidade bantu, retratando a ascensão do líder quilombola no imaginário religioso. O carro seguiu a linha do primeiro, sendo parecido em sua realização, o que já é característica da escola. O destaque ficou por conta do uso da holografia de uma chave. Tudo tinha movimento, as árvores e até mesmo os “queijos” com os destaques.

O terceiro carro, “Caboclo da Mata do Catucá”, trouxe a força da Mata como território de resistência e refúgio. A alegoria destacou a figura do caboclo, espírito de proteção e sabedoria, e a presença dos povos originários que mantiveram viva a tradição do culto a Malunguinho. A escultura principal do caboclo estava imponente, porém, passou pela avenida com uma pequena falha de acabamento no braço esquerdo, vale destacar o efeito da floresta atrás dela foi muito bem feito.

O quarto carro, “Trago a Força da Jurema”, exaltou a espiritualidade da Jurema Sagrada, destacando os mestres juremeiros, os encantados e os fundamentos desse culto afro-indígena. A alegoria explorou elementos sagrados, como o coité, o cachimbo e o maracá, símbolos do poder juremeiro. O carro perfumou toda a avenida.

A quinta alegoria, “Nas Veredas da Encruza”, representou a encruzilhada como o ponto de encontro entre diferentes caminhos e destinos. O carro trouxe referências à ancestralidade, ao equilíbrio entre forças opostas e à sabedoria dos que transitam entre mundos, enfatizando a importância desse espaço na crença popular.

O sexto carro, “Mensageiro Bravio: Fé e Reparação”, simbolizou a eternização de Malunguinho como encantado e sua relevância na luta por justiça. A alegoria destacou a reparação histórica, reafirmando o líder quilombola como um guia espiritual e defensor de seu povo. Na escultura principal foi observado uma pequena falha na junção do braço.

Além das seis alegorias, a Viradouro trouxe um tripé intitulado “O Rei da Mata que Mata Quem Mata o Brasil”, reforçando a imagem de Malunguinho como um guardião da resistência, punindo aqueles que ameaçam seu povo e sua terra. Outra falha de acabamento ficou visível na junção do tronco de Malgunguinho.

O conjunto visual da escola foi marcado pela riqueza de detalhes, mesclando ancestralidade, espiritualidade e resistência em um espetáculo grandioso e repleto de simbolismos.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Viradouro manteve a identidade característica de seu carnavalesco, com um alto nível de capricho perceptível em todas as alas. Assim como nas alegorias, algumas fantasias utilizaram a iluminação cênica da Sapucaí para ganhar ainda mais destaque, especialmente nos setores iniciais. Exemplos disso foram a segunda ala, “Semente, Folha e Raiz”, e a quinta ala, “Folha do Catucá”. No terceiro setor, a ala das baianas, “Bruxarias Ibéricas”, também explorou esse recurso para realçar seu impacto visual.

No geral, o conjunto de fantasias foi bem construído, principalmente pelo bom uso de cores. Um ponto de destaque foi a forte presença de grupos performáticos ao longo do desfile, todos muito bem caracterizados e integrados à narrativa.

Harmonia

Ao longo de todo pré-carnaval, a sintonia entre mestre Ciça e Wander Pires ficou evidente, tornando-se peça-chave para o excelente desempenho musical e harmônico da vermelha e branca.

O samba-enredo foi cantado com excelência pela comunidade, especialmente nos primeiros setores da escola. Ao longo do desfile, houve uma leve queda no rendimento, sem comprometer o quesito, mas perceptível em alguns momentos.

Os versos “O rei da mata que mata quem mata o Brasil” e o refrão “A chave do cativeiro // Virado no Exu Trunqueiro // Viradouro é catimbó // Viradouro é catimbó // Eu tenho corpo fechado // Fechado tenho meu corpo // Porque nunca ando só” foram os momentos de maior explosão, com a escola e a arquibancada em total sintonia.

Samba-Enredo

O samba-enredo da Unidos do Viradouro para o Carnaval 2025 foi composto por Paulo César Feital, Inácio Rios, Márcio André Filho, Igor Federal, Vaguinho, Vitor Lajas e Chanel .

Desde os primeiros versos, o samba mostrou sua força com referências a rituais, entidades espirituais e símbolos de proteção. A melodia se destacou pela cadência sempre envolvente e pelo refrão marcante e diferente. Com versos como “Acenda tudo que for de acender, deixa a fumaça entrar”, o samba convidou a comunidade e o público a mergulharem no desfile. O samba teve um desempenho potente e vibrante na avenida, contribuindo para a força do desfile e consolidando a narrativa da escola.

Evolução

A evolução foi o quesito que mais exigiu atenção da Viradouro. Em alguns momentos, a fluência do desfile foi comprometida, com a escola aparentando estar travada e permanecendo parada por um tempo acima do ideal. O ponto mais evidente ocorreu após a passagem da comissão de frente e do casal pelo último módulo de julgamento, quando a escola demorou a evoluir. Além disso, durante as apresentações da bateria nas cabines de jurados, a escola também ficou estática por um período maior do que o habitual. Por outro lado, a organização das alas merece destaque: todas se apresentaram de forma técnica e alinhada, com os componentes demonstrando total consciência de seus movimentos.

Outros Destaques

O desfile teve ainda outros momentos especiais, o principal deles a passagem da rainha Érika Januza a frente dos ritmistas da furacão vermelho e branca. Carismática e visivelmente emocionada, ela passou pela avenida arrancado aplausos do público.

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